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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CARNAVAL
Tempo de Carnaval (13)

Dos bailes no Largo da Coroação aos patuscos da Dorotéia. E depois?...
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Em sua História do Carnaval Santista (edição do autor, junho de 1974, Santos/SP), conta o pesquisador Bandeira Júnior:
 
Encamisado

A promoção de um encamisado, feito por alguns sócios da Carnavalesca, dois dias antes do carnaval, isto é, na sexta-feira magra (17 de fevereiro de 1860), deve ser considerada a primeira manifestação pré-carnavalesca de Santos.

Com o correr dos anos, essa prática iria entrar nos hábitos dos cultores de Momo - contagiante preparativo à folia - cada vez mais dilatada, com 2, 3, 7, 15 dias e, até, um mês de antecedência. Isso ocorreu em 1883, quando a Sociedade Carnavalesca dos Meteoros, logo a 1º de janeiro, percorreu as ruas da Cidade num encamisado infernal, com banda de música à frente, no propósito "de reviver os louros colhidos pelos Meteoros no ano passado, e encher de esperança o coração das belas santistas". Esclareça-se que os componentes dessa sociedade, atacados de narcisismo, julgavam-se os supremos amorosos do burgo, espécie de don juans em massa...

Regia a banda desse encamisado o maestro Luiz Arlindo da Trindade, o popular Luiz Músico, de tradicional família de musicistas locais.

E o que era encamisado? O Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Cândido Figueiredo, registra: "Encamisada (feminino) - assalto noturno, em que as tropas vestiam camisolões por disfarce. No Brasil, encamisado - informa Euclides da Cunha em Os Sertões - era um divertimento anacrônico dos sertanejos nordestinos":

"(...) entre eles a exótica encamisada, que é o mais curioso exemplo do aferro às mais remotas tradições. Velhíssima cópia das vetustas quadras dos fossados ou arrancadas noturnas, na Península, contra os castelos árabes e de todo esquecida na terra onde nasceu, onde a mesma significação é hoje (1914) inusitado arcaísmo, esta diversão dispendiosa e interessante, feita à luz de lanternas e archotes, com os seus longos cortejos de homens a pé, vestidos de branco, ou à maneira de muçulmanos, e outros a cavalo em animais estranhamente ajaezados, desfilando rápidos, em escaramuças e simulados recontros, é o encanto máximo dos matutos folgazões" - Os Sertões, pág. 130.

Os santistas transformaram-no em introdução momística, resumida em desfile de máscaras grotescas (hoje diríamos patuscada), em oposição aos máscaras de requintada elegância do carnaval propriamente dito.

Nossos foliões tomaram-se de tal entusiasmo por essas galhofas pré-carnavalescas, no século passado (N.E.: século XIX), que houve encamisados mais retumbantes que os congressos (N.E.: desfiles) de carnaval, pois naqueles os organizadores podiam escolher data em que não houvesse o contratempo das intempéries; a mais ferrenha inimiga de Momo!