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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TELECOMUNICAÇÃO
Um século de telecomunicações (16)

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Antes do surgimento da telefonia, e bem antes de o porto santista ganhar cais organizado e crescer em importância no comércio brasileiro, Santos já contava, em meados do século XIX, com cabeamento telegráfico, como é citado nestes registros do jornal paulistano A Província de São Paulo (antecessor de O Estado de São Paulo) em 1875, em seu primeiro ano de publicação. Os telegramas jornalísticos eram enviados de todo o mundo pela empresa telegráfica Agência Havas, ou de jornais correspondentes, via Santos, como alguns dos publicados na edição de 21 de março de 1875, na página 2 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagens: reprodução parcial da pagina com a matéria, no Acervo Digital Estadão

TELEGRAMAS

Políticos

- Enviados pela Agencia de Santos a 19 de março às 9 e 50 da noite:

BERLIM, 19 de março: A Alemanha e Itália aproximam-se em suas vistas a respeito da próxima eleição de um papa.

MADRID, 19 de março: A cidade de Pamplona foi de novo bloqueada pelos carlistas.

S. PETERSBURGO, 18 de março: Corre o boato de que o czar irá a Ems a 18 de maio.

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- Da mesma Agencia, ontem às 5 da tarde:

VERSALHES, 19 de março: A assembleia deliberou suspender as sessões, desde 20 do corrente até 11 de maio.

Nada ainda resolvido a respeito da dissolução.

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- Da Agência de Santos, ontem às 8 e 50 da noite:

MADRID, 20 de março: O antigo general carlista Cabrera aderiu à causa do rei d. Affonso.

BERLIM, 20 de março: O imperador Guilherme tenciona ir em maio à Itália.

Comerciais

- Do Diario de Santos:

RIO, 19 de março: As transações em café foram hoje bastante ativas, e a preços bem sustentados.

Cota-se o do Rio "good first", de 5,600 a 5,750 e o "first ordinary", de 4.900 a 5.060, pelos 10 quilos.

Venderam-se 10.000 sacas.

Entraram 10.000 sacas.

Existência 155.000 cacas.

Mercado monetário. O dinheiro continua hoje escasso.

Câmbio. Sobre Londres 26 3/4 d. bancário.

LONDRES, 18 de março: Aos preços antecedentes se tem ajustado vendas de cafés do Rio, havendo melhor procura para o de Santos, mas a preços reduzidos.

Cota-se o "Rio good channel floating cargoes", a 74 shillings, e o de Santos, "good average floating cargoes", 80/6 por 112 libras.

Vendeu-se o carregamento do navio Zingora, que se compunha de 3.700 sacas do Rio, fair channel, à razão de 70 sh 1/2.

HAVRE, 18 de março: Mercado de café tem estado hoje ativo e a preços muito bem sustentados.

ANTUÉRPIA, 18 de março: Em razão das pretensões dos possuidores que insistiam na alta de preços, continuam embaraçadas as transações.

HAMBURGO, 18 de março: Mercado ativo em café e a preços firmes.

Cota-se o café do Rio, "real ordinary" 77 pfennings e o de Santos good average 86 pf. por libra.

Câmbio, sobre Londres, 205 marcos 80 pf.

PARIS, 18 de março: Câmbio, sobre Londres, sem alteração 25 22 por uma libra esterlina.

LIVERPOOL, 18 de março: Mercado de algodão, calmo, preços sustentados sem alteração.

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- Da Agência de Santos, ontem:

RIO DE JANEIRO, 19 de março, à tarde: Câmbio bancário sobre Paris 356 r.

MARSELHA, 18 de março, à tarde: O mercado de café foi hoje calmo, com preços sustentados.

O café do Rio first ordinary está a 90 francos por 50 quilos.

NEW YORK, 18 de março: Mercado excessivamente calmo em café.

Preços com tendência para baixa.

o café do Rio fair cargoes cotado a 17, e o good cargoes a 17 3/4 cents à libra.

Ouro a 116 1/2.

Câmbio sobre Londres, 4,78.

 

Um comentário sobre a necessidade de interligar os vários serviços telegráficos foi publicado por A Província de São Paulo na edição de 16 de novembro de 1875, na página 1 (Acervo Estadão - ortografia atualizada nesta transcrição):

Imagens: reprodução parcial da pagina com a matéria, no Acervo Digital Estadão

SEÇÃO INDUSTRIAL

As linhas telegráficas

São geralmente reconhecidas hoje as imensas vantagens oferecidas pelo telégrafo elétrico aos povos e por toda a parte se procura facilitar ao público os meios de comunicação pronta de um ponto para outro. Está nisto a grande importância dos aparelhos de Samuel Morse e de Wheatstone.

Telegrafar é transmitir com rapidez um pensamento, e, se assim não fosse, o telégrafo não ocuparia um lugar tão distinto entre as invenções do espírito humano. Portanto, tudo quanto não for facilitar a transmissão do pensamento de uma localidade para outra, é um mal, uma peia ao acréscimo das rendas das linhas telegráficas.

No Brasil esta útil invenção não se presta a satisfazer completamente o que se deve esperar dela, porque entre as diversas estações não há um acordo de modo a prender as diferentes cidades que já gozam desse benefício, tornando as comunicações rápidas e fáceis.

Quem se acha em Sorocaba ou em Campinas não pode se corresponder diretamente com outra pessoa que esteja no Rio de Janeiro; precisa se dirigir a uma intermediária em S. Paulo ou Santos para ela de uma destas estações passar o telegrama para a capital do império.

Há nisto muitos inconvenientes que fazem não ser grande o serviço de tais linhas.

Um despacho, que podia ser transmitido de Capivari ao Rio em três horas, necessita muitas vezes de um dia e até de 24 horas para chegar ao seu destino, pois que o tempo gasto em ir às mãos de alguma pessoa em S. Paulo ou em Santos é um embaraço à passagem direta; assim perde a comunicação algumas vezes o seu caráter de urgente por faltar-lhe o meio de se dar a necessária e possível rapidez na expedição.

Não vêm fora de propósito estas considerações tendentes a provocar um acordo entre as linhas das companhias das estradas de ferro e as do governo e submarina, porque hoje, como talvez haja quem pense, estamos mais felizes que ontem, quando não tínhamos nenhum telégrafo, devendo por conseguinte contentarmo-nos com o que existe e com o serviço tal qual é feito.

Mesmo por termos à mão presentemente várias linhas, entramos no período em que já sabemos avaliar o préstimo real do telégrafo e achamo-nos no caso de não nos satisfazermos com o sistema atual do serviço.

As companhias de estradas de ferro podiam entender-se com o governo e a companhia do telégrafo submarino, de sorte a ficar assentado que o telegrama passado de uma estação de qualquer delas seja aceito nas daquele e desta, e levado ao seu destino.

Com isto muito ganhariam o público, as companhias e o Estado, proprietários dessas linhas.

O telégrafo não é um objeto de luxo e quanto mais se facilitar a expedição de despachos de um ponto a outro do país, tanto mais produtivo será ele.

Trazendo à imprensa estas ligeiras considerações, esperamos que elas sejam pesadas pelo governo e pelas companhias interessadas no acordo.


Agência Telegraphica Havas-Reuter - tarifário

Anúncio publicado em A Província de São Paulo em 10 de abril de 1875, página 3 (Acervo Estadão)

História - As primeiras experiências com telégrafo ótico foram feitas entre diferentes pontos da capital Rio de Janeiro e cidades próximas, a partir de 1809. Já o telégrafo elétrico, patenteado em 1838 por Samuel Finley Breese Morse teve sua primeira linha estendida em 1844 entre Baltimore e Washington, nos Estados Unidos, e na década seguinte se espalhou pela Europa, onde também os ingleses Charles Wheatstone e William Fothergill Cooke criaram por volta de 1838 seu sistema telegráfico, inicialmente com cinco linhas paralelas de transmissão entre Londres e Blakwell, em 1845 reduzidas a uma linha. O Código Morse, alfabeto binário composto por pontos e traços, surgiu em 1844.

Após várias falhas, desde 1857, o primeiro cabo telegráfico submarino, entre Estados Unidos e Irlanda, foi instalado em 1866. No Brasil, o sistema chegou em 1851, e a linha pioneira entre o Campo da Aclamação e a Quinta de São Cristóvão, na capital carioca, foi inaugurada em 11 de maio de 1852, a princípio se integrando com o telégrafo ótico. Em 1855, Guilherme Schüch de Capanema (depois barão de Capanema) foi nomeado diretor geral dos Telégrafos Elétricos.

A guerra com o Paraguai (1864/1869) trouxe um novo impulso, instalando-se até junho de 1866 uma ligação terrestre (com trechos submarinos) entre a Corte e o Rio Grande do Sul, passando por Santos e outras cidades litorâneas, como relata o estudo "A introdução da telegrafia elétrica no Brasil (1852-1870)", de Mauro Costa da Silva e Ildeu de Castro Moreira (UFRJ - publicado na Revista da SBHC, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 47-62, jan/jul 2007) - clique >>aqui<< para obter o arquivo em formato PDF.

Mauro Costa da Silva é autor de outro trabalho, que abrange o período seguinte, de 1870 até o final do Império - clique >>aqui<< para obter o arquivo em formato PDF.

Em 23 de dezembro de 1873 foi estabelecida a ligação telegráfica por cabo submarino entre as cidades do Rio de Janeiro, Belém do Pará, Recife e Salvador, por iniciativa de Irineu Evangelista de Souza (futuro barão de Mauá). Em 22 de junho de 1874 ele completava a ligação entre as estações de Recife e a portuguesa de Carcavelos (Portugal), via Cabo Verde e Ilha da Madeira, através de sua Brazilian Submarine Telegraph Company, antecessora da inglesa Western Telegraph Co. Ltd.. Em 1875 foi feita a ligação de Recife a João Pessoa e Natal. No mesmo ano de 1875 foi lançado o cabo da London Platino Brazilian Company, entre Rio de Janeiro e Buenos Aires, interligando Santos, Florianópolis e Rio Grande, além de Montevidéu.

Em 1891 já existiam linhas telegráficas para Cuiabá e Corumbá, e em 1900 elas alcançavam o Amazonas e o Acre.

Em 1893 entrou em operação o cabo submarino da inglesa South American Cables Ltd. (cuja concessão foi em 1914 transferida para a França) e em 1925 a empresa italiana Italcable lançou seu cabo entre a Europa e a Ilha Fernando de Noronha.

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