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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM... - BIBLIOTECA NM
1915 - por Carlos Victorino (09)

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Carlos Victorino apareceu na imprensa santista como tipógrafo no jornal Gazeta de Santos (de 1883) e reapareceu como revisor no Jornal da Noite, criado em 1920. Também escreveu para teatro e nos gêneros romance e comédia.

Suas lembranças de Santos, vivenciadas entre 1905 e 1915, foram reunidas na obra Santos (Reminiscências) 1905-1915, cujo Livro II (com 125 páginas) foi em 1915 impresso pela tipografia do jornal santista A Tarde (criado em 1º/8/1900). O Livro I, correspondente ao período 1876-1898, já estava com a edição esgotada quando surgiu a segunda parte.

Nesta transcrição integral do Livro II - baseada na 1ª edição existente na biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos (SHEC) -, foi atualizada a ortografia:

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Santos (reminiscências) 1905-1915

Carlos Vitorino

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IX

Tornemos à A Vanguarda, agora instalada na Praça dos Andradas, no prédio onde o nosso popular leiloeiro Elias Mendes teve a sua agência de leilões e, mais tarde, foi o Eden Salão, gênero cinematográfico e que fechou logo, devido à falta de concorrência, por estar localizado em ponto pouco movimentado.

Instalada pois na Praça dos Andradas a A Vanguarda, não demorou muito, saía de suas oficinas um semanário rubro como o nome que adotou: - O Fogo, circulando o seu 1º número no dia 5 de dezembro de 1909. Faziam parte da redação daquele periódico o falecido Armando Ramos, José e Antonio Pierre, Romeu Fonseca e Domingos de Barros.

O O Fogo foi quase que propositalmente criado para fazer estourar a A Bomba, um outro semanário que era feito pelos tipógrafos da A Cidade e tinha já um tirocínio de mais de 2 anos. De fato, a A Bomba estourou de uma vez, e o O Fogo apagou-se por completo. Hoje não existem da A Bomba nem estilhaços, e do O Fogo, nem cinzas...

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A A Vanguarda teve duas fases: a de Fernando de Magalhães e a do dr. Silvino Martins, que deu a ela nova orientação. Depois, pela escabrosidade das coisas, passou para outro proprietário, recebendo então o nome de Jornal de Santos.

A má estrela ou coisa que o valha, não permitiu que A Vanguarda fosse para a frente... O Jornal de Santos também não trouxe boa sorte: fechou... temporariamente, extinguindo-se para sempre no meio das chamas do incêndio da Livraria Magalhães, que era na casa contígua.

Também o Moinho Portuguez, estabelecimento de torrefação de café e moagem de sal, foi atingido pelo incêndio. No incêndio da Livraria Magalhães, quase, por um pouco, não ficaram registradas duas mortes: é o caso que no interior da livraria habitavam em duas dependências a esposa do sr. Magalhães e um filho adotivo - o Nenê.

Aquela senhora despertou com as insistentes batidas na porta, acompanhados dos gritos estridentes de - fogo! fogo! Os circunstantes, na rua, numa expressão de angústia, torciam as mãos, ante o devastador incêndio que devorava inclemente o prédio por ele preso e ameaçava os outros vizinhos.

- Arrombe-se a porta!

- Há lá dentro duas vidas! - gritavam dentre a multidão...

Um toque de clarim anunciava a chegada do Corpo de Bombeiros com todo o seu material. Os bombeiros começaram, valorosamente, o trabalho de extinção.

Uma língua de fogo e uma onda de fumo arremessaram-se como tigres famintos sobre os espectadores do horrível sinistro. É que a porta acabava de ser arrombada.

- E eles! Os que estão lá dentro?

- Salvos! - gritou um bombeiro. Saltaram o muro.

D. Thereza, revestida de coragem, intrépida, tomou nos braços o menor Nenê e saltou o muro que dava para os fundos da casa do sr. João de Abreu.

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Apareceu também nessa época a A Tribuna do Povo, da qual era redator e proprietário o falecido Paulo Cunha. A A Tribuna do Povo desapareceu também em pouco tempo. Como que para substituí-la, surge o O Dia, folha de grande formato, de grande tiragem, e de grande claridade, que deveria ofuscar a luz da A Tribuna.

E saiu o O Dia, cumprindo o seu programa todo moderno, tendo antecipado o seu aparecimento com bombásticos reclames, à moda ianque, distribuindo fósforos aos milheiros, na véspera.

Estava realmente um Dia magnífico, bem variado em suas seções, caprichosamente confeccionado e... desequilibrando, mais ou menos, a venda avulsa da A Tribuna, que já era de propriedade do sr. Manoel do Nascimento Júnior.

Quando menos se esperava, medonha borrasca toldou a luz do O Dia, fazendo-o morrer quase repentinamente. Não foi, com certeza, por falta de fósforos que O Dia deixou de iluminar os horizontes da imprensa, porque como o leitor viu mais acima, ele distribuiu essa imprescindível matéria, aos punhados, na véspera do seu aparecimento...

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Estávamos pois na época dos aparecimentos e desaparecimentos, sendo que uns eram agradáveis e outros desagradáveis. Neste último caso estava o desaparecimento de Ismael Frohenberg, assassinado em plena Praça da República, às 4 1/2 horas da tarde do dia 15 de agosto de 1913, por Cordeiro, a tiros de revólver.

Seguiu-se o audacioso roubo no London Bank, não sendo levado a completo efeito porque os assaltantes foram pressentidos e efetuada a prisão.

Passaram-se mais alguns dias, a infeliz senhorita Virginia de Souza Castro foi assassinada por seu ex-noivo Manoel Graciliano de Oliveira, em uma casa n. 2, antigo, do Largo 7 de Setembro, quando festejavam o batizado dum sobrinho da vítima. Dançavam. Graciliano, desvairado por qualquer sentimento, aproveitando a confusão dos pares que se deliciavam nas evoluções duma valsa, apunhalou Virginia, prostrando-a morta, num só golpe!

Conseguiu desembaraçar-se dos convivas que voltavam a atenção para o cadáver de Virginia, evadindo-se até a Praça José Bonifácio, onde foi preso por pessoas que vinham em sua perseguição, sendo entregue à polícia. Entrando Graciliano em julgamento, recebeu, como prêmio da sua nefanda obra, a sentença de 24 anos de prisão.


O prédio incendiado onde funcionaram a Livraria Magalhães e o Jornal de Santos, à Praça dos Andradas

Foto e legenda publicadas com o texto original