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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - TEATRO GUARANY
Teatro Guarany quase vira floresta urbana (2)

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Ao primeiro olhar, uma foto feita em 2004 engana o observador distraído, que pensará ver uma cena de bosque, numa cidade serrana do interior paulista. Só com a explicação ele se localizará e perceberá que no primeiro plano o bosque são as ruínas do Teatro Guarany, bem no centro de Santos.

Esta matéria foi publicada em 9 de agosto de 1985 no antigo jornal Cidade de Santos, num momento em que a preservação das edificações tradicionais de Santos era debatida, após o incêndio que destruiu quase totalmente o abandonado prédio duplo da Prefeitura e Câmara no Largo Marquês de Monte Alegre:

No lugar do prédio histórico, um estacionamento
Foto: Arquivo CS, publicada com a matéria

Teatro Guarany será derrubado

O Teatro, do qual hoje só restam três paredes, tem destino certo: a demolição. A despeito da resistência de alguns setores da comunidade santista, que pretendem a sua conservação, os dois principais responsáveis pelo imóvel - a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia e o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico (Condephaat) têm uma opinião em comum: nada há a recuperar. Tanto que o provedor da Santa Casa, Antônio Manoel de Carvalho, confirmou ontem que ingressará na Justiça para recuperar total poder sobre o imóvel. Seu projeto imediato é demolir as ruínas e alugar o terreno para que seja instalado um estacionamento.

Paralelamente, os arquitetos do Condephaat que estiveram na cidade anteontem para vistoriar o que restou da antiga Prefeitura, também incendiada, afirmaram que dificilmente o órgão decidirá pelo tombamento do Guarany. O processo deu entrada há alguns anos, mas a situação permanece indefinida. Segundo os técnicos Paulo Sgarb e Victor Hugo Mori, o prédio encontra-se seriamente descaracterizado, e a sua restauração nos moldes originais implicaria em altíssimos investimentos. Como a proprietária do imóvel não mostrou o menor interesse nesta recuperação, o tombamento seria uma medida inócua.

Quem vibrou com estas colocações foi o provedor Carvalho, dizendo que é preciso "acabar com esta palhaçada de querer conservar três paredes que não têm mais nada a ver com o Teatro Guarany". Lembrou ainda que desde que assumiu o cargo, a Santa Casa já perdeu Cr$ 90 milhões (sem contar juros e correção) no imóvel, uma vez que poderia estar alugado desde então. "Tenho uma proposta para locar o terreno por Cr$ 5 milhões mensais, que seriam revertidos para o hospital. Agora, pensar em gastar Cr$ 12 bilhões para reconstruir o Teatro Guarany, naquele local (praça dos Andradas) é uma loucura", acrescentou (N.E.: naquele dia, o dólar oficial era cotado para venda a Cr$ 6.600,00).

Mas os setores que lutam pela restauração continuam mobilizados. Há inclusive uma Especial de Vereadores que deverá entrar em contato com o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) para que colabore no processo de tombamento e até com recursos. Há planos também de contatar fundações e entidades privadas neste sentido. Foi graças à luta dos segmentos que as paredes não foram demolidas logo após o incêndio.

Na mesma edição, o jornal publicava este editorial:

Santos está dormindo

A informação de que o Teatro Guarany só seria recuperado com imensos custos e que por isso seus restos serão mesmo derrubados, cedendo espaço a mais um estacionamento na Praça dos Andradas, é a prova de que esta cidade não se apercebeu da sua importância na história deste país.

No domingo passado foi o casarão do Largo Marquês de Monte Alegre, que pegou fogo; desde há muito é o casarão de frontaria azulejada do nº 92 da rua do Comércio, que está caindo aos pedaços; há tempos foi o Coliseu, que ainda não derrubaram mas quase desmontaram por dentro, e logo será demolido sob a alegação de que estará "oferecendo perigo aos transeuntes"; a Cadeia Velha foi restaurada e não lhe deram destinação à altura; o Outeiro de Santa Catarina, ponto inicial da cidade, virou cortiço; a Casa do Trem foi restaurada, mas continua desocupada, deteriorando-se; prédios e prédios históricos, marcos de uma época da arquitetura européia trazida para Santos e para o Brasil na segunda metade do século passado (N.E.: século XIX), vão caindo a cada dia.

Quando a imprensa ou alguma pessoa de visão mais assentada chama a atenção da opinião pública para este crime que se está cometendo contra a memória local e nacional, o mínimo que fazem é classificar tais manifestações de "sonhadoras", quando não dizem que é "palhaçada"...

É por isso que afirmamos: Santos está dormindo. Engana-se pensando que de estacionamentos construirá seu progresso. Deve ser mesmo difícil para aqueles que se formaram sob o arbítrio apreender a idéia que encerra a defesa dessas riquezas. Ao contrário do que comumente se julga, não se trata de sonho. Uma cidade, um país, valem por sua alma, que se traduz por referenciais - como o é a arquitetura - que, no presente, guardam momentos do passado. Essa realidade é tão forte que se serve até à exploração turística inteligente. Mas desde que a comunidade acorde.

O incêndio que destruiu as instalações do teatro Guarany ocorreu em 1981, sendo assim registrado pelo jornal santista A Tribuna, na primeira página da edição de 14 de fevereiro de 1981:

O fogo foi intenso e queimou tudo em menos de uma hora
Foto: Anésio Borges, publicada com a matéria

Incêndio no Guarany

Um incêndio de grandes proporções e origem ainda desconhecida, praticamente destruiu o prédio do Theatro Guarany, nesta madrugada. O fogo começou por volta da 1 hora, e cinco minutos depois chegava ao local - Praça dos Andradas esquina com Amador Bueno -, a primeira de nove viaturas do 6º Grupamento de Incêndios, sob o comando do capitão Alves, auxiliado por 40 soldados, cabos e sargentos.

Os bombeiros isolaram toda a área e iniciaram o combate ao fogo que, minutos após iniciado, já havia destruído todas as instalações do cinema que funciona no prédio, além de malas, roupas, isqueiros e outras mercadorias de uma pequena loja que funciona na parte da frente do cinema.

A ação imediata dos bombeiros, que utilizaram todo o efetivo de Santos, São Vicente e também o pessoal que atende à faixa portuária, praticamente controlou o incêndio por volta das 2 horas para, então, iniciar a fase de rescaldos. Todo o quarteirão foi isolado, fator que impediu que o fogo se propagasse para outros prédios das proximidades.

Segurança precária - De acordo com o capitão Alves, a segurança contra incêndio do Theatro Guarany "era bastante precária", e por essa razão não foi possível uma ação mais rápida por parte dos bombeiros. Até o momento em que as guarnições realizavam os serviços de rescaldos para, em seguida, entregar o caso à polícia para as devidas providências, não havia chegado ao local nenhum dos proprietários dos estabelecimentos que funcionam no prédio: Cinema, Palácio das Malas e Lanches Guarani.

O comandante interino do 6º GI, major Rogério Ademar Lamagni, compareceu ao local e foi informado de que a provável causa do incêndio foi um curto-circuito. Os prejuízos ainda não foram calculados.

A ação dos bombeiros foi rápida e por isso evitou o pior
Foto: Ademir Henrique, publicada com a matéria

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