[...]
PRIMEIRA PARTE
PREMIÈRE PARTIE
VI - Instrução e Religião
Relativamente ao estado de instrução do nosso povo, os
algarismos afirmam que, num total de 88.967 habitantes, apenas 32.154 sabiam ler e escrever. Acrescentando-se a esse número 6.763 crianças de ambos
os sexos, que freqüentavam escolas, teremos uma totalidade de 38.917.
Há, porém, mais 11.131 crianças menores de 6 anos que, por não se acharem ainda em
idade de receber instrução, não podem avultar no algarismo dos analfabetos e devem ser deduzidas da população total, que ficará assim reduzida a
77.656 almas. A percentagem de analfabetos fica, então, reduzida a um pouco menos de 50%.
A de adultos masculinos, sabendo ler e escrever, é de 47,85 e a de adultos femininos
é, nas mesmas condições, de 32,57. Em compensação, a proporção de meninas freqüentando escolas é mais alta que a de meninos. Estes são,
naturalmente, mais traquinas e menos dóceis à voz dos pais do que aquelas. Além disso, é de supor que os filhos varões dos pais proletários sejam
cedo entregues a algum ofício externo que lhes assegure um ganha-pão modesto para auxiliar a família; e isso os priva de freqüentar a escola.
A população infantil em idade escolar era grande: 17.826 pessoas. Dela somente 40%
recebiam instrução. Por quê? Deficiência de escolas, falta de recursos, ignorância dos pais? Não sabemos. Como, porém, melhorar o precário grau de
instrução, acusado pela estatística, de uma população onde apenas metade da população sabe ler e escrever, se nem 40% das crianças em idade escolar
é mandada aos estudos?
A instrução estava mais disseminada na zona urbana (52,86) que na rural (30,11).
Comparemos a instrução do nosso povo com a de outras cidades brasileiras, com
recenseamentos conhecidos:
Cidades
|
Anos
do
censo
|
População
(excluídos os menores de 6 anos)
|
Adultos sabendo
ler e
escrever
|
Menores freqüentando
escolas
|
Percenta-
gem de adultos
|
Percenta-
gem de menores
|
Bragança |
1903
|
33.168
|
6.439
|
1.255
|
19,4
|
4,0
|
Campos |
1892
|
105.544
|
19.937
|
6.743
|
18,8
|
5,9
|
Capital |
1893
|
110.380
|
46.696
|
8.808
|
42,4
|
7,7
|
Itatiba |
1904
|
17.341
|
8.502
|
815
|
48,9
|
4,7
|
Lençóis |
1905
|
11.023
|
1.585
|
361
|
14,3
|
3,2
|
Niterói |
1892
|
54.855
|
16.983
|
2.691
|
30,9
|
4,9
|
Piraju |
1904
|
13.509
|
2.610
|
347
|
19,3
|
2,6
|
Petrópolis |
1892
|
29.331
|
8.443
|
1.571
|
28,7
|
5,3
|
Rio de Janeiro |
1906
|
703.555
|
348.996
|
72.076
|
49,6
|
10,2
|
Santos |
1913
|
77.656
|
32.154
|
6.763
|
41,4
|
8,2
|
Vassouras |
1892
|
38.727
|
10.123
|
1.478
|
26,0
|
3,8
|
Do ponto de vista da instrução quanto à população infantil em idade escolar, o
quadrinho que segue estabelece comparações:
Cidades
|
Anos
do
censo
|
População
em idade escolar
|
Menores freqüentando
escolas
|
Percentagem de menores freqüentando escolas sobre o total da população escolar
|
Bragança |
1903
|
11.038
|
1.255
|
11,3
|
Campos |
1892
|
27.925
|
6.743
|
23,1
|
Capital |
1893
|
27.947
|
8.808
|
30,4
|
Itatiba |
1904
|
5.776
|
815
|
14,1
|
Lençóis |
1905
|
3.676
|
361
|
9,8
|
Niterói |
1892
|
9.738
|
2.691
|
27,6
|
Piraju |
1904
|
3.928
|
347
|
8,8
|
Petrópolis |
1892
|
5.327
|
1.571
|
29,6
|
Rio de Janeiro |
1906
|
149.446
|
72.076
|
48,2
|
Santos |
1913
|
17.826
|
6.763
|
37,7
|
Vassouras |
1892
|
8.153
|
1.478
|
18,1
|
Os quadrinhos acima demonstram que, apesar de tudo, Santos está bem colocado entre as
várias cidades brasileiras, relativamente ao grau de instrução elementar de seus habitantes. Em matéria de adultos, sabendo ler e escrever, apenas o
Rio de Janeiro, Itatiba e S. Paulo se mostram superiores, ficando-lhe muito abaixo Bragança, Campos, Lençóis, Niterói, Piraju, Petrópolis e
Vassouras.
Quanto à disseminação da instrução primária pela população infantil em idade escolar
(6 a 15 anos), verifica-se que a situação do nosso Município só é inferior à do Rio de Janeiro e de São Paulo. As outras localidades vêm-lhe muito
abaixo.
Para a alta percentagem de analfabetos contribui muito poderosamente a massa
proletária da população estrangeira, sobretudo a portuguesa, a espanhola e a italiana. Num estudo que fizemos separadamente dos quadros gerais, após
a conclusão dos trabalhos censitários, verificamos que em 100 indivíduos de cada nacionalidade abaixo discriminada, sabiam ler e escrever:
Indivíduos
|
|
Número de indivíduos
|
|
Sabem ler e escrever
|
|
Percentagem
|
H.
|
M.
|
Total
|
H.
|
M.
|
Total
|
H.
|
M.
|
Total
|
Portugueses |
14.986
|
8.069
|
23.055
|
6.421
|
1.275
|
7.696
|
42,84
|
15,80
|
33,38
|
Espanhóis |
4.828
|
3.515
|
8.343
|
2.321
|
863
|
3.184
|
48,07
|
24,55
|
38,28
|
Italianos |
2.066
|
1.488
|
3.554
|
1.020
|
379
|
1.399
|
49,37
|
25,47
|
39,36
|
Para os cálculos acima, tomamos como base a população de cada nacionalidade em todos
os grupos de idades, sem exclusão dos menores de seis anos, visto que se não fez a discriminação de cada uma delas segundo as idades. O cálculo
mostra que das três colônias a mais escassa é a mais culta - a italiana, sendo a mais inculta, justamente a mais numerosa - a portuguesa. A
espanhola está no meio da escala, que é a seguinte:
Nacionalidades
|
Analfabetos por 100 indivíduos
|
Italiana |
50,63 H. |
74,53 M. |
60,64 indivíduos |
Espanhola |
51,93 " |
75,45 " |
61,72 " |
Portuguesa |
57,16 " |
84,20 " |
66,62 " |
Os italianos contam com um total de 60,64% de indivíduos analfabetos, sendo 50,63% de
homens e 74,53% de mulheres; os espanhóis, um total de 61,72% de analfabetos, sendo 51,93% de homens e 75,45% de mulheres; os portugueses 57,16% de
homens e 84,20% de mulheres, ou sejam 66,62% de analfabetos. Fizemos os nossos cálculos unicamente sobre essas três colônias, que são as que mais
contribuem pelo seu número para a composição demográfica de Santos.
A população, quanto ao seu espírito religioso, compunha-se de 88,36% de católicos,
4,66% de acatólicos e 6,97% de indivíduos que se disseram irreligiosos ou não declararam seguir qualquer dos cultos conhecidos.
Imagem publicada no livro
[...]
|