HERÓIS DO MAR - O Salvamar Paulista, o segundo mais antigo do Brasil, está completando 90 anos de atuação no Litoral. Na temporada, o grupo é composto por mais de 600 guarda-vidas, sendo 396 efetivos

Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria, na página A-1

Heróis do mar completam 90 anos

Salvamar Paulista é o segundo mais antigo do Brasil e, atualmente, ajuda a salvar pelo menos 3 mil vidas a cada temporada de verão

Simone Queirós
Da Redação

O tenente Emerson Marques Freire exercia a função de guarda-vidas há três anos quando, em um dia ensolarado da temporada de verão de 1995, um fato ficaria marcado para sempre em sua memória. Três meninas entre 10 e 12 anos se afogaram na Praia de Pitangueiras, em Guarujá, e sua equipe foi chamada para atender a ocorrência. Duas conseguiram se salvar, mas uma afundou na água e desapareceu.

"Começamos a procurar e não conseguíamos encontrar. Foi quando, em um mergulho, senti a pontinha do cabelo dela passar pelo meu braço. Foi o que me fez puxá-la para a superfície".

O fato marcou porque, não fosse a perspicácia e a sensibilidade de Freire em aproveitar a pequena oportunidade que teve naquele momento, uma vida teria sido perdida. Naquele mesmo ano, o 17º Grupamento de Bombeiros foi responsável por outros 921 salvamentos em todas as 316 praias de Ilha Comprida a Ubatuba.

Já na temporada 2010/2011 foram aproximadamente 3 mil pessoas tiradas com vida da água. Inversamente, enquanto em 1995 foram constatados 233 óbitos por afogamento, na última temporada foram 86. Porém, considerando o aumento populacional do período, a quantidade de vidas salvas é exponencialmente maior.

Esses números demonstram na prática a evolução da eficiência do Salvamar Paulista na região, o segundo mais antigo do Brasil (ver quadro). No último dia 14 a corporação comemorou 90 anos de atuação no Litoral, onde trabalham na temporada mais de 600 homens, sendo 396 efetivos.

História - Tudo começou quando, em 14 de dezembro de 1921, o capitão José Martiniano de Carvalho, então comandante do Corpo Municipal de Bombeiros de Santos, propôs num relatório dirigido à Câmara Municipal a criação de um posto na praia para atender ocorrências de salvamento. A data do relatório ficou marcada como início do serviço de salvamento.

Muita coisa mudou desde então. O capitão Alexandre Rodrigues dos Passos conta que, apesar do guarda-vidas ter o estereótipo do "super-homem", capaz de levar duas pessoas nas costas durante um salvamento, hoje a corporação tem a seu favor a técnica e modernos equipamentos. "Hoje o guarda-vidas anda com nadadeiras e um flutuador para oferecer à pessoa que está se afogando. Antigamente a força era predominante".

Prova disso são as fotos antigas da corporação, que mostram homens em sua maioria musculosos. Em uma delas eles estão, inclusive, com sacas de cimento na cabeça. Mais do que a força, a imagem mostra o comprometimento da categoria com o exercício da profissão: foram eles próprios que ajudaram a construir, na década de 1980, a sede do 17º Grupamento de Bombeiros. O prédio fica no Guarujá sob o comando atual do tenente-coronel PM Wilson de Oliveira Leite.

Salva ou guarda-vidas?
O termo salva-vidas não é mais empregado pela corporação. Hoje eles são guarda-vidas, o que representa uma evolução da profissão. A nomenclatura anterior denominava o profissional que apenas salvava. Já o guarda-vidas é responsável também por fazer a prevenção, para evitar que as pessoas fiquem em situação de risco.

O náufrago
Chovia torrencialmente em uma noite de verão de 2006 quando o Alexandre Rodrigues foi chamado em casa para atender a uma ocorrência. Chegando ao local, soube que dois homens tinham ido pescar usando um barco de alumínio sem coletes salva-vidas. Um deles não sabia nadar. "Começou uma tempestade e entrou água no barco. Um deles nadou das 18 até às 21 horas até conseguir pedir ajuda em um posto. Iniciamos as buscas e já era 1h30 da manhã quando avistamos o barco. O homem estava agarrado nele, já com hipotermia", contou o hoje capitão do 17º GB.

Datas e números

Cronologia

1917 - é criado o Corpo Marítimo de Salvamento, no Rio de Janeiro.

14 de dezembro de 1921 - o capitão José Martiniano de Carvalho, então comandante do Corpo Municipal de Bombeiros de Santos, propôs num relatório dirigido à Câmara Municipal a criação de um posto de bombeiros na praia para atender as ocorrências de salvamento com pessoas e embarcações.

31 de dezembro de 1924 - é aprovada a Lei Municipal nº 2.052.

Entre 1926 e 1930 - instalação de postos de salvação nas praias José Menino e Guarujá.

1947 - o Corpo Municipal de Bombeiros de Santos foi incorporado pela Força Pública do Estado de São Paulo e passou a ser denominado 6ª Companhia do Corpo de Bombeiros. No mesmo ano transformou-se em 1ª Companhia Independente de Bombeiros.

1962 - unidade passou a se chamar 1º Grupamento de Bombeiros se mais tarde Grupamento de Incêndio e 6º Grupamento de Bombeiros. Ainda na década de 1960 houve a inauguração do Posto 6 na Ponta da Praia; o lançamento de sistemas de comunicações entre lanchas e postos de salvamento etc.

1985 - a Seção de Salvamento de Praias do 6º Grupamento de Incêndio deu lugar ao 3º Grupamento de Busca e Salvamento.

1986 - Projeto Gaivota dá uma identidade visual aos Guarda Vidas e reorganiza os trabalhos dos bombeiros.

1999 - Decreto Estadual reorganiza a Polícia Militar do Estado de São Paulo e a Unidade passa a denominar-se 17º Grupamento de Bombeiros, como permanece até hoje.

Enquanto em tempos passados a força física era predominante para o exercício da profissão, ...

Foto: divulgação - 17º GB, publicada com a matéria

... atualmente os guarda-vidas contam com modernos equipamentos e vários tipos de veículos para auxiliá-los no dia a dia

Foto: Alexsander Ferraz, publicada com a matéria

Postos de Salvamento nas praias de Santos