HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
ENSINO
A educação... e as antigas escolas (4d-2)
Tradicionais colégios, que muito santista recorda com
saudade, independentemente de serem públicos ou particulares, marcados por professores que se destacaram na Cidade, e por eventos que também fizeram
história. Um dos mais tradicionais, o colégio José Bonifácio, tinha a sua solenidade de formatura divulgada na primeira página do jornal santista A
Tribuna, na edição de 4 de abril de 1913 (ortografia atualizada nesta transcrição):
Foto: Imagem: reprodução parcial da página 1 de A Tribuna de 4/4/1913
Escola de Comércio "José Bonifácio"
Quadro dos diplomandos e diplomandas do ano passado, vendo-se ao alto os retratos dos srs. dr.
Porchat de Assis, diretor da escola, e Abel de Castro, lente de Contabilidade e Escrituração Mercantil.
Esse quadro, um dos melhores trabalhos que no gênero temos visto, é concepção e feitura do sr. H.
Eckmann, hábil e competente fotógrafo, com atelier na Rua Augusto Severo.
Esse belo quadro, que honra o atelier de onde saiu e é uma demonstração de que em Santos já
existem verdadeiros artistas, acha-se exposto, por obséquio do sr. Deoclides Bezerra, na Tipografia Brasil, à Rua 15 de Novembro n. 35.
Eis os nomes dos diplomandos: Nilo Silva, orador por parte dos diplomandos; Amélia Caldas Kerr,
oradora por parte das alunas; Zenóbia de Almeida e Silva, Risoleta Porchat de Assis, Arnaldo Augusto Millon, Humberto Arcúrio Sportelli, Natalina de
Almeida e Silva e Faustina Pinheiro da Silva.
A cerimônia de colação de grau terá lugar em 7 deste mês. Dessa turma é paraninfo o sr. Abel de
Castro, lente de Escrituração Mercantil.
Foto publicada com a matéria
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Depoimento de leitor publicado na seção Ponto de Vista do jornal santista A Tribuna, em 22 de janeiro de
2007:
PONTO DE VISTA
A Escola José Bonifácio
Jaíra Presa (*)
Colaboradora
Com a proximidade de mais um aniversário de Santos, lembranças
povoam minha memória e meu coração. E, dentro dessas lembranças, desponta uma das mais ternas: a Associação Instrutiva José Bonifácio. Já se
passaram quase cinqüenta anos, mas essa escola marcou indelevelmente minha vida, nela escrevendo uma linda página.
Meus pais ali me matricularam após ter feito exame de seleção para a Escola Normal Livre José
Bonifácio. Fiquei feliz com a escolha, pois meu pai, tios e tias formaram-se nela. Pai e tios, no Curso de Contabilidade, as tias, na Escola Normal.
Iniciou-se o ano de 1957. Às 6 horas, acordei rapidamente e vesti meu uniforme: saia azul marinho
pregueada, blusa branca e a famosa gravata cor de vinho. Fui para o ponto do bonde 5, na Avenida Rodrigues Alves, e embarquei. Por todo o trajeto,
medo e alegria viajavam comigo. Como seria minha nova escola, professores e colegas?
Ao entrar na escola senti que uma vida feliz me aguardava. Minha classe ficava no prédio de trás.
Encaminhei-me para lá e já adorei minha turma: eram falantes e engraçados.
Um a um, os professores, todos de terno e gravata, foram se apresentando: Rafael de Lóssio -
sempre usando chapéu, Fonseca, Negrelli, dr. Castro Rios, dr. Edmundo de Queiroz, dr. Nicanor Ortiz, Mário Alcântara, Walter, Dulce, Oraida e o
professor André Freire - sempre usando ternos claros.
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Liberdade de cada aluno era sempre respeitada |
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Que saudade! Quantos conhecimentos e lições de vida nos transmitiram. Tiravam-nos as dúvidas
próprias da adolescência e nos incentivavam na difícil arte de ser professor. O professor Lóssio, que abria suas aulas quase sempre com a leitura,
feita por nós, de artigos de A Tribuna; os primeiros contatos com a poesia através das aulas do querido dr. Nicanor Ortiz; a amizade e o
carinho de todos os mestres; a triste perda do professor Mário Alcântara; a tranqüilidade e firmeza de mestre André Freire e as aulas de música com
a inesquecível professora Oraida, que nos emocionava quando nos acompanhava ao piano no hino da escola:
"...Nesta escola que o nome de Santos/ Ao
futuro entre bênçãos conduz..."
Formei-me nessa escola querida, onde a liberdade de cada aluno era respeitada, sempre objetivando
o interesse geral do grupo. Aqueles professores tinham o condão de nos levar a fazer boas escolhas, talvez influenciados pela responsabilidade do
nome que a escola carregava: José Bonifácio.
Mais tarde, outros diretores e professores foram tomando as rédeas da instituição, até chegarem às
mãos do nosso querido prefeito. E o velho "Bonifácio" continua sua saca.
Portanto, neste mês de comemorações do aniversário de Santos, nada mais justo do que lembrarmos
dessa escola de tanta tradição em nossa Cidade.
(*) Jaíra Presa é
professora e coordenadora do Grupo Poetas Vivos.
"A mesa que presidiu a solenidade da colação de grau das professorandas de 1943, diplomadas pela
Escola Normal José Bonifácio, realizada no dia 20, no Coliseu Santista. Vê-se, quando discursava, o paraninfo, prof. Mário
M. de Oliveira"
Foto-legenda: revista Flama, dezembro de 1943 (ano XXII, nº 12)
"Realizou-se, no dia 18, no salão da Humanitária, a cerimônia de colação
de grau dos contadorandos da Escola de Comércio José Bonifácio. Vê-se, no clichê, a mesa que presidiu a solenidade e, discursando, o orador da
turma, contadorando Jáder Freire de Macedo"
Foto-legenda: revista Flama, dezembro de 1943 (ano XXII, nº 12)
"Esta foto é do pátio do antigo prédio da Escola de Commercio, com os alunos se preparando para o desfile do dia 7 de setembr, em 1928. Minha mãe, Semíramis Pereira Guimarães, está carregando a bandeira, honra destinada à primeira aluna da classe"
Foto (e ampliação parcial) enviada em 8 de julho de 2017 a Novo Milênio pelo psicólogo e escritor Luiz Antonio Guimarães Cancello, com a legenda
Diploma da Escola de Commercio José Bonifácio, assinado pelo diretor prof. dr. Adolfo Porchat de Assis, em nome de Semíramis Pereira Guimarães, em maio de 1927. Note-se na ilustração de Benedicto Calixto os símbolos do Comércio na presença da Lei, da Ciência e da Justiça, bem como as efígies das ilustres famílias santistas Gusmões e Andradas, bem como a data de criação da escola, 1907
Reprodução do diploma de conclusão de curso enviada em 31 de julho de 2017 a Novo Milênio pelo psicólogo e escritor Luiz Antonio Guimarães Cancello
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Na coluna A Tribuna nos anos 60, referente à segunda-feira, 5 de agosto de 1963, e publicada no
mesmo A Tribuna pelo jornalista Hamleto Rosato em 5 de agosto de 2004, é relatado:
A TRIBUNA NOS ANOS 60
Santos, 5 de agosto de 1963
(segunda-feira)
Hamleto Rosato
Escola José Bonifácio fazia 56 anos
Estava a Escola José Bonifácio completando 56 anos de atividades. Foi criada com o
nome de Academia de Comércio de Santos e é a precursora do Curso de Escrituração Mercantil. Por ela passaram figuras que se destacaram em setores
diferentes.
Homenageando-os, citemos o saudoso prestante cidadão José Gomes dos Santos Neto,
jornalista, que foi diretor da Sucursal de A Gazeta. Uma Faculdade de Direito, com sete alunos, ali chegou a funcionar. O corpo de
professores foi dos melhores que Santos teve. Recordemos um dos seus diretores, o professor Papa Sobrinho, que durante anos foi abnegado dirigente e
que ocupou a pasta da Secretaria de Educação de Santos.
Alunos da José Bonifácio desfilaram em homenagem aos 56 anos da escola
Foto publicada com a matéria
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Na mesma coluna A Tribuna nos anos 60, o jornalista Hamleto Rosato registrava, com referência
ao dia 4 de março de 1964, em publicação ocorrida no dia 4/3/2005:
A TRIBUNA NOS ANOS 60
Santos, 4 de março de 1964 (quarta-feira)
Hamleto Rosato
Pessoas reveladas nas páginas do jornal
Nos seus 110 anos, A Tribuna não só acompanhou o desenvolvimento de Santos,
mas contribuiu, e muito, para ele. Roberto Mário Santini foi quem sugeriu a criação da rádio deste jornal e seu pai, Giusfredo, deu o aval para
lançarmos A Tribuninha. Roberto Clemente Santini chegou e lançou a televisão. Isso representa realização. No suplemento infanto-juvenil, o
primeiro que surgiu no mundo, o jornal obsrvou e estimulou crianças e jovens. Muitos deles viriam a ser destaque.
Citemos alguns: Marcos Rossi, Antônio Fernandes Escandon e Mota, pintores;
professores universitários: Adelina Heitor, Rosângela e Elisabeth Perdiz Simões (irmãs, a última falecida); Raul Christiano, dr. Alberto Karpakian,
Roberto Paulino e este neto do prof. Papa Sobrinho, que foi diretor da Escola José Bonifácio e onde o atual prefeito de Santos iniciou seus estudos.
J. C. Lobo e Dino brilharam neste jornal, onde também brilhou e iniciou sua carreira
Ofélia R. Anunciato, com "lápis mágico", popularizou Pelé e fixou o prefeito, de quem o povo muito espera.
O avô, Papa Sobrinho, garantia que o neto era ótimo aluno
Charge de J. C. Lobo, republicada com a matéria
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