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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CORREIOS
Carteiro! (4)

Uma reclamação contra a falta de modernização... em 1939
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Em 15 de novembro de 1939, quanto Santos festejava o cinqüentenário da Proclamação da República, o jornal santista A Tribuna incluiu esta matéria em seu caderno especial comemorativo - edição no acervo do historiador Waldir Rueda (aqui transcrita com grafia atualizada):
 


Reprodução parcial da matéria original

VIDA SOCIAL
Homenagem à rotina

Bem ruinzinho, aquele dia de ontem, sob a densa "bruéga" a tombar das alturas, como finíssimos esguichos duma esponja gigantesca apertada por um braço ciclópico...

Fui levar algumas cartas ao correio, mensagens de amizade a pessoas distantes. Isto que outrora constituía um prazer sempre renovado, hoje representa um verdadeiro martírio. Porque escrever não custa. Franquear a correspondência - é que são "elas".

Quis entrar na repartição, para aquele benemérito mister. Que esperança! Uma fila interminável, comprida como uma jibóia gigantesca, principiava na soleira da porta e acabava no único e estreito "guichet", onde um funcionário solícito se multiplicava, para atender a todo aquele povaréu...

Sob a chuva, equilibrando-me na ponta dos pés, empurrado por outros pretendentes a entrar na fila, pacientei como um inglês fleumático. Ao lado, um cavalheiro, um desconhecido que sempre aparece nessas ocasiões, para dar palpite e taramelar enquanto o carro segue, observou-me, com tremuras indignadas na voz espessa:

- Maldita invenção, essa de se precisar apor um selo numa carta que se deseja mandar para longe... Perde-se um tempo enorme e valioso, para o simples dever de adquirir esses retângulos coloridos...

- Que se há de fazer, amigo? - repliquei displicente. - Não há outro remédio... Sem selos é que as cartas não podem ser expedidas...

- Como não? - berrou o outro com ênfase - Tudo progride, se aperfeiçoa e melhora. Tudo se mecaniza. Apenas o correio continua a recorrer a esse processo, pouco asseado, de se pregar um papelinho, com saliva, a fim de provar que se pagou o porte da correspondência. Pois não existem máquinas admiráveis para esse ofício? Não seria mais rápido, mais prático, o uso desse moderno sistema, em lugar dos quadradinhos que somente servem para manter a mania dos filatelistas?

- Meu caro patrício - concordei avançando dois passos, na fila sem fim - a sua idéia é boa. A sua crítica é justa. Mas substituir o selo pela máquina de franquear seria combater a rotina. E o correio é uma instituição eminentemente rotineira.

O meu interlocutor encarou-me com desconfiança. Mas continuei dando mais um passo na direção do "guichet":

- Não me espantaria se esses funcionários gentis, entre os quais se deparam simpáticas e jovens criaturas do sexo frágil, ainda usassem cabelos empoados e escrevessem com pena de pato. Este ambiente assim o sugere. Pois num tempo em que o padeiro, o leiteiro, o doceiro, entregam a sua mercadoria, nos lares, com veículos velozes, o correio ainda se encarna dentro da humilde silhueta do carteiro secular, que anda a pé, batendo de porta em porta, como na época de D. João Charuto...

Depois disto - para que blaterar?... - A fila acabava. Aproximei-me do "guichet" e perdi de vista o meu companheiro fortuito.

Álvaro

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