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PRIMEIRA PARTE
PREMIÈRE PARTIE
X - Vida Média
Os cálculos sobre a vida média, por sexos, que ora
publicamos, em relação ao estado civil dos habitantes, são - se nos não enganamos - executados pela primeira vez no Brasil. Não são difíceis, mas
são trabalhosos e exigem grande soma de atenção para não chegarem a resultados absurdos.
Dos recenseamentos estrangeiros, por nós conhecidos, apenas o da França, de 1886,
publica esses cálculos; de maneira que, para as comparações que temos feito e ainda faremos, em relação a outras cidades do país e de fora, tivemos
que proceder por nós mesmos à semelhante operação.
Assim é que a vida média para Niterói, Petrópolis, São Paulo, Rio, Montevidéu,
Barcelona e Japão resulta dos cálculos feitos por nós sobre os grupos das idades dos recenseamentos a que lá se procedeu.
Cumpre-nos esclarecer que os processos matemáticos por que se costuma obter a cifra da
vida média constituem objeto das mais vivas controvérsias, por parte dos estatísticos, principalmente italianos. Para estes, a vida média, obtida
sobre as idades dos vivos, não passa de um simples cálculo de idade média. Mas a vida média, calculada sobre os que morreram, não é também senão a
"idade média" dos mortos, segundo o judicioso comentário de V. Turquan.
Adotando o critério do competente profissional uruguaio, sr. Cincinato Bollo, fizemos
os nossos cálculos sobre os vivos, que representam o total dos sobreviventes de cada grupo de idades em determinada época. Parece mais lógico que os
que ainda estão vivendo, nos grupos das idades de que que morreram certo número de habitantes, representem melhor que estes a resistência vital
média da população.
Além disso, o estado estático da população, representado por um censo bem feito, é
mais favorável ao cálculo da vida média e outros do que o seu estado dinâmico, representado no movimento da população que varia sempre, sobretudo no
que respeita às cifras da mortalidade.
É conveniente não nos esquecermos também de que a verdade estatística oscila em torno
de uma cifra média. É por isso que a estatística é a ciência dos grandes números. Para se chegar a uma qualquer conclusão definitiva, é preciso
reunir elementos numéricos no maior espaço de tempo; é preciso armazenar os dados de um período relativamente longo: - de um decênio, pelo menos,
para assentar a verdade sobre a cifra média resultante dos algarismos desse período.
A vida média, obtida pela idade dos mortos, só pode ser tomada em consideração se
provém de uma série de dados acumulados no decurso de muitos anos. Nos países novos, como o nosso, e numa cidade como Santos, que há poucos anos
apenas se desembaraçou de certas causas anormais de mortalidade, tal cálculo não seria a expressão da verdade média se não se baseasse em algarismos
acumulados através dos anos, o que é difícil obter, dadas as antigas condições do nosso registro civil.
Calcula-se a população de uma cidade ou de um país, já pela vida média, já pelos
coeficientes da natalidade, da nupcialidade ou da mortalidade e pela densidade predial. Ora, quer a vida média, quer os coeficientes quaisquer e a
densidade predial dependem essencialmente de um censo anterior perfeito, que não existia.
O censo de 31 de dezembro último veio, pois, complanar uma lacuna.
O mapa da página XXIII, que é calculado sobre a
demonstração do estado civil, dá, em resumo, a seguinte média:
Estado
|
|
Homens
|
|
Mulheres
|
|
Total
|
a
|
m
|
d
|
a
|
m
|
d
|
a
|
m
|
d
|
Solteiros |
16
|
6
|
19
|
12
|
9
|
10
|
14
|
11
|
12
|
Casados |
36
|
7
|
25
|
32
|
2
|
8
|
34
|
8
|
14
|
Viúvos |
49
|
|
|
47
|
7
|
25
|
49
|
11
|
25
|
Tomando o conjunto dos três estados civis, chegamos a esta conclusão:
Vida média |
Anos
|
Meses
|
Dias
|
Do homem .............................................................. |
24
|
--
|
9
|
Da mulher ............................................................... |
21
|
9
|
17
|
De cada habitante de Santos, sem distinção de sexos .... |
23
|
--
|
21
|
A vida média no Rio de Janeiro, calculada pelos dados do recenseamento de 1906, era de
24 anos e 7 meses, e a de Montevidéu, em 1900, era também de 24 anos. Na França, país que passa por ser o de vida média mais longa, a cifra
respectiva oscila entre os extremos de 36 anos, 7 meses e 10 dias para o Departamento de Tarne-et-Garonne, e de 25 anos e 8 meses para Finisterre.
Este fenômeno explica-se pela escassez da população infantil, em virtude do decrescimento da natalidade, o que faz avultarem os algarismos da
população adulta. Tal resultado não representa, pois, nenhum progresso real de longevidade, mas constata apenas que os algarismos relativos às
primeiras gerações tornam-se cada vez mais fracos.
Para o Império do Japão, por exemplo, em 1908, a vida média era de 37 anos; mas lá
também a população infantil estava em fraca proporção relativamente à população adulta válida. A vida média, no Rio de Janeiro, em 1906, era de 24
anos, aproximadamente a daqui.
Ao passo que, na França, país onde se vão esgotando as fontes da natalidade, a vida
média tem maior duração, em Niterói (censo de 1892) a proporção da população infantil sobre a adulta é de 77% e a vida média é apenas de 21 anos.
Santos, com 55% de meninos sobre a massa de adultos válidos, está bem cotada com uma vida média de 23 anos e 21 dias. Eis um pequeno quadro
comparativo da vida média:
Lugares
|
Períodos
|
Duração da vida média
|
Niterói |
1892
|
21 anos
|
Petrópolis |
1892
|
22 "
|
Santos |
1913
|
23 "
|
S. Paulo |
1893
|
24 "
|
Montevidéu |
1900
|
24 "
|
Rio de Janeiro |
1906
|
24 "
|
Barcelona |
1900
|
26 "
|
Japão |
1908
|
29 "
|
França |
1890
|
35 "
|
Fórmula - A vida média é igual à soma dos efetivos parciais de cada grupo de
idades, multiplicada por 5 e por 10, segundo o grupo é qüinqüenal ou decenal (diferença dos cortes de idade), aumentada da cifra inicial (primeira
linha) multiplicada por 2½ e dividida pelo número de habitantes.
Processo operatório - Somam-se os totais dos efetivos parciais de cada grupo de
idades. Separa-se do conjunto por um traço bem visível, na primeira linha, a soma que corresponde ao grupo de idades abaixo de 5 anos. Separa-se,
também por um traço bem visível, o grupo qüinqüenal do decenal, somam-se as parcelas obtidas e multiplica-se o total por 5, ou por 10, conforme o
grupo é qüinqüenal ou decenal - diferença dos cortes de idade.
Depois multiplica-se por 2½ a cifra inicial (primeira linha, grupo abaixo de 5).
Somam-se os produtos desta multiplicação e dividem-se pelo número de habitantes. Assim se obtém a vida média. Convém notar que a cifra inicial,
separada, na primeira linha, por um traço, é a soma geral dos efetivos parciais de cada grupo e representa, exatamente, o total da população
presente no município de Santos em 31 de dezembro de 1913, com exclusão dos indivíduos de idade desconhecida.
Lutamos para estabelecer a cifra da vida média na Capital do Estado pelo número de
habitantes vivos, que é a fórmula mais exata, pois falta um recenseamento recente, base segura desse cálculo estatístico. Socorremo-nos do
recenseamento a que, por ordem do governo do Estado, procedeu em 1893 - há 20 anos - a Repartição de Estatística; e encontramos, para aquele ano, a
vida média de 24 anos.
Querendo jogar com cifras mais modernas, tentamos fazer o cálculo pelo número de
óbitos - fórmula, aliás, menos exata - mas a classificação adotada pela Repartição Demógrafo-Sanitária, no que respeita às idades, é deficiente e
afasta-se da classificação universalmente seguida, pelo que não nos foi possível aproveitá-la.
Servimo-nos, pois, de dados de 1908, quando a estatística demógrafo-sanitária se
achava ainda a cargo da Repartição de Estatística. As idades são aí distribuídas por grupos qüinqüenais.
Tendo-se em vista que a vida média é tanto mais longa quanto mais escasso é o número
da população infantil, concluiremos que o município de Santos está bem cotado entre as diversas populações do mundo.
Demonstremo-lo:
Lugares
|
Períodos
|
Proporção da população infantil
sobre a população adulta válida
|
Vida média
|
Montevidéu |
1909
|
67,0
|
24 anos
|
São Paulo |
1893
|
60,0
|
24 "
|
Santos |
1913
|
55,0
|
22 "
|
Rio |
1906
|
53,0
|
24 "
|
Japão |
1909
|
37,0
|
29 "
|
França |
1890
|
27,0
|
35 "
|
Como se vê, a vida média aumenta à medida que decresce a proporção da população
infantil, em face dos adultos válidos.
Convém notar que a Comissão de Recenseamento considerou como população infantil, para
o Rio, Japão e França, os meninos até 10 anos e como válidos os adultos até 55 anos. Para São Paulo e Montevidéu, por motivos peculiares à
distribuição da população por idades, foi preciso abranger na população infantil todos os indivíduos até 15 anos e na população válida todos os
indivíduos até 60 anos. Daí, a elevada percentagem de 60 e 67, respectivamente, de meninos sobre adultos, dando, aliás, o mesmo resultado quanto à
vida média.
Imagem publicada no livro
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