A cavaleiro da cidade de Santos
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Santos (A)
Lutar contra a influência da má reputação é lutar com temerosa
desigualdade de forças. Só agora Santos se está libertando das garras da má fama que por muitos anos a teve presa. O modo pelo qual, em menos de
vinte anos, Santos se transformou, de um foco da febre amarela em uma das mais saudáveis cidades do mundo, constitui um dos mais interessantes
capítulos dos anais da engenharia sanitária. Ainda em 1889, surgiu uma epidemia que dizimou a população, atingindo a mortalidade a extraordinária
razão de 10%. E ainda de 1892 a 1893, o flagelo reapareceu com tenebrosos resultados. A cidade se ressentia de graves defeitos, tanto do ponto de
vista pitoresco como do ponto de vista sanitário.
No porto, não havia sido realizado nenhum dos melhoramentos que hoje se ostentam na vasta extensão
de cais das "Docas de Santos". Assim, não era de admirar que a epidemia ali encontrasse condições propícias ao seu terrível desenvolvimento,
ceifando vidas, a princípio entre os estrangeiros em trânsito no porto, e depois na própria cidade.
Houve épocas em que a febre amarela parecia endêmica e tornaram-se absolutamente indispensáveis as
medidas defensivas e de combate. Em ação conjunta, o governo do Estado, o Conselho Municipal e a Companhia das Docas de Santos se puseram em campo,
obedecendo a um plano previamente traçado; e a moléstia, pouco a pouco, foi cedendo, até desaparecer.
Não é exagero dizer-se que, de alguns anos a esta parte, a cidade e o porto de Santos se acham nas
melhores condições sanitárias possíveis e que os elementos de atividade que de todas as partes para ali afluem, encontram, com interesse
remunerador, fácil colocação para seus capitais.
Desvanecidas as desconfianças contra a cidade, restabeleceu-se o seu crédito de salubridade e a
vida ali entrou em nova fase de vigor, imprimindo à cidade, ainda ontem presa dos tentáculos da morte, um aspecto de grande e ativo centro de
movimento e progresso.
A cidade de Santos
Foto publicada com o texto, páginas 714 e 715
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Calcula-se entre 85.000 e 90.000 habitantes a população atual de Santos, explicando-se o evidente
aumento da mesma com o desenvolvimento da área comercial, a ampliação da zona urbana e com a movimentação do porto, além da notável importância a
que tem atingido o seu comércio nos mercados estrangeiros e nacionais.
A cidade de Santos está situada ao norte da costa da ilha de São Vicente, estreita faixa de terra
adjacente ao continente, formando de fato uma península na estação da seca, quando o rio S. Vicente, que constitui o limite oeste da ilha,
desaparece. É belíssima a baía de Santos, pendendo para as suas águas os morros vizinhos envoltos em seus ricos mantos de vegetação tropical.
Na extremidade ocidental da ilha, jaz a velha cidade de S. Vicente, ligada a Santos por estrada de
ferro. Embora seja um centro essencialmente comercial, em cujas ruas movimentadas e docas apinhadas de navios pouco existe que possa inspirar o
sentimento da tradição, esta cidade barulhenta tem sido o berço de alguns eminentes brasileiros; e nos seus traços históricos temos referências à
mais antiga civilização do Brasil. A cidade foi fundada por Braz Cubas, em meados do século XVI, e tirou o seu nome de um hospital, conhecido pelo
nome de Todos os Santos e que foi estabelecido pelo primeiro fundador da cidade, em 1544.
Decerto as admiráveis obras do porto de Santos, que são amplamente descritas na seção competente
desta obra, constituem a feição característica da cidade. Ao longo da costa do sul, encontram-se as lindas praias de José Menino e Embaré, que se
estão tornando os lugares favoritos de recreio e banhos, não somente dos moradores de Santos como também dos habitantes de S. Paulo.
Desde o cais de desembarque, se estende a cidade para o sul, através de ruas estreitas e
tortuosas, em direção à parte nova, em que as ruas mais largas assinalam o progresso e a iniciativa daquele porto. Os carros de praça correm em
todas as direções. As duas avenidas, Conselheiro Nébias e Anna Costa, largas e bem calçadas, com três milhas de comprimento, ligam a cidade à
predileta praia de José Menino, proporcionando belíssimos passeios.
Do outro lado do canal, e ao cabo de 4 quilômetros de linha férrea (que muito breve será
eletrificada), fica, na Ilha de Santo Amaro, a famosa praia do Guarujá, sem dúvida uma das mais belas e aprazíveis do Brasil. Existe aí um hotel e
cerca de 50 chalés, modelos suíços e americanos, que formam o conjunto mais elegante e pitoresco. Esse hotel e essas lindas "vilas" são habitados
por altos negociantes da praça de Santos e, na estação dos banhos, por uma seleta clientela vinda de S. Paulo e do interior do Estado.
Há 20 anos: sítio do cais atual, entre a Alfândega e o Trapiche nº 12 da Cia. Docas de
Santos
Imagem publicada com o texto, página 718
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Santos é eminentemente um empório de comércio e as imensas quantidades de mercadorias que passam
pelo seu porto absorvem quase todas as suas atividades. Ao mesmo tempo, várias indústrias se desenvolvem ali com grandes resultados, tais como a
cultura das bananas, dos ananases e laranjas, de consumo interno e de exportação para o Rio da Prata. Durante os últimos anos, o valor da exportação
de bananas tem aumentado extraordinariamente, como se pode ver pelo quadro seguinte:
1903
.............................................................................. Rs. 50:580$000
1904
.............................................................................. 96:075$000
1905
.............................................................................. 116:635$000
1906
.............................................................................. 184:472$000
1907
.............................................................................. 272:010$000
1908
.............................................................................. 272:015$000
1909
.............................................................................. 362:889$000
1910
.............................................................................. 637:752$000
Só em janeiro de 1910
....................................................... 23:906$000
Só em janeiro de 1911
....................................................... 54:267$000
Cogita-se agora de se dar incremento à cultura das frutas, preparando-se novos mercados
consumidores na Europa, especialmente na Itália, que, além das relações resultantes de sua vasta imigração no Estado de São Paulo, luta com relativa
escassez de frutas nacionais, em conseqüência de sua enorme exportação para a Alemanha, Áustria, França e outros países.
Embora em pequena escala, Santos também produz açúcar, aguardente, arroz etc., nos limites de seu
município; e, industrialmente falando, ainda se orgulha a cidade das suas fábricas de tecidos e outros estabelecimentos.
O porto de Santos
Foto publicada com o texto, páginas 718 e 719
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Ao mesmo tempo, há plena esperança de se desenvolverem ali todas as indústrias, por um lado porque
isto depende de um porto em boas condições, o que ali não falta, para facilitar o transporte; e por outro lado, devido à facilidade de relações
internacionais que a cidade mantém e sempre faz mais amplas e eficientes.
O grau de prosperidade que a cidade tem mostrado, talvez não se possa melhor ilustrar do que
apresentando, no quadro abaixo, o firme e constante aumento da receita e despesa municipal:
1836
............................................................................... Rs. 2:200$000
1846
............................................................................... 2:923$000
1856
............................................................................... 6:326$000
1866
............................................................................... 30:425$000
1876
............................................................................... 89:440$000
1886
............................................................................... 168:140$000
1896
.............................................................................. 1.836:700$000
1906
.............................................................................. 2.276:048$000
1907
.............................................................................. 2.454:576$000
1908
.............................................................................. 2.619:152$000
1909
.............................................................................. 2.802:392$000
1910
.............................................................................. 3.035:140$000
A educação é dada por escolas estaduais, municipais e por colégios particulares, e em 1910 havia
6.804 estudantes freqüentando vários institutos.
Membros das Câmaras Municipais de Santos e São Vicente: 1) Genes Perez (1º secretário); 2)
Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva (prefeito); 3) Major Luiz Ayres da Gama Bastos; 4) Evaristo Machado Netto (presidente da Câmara Municipal de S.
Vicente); 5) Antonio de Freitas Guimarães Sobrinho; 6) Benedicto Pinheiro; 7) Carlos Luiz d'Affonseca (presidente); 8) Oswaldo Cochrane (2º
secretário); 9) Capitão Antão Alves de Moura (prefeito de São Vicente); 10) Flavio Soares de Camargo; 11) Dr. Azarias Martins Ferreira
(vice-prefeito); 12) Capitão Carlos José Pinheiro (vice-presidente); 13) Coronel Gil Alvez de Araujo; 14) Vicente Pires Domingues
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Membros da Municipalidade
Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva - O sr. Belmiro Ribeiro acaba de ser novamente indicado
para prefeito. O que vai ser a administração desse antigo presidente do Conselho Deliberativo do Partido di-lo o pano da amostra que ele vem dando
no exercício daquele cargo, como substituto legal do prefeito resignatário. Tal como ele é na vida ativa do alto comércio comissário - correto,
ponderado e circunspecto, consciente fiscal e inteligente orientador de seus negócios -, assim tem sido também no alto cargo da administração
municipal. A cidade de Santos já pode perfeitamente confiar e esperar do seu bem dirigido tino administrativo. É um homem que possui a necessária
fortaleza de caráter e um administrador que dispõe de verdadeira consciência das suas responsabilidades.
Dr. Azarias Martins Ferreira - É este cavalheiro, vice-prefeito de Santos, digno
membro componente da filma Silva, Ferreira & Cia., desta praça. Tem a recomendá-lo o espírito largo, que sabe ver para além das estreitezas
partidárias, e a inteligência clara ao serviço das boas causas.
Carlos Luiz de Affonseca - O presidente da Câmara Municipal de Santos é uma personalidade
que há muito se destaca neste meio social. Espírito cultivado e de organização afeita às nobres lutas do trabalho, aqui se impôs por essa preciosa
qualidade e também pela afabilidade e fidalguia do trato. Nem sempre os labores comerciais absorveram a sua ação nesta terra que ele adotou e ama, e
pela qual tanto se tem esforçado. Também nas pugnas do jornalismo algum tempo militou, com perfeito êxito.
Carlos José Pinheiro - O vice-presidente da Câmara Municipal goza da estima e consideração
gerais pela sua atividade e honradez e pelo seu espírito sereno e ponderado. Dirige conhecida casa comissária desta praça. junto a companheiros bem
intencionados na Câmara, de cuja vereança passada fez parte, serão sempre de proveito a sua prática e o seu conselho.
Genes Peres - O sr. Genes Peres, que parte tão ativa tomou na organização e consolidação do
Partido Municipal, é um moço trabalhador, inteligente e ativo, capaz de prestar ótimos serviços à terra santista, cujas necessidades conhece e cujos
progressos vem acompanhando com verdadeiro interesse.
Oswaldo Cochrane - Belo caráter, espírito ponderado, sabendo ver sem excessivos entusiasmos
e sem desânimos, o sr. Oswaldo Cochrane será sempre de grande utilidade em qualquer corporação a que pertença. O comércio intermediário de Santos
tem nele um dos seus mais inteligentes e eficazes servidores. É presidente da Associação Predial.
Antonio de Freitas Guimarães Sobrinho - É o atual presidente do diretório do Partido
Municipal e, a par da atividade que o distingue, uma das organizações morais mais completas deste meio social. Distribui a sua intensa atividade,
ora pelos interesses da velha e conceituada casa de que é sócio gerente, ora pelas coletividades de que tem os primeiros cargos, tais como a
provedoria na Santa Casa de Misericórdia e a presidência do Partido Municipal. O comércio comissário está por ele, como por outros, dignamente
representado na Câmara.
Gil Alvez de Araujo - Tesoureiro do Partido Municipal e político militante desde os tempos
do Império, o sr. Gil Alvez de Araujo reúne à mais ampla experiência das coisas públicas, uma energia que sempre resistiu vitoriosamente aos ataques
dos partidos e facções contrárias ou desafetas. |Desempenha também papel saliente no comércio de Santos.
Benedicto Pinheiro - Acaso se precisa documentar com outros dados que não os seus
relevantes serviços na passada administração o valor deste esforçado e reeleito representante do município santista? Quem não tem observado as
manifestações do seu espírito perspicaz e as boas disposições de sua iniciativa, sempre atilada, em bem da boa e útil administração e do progresso
da cidade? Trabalhador ativo, com haustos alevantados, a sua ação superior não só se manifesta nos negócios particulares, como também nos de
interesse público, nos quais já tem vários atestados que mais uma vez serão avolumados na administração que agora se inicia.
Vicente Pires Domingues - Aplica a sua atividade e inteligência aos serviços dependentes da
Alfândega santista; é benquisto da sociedade em geral, goza de particular consideração nas rodas do esporte náutico, ao qual tem dado a larga
contribuição dos seus valiosos préstimos.
Flávio Soares de Camargo - Pertence a uma família conhecida e respeitada em Santos e em
todo o Estado. Pelo seu labor honesto e perseverante, atingiu a posição que ocupa na casa Soares de Camargo & Cia., da qual faz parte, como sócio. É
um belo caráter.
Luiz Ayres de Gama Bastos - Com o sr. Benedicto Pinheiro, representa digna e honradamente,
na Câmara, o comércio a varejo da cidade. É um espírito independente, leal, franco e por completo avesso a negócios que não tenham por si a clareza,
a lisura e a utilidade. Pode e deve ser um excelente intérprete do comércio retalhista de Santos.
Dr. Roberto Cochrane Simonsen - É engenheiro civil e ocupa o cargo de diretor geral da
Prefeitura. É filho do sr. S. M. Simonsen e natural do Rio. É engenheiro civil pela Escola Politécnica de São Paulo, onde se graduou em 1908. Tomou
parte nos trabalhos de exploração da nova linha férrea de Santos ao Juquiá.
Associação Comercial de Santos
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Associação Comercial - A Associação Comercial de Santos conta grande número de sócios entre
os principais exportadores de café, comissários, corretores e importadores do comércio em geral da cidade. Foi fundada a 22 de dezembro de 1870 e
tem grandemente auxiliado o desenvolvimento da indústria do café, que forma a riqueza de Santos.
Diariamente, é feito um boletim pela Associação, registrando as sacas de café, quer as que são
vendidas em Santos, quer as que, por este porto, são exportadas, e também todas as circunstâncias relativas ao negócio do café, como sejam o
movimento no porto, o destino das exportações, exportações correntes, taxa de câmbio; enfim, todos os detalhes de importância, para o comércio
local. Essas informações são anotadas e organizadas dia a dia, publicadas semanalmente e remetidas aos seus membros.
O edifício da Associação, que constitui o centro do mundo comercial de Santos, fica situado à
esquina das Ruas 15 de Novembro e 11 de junho. No pavimento térreo, existe um hall público, com uma mesa, ao centro, onde se encontram
diários e publicações ilustradas em várias línguas, para uso dos sócios. Em torno, nas paredes, se acham as últimas notícias sobre o movimento de
navios, preços nos mercados estrangeiros, movimento do café, e outras informações de interesse comercial.
No segundo pavimento, ficam instalados os escritórios de administração, com uma sala para
exposição de amostras de café e um arquivo, com registros completos, a respeito da indústria do café, desde o seu início até hoje. Além de uma sala
para as reuniões dos diretores, há também um grande salão de recepção.
Questões de dinheiro, em negócios, são imparcialmente arbitradas pelos diretores, e todos os fatos
que possam afetar os interesses do comércio local ali são investigados. Como corporação, a utilidade da Associação Comercial de Santos é
inquestionavelmente de primeira grandeza.
Academia de Comércio de Santos - Criada pela lei municipal de 24 de abril de 1897, a
Academia de Comércio de Santos foi oficialmente inaugurada em 4 de agosto do mesmo ano. A Câmara que então dirigia os negócios municipais, e a cuja
iniciativa se deve a criação dessa escola, era composta pelos seguintes srs.: presidente, coronel Francisco de Almeida Moraes; intendente, tenente
coronel Carlos Augusto de Vasconcellos Tavares; vereadores, drs. João G. Carvalhal, R. Soter de Araújo, Estacio Corrêa, Francisco Salles Braga, José
Monteiro, coronéis Augusto Filgueiras, Cincinato Costa, Francisco Antonio de Souza Junior e srs. Francisco Hayden e dr. Guedes Coelho.
Dirige atualmente os destinos da Academia de Comércio, dando-lhe a sua orientação pedagógica, o
dr. Adolpho Porchat de Assis, que está há 3 anos na efetividade desse cargo, tendo como subdiretor o dr. Antenor de Campos Moura e secretário o sr.
José Carneiro Bastos. A congregação compõe-se de 12 lentes e um professor efetivo, havendo outros tantos substitutos. As matérias aí ensinadas são:
Português, Francês, Inglês, Matemáticas, Geografia, História Geral, História Natural, Escrituração Mercantil, Contabilidade e Legislação de
Fazenda, Desenho, Física e Química, Direito, Estenografia e Datilografia. Há aulas práticas de Francês e Inglês. A matrícula deste ano elevou-se a
105 alunos, sendo 42 alunas e 63 alunos.
Anexo à Academia, funciona o Ginásio Santista "José Bonifácio". A Academia de Comércio é
magnificamente instalada no Palacete João Octavio à Rua da Constituição, para onde foi transferida, justamente porque o seu antigo edifício à Rua 7
de Setembro já era pequeno para o número de alunos sempre crescente.
O quadro de lentes é atualmente o seguinte: sr. Tarquínio Silva, dr. Antenor de Moura, sr. Alfredo
Tabyra, sr. Delphino Stockler, sr. Mario Ribeiro, dr. Carvalhal Filho, Thomaz Catunda, sr. Abel de Castro, sr. Benedicto Calixto, sr. Aristoteles de
Menezes, dr. Valdomiro Silveira, dr. Magalhães Junior e sr. Manoel Augusto Alfaya. Além desses ilustres professores estão atualmente em exercício os
srs. padre Gastão de Moraes, Accacio Gusmão e tenente dr. Miguel de Souza Filho.
Associação Feminina Santista - Este instituto de caridade é a única escola, na República,
onde as moças são educadas gratuitamente, nos cursos secundários. Foi fundado, há alguns anos, por um grupo de distintas senhoras; e todas as suas
despesas de administração, que sobem a Rs. 25:000$000 anuais, são feitas por subscrição e por créditos votados pelo Estado e Municipalidade.
A Escola divide-se em duas seções. Na primeira, chamada Liceu Feminino Santista, o programa de
estudos é muito racional e acompanha em suas linhas gerais o da Escola Normal de S. Paulo. Mais ou menos 150 alunas a freqüentam. No fim dos quatro
anos, que constituem o curso, as alunas recebem o diploma de professora e a Municipalidade lhes dá preferência, para regerem as suas escolas.
Na segunda seção, ou Kindergarten (N.E.:
jardim da infância, em inglês), estudam 150 crianças dos dois sexos. A Escola, cujo custo foi
de Rs. 54:000$000, está situada na Rua da Constituição e esplendidamente aparelhada. O corpo docente é composto de várias senhoras, que
gratuitamente ministram o ensino. Há oito anos que a direção está confiada à atual presidente, madame Simmonsen, que em grande parte
concorreu para a fundação da Associação.
Clube XV - O clube XV, fundado em junho de 1869, é assim uma das mais antigas instituições
sociais em Santos. Entre os seus membros, cujo número atinge a 150, incluem-se representantes das mais conceituadas famílias da sociedade santista;
e o edifício do Clube é a sede e muitas das principais reuniões sociais de Santos.
As dependências do Clube, que fazem parte do seu patrimônio, ficam à Rua Amador Bueno, 211. As
acomodações incluem: sala de recepção, salão de baile, sala de bilhar (três bilhares), sala de leitura, sala de palestra, buffet, gabinetes
para senhoras e cavalheiros e dependências sanitárias.
A diretoria compõe-se dos srs. Antonio Carlos Silva, presidente honorário; dr. João Carvalhal
Filho, presidente; Paulo Filgueiras, presidente em exercício; Lucio Fortunato, tesoureiro; Accilio Proost de Souza, 1º secretário; Jorge Bandeira,
2º secretário; Laercio Fortunato, Altamiro Pimenta e Erondino Malheiros, diretores. O presidente, dr. João Carvalhal Filho, é filho do dr. João
Galeão Carvalhal, deputado federal, que durante 3 anos foi chefe de polícia em Santos. Pai e filho são reputados advogados.
Clube Alemão - Apesar de seu nome, este clube é de caráter cosmopolita. A sua
administração, entretanto, deverá ser sempre confiada a membros que falem a língua alemã. O clube, que se inaugurou em 1865, foi uma das primeiras
instituições sociais fundadas na cidade de Santos.
O atual edifício data de 1884 e custou Rs. 80:000$000. Fica situado à Rua do Rosário 205, no meio
de bem cuidados jardins. As acomodações compõem-se de sala de leitura com uma biblioteca de 8.000 volumes, sala de bilhar com dois bilhares, salão
de dança, salão para recepções e uma bela galeria.
Como se deve depreender, o clube é a sede obrigada das festividades alemãs. Conta ele cerca de 80
membros; e a sua diretoria compõe-se dos srs. Theodoro Nobiling, presidente; R. Seelman, vice-presidente; Alex Dieboldt, 2º vice-presidente; G.
Roth, secretário; Hochweber, tesoureiro; e Nossack, bibliotecário.
Alberto Kemnitz - O sr. Alberto Kemnitz é cônsul da Rússia em Santos, cargo para o qual foi
nomeado em 1900, tendo sido já, por dois anos, cônsul provisório. O sr. Kemnitz, que nasceu na Alemanha, veio para o Brasil em 1885; e durante 4
anos foi representante, no Rio, da firma Krupp & Cia., de fama mundial.
Depois disso, esteve ao serviço dos srs. Wilson & Cia., exportadores de café, no Rio de Janeiro, e
durante pouco tempo, com os srs. Zerrenner Bülow & Cia. e Atrome & Cia. Em 1893, foi feito gerente da grande casa exportadora de café Prado Chaves &
Cia. e ocupou este cargo até 1909, período durante o qual esteve associado ao grande desenvolvimento dos negócios daquela firma. O sr. Kemnitz foi
presidente da "German School" e muito se interessa por tudo que diga respeito à colônia alemã.
Banqueiros e corretores santistas: 1) Emilio Wysling; 2) Julio Moreira (Banco do Brasil);
3) Edwin A. Barham (London and Brazilian Bank, Ltd.); 4) Paulo T. de Araujo Filgueiras; 5) Alexander Kealman; 6) Coronel José Pinto da Silva Novaes
(presidente da Câmara Sindical de Corretores Públicos); 7) J. J. Keevil (London and River Plate Bank, Ltd.); 8) Quintino Ratto; 9) Eduardo B. Veriot;
10) Eduardo Machado
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Finanças
London and Brazilian Bank, Ltd. - A filial em Santos do London and Brazilian Bank Ltd. é a
mais antiga das casas bancárias estrangeiras, que operam nesta cidade. Quando este escritório foi instalado, em 1881, Santos era um centro bancário
mais importante do que S. Paulo, mas, com o rápido desenvolvimento da indústria do café, passou o maior volume de transações bancárias a ser feita
na capital do Estado.
O principal negócio do Banco em Santos, hoje, é constituído por operações de desconto; ele, porém,
proporciona todas as outras vantagens bancárias. O gerente em Santos, sr. Edwin A. Barham, está ao serviço do banco desde 1890. Depois duma estadia
no escritório em Londres, passou para o escritório do Rio, em 1891; e em julho de 1893 foi transferido para Santos. Em 1898, foi o sr. Barham
nomeado guarda-livros e promovido a gerente em 1902. Em 1910, era eleito presidente do Club Athletico de Santos.
Banco do Brasil - O Banco do Brasil iniciou os seus negócios em Santos, a 22 de agosto de
1908. Devido ao grande aumento das operações de então para cá, estão feitas as plantas para a ereção de uma nova sede orçada em Rs. 380:000$000. A
área, que o novo edifício vai ocupar, é de 56 por 14 metros e fica próxima à Praça Mauá. As fachadas do edifício dão para a Rua Augusto Severo,
Travessa Mauá e Rua 2 de Dezembro. Terá o edifício dois pavimentos; a totalidade do pavimento térreo será ocupada pelo banco. De acordo com o
projeto, o edifício será um dos maiores e mais belos da cidade.
Durante os primeiros 10 meses depois da sua fundação, o gerente da filial foi o dr. Norberto
Ferreira, atualmente diretor do Banco no Rio. Sucedeu-lhe o atual gerente sr. Julio Moreira, que está ao serviço do Banco há mais de 22 anos. O sr.
Moreira nasceu no Rio e tem 39 anos; entrou para o escritório central do Banco na Capital Federal e, antes de vir para Santos como guarda-livros,
exercia o cargo de chefe da seção de Câmbio.
London and River Plate Bank, Ltd. - A filial do London and River Plate Bank, Ltd., em
Santos, foi estabelecida em abril de 1909 e desde logo prosperou consideravelmente. Em fins de abril de 1911, acusava o balancete da Caixa filial em
Santos Rs. 2.789:910$820, compreendendo: capital, Rs. 500:000$000; depósitos a prazo fixo, Rs. 55:863$430; contas correntes, Rs. 1.007:817$370;
diversas contas, Rs. 424:096$410; títulos em caução ou de depósito, Rs. 298:940$000; contas com a caixa matriz, filiais e agências, Rs. 503:193$610.
Desde junho de 1900, é gerente da filial o sr. J. J. Reevil, que reside na América, há mais de 20
anos. Veio para o Rio em 1890, ao serviço do então Banco Inglez do Rio (depois British Bank of South America). Foi durante um ano gerente do London
Bank of Central America em S. Salvador (América Central) e depois disso indicado para a sua presente posição em Santos. O sr. Keevil foi educado na
King's College School, Londres, e é membro do Colonial Institute. Interessa-se muito pela Mineralogia, pelo cultivo das orquídeas, e pela
fotografia.
Brasilianische Bank für Deutschland - A filial, em Santos, do Brasilianische Bank für
Deutschland tomou o terceiro lugar entre as cinco filiais deste banco no Brasil. Essa filial foi estabelecida no ano de 1895. Até essa data, eram os
interesses do banco tratados por intermédio do Banco do Comércio e Indústria de São Paulo.
Desde o início dos serviços da filial, os negócios aumentaram de ano em ano, com grande
desenvolvimento, devido ao grande número de fregueses, comerciantes alemães, com importantes negócios em letras do negócio do café; mas também
presta todas as facilidades para quaisquer operações financeiras com todas as classes comerciais.
Devido ao grande desenvolvimento dos negócios, mudou-se o banco para o novo prédio sito à Rua 15
de Novembro. Este prédio é um dos mais luxuosos e bem mobiliados que ocupam os bancos desta cidade. O sr. Franz Carl dirige esta filial desde a sua
inauguração.
Banco do Comércio e Indústria de São Paulo - O escritório central deste banco tinha a
princípio a sua sede em Santos, mas, com a centralização do comércio e indústria em São Paulo, foi aquela sede transferida para a capital do Estado.
Nos primeiros dias da indústria de exportação de café, o banco em Santos operava sobre perto de cinco oitavas partes dos negócios de câmbio, e
metade dos descontos feitos na cidade; não era porém possível, com o aparecimento de mais largas facilidades bancárias em Santos, manter tal
posição.
Antes da instalação de outras filiais de diversas casas bancárias em Santos, o Banco do Comércio
era agente do London and River Plate Bank, do Banco Alemão e do Banco Nacional do Rio de Janeiro, hoje extinto. A primeira sede do Banco do Comércio
e Indústria ficava à Rua 11 de Junho, em frente ao Sportsman Hotel; mas, há dois anos, um belo edifício do custo de Rs. 150:000$000 foi inaugurado
na movimentada Rua 15 de Novembro, dando assim ao público amplas facilidades para as suas transações e negócios.
Desde, 1894, está a gerência confiada à competência do sr. S. M. Simmonsen, nascido em Londres e
educado em Londres, Paris e Hamburgo. O sr. Simmonsen começou a sua carreira bancária em Berlim; veio para o Brasil em 1875 e durante 16 anos fez
parte da casa comercial então do sr. F. M. Brandon no Rio de Janeiro.
Edifícios públicos da cidade: 1) Estação terminal da rede de esgotos da cidade; 2) Quartel
do Corpo de Bombeiros; 3) O Teatro Guarany; 4) O Paço Municipal
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Bolsa de Santos - Um importante fator da atividade comercial e industrial de Santos é a
Bolsa e Câmara Sindical dos Corretores de Fundos Públicos de Santos. Foi fundada a 1 de julho de 1903. São seus membros sete corretores, que
trabalham em ações, títulos, letras de toda a sorte, e são oficialmente reconhecidos pelo Governo Estadual.
Um dos requisitos para admissão a esta Câmara é que o candidato seja nascido no Brasil, ou
naturalizado cidadão brasileiro. Os corretores que constituíram a primeira Bolsa de Santos foram os srs. Quintino Ratto, Alexandre Kealman, Eduardo
B. Veriot, André G. Lunclin, José Pinto da Silva Novaes, J. Arruda Botelho e Estevam Estrella. Os membros são de nomeação do presidente do Estado, e
a Câmara Sindical, compreendendo um presidente e três membros (adjuntos), é eleita anualmente pela corporação e tem a seu cargo a parte
administrativa.
A Bolsa fica situada à Rua 15 de Novembro nº 59 e está aberta diariamente das 10 horas da manhã às
4 da tarde. Às 2 horas, todas as tardes, o corpo administrativo se reúne e são apresentadas as cotações de ações e títulos diversos do mercado,
durante o dia, bem como as taxas predominantes do câmbio. É mantido um arquivo contendo todas as transações realizadas, por intermédio da Bolsa.
Durante um ano, até 30 de abril de 1908, foi o número de títulos negociados pela Bolsa de 5.396,
representando em dinheiro Rs. 736:782$500. No ano de 1909, subiu este número a 7.200 e o seu valor a Rs. 801:995$250, enquanto que, em 1910, foi de
16.638 títulos, no valor de Rs. 980:740$980. O movimento em câmbio, em 1910, foi de £16.149.120; francos, 44.763.916; reichmarks
(N.E.: marcos alemães), 504.000; e dólares 369,
declarado pelos corretores. O movimento de câmbio por intermédio dos bancos foi de £8.466.514; francos, 21.806.805; reichmarks, 19.670;
liras, 639.703; réis, 704:108$550; dólares, 3.639; e pesetas 175.112. No ano até 30 de abril de 1911, o movimento de câmbio foi de £21.282.862 e
francos 29.747.291.
Desde a fundação da Bolsa têm sido presidentes os seguintes senhores: 1903-04-05, José Pinto da
Silva Novaes; 1905-06, José Emilio Ribeiro de Campos; 1906-07, Eduardo Machado; 1907-08, José Pinto da Silva Novaes; 1908-09-10, Alexandre Kealman;
1910-11, Emilio Wysling; 1911-12, José Pinto da Silva Novaes. Os presentes membros da Bolsa são os seguintes (os nomes entre parêntesis são os dos
srs. que estão qualificados como substitutos): Alexandre Kealman; Emilio Wysling; José Pinto da Silva Novaes (Henry Broad e Alvaro A. Peixoto);
Eduardo B. Veriot; Eduardo Machado (Augusto Hockerott); Quintino Ratto (Ernesto Junou) e Paulo F. de Araujo Filgueiras. A Câmara atualmente
compõe-se dos srs. José Pinto da Silva Novaes, presidente; Filgueiras, Machado e Ratto; e tem por secretário o sr. Antonio A. Proost Souza Jr.
O sr. José Pinto da Silva Novaes, presidente da Bolsa em 111-12, é natural de São Paulo e entrou
para o comércio como guarda-livros. Foi nomeado corretor de fundos públicos em 1903 e foi o primeiro presidente da Bolsa.
O sr. Emilio Wysling, presidente da Bolsa no ano que terminou em 30 de abril de 1911, é natural da
Suíça e aí começou a sua carreira comercial. Passou mais tarde à França, onde se demorou por dois anos; esteve depois durante cinco anos em uma
grande casa de Londres, importadora de café. Há 12 anos veio o sr. Wysling para Santos e estabeleceu-se por sua própria conta, tendo entrado para a
Bolsa em 1906.
O sr. Kealman é natural de Sydney (Austrália) e, depois de trabalhar em Buenos Aires, veio para
Santos, há cerca de 20 anos, como empregado do London & Brazilian Bank. Foi nomeado corretor de fundos públicos em 1903 e foi presidente da Bolsa em
dois períodos.
O sr. Paulo F. de Araujo Filgueiras, natural do Rio de Janeiro, é corretor de fundos públicos há
cerca de três anos. Tem também grande tirocínio como guarda-livros, cargo que por sete anos exerceu no Banco Agrícola do Brasil no Rio.
O sr. Filgueiras é capitão da Guarda Nacional e foi chefe de polícia em Santos durante 4 anos. O
sr. Ratto faz parte da Bolsa desde a sua fundação; é natural de Santos e, durante seis anos, trabalhou no London & Brazilian Bank. O sr. Eduardo
Machado é corretor desde 1905; no ano seguinte, foi presidente da Bolsa. É natural de Santos e a princípio foi empregado nas antigas casas
exportadoras de café de Frommel & Cia., e G. W. Dunn & Cia.
Eduardo B. Veriot - De descendência francesa, o sr. Veriot nasceu em Santos e há muitos
anos toma parte ativa no desenvolvimento comercial e industrial de sua cidade natal. Na sua mocidade, passou três anos na Europa, viajando pela
Itália, França, Espanha e Portugal, e nestes países teve ensejo de estudar os métodos do comércio local.
O sr. Veriot tem estado ligado a várias empresas em Santos, inclusive a Cie. de Navigation
Chargeurs Réunis, Banco Francez do Brasil e estabeleceu-se também como corretor de câmbio. Por ocasião da fundação da Bolsa, em 1903, foi um dos
nomeados como corretor de fundos públicos, cargo que continua a exercer com a mesma atividade.
O sr. Veriot foi o organizador, em 1910, da Companhia de Pesca Santos, a qual tem o capital de Rs.
800:000$000; e, em princípios de 1911, organizou também a Cia. de Exportação de Frutas. É sua também a idéia da Indústria Exploradora de Produtos
Nacionais, cujas operações inaugurou, dando assim à vida industrial de Santos um novo elemento de prosperidade.
O sr. Veriot é proprietário da empresa Industria Exploradora de Produtos Nacionais (Vila Alzira),
que se ocupa da manufatura de farinha de banana, cuja marca principal é "Alimentosa". Recentemente organizou a Cia. Construtora de Santos com o
capital de Rs. 1.000:000$000 e a Cia. Rendas e Bordados, com o capital de Rs. 225:000$000.
Construiu, à Avenida Conselheiro Nébias 320, uma fábrica movida à eletricidade, onde emprega 22
operários. Possui, nas vizinhanças de Santos, 500.000 hectares de plantações de banana; daí e de outras procedências, obtém a matéria-prima para a
fábrica referida. Esta consome 20.000 bananas em 24 horas, ou 100 cestas por dia ou 3.000 cestas por mês.
A produção de farinha de banana é de 5.000 latas por mês. O modo de manufaturar a farinha de
banana consiste em descascar a banana e fazer passar o fruto escolhido por dois processos de cozedura, o primeiro à pressão de 100 graus, e o
segundo a 120 graus. Só então é o fruto moído e novamente cozido a vapor, com a pressão de 150 graus. Depois deste último processo, é obtida a
esplêndida farinha que, submetida à análise competente, provou possuir valiosas qualidades nutritivas.
Atualmente, o consumo da farinha se limita ao interior, mas há todas as probabilidades de futuro
desenvolvimento para esta indústria, sobretudo por trabalhar com uma fruta extremamente abundante no país e consumida em toda a parte do mundo. Em
conexão com o seu negócio de corretagem, publica o sr. Veriot, diariamente, às 4 horas da tarde, o Bolletim Commercial de Informações,
contendo a lista do movimento no porto e bem assim o movimento do câmbio e do café.
Carregando café em Santos
Foto publicada com o texto, página 743.
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