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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Simonsen e a Cia. Construtora de Santos

Engenheiro civil, economista, financista, político e literato de renome internacional, o santista Roberto Simonsen teve destacada atuação em Santos como o fundador da Companhia Construtora de Santos. Ele foi entrevistado pelo jornal santista A Tribuna, para a edição especial comemorativa do 1º Centenário da Cidade de Santos, publicada no dia 26 de janeiro de 1939 (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda - ortografia atualizada nesta transcrição):


Imagem: reprodução parcial da matéria

Companhia Construtora de Santos - legítimo orgulho dos santistas!

INTERESSANTE ENTREVISTA CONCEDIDA À "A TRIBUNA" PELO DR. ROBERTO SIMONSEN

A Construtora de Santos na exposição comemorativa do centenário da Cidade - Mais de cinco lustros de realizações fecundas dentro e fora do nosso município - Grande demonstração de suas atividades fará a notável empresa no espaço que lhe está reservado no recinto da exposição

Companhia Construtora de Santos e dr. Roberto Simonsen são duas excepcionais entidades, intimamente ligadas, uma completando a outra, que surdiram e nossa cidade no momento exato em que ela ansiava por despir suas roupagens de burgo colonial, incompatíveis com os pruridos de progresso e civilização que se notavam em todos os rincões da pátria brasileira, principalmente do Estado bandeirante, para se adornar com as galas esplêndidas do urbanismo moderno, apresentando um aspecto de cidade moça, com ruas arejadas e avenidas amplas, com praças lindamente ajardinadas e guarnecidas de prédios que demonstrassem o grau de adiantamento já atingido pela arte arquitetônica.

Com o aparecimento da Companhia Construtora de Santos, tornou-se uma realidade o anseio dos santistas, que consistia em querer ver o seu torrão natal transformar-se, apresentar uma radical metamorfose com a solução feliz do problema urbanístico.

Dirigida pela mentalidade jovem e dinâmica do dr. Roberto Simonsen, a Construtora de Santos dentro em pouco ia demonstrar aos santistas que não era impossível a concretização de seus sonhos. E, realmente, de 1912 para cá, graças ao formidável impulso dado pela notável empresa santista, foram incessantes os trabalhos de construção, tanto assim que a nossa cidade pôde ostentar, neste dia em que completa a primeira centúria de sua cidadania, edifícios que, pela beleza e arte de suas linhas arquitetônicas, nada ficam a dever aos de grandes centros do país e do estrangeiro.

E comprovando o nosso acerto, que não provém de um sentimento bairrista exagerado, mas unicamente procede da verificação dos fatos, estão aí, resistindo à fúria do tempo e servindo de atestado solene do espírito de iniciativa de nossa gente, estimulado por inteligências privilegiadas como a do dr. Roberto Simonsen, os palácios da Bolsa Oficial de Café e da Associação Comercial de Santos, o edifício do Teatro Cassino Parque Balneário, o prédio da Companhia Frigorífica, o monumento e Panteão dos Andradas etc.


Dr. Roberto Simonsen
Imagem publicada com a matéria

Roberto Simonsen - Grande propulsor do nosso progresso - A figura do dr. Roberto Simonsen, de extraordinário polimorfismo, projeta-se de tal maneira no vasto cenário da vida nacional, que seria, contempladas de qualquer ângulo suas múltiplas facetas, pretensão descabida para qualquer mente sensata querer apreciar em seu conjunto a soberba obra que vem realizando nos diferentes setores em que tem aplicado sua atividade.

E isto porque, cabe fazer a pergunta, qual o cérebro capaz de se atrever, sobretudo hoje, quando o afã de especialização tem atingido limites exagerados - relegando ao olvido aqueles veneráveis mestres enciclopédicos que tanto assombraram com sua sabedoria e erudição o século passado (N.E.: século XIX) - a fazer um julgamento exato sobre o mérito real do trabalho excepcional que o dr. Roberto Simonsen vem executando em prol da coletividade?

Engenheiro, ele muito se bateu por iniciativas de grande valia e de significação benéfica para a população santista, quando exerceu o cargo de chefe da Comissão de Melhoramentos Municipais, na gestão administrativa do sr. Belmiro Ribeiro; industrial, as indústrias paulistas, que exprimem um potencial econômico de primeira grandeza no cenário brasileiro, assinalam-no como seu melhor propulsor, tendo sido por isso escolhido para presidir  aos destinos da conceituada entidade de classe, que é a Federação das Indústrias Paulistas; escritor, suas crônicas e relatos denotam um agudo sentido de observação, revelando algumas de suas páginas descritivas uma beleza de estilo tão louçã e singular, que podem figurar sem desmerecimento ao lado das melhores dos nossos escritores contemporâneos; legislador, teve o dr. Roberto Simonsen uma atuação profícua na representação trabalhista, dedicando-se com denodado afã à melhoria de nossas condições existenciais, e, finalmente, financista, sua influência realizadora se expande por várias e importantes empresas, nas quais se acham invertidos imensos capitais.

Mas, se isso tudo não bastasse, para glorificação de sua obra imperecível de cidadão e patriota, poderíamos ainda declinar as iniciativas de cunho moral, estereotipando mais um aspecto de sua individualidade de escol. Cremos, porém, que iríamos colidir com os sentimentos delicados que, nesse particular, borbulham no coração e no espírito do dr. Roberto Simonsen, uma vez que s.s. segue religiosamente o preceito cristão que nos ordena dar com a mão direita de forma que a esquerda não perceba.

Torna-se, no entanto, necessário que se proclame, alto e bom som, que nada há em Roberto Simonsen que seja supérfluo e que não redunde em benefício da coletividade; sua obra toda pontilhada de intenções nobres e de soluções felizes, se algumas vezes não foi compreendida como era mister que o fosse, nem por isso deixou de apresentar os mais sazonados frutos, porque era ela o produto magnífico de um espírito sincero e bem intencionado.

Até hoje, sua vida se mantém firme na cruzada de cultura que se impusera desde a mais tenra juventude, porque tinha profunda e inquebrantável fé nos altos destinos reservados ao porvir do seu povo. E esta sua confiança não há de ser vã, uma vez que seus exemplos de tão acendrado patriotismo e amor à terra, que lhe serviu de berço, não poderão perecer como a matéria frágil, mas sim terão imitadores, ao correr dos anos, nos cérebros mais dignos e mais fecundos de seus compatriotas, emprestando-lhes o calor e a energia necessários para perseverar na árdua senda construtiva.

Visita Santos o dr. Roberto Simonsen - Foi com alvoroçada satisfação que soubemos da ida, a Santos, em visita às obras dos estandes da Exposição do Centenário, do dr. Roberto Simonsen. Por uma singular associação de idéias, remontamos, nas asas da imaginação, a um passado não muito distante, lembrando-nos dos dias festivos para a população e agitados e trabalhosos para os que exercem o mister de repórter, vividos por ocasião do Centenário da Independência, e que nos deram a feliz oportunidade de conhecer pessoalmente o dr. Roberto Simonsen.

A Companhia Construtora de Santos atingia, nessa época, uma sólida posição entre suas congêneres, desfrutando grande conceito no país e preparando-se galhardamente para mais altos remígios, numa escalada magnífica para a fama e para a glória, que são o prêmio justo a todo trabalho bem orientado e melhor executado.

Realmente, depois de 1922, mercê da sábia e criteriosa orientação de seu dinâmico diretor-presidente, a Construtora, que já apresentara obras monumentais em Santos, conseguiu do governo de então, em disputadas concorrências, contratos para construção de quartéis destinados ao Exército, assim como para outras obras de vulto.


A gravura nos mostra o Panteão e Monumento aos Andradas inaugurado em 1922, na praça da Independência, e cuja constituição se deve à Companhia Construtora de Santos, dirigida superiormente pelo ilustre engenheiro, dr. Roberto Simonsen
Imagem publicada com a matéria

Palestrando com o notável engenheiro e financista - Data de 1922 - como já frisamos - o nosso conhecimento com o dr. Roberto Simonsen. Nessa época, como hoje, é s.s. o mesmo homem acolhedor e afável, amigo sincero dos que são úteis e prestimosos, como tivemos o prazer de constatar.

E isto porque, sabendo de seu regresso de Santos, fomos procurá-lo em seu escritório, a fim de que nos desse algumas impressões pessoais acerca dos trabalhos que se processam para maior êxito da Exposição do Centenário.

Felizmente, não nos foi difícil avistar-nos com o ilustre engenheiro, que logo nos pôs à vontade com suas maneiras fidalgas, lhanas e francas. Destarte, fizemos ao dr. Roberto a primeira pergunta, após os cumprimentos da pragmática, ao que s.s. nos respondeu com a amabilidade que lhe é peculiar:

- Estive, de fato, em Santos, visitando o recinto em que se vai realizar a exposição comemorativa do centenário da cidade. A Companhia Construtora de Santos e algumas outras empresas a que me acho ligado vão figurar nessa exposição.

Depois de alguns momentos de pausa, prosseguiu:

- A Construtora de Santos não poderia faltar ao certame. Fundada em 1912 em Santos, com capital integralmente subscrito pela sua praça de comércio, somente após um decênio de atividades no município é que se expandiu para outras regiões brasileiras.

Legítimo padrão de orgulho para os santistas

- Quer dizer, dr., que a Companhia Construtora de Santos, agora como no passado, é a empresa padrão de glória para os santistas?

- Até 1930 não havia rua de alguma importância, em Santos, em que a Construtora não tivesse efetuado algum serviço. No período de sua expansão, a Companhia chegou a ter em serviço, em determinado momento, acima de 70 engenheiros e 18.000 empregados.

Nesse momento, alguém precisava falar com o nosso entrevistado, que polidamente nos solicitou escusas pela interrupção. Atendida a pessoa em questão, tornou o dr. Roberto Simonsen ao gabinete para reatar o fio da palestra, dizendo-nos o seguinte:

- Hoje a nossa empresa financia indústrias e a sua seção de construção está a cargo de sua associada, Sociedade Construtora Brasileira, dirigida por antigos engenheiros da Construtora de Santos.

A Construtora de Santos executou obras e serviços em 10 Estados do Brasil. A importância de seus trabalhos realizados orçou em mais de 300 mil contos de réis. Em Santos, deu origem à Companhia Frigorífica de Santos, Companhia Santista de Habitações Econômicas, Companhia Teatro Cassino do Parque Balneário. Fora de Santos, promoveu a fundação da Companhia Nacional de Artefatos de Cobre, Companhia Nacional de Borracha, Sociedade Construtora Brasileira, Sociedade Tetracap Limitada. Associou-se, ainda, à Companhia Imobiliária Nacional, no Rio de Janeiro, da qual é maior acionista.

Demonstração fotográfica das atividades da construtora - O fim principal de sua viagem - perguntamos - foi visitar o estande da Construtora no recinto da Exposição?

- Exatamente. No espaço reservado para si, a Construtora fará uma grande demonstração fotográfica de todas suas atividades dentro e fora de Santos. Nesta cidade, construiu galerias, calçamentos, o Palácio da Bolsa, o Matadouro Frigorífico, o Monumento e o Panteão dos Andradas, o palácio da Associação Comercial, o Teatro Cassino Parque Balneário, bem como várias centenas de habitações desde as mais modestas até as de maior luxo. Construiu, também, bancos e vários armazéns e maquinários para benefício do café.

Santos muito deve ao dr. Roberto Simonsen

- Dr., o senhor, que ainda possui, na materialização de um milagre assombroso, a juventude do corpo e do espírito, não se esquece nunca, pelo que vemos, da Cidade-Ninféia, cantada em versos apaixonados pelo nosso bardo Martins Fontes.

- E como hei de esquecê-la? Comecei minha vida profissional em Santos; fui chefe da Comissão de Melhoramentos Municipais, da Prefeitura Belmiro Ribeiro. Projetamos, então, o recalçamento das avenidas, bem como o recalçamento e obras de drenagem na maior parte das ruas da cidade, por ocasião da mudança do tráfego de bondes da tração animal para elétrica. As ruas do centro da cidade eram excessivamente abauladas e a drenagem se processava pelas sarjetas. Projetamos e construímos, nessa época, grande número de galerias de águas pluviais e fizemos reconstruir todo o calçamento com perfis apropriados, em nivelamentos convenientes, de maneira a se poder recalçar a cidade e proporcionar maior utilização das estreitas faixas carroçáveis de que era dotada.

Por tudo isso - concluiu o nosso entrevistado - não poderia faltar à Exposição do Centenário, prestando assim uma homenagem à Cidade de Santos.

Na obra Veja Santos! (2ª edição, 1975, edição do autor, Santos/SP), o falecido jornalista Olao Rodrigues registrava, a respeito da rua com o nome desse engenheiro:

ROBERTO SIMONSEN
Rua - Bairro: Boqueirão
Situada entre a Av. Cons. Nébias e a Rua Gov. Pedro de Toledo

Lei nº 1.032, de 3 de junho de 1949, promulgada pelo prefeito municipal, sr. Álvaro Rodrigues dos Santos, denominou Roberto Simonsen uma das ruas do Município. Atendeu-a o decreto nº 521, de 10 de dezembro de 1951, do prefeito municipal, dr. Joaquim Alcaide Valls, que oficializou a Rua nº 452. Requerimento nº 242, de autoria do vereador Henrique Soler, aprovado na sessão da Câmara Municipal de 27 de maio daquele ano.

Roberto Cócrane Simonsen nasceu em Santos a 18 de fevereiro de 1889, filho de Sidnei Martim Simonsen e Da. Robertina Cócrane Simonsen. Descendia, pelo lado materno, da tradicional família Cócrane que deu a serviço do Brasil engenheiros, militares, diplomatas, parlamentares e altos funcionários, inclusive o sogro de José de Alencar, o médico Tomás Cócrane.

Depois de estudar em Santos, formou-se engenheiro civil pela Escola Politécnica de São Paulo. Iniciou a atividade em 1909 como engenheiro da Southern Brasil Railway. Em 1911 foi diretor geral de Obras Públicas da Prefeitura Municipal de Santos. Tornou-se fundador e presidente da Companhia Construtora de Santos, que edificou prédios, como o Palácio da Bolsa e monumentos, como o da Independência; abriu e calçou vias públicas e construiu quartéis do Exército em vários pontos do País.

Roberto Simonsen desenvolveu importantes missões oficiais na Europa e Estados Unidos e foi o fundador da primeira Escola de Sociologia Política existente no Brasil. Economista e financista de altos recursos técnicos, ocupou cadeira no Senado da República e pertenceu à Academia Brasileira de Letras. Aliás, faleceu em plena sessão solene desse Instituto na noite de 25 de maio de 1948, quando, na tribuna, saudava o primeiro-ministro da Bélgica, Paul van Zeeland, em visita oficial ao Brasil.

Eleito para a Assembléia Geral Constituinte, foi dos elaboradores da Carta Magna de 1934, sendo um dos organizadores do Serviço Social da Indústria (Sesi) e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Deixou importantes obras, entre as quais História Econômica do Brasil.

Na sessão da Câmara Municipal de 28 de maio de 1948, presidida pelo prof. André Freire, vários vereadores falaram sobre a vida e a obra de Roberto Simonsen, como os srs. Mário Alcântara, Pedro Teodoro da Cunha, Hugo Pacheco Chagas, Luís La Scala, Salvador Evangelista, João Carlos de Azevedo e prof. André Freire. O sr. Henrique Soler apresentou requerimento, que recebeu o nº 242, em que solicitava à Comissão de Obras e Serviços Públicos a atribuição do nome de Roberto Simonsen a uma das vias públicas do Município.

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