José Ricardo Rodrigues Ferreira Júnior (no destaque), quando jogava na equipe da AD
Guarujá: estréia será sábado no Rhayader Town
Foto: divulgação, publicada com a matéria
PERSONAGEM
Santista usa Internet e
vai jogar no País de Gales
José Ricardo é o primeiro jogador de futebol do mundo a ser contratado por meio
da rede mundial de computadores
Luigi Di Vaio
Da Reportagem
Um santista de 20 anos está prestes a fazer história no
futebol mundial. No sábado, quando entrar em campo o time do Rhayader Town - que subiu este ano para a primeira divisão do País de Gales (Reino
Unido) -, José Ricardo Rodrigues Ferreira Júnior atuará como o primeiro jogador de futebol a ser negociado pela Internet. Atacante que teve como seu
último time a Associação Desportiva Guarujá (ainda como amador), ele também passa a ser o primeiro brasileiro a disputar a Liga Profissional daquele
país.
A idéia de se lançar no futebol europeu usando a rede mundial de computadores partiu
do próprio jogador, conhecido nas escolinhas de futebol aqui na região como Batata. É o pai, o empresário José Ricardo Rodrigues Ferreira,
que conta a história: "Há muito tempo ele colocou essa idéia na cabeça. Pensou nos detalhes e colocou o plano em prática".
Júnior, como a Imprensa galesa se refere a ele, primeiro resolveu aprender Inglês e
Informática. Nada diferente dos outros garotos de sua idade. Mas sua ambição era maior. Iniciado na língua de Shakespeare, aos 17 anos ele ficou
sabendo - por intermédio de um empresário - que um time nos Estados Unidos oferecia alojamento e curso de língua para estrangeiros.
O pai foi contra, mas aceitou. "Ele queria ir só para aprender Inglês. Sabia que
jogando futebol não ficaria muito tempo por lá". A temporada no Strikers Soccer Club, da Flórida, durou oito meses. A volta para Santos se deu por
dois motivos: seu visto tinha encerrado e ele não conseguiu o green card (visto permanente).
Já de volta à sua cidade natal, Júnior procurou esconder do pai que continuava a jogar
futebol. "Ele falava para mim que ia para o clube (a ADG) só para treinar a parte física e ficar junto com os amigos". À noite, tinha que ir para a
choperia (Aquarim Beer) que o pai abriu para ele comandar.
"Não sei como ele conseguia ficar até 1 hora da madrugada na choperia e acordar às 7
horas para treinar", relembra o pai. Já o irmão, Gabriel Cursi Ferreira, de 16 anos - que também jogou com Júnior nas categorias Amadores no Santos
e na Portuguesa Santista - revelou que era justamente de madrugada que ele dava continuidade ao plano. "Era nesse horário que ele se ligava à Net
para mandar os currículos e procurar informações dos clubes europeus".
Pelo vídeo - No meio do ano, o pai de Júnior respirava aliviado, pensando que o
filho tinha abandonado a idéia fixa de seguir a carreira dos gramados e chuteiras. Até que começaram os contatos do Rhayader Town. Depois de uma
série de troca de informações, via e-mail (N.E.: correio eletrônico), a diretoria
do clube pediu que o jovem atacante mandasse uma fita de vídeo, em que aparecesse jogando bola.
O plano não tinha mais como ser secreto. "Então ele veio e me contou toda a história.
E eu embarquei também. Contratei um filmador profissional, fizemos a fita e tivemos que decodificá-la para o sistema deles". Pouco tempo depois de
enviar a fita, o clube mostrou o interesse de contratá-lo e ele embarcou para o País de Gales no dia 13 de outubro, já com a passagem paga pelo
time.
O pai do atleta, José Ricardo: "Ele vai ganhar para jogar e dar aulas de fundamentos
de futebol"
Foto: Luigi Bongiovani, publicada com a matéria
Imprensa lembra de Juninho e Pelé
José Ricardo Rodrigues Ferreira e o filho Gustavo mostram orgulhosos os recortes de
jornais do País de Gales, onde Júnior chegou a ser tratado como "samba soccer kid", numa pouca inspirada referência ao Brasil. Os tablóides
do Reino Unido, conta o pai, quando falam de seu filho também fazem muita referência ao meia-atacante Juninho (que jogou no Middlesbrogh da
Inglaterra) e, é claro, a Pelé, pelo fato de os dois terem vindo de Santos.
Júnior fez três amistosos com o novo clube e já marcou um gol. Mas a estréia oficial
mesmo será no sábado. O contrato foi assinado até 24 de maio de 99, dia da última rodada do campeonato. O pai do jogador não faz firulas ao ser
perguntado sobre o valor do salário do filho: "Ele vai ganhar para jogar e dar aulas de fundamentos de futebol nas escolas, cerca de 2 mil libras, o
que deve dar uns R$ 3 mil 600". Sem falar em uma casa só para ele, com cozinheira.
Gustavo disse que está feliz pelo irmão estar fazendo sucesso no exterior. "Ele me
disse pelo telefone que quando comentou com um dirigente do time que queria conhecer o estádio, foram buscá-lo de carro e acenderam as luzes à noite
do local, só para ele".
Os contatos com o filho, como não poderia deixar de ser, se dão na maioria das vezes
pela Internet, destaca José Ricardo Rodrigues Ferreira, orgulhoso das informações que Júnior lhe manda. "O assédio da Imprensa lá tem sido tão
grande, que ele já é muito reconhecido nas ruas e distribui inúmeros autógrafos".
Ambição - Mesmo não tendo ainda estreado oficialmente na Liga, o pai de Júnior
conta que o plano do filho no difícil futebol europeu é mais ambicioso. Está só começando.
O grande sonho, revelou, é jogar no Barcelona da Espanha ou mesmo no Santos, o clube
do coração. "Ele levou duas camisas de futebol para lá. A do Peixe e a da Seleção Brasileira" (LDV). |