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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
Catedral: história e histórias (5)

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Este extenso trabalho sobre a Catedral de Santos foi organizado durante alguns anos pelo pesquisador de História e professor Francisco Carballa - muitas vezes narrando histórias em primeira pessoa por ter vivido naquela área -, e que em julho de 2017 enviou o material para divulgação por Novo Milênio:
 
PESSOAS

São as pessoas que formam a igreja de Cristo. Sendo assim, elas constroem as igrejas e as povoam com sua presença e suas ações, desde o sacerdote até o mais simples fiel. A Catedral de Santos já foi uma paróquia bem ativa, mas perdeu com a decadência do bairro, a ruína de milhares de moradias que chegam a serem 300 ou 400 casas por rua - que foram abandonadas, arruinadas ou transformadas em comércio -, chegou a mais de 20.000 mil endereços nas ruas próximas, assim o bairro do Paquetá e Centro hoje têm pouca gente residindo e se perde o contato com o templo e as tradições que ficaram no esquecimento.

Esse é o principal motivo também pelo fracasso do comércio e constantes furtos e roubos por causa de milhares de ruínas que apresentam a fachada e nada mais, algo morto sem o reaproveitamento ou reciclagem da área urbana onde se valoriza uma fachada e não o espaço humano habitado por pessoas que consomem e vivem em sociedade.

A maioria aqui mencionada já foi embora para a casa celeste e ali tem a plena luz de Deus prometida e concedida a todos nós. Aproveito pra agradecer a todos a amizade que a mim dedicaram e sinto a falta de todos, mas um dia a gente se reencontra.

Padre José Cardoso de Silva – Mais conhecido como Padre Zé Cardoso ou Padre Cardosão, assim chamado de forma amistosa por muitas pessoas. Contava ele que, durante uma missa das Filhas de Maria na Igreja do Rosário, decidiu se tornar sacerdote e assim foi para o seminário em 1942, sendo mais tarde ordenado e chegou a ser celebrante e finamente o pároco da Catedral de 1969 a 1974, vendo as mudanças na estrutura da Catedral como a retirada do altar mor, a reforma da capela do Santíssimo e repintura. Ele sempre discordou com seu bispo nessas reformas, mais foi obrigado a aceitar por obediência à hierarquia religiosa.

Uma vez encomendou um crucifixo de um artista, mas o mesmo era em metal, sendo na verdade o delinear de Jesus em metal e até sua substituição quando trouxeram o crucifixo do cemitério do Paquetá no ano que a capela sofreu um incêndio e retiraram o de metal, depois substituiriam pelo que está lá hoje e aquela figura artística desapareceu - a não ser por fotos que acaso venham a ser encontradas.

Era muito sério com a liturgia e preferia a missa com o órgão, não aceitando muito as “bandinhas de rock”, como dizia, mas tolerando segundo o grupo da comunidade onde estava.

Ao voltar de outra diocese onde esteve, foi para a Igreja de São João Batista de Bertioga e lá eu reencontrei o padre no dia da procissão de São João onde havia uma missa que foi celebrada em cima de uma balsa dessas de atravessar os carros entre um município e outro, depois retornou a procissão para a igreja e ele me pediu pra rezar e cantar durante o percurso.

Também o encontrei na festa de São Lourenço de Bertioga, onde celebrou a missa no sábado mais próximo do dia 10 de agosto, pois a capela estava sob sua responsabilidade, sendo ele o pároco da Igreja de São João Batista de Bertioga e todas as suas capelas.

Quando foi pároco da Igreja de São João Batista na Nova Cintra de Santos, acabou por fazer uma festa para São Pedro e São Paulo, encomendando uma imagem do apóstolo que tomou parte nas procissões enquanto ele esteve à frente da igreja, pedindo inclusive que os tapetes da festa do Santíssimo que ali havia no encerramento das festividades fossem bem decorados, como o eram.

Uma observação séria ele fez no seminário que existe ainda hoje no morro: havia a foto em pôster do Che Guevara, do Karl Marx, do Partido dos Trabalhadores e não havia quadros de Jesus Cristo, Nossa Senhora e os Santos; o bom padre deu uma dura advertência contra isso, registrando-se que boa parte desses seminaristas engajados nesses grupos não se tornaram padres da Igreja Católica Romana.

Quando foi pároco da Igreja de São Pedro Pescador em São Vicente, nos anos da virada do milênio de 1999 para 2000, zelou pela igreja e fez uma reforma com o auxílio da cúria; ao ver que um pedreiro havia colocado roupa suja sobre o altar assim como suas cuecas, mandou marretar o mesmo e fez um novo por achar aquilo uma profanação com Nosso Senhor Jesus Cristo. Durante essas reformas ele celebrou missa no salão paroquial ao lado. Outro detalhe foi a instalação de um baldaquino sobre o sacrário para preservar o Santíssimo Sacramento, já que havia moradia paroquial acima da igreja, reclamando o bom sacerdote que isso era errado e quem projetou na certa não entendia das regras de igreja que não pode ter nem banheiro grudado na parede da nave ou presbitério. Lamentou quando soube que a antiga capela que deu origem à paróquia foi desmontada, pois tiraram seu frontão e sua cruz além de vários adereços, assim ele dizia que poderiam ter mantido como batistério a capelinha e que se ela existisse a missa não seria em um salão onde se venderam doces ou salgados e muitas pessoas beberam refrigerantes e até cerveja.

Eu me recordo de que levei uma imagem de São Gonçalo do Amarante para ele abençoar e me disse: "Esse sujeito é festejado lá na minha cidade!" Havia uma polêmica pintura de São Pedro em um tapume que dava certa impressão errada por um detalhe na rede entre as pernas do Santo e muita gente fazia piadas como fazem até hoje com o Santo António de bronze na frente do Embaré. A meu pedido, o mesmo detalhe foi disfarçado com a rede pelo Felício que auxiliava em tudo o sacerdote.

Ganhou da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte - da qual eu fui membro - para a igreja, uma imagem réplica de bronze de São Pedro sentado igual à que tem em Roma e que estava em um túmulo abandonado na quadra 2 da Confraria no Paquetá e que tentaram arrancar para furtar; assim, sugeri que fosse entregue a essa paróquia, em menor tamanho (o romano teria quase um metro de altura), mas já se avizinhando a transferência por questões de saúde do pároco daquela igreja de São Pedro Pescador, umas senhoras daquelas que gostam de mandar na comunidade mais que um sacerdote - assim se dizia então, com afirmação de ameaça -, garantindo que iriam pegar a mesma e vender para o ferro velho e colocar a imagem comum de gesso que ainda se vela e que tem em todo o lugar igual, o padre por receio e carinho o levou consigo.

Esse reverendo padre gostava de fazer a primeira comunhão no dia 8 de dezembro por causa da devoção com a Virgem Santíssima da Conceição da qual tinha especial devoção e também ao Apóstolo São Paulo. Assim a primeira comunhão do meu irmão Jose Manuel Vázquez Carballa (falecido em 2014) e da minha irmã Maria Izabel foi em 8 de dezembro de 1968, escolhendo as irmãs para os homens uma roupa em forma de túnica branca de cetim com um cordão na cintura como um franciscano, as mulheres tinham o capuz arredondado e os homens o capuz pontudo.

Quando foi a minha primeira comunhão, naquele ano tivera o padre que fazer uma viagem de emergência até sua terra natal e assim logo que chegou fez a cerimônia da nossa primeira comunhão de nosso grupo de catecismo no dia 31 de dezembro de 1972. Nesse dia entraram meu pai Manuel V. Vázquez (falecido em 2017) e minha mãe Maria C. Villar (falecida em 2000) comigo puxando a fila de pais na igreja, começou a missa e curiosamente meu pai, como todos os demais, acendeu a vela que tínhamos no Círio Pascal que pra isso foi colocado no presbitério. Depois da cerimônia, novamente puxamos a fila para o consistório do Santíssimo, onde ocorreu a festa de comes e bebes.

Repetia a irmã Clarice que o padre José Cardoso era muito bravo, mas o que se percebia era que ela, a freira, era enérgica demais e o padre, bonachão. Veio a falecer um dia antes de sua festa mais querida de Nossa Senhora da Conceição em 7 de dezembro de 2013, sempre amparado pelo Felício, seu eterno amigo que esteve ao lado do padre principalmente quando perdeu a visão, era de último capelão das irmãs do Maria Imaculada e pude me despedir dele ali na nave da Matriz Santista, agradecendo pela realização da minha primeira comunhão, seus sacramentos, bênçãos e da sua amizade antes de ir para Itanhaém naquele dia 8.

Madre Antonia, a doce freira Canossiana - Senhora de estatura normal, branca, recatada, sorridente, amistosa e feliz e falar baixo bem portulânio. Conhecida pela caridade e seu amor com crianças, tinha por costume sair pelas lojas de brinquedos pedindo os mais velhinhos, encalhados ou fora de moda, montava uma sala enorme na Catedral onde hoje é o consistório do Santíssimo e assim a criança passava por uma grande mesa ou aglomerado delas onde - cobertos por enorme toalha ou lençol ou ainda um pano - estavam os brinquedos espalhados; passávamos e pegávamos um, ela ficava com o olhar radiante de felicidades.

Uma vez, ao ver uma criança chorar, foi correndo para um lugar a que ela tinha acesso - sendo seu quartel general e local de suas munições -, pegou um cachorrinho que parecia mais uma sanfona, entregou para a criança, apertando-o para fazer um som gozado; ao começar a rir a criança, ela ficou feliz junto da mãe, que acho que nem conhecia.

Padre Julio, quando a chamava pelo microfone, dizia "Madre Antónia Vini Quá" e ela sorridente ia até o altar atender a alguma organização antes de sair uma procissão ou dar um recado no final de uma missa.

Por costume da nossa Catedral, na procissão do Senhor Morto saem doze jovens vestidos de apóstolos, os mesmos que na cerimônia do lava-pés da Quinta-feira Santa têm seus pés lavados pelo bispo reproduzindo o que Jesus Cristo fez logo após a ultima ceia [20].

A freira canossiana escolhia os jovens e recomendava que viessem com os pés limpos e usassem chinelos um dia antes para “evitar os odores dos pés e o bispo pensasse estar guardado por ali algum queijo suíço".

Irmã Clarice e o coral - Era a irmã Clarice ou Clariche uma italiana que há muito tempo vivia no Brasil e regia o nosso coral como um sargento que rege um exército, séria e sorridente quando se cantava direitinho as músicas que aprendíamos sentados em frente à capela de Nossa Senhora de Fátima nos bancos ainda hoje existentes e a igreja às escuras.

Era conhecida a freira pelo buço e queixo que algumas mulheres têm e que ela retirava com lâmina aparecendo com aquela parte do rosto vermelha, os meninos reparavam e ficavam fazendo piadas até que enfim apareceram as ceras depiladoras, mas isso era motivo de muita troça com a freira italiana sem ela o saber - e se soube não deu atenção.

Ela nos ensinou a cantar os 4 hinos de Nossa Senhora do Monte Serrat de Santos, assim aprendemos por ordem de antiguidade: ó Virgem do Monte (cantado pelo Coral da Santa Casa de Santos), Subindo a Montanha (que ainda sei a melodia), Ave do Monte Serrat (que é semelhante ao Ave de Lourdes) e Nossa Senhora do Monte (que agora é o mais cantado na missa e procissão).

Levou-nos em 1969 até o parque que existiu nas areias do Gonzaga onde as crianças brincaram em todos os brinquedos possíveis que pudessem brincar, ganhamos lanche de presunto com queijo e refrigerante, o bonde que nos levou era aberto e nessa época já não se usava mais, mas levou-nos na excursão até esse parque que chegou até o início dos anos 70.

Ministrava as aulas de catecismo antes de recebermos a primeira comunhão e me recordo que minha irmã a fez com meu irmão, ambos vestindo túnicas brancas com um cordão na cintura e as meninas com um véu igualmente branco, em 1969.

Já a minha, em 31 de dezembro de1972 foi com calça, camisa branca, gravata e as meninas saia com camisa branca; fui escolhido pelo padre José Cardoso para levar o cálice com as sagradas partículas, o que me valeu certas agressões pelos outros meninos, sem saber do que ocorria a freira concordou que eu levasse aquele vaso sagrado ao altar e depois puxasse a mesma fila de pais e recém comungantes. A festa foi no consistório do Santíssimo Sacramento, com bolo, doces, salgados, refrigerantes e refrescos, quem preparou foram as irmãs e as meninas.

Curiosamente essas irmãs guardavam todos os adornos que em cada ano eram colocados sobre o bolo, geralmente um cálice feito de isopor, pintadinho de prata, ouro ou perolado com a purpurina da época que era de vidro de bolas de Natal quebradas, com o ano do evento e ramos de trigo adornando o mesmo. Era interessante vê-la falando com as outras irmãs, às vezes sem sabermos quem era da Itália ou não, todas falavam corrido.

Uma vez, andando em direção do Prato de Sopa onde moravam, passando pela Rua São Francisco, as freiras foram atacadas com pedradas e foi justamente o Tabajára [21], um menino que odiava as freiras -comentando tal fato nunca revelamos quem fora.

A irmã no domingo colocava as crianças para a missa da manhã na porta da Catedral e assim entravamos em ordem para ocupar os bancos logo atrás do coral perto do púlpito, na fileira que fica ao lado do altar de São José, era assim sempre, na espera da porta surgiu uma mania dos meninos colocarem o dedo na lataria do bonde enquanto passava na nossa frente indo em direção do cais, pois a outra linha ia em direção da praia, eu sempre evitei por achar que daria choque, quando a irmã via logo dava bronca, mas o pessoal ria e continuava tão logo passasse outro bonde, coisas de crianças.

Sacristão Ciro - Homem esbelto e calvo, com seus grandes óculos grandes, falar áspero e forte senso de critica, mal humorado, não gostava muito de conversar durante suas tarefas, evitando a pessoa com educação. Uma vez, ao ter uma corrida de carros que passaram na frente da Catedral, em um domingo de forte sol, ele teria dito: "O povo gosta de tudo o que traz sangue ou acidentes, nada mudou!".

Foi sacristão desde os anos 60 (pelo menos, quando o conhecemos pela Catedral) e se aposentou nos anos 70. Era educado com quem não o perturbava, caso contrário era meio bravo, o que deixava as pessoas longe dele, assim sempre cuidou de todos os detalhes da Catedral, nos dias de festa e nos dias comuns, vigiando o veleiro que antes ficava dentro da capela de Nossa Senhora de Fátima, retirando as velas de maço para não causar incêndios e limpando as coisas; ao falecer, foi substituído por dona Yraides.

Sargento Caselato - Ficava tomando conta da Catedral sempre um guarda todo bem arrumado como se fosse para uma cerimônia assim, ficava o Sargento Casselato na Catedral de Santos, passávamos a mão na espada que havia pendurada na cintura o que era motivo de muita piada por parte de pessoas adultas mais maldosas. Quando acabou essa guarda na nossa Sé, o sargento foi para o Corpo de Bombeiros, onde acabou por se aposentar, era conhecido por manter em São Vicente uma das barracas de doces na Biquinha de Anchieta. Seu filho seguiu a carreira de militar e bombeiro como o seu pai, ele chegou a me dar uma foto na Catedral como guarda, mas acabou essa foto sendo guardada no arquivo dos Bombeiros e depois mais nada soube dela.

Maria Carballa Villar (falecida em 9 de junho de 2000) - Minha mãe, que com o meu pai Manuel Vázquez Vázquez, tiveram o cuidado de me batizar e foi no dia 7 de outubro de 1962, dia da orága da Catedral de Santos. Com ela, eu ia às missas e incomodava como todas as crianças, sentadas com suas mães nos bancos do lado esquerdo no corredor central perto da capela do Santíssimo, como era o costume litúrgico da época, igualmente dizia minha mãe que indo até o sopé do Monte Serrat lá pelos idos dos anos 60 eu queria ir junto com a Virgem ao cimo do monte e fiquei esticando as mãos e chorando.

Em 1968, devido a uma graça alcançada, subiu a monte descalça e entrou de joelhos na capela, dando a volta ao altar com uma grande vela, seguindo o costume galego de pagar promessas. Durante a minha primeira comunhão, foram minha mãe e meu pai que entraram dirigindo os casais e as crianças para a missa festiva, para ela foi um orgulho e sempre me ensinou o respeito a "Nuestro Señorinho", a Jesus Cristo e Nossa Senhora. Sendo devota de Santa Rita de Cássia, sempre visitava a igreja para fazer preces no mês de maio e, já no Monte Serrat era o local do pagamento de promessas e oferta de flores e velas, quando saia à procissão de noite, pois até 1974 residimos na Rua São Francisco (de Paula).250/altos.

Ela dizia: "A Santinha vai baixar o monte", no dia 4 de setembro às 20h00; ao escutar os sinos do Monte repicando no dia 8 de setembro e o espocar de fogos de artifício às 19h00 ou 20h00 horas, repetia: "A Santinha já está entrando na igreja dela", foi um ano entre 1967 ou 1968, passou um avião pequeno e jogou uma chuva de papéis na cor verde ou rosa claro com a programação da festa da padroeira e caiu na nossa área e em todos os telhados, sendo varridos pelo vento, acabaram enchendo as ruas por onde foram jogados esses panfletos.

Gostava minha mãe de acompanhar a procissão do Santo Enterro do Senhor Morto até que na Sexta Feira Santa, em 1987, uma mulher de conduta duvidosa ficou ameaçando-a antes de a procissão entrar, estando eu no pálio, deixei meu posto para ir ver o que ocorria quando a tal mulher se afastou e assim ela preferiu não ir mais, pois já naqueles tempos o centro velho havia ficado ermo em certos horários e dias como domingos e feriados e transitar por lá com qualquer joia que fosse ou bijuteria atraia gente malfeitora, motivo pelo qual as festas da Catedral que sejam noturnas têm sido evitadas pelos cristãos que preferem se dirigir a outras igrejas e paróquias. Devota de Nossa Senhora do Monte, mesmo residindo na Espanha, mandava dinheiro para esmolas, flores e velas que seriam ofertadas na igreja.

Sebastiana a catequista e a árvore chinesa - Era dona Sebastiana (ou Bastiana) nossa catequista, mulher do Norte, morena escura de óculos, com o pano na cabeça que só tirou na metade dos anos 70, devota do Padre Cícero o Levita de Juazeiro.

Ela ficou intrigada com a minha insistência em pegar galhos de árvore chinesa (Nandina doméstica) que estavam plantadas na jardineira do Prato de Sopa, tentou descobrir para qual finalidade eu pegava aqueles galhos ora verdes, vermelhos ou amarelos para marrom. Sabendo que eu enfeitava os santos em casa como se fosse procissão de Corpus Christi, acabou por arrancar uma muda e dar para minha mãe, planta que sempre me acompanha e até hoje a tenho com milhares de mudas distribuídas a quem as queira.

Assim essa senhora até o fim foi engajada na igreja, mas naqueles anos 60 as pessoas se portavam como família. O catecismo durante os anos 60 foi no Prato de Sopa e até cerca do ano de 1971, quando passou para as dependências da Catedral, ali nessa associação moraram as freiras canossianas da Catedral na parte superior como se fosse um convento.

Sempre pronta para responder às perguntas mais variadas, uma vez lhe perguntei do que eram feitos os lustres da Catedral e ela respondeu: Isso é feito de garrafa velha! Lá ficava eu tentando imaginar se eram garrafas comuns ou de coca-cola.

Marcos - Jovem moreno claro de óculos e forte que instruiu o grupo de jovens e quase foi padre, mas preferiu o casamento do qual se tornou um ótimo pai de família.

Isidoro - Moço amorenado bem claro, querido pelo povo da Catedral até demais que passou a incomodar o mesmo com tanta necessidade de terem sua atenção nos assuntos cabíveis, o mesmo de lá se afastou e embora residisse perto, passou a evitar a nossa matriz. Uma pessoa que ganha certos dons ou dotes de Deus, gosta de usar o que recebeu em prol do próximo e assim o foi entre os anos de 1970 quando conheci e falei com ele, até os anos 1988, mas como diria Dona Maria a preta: "Até a vaquinha de presépio cansa de dizer amém!". Assim, até o Isidoro cansou de ser tão solicitado por todos, mas durante a sua estadia foi um bom organizador de eventos ou atividades com o pessoal do catecismo e grupo de jovens e teve boa participação na liturgia.

Dona Rosário e o peditório - Senhora portuguesa baixinha com duas tranças volta e meio amarradas na cabeça a moda caipira feito um caracol de luluzinha ou soltas, mas sempre usando o grande véu cinza sobre suas roupas pretas, onde sobressaiam uns óculos que de vez em quando colocava. Sendo da Irmandade do Santíssimo e Rosário, muito alegre e séria na missa, era respeitada e fazia a coleta das esmolas como era o costume em uma bandeja coberta por um pano branco que um dia ela mostrou como o dinheiro o deixava sujo, assim era até aparecerem os sacos de tecido bem mais discretos nas ofertas. Conseguiu recordar um quadro antigo de Debret no ano de 1970, quando saiu com sua bandeja de prata da irmandade, coberta com uma toalha branca, batendo de porta em porta e pedindo doações para as reformas da Catedral de Santos, conseguiu muitos donativos que foram usados para a finalidade proposta.

Ocorre que naqueles tempos a respeitavam como tal e ninguém se atreveu a furtar ou roubar a anciã que morava na casa das beatas da Rua São Francisco, 258, reduto das beatas. As senhoras católicas em cima da porta na parte interna mantinham o Sagrado Coração de Jesus, uma lâmpada vermelha e flores, o que era motivo de chacotas por algumas pessoas acusando o local de ser uma casa de tolerância. Vizinhos, essa anciã vivia na separação da sala por umas portas com vidros franceses coloridos e vivia comendo bananada que fazia no fogão da residência, alegando ser muito saudável e a causa de sua longevidade e nos oferecia.

Casa geminada é onde a tristeza, amor, briga ou alegria mora ao lado e no 256 era o reduto dos umbandistas onde havia um centro espírita no porão habitável e sobre a porta de entrada na parte interna se via um chifre de boi com espadas de São Jorge dentro, espigas de milho, um pé seco de cabra etc. No fundo dessa casa das beatas morava minha amiga Sandra, que também frequentava a catedral, ela era negra perdemos o contato, mas soube depois se tornou enfermeira, sua mãe tinha a curiosa mancha branca nos cabelos sendo uma faixa dos mesmos ao que ela dizia ser uma estrela.

Dona Albertina - Senhora portuguesa baixinha, com o seu falar arrastado e opinião forte, residia na Rua Amador Bueno, 303. Estando muito enferma, encomendou a Deus sua alma e vestiu a opa da Irmandade de Nossa Senhora de Fátima da qual era membro; justamente no 3º domingo do mês de maio a procissão passou pela sua porta e ela se ergueu do leito tão feliz que nada da enfermidade restara.

Nós todos a conhecíamos bem por regular as roupas das moças que frequentavam a Catedral, exigindo que as saias fossem um palmo abaixo dos joelhos por respeito para com Nosso Senhor, sendo comum desmanchar bainhas antes da missa das meninas do catecismo mais ousadas.

Precisaram ir as senhoras católicas em comitiva até o meio da prostituição para dar um auxílio cristão e ver quem precisava de ajuda ou as crianças para batismo e primeira comunhão e ninguém queria ir com medo, ao que ela exclamou: “São mulheres como eu e filhas de Nosso Senhor!” e foi por lá fazer sua obra de caridade. Já nos anos 80 foi viver no Morro de São Bento, por estar seu bairro muito degradado e sem segurança. Contava-se que havia uma parenta da qual ela não tinha boa amizade e as duas viviam se desentendendo até que essa senhora faleceu e dona Albertina foi ao enterro, na hora do caixão descer à sepultura ela jogou sobre o caixão um saco cheio de fezes que não precisamos imaginar qual a origem e que estourou com o impacto, e disse em alta voz: “Toma que isso é o que tu valias!” coisas de lusitanos. Cuidava como sacristã da capela do Senhor do Bom Fim do Paquetá até o fim de sua vida terrena e foi substituída por Dona Maria do Carmo, ali de perto, residente no bairro desde os anos 1950.

Dona Maria a preta - Senhora negra, baixinha e sempre alegre, residia ali no começo da Rua Pérsio de Queiróz Filho, justo na segunda casa da primeira vila, era conhecida por estar sempre feliz e brincando. Uma vez, ao montar seu presépio, a vaquinha quebrou a cabeça e ela afirmou: "Até a vaquinha de presépio cansa de dizer amém, nossa que coisa, veja só, né?" Uma vez, ao atravessar a rua comigo e com Dona Hermelinda das Neves, vindo da Catedral e o transito não dando chance, ela atravessou a via arrastando uma das pernas como quem estivesse com sequelas de AVC, ao chegar ao outro lado da via, tomou uma postura mais fixa e ficou pulando nas pontas dos pés e fazendo careta com as mãos nos ouvidos e a língua de fora.

Sempre gostou de ir às festas da Catedral acompanhando dona Hermelinda das Neves, de quem era muito amiga e fazia questão de ganhar ao menos uma flor do andor de Nossa Senhora de Fátima para fazer chá que seria um remédio das pétalas. Chegou um momento que os impedimentos da idade e os cuidados da casa não a deixaram mais sair tanto, mas continuou com o bom humor até o final de sua vida.

Dona Hermelinda das Neves - Dona Neném, como era conhecida, morou a vida de casada e viúva do Sr. Abraão na Rua Cunha Moreira, 53, até o seu falecimento em 1999, sempre fiel às festas da Catedral de Santos, principalmente na Procissão do Santo Enterro e Nossa Senhora de Fátima, até que a saúde não lhe permitiu andar longas distâncias. Uma vez foi matéria de jornal, ao pensarem que ela havia pendurado mortadelas na árvore de carambola, mas eram melões do tipo cruá que gostava de cultivar e isso causou grande curiosidade no bairro da Encruzilhada; também gostava dos gatos e sempre teve um de olho azul e outro verde.

Dona Mathilde das Neves - Residente na Rua da Constituição, 195, até o seu falecimento em 1999, frequentava as missas da Catedral assim como o fez toda sua família. Tinha por costume dar esmolas e dar para a gente moedas de um centavo ou dez para colocar na sacola das ofertas com muito carinho.

No ano em que seu irmão esteve enfermo, quando a procissão de Nossa Senhora de Fátima passou pela sua porta ela abriu a janela, colocou rapidamente uma linda toalha, acendeu uma vela e fez suas preces. Contava as piadas da velha com a rolha na procissão e se houvesse algum som suspeito, rindo ela dizia que não era a história da rolha e ria. Muito conhecida por fazer aniversário sempre com as mesmas velas e número ano após ano tipo 65 anos tendo já 80 anos, chamava todos de “hô coisa” ou quando lhe perguntavam algo do passado mesmo sendo dos anos 60 dizia: Não é da minha época!

Senhora de olhos verdes, cabelos tingidos de ruivo, encurvada, falar de idosa e muitos risos. Os saltos de seus sapatos faziam barulho no chão e ela fazia questão de dizer que era o barulho do salto e que não precisava de uma rolha, como a velha da procissão (na anedota que contava). Fazia por ocasião da subida da patrona e da festa do Senhor do Bom Fim bolinhos de mandioca e bacalhau, afirmando ser receita antiga de Santos, sempre me fazia trazer um bambu ou dois das barracas que estavam sendo desarmadas, pois os usava para o varal em casa; na hora da esmola fazia questão de dar uma moeda nem que fosse de um centavo, contava piadas e rezava seu terço fervorosamente.

Uma vez, ao pegar o bondinho para ir ao cimo do monte durante a festa do Senhor do Bom Fim, sua bolsa caiu no fundo do local de embarque do funicular, assim ela pediu para o funcionário que foi buscar a mesma e lhe entregou, naquela época o lugar era como um abismo, na visão de uma criança.

Apontava para um manto que às vezes era usado na descida e dizia que fora ofertado pelo seu irmão, o Alcides das Neves (falecido em 1992), quando estivera preso no navio Raul Soares ao largo da Base Aérea de Santos, por ordem militar durante a ditadura. Ele se sentia ameaçado de morte, e prometeu dar um manto para a Virgem do Monte se de lá saísse vivo, o que fez subindo o morro descalço com o manto nas mãos, que ofereceu como gratidão. Esse mesmo manto foi usado na imagem da Virgem da Piedade durante a procissão das Almas do Saboó, segundo o que se vê em fotos.

Pedro Provedor do Santíssimo - Homem baixo e de poucas palavras, foi o responsável pela Irmandade do Santíssimo Sacramento até o fim de sua vida, era a mesma irmandade que comprava a lata grande de azeite Galo para a missa dos Santos Óleos na Quinta-feira Santa ou Endoenças. Zelou pelo patrimônio da irmandade e mostrou uma vez o castiçal de 15 velas que havia guardado, assim como um pedaço do púlpito. Falando da velha matriz, dizia que o prédio esquerdo de quem olhava era o consistório da Irmandade do Santíssimo Sacramento, motivo pelo qual não tinha cruz no frontão e ali eram feitas muitas reuniões da irmandade, cerimônias públicas além de religiosas.

Esse senhor participava em todas as festas da Catedral de Santos, sempre dando o auxílio, a banqueta para sustentar o estandarte de Fátima ou Monte Serrat, levando lanternas ou cruzes etc.

Basílii Homsy e sua banda (falecido em 31/5/2002) - Era o Senhor Basili Onsi mais conhecido como Basílio ou simplesmente "o Turco", um sírio católico fervoroso que, em todas as procissões que pudesse acompanhar, levava seu par de alto-falantes para puxar as orações e cantava os hinos do local. Quando a banda acompanhava, era comum ouvirmos: "Senhor Maestro", como sinal para começar a tocar as músicas.

Sírio, nasceu em 8/8/1925 e com a família cristã milenar, em busca de paz, migrou para o Brasil e com o tempo instalou a sapataria São Jorge, onde (todos os dias, às 18h00) fazia a prece da Ave-Maria e convidava as pessoas que estivessem presentes para essa devoção. Conhecido pelo seu enorme megafone, comprado com seus próprios recursos, com o qual fazia as orações nas procissões do terço e cantava os hinos anotados em umas folhas brancas das quais de vez em quando fazia uma pequena confusão, motivo pelo qual não cantava esta ou aquela estrofe. Volta e meia era alcunhado de "o turco" e se ofendia não pelo nome do país (Turquia), mas por entender que "...árabe não é tudo igual!..." - erro cometido no Brasil inteiro.

Durante as procissões entre uma dezena do terço e uma exortação à fé, era comum o povo ouvir dele "...senhor maestro..." em relação a banda que poderia começar a tocar um hino. Com seu fusca, ia para todos os lugares para prestar seu honrado serviço, do qual jamais pediu uma ajuda ou cobrou alguma coisa. Devido ao seu problema de visão, uma vez retornávamos da festa da padroeira do Guarujá e a beata mãe de quase 90 anos da professora Noêmia do Visconde de S. Leopoldo gritava na hora de ir para a balsa: "...Ai meu Deus, ai meu Deus, o árabe não enxerga..." levando o senhor Basílio a começar a rir, como todo mundo no carro.

Dona Maria Paiva - Senhora muito baixa, santista legitima de cabelos brancos e falar baixo e lento, sorridente e que vivia em uma vila atrás do Atlético Clube na Rua Pérsio de Queiróz Filho, 72 ou 70, que era um caminho que vai até a Av. Washington Luis. Reclamava do barulho do carnaval, festas de formatura e eventos. Responsável por tomar conta das flores em dias de festa e irmã da Confraria de Fátima, fazia a coleta das esmolas e sendo muito devota participava com Dona Conceição - de quem era amiga inseparável - ficando na porta da Catedral do lado direito de quem entra em uma mesa improvisada com uma toalha branca onde vendia santinhos, terços, velas para o veleiro e para a procissão e demais objetos devocionais, sempre recolhendo tudo antes da saída da procissão e tomando o seu lugar com o veleiro nas mãos na fila das irmandades.

Sua casa anterior seria onde atualmente é a rodoviária de Santos, sendo desapropriada para essa finalidade, e veio viver para o bairro da Encruzilhada. Ela mostrava para a uma foto em que se via sua casa, dessas que saiu em jornal.

Dona Conceição baixinha - Senhora com forte sotaque de filha de portuguesa bem esbelta, baixinha e falar mansinho, ficava no lado esquerdo da porta da Catedral em todas as festas vendendo velas para a procissão, vestindo a opa branquinha da Irmandade de Fátima e com o seu veleiro ao lado dela, ficava ali simples e ocupada na sua função que fazia com devoção, de haver velas na procissão para engrandecer o evento.

Dona Conceição a alta – Senhora branca e alta, Brasileira de falar baixo e com um leve sotaque do Norte do Brasil, pele clarinha, muito reservada, era a mãe de nossa amiga a Debalda que realizara a primeira comunhão junto de minha irmã e de meu irmão, e que fazia parte do grupo de jovens com seu irmão que foi vitimado pelo câncer na garganta já nos anos 90. Residia na Avenida São Francisco, nº 277, onde - demolindo a parede do quarto que ficava do lado esquerdo da entrada da casa, com sua porta e janela neoclássicas - fez um pequeno bar para servir refeições, lanches, café e até alguma bebida ao grande grupo de funcionários de empresas instaladas no bairro. Até o fim de sua vida, foi da Irmandade de Nossa Senhora de Fátima e presença frequente na Catedral de Santos.

Dona Bela - Dona Felizbela ou Belinha era uma portuguesa alta e corpulenta, branca, cabelo de bom porte, óculos, falar arrastado e afinado. Pssou a morar longe da Catedral, mas não a deixou de frequentar como tanta gente. Era responsável pelo roupeiro da Catedral, angariando roupas e objetos para o mesmo. Ativa participante na Confraria de Fátima, devota rezadora de terços, cuidava do teatro que encenava as peças na Semana Santa e outras festividades.

Senhor Américo – Cruciferário oficial da Confraria de Nossa Senhora de Fátima, lusitano alto de cabelos brancos e falar educado, tinha um comércio perto dali e por muitos anos viveu na Rua Mal. Pego Jr.; sua casa fora reconstruída na frente após a explosão do gasômetro. Era conhecido por fazer um tapete de flores brancas no chão com crisântemos e palmas de Santa Rita brancas e demais folhagens, inclusive pedindo por doação quem quisesse doar para aumentar o mesmo tapete em comprimento. Viria a ser o provedor da confraria de Fátima da Catedral, substituindo o senhor Vicente Mateus após o seu falecimento.

Dona Maria Holinda - Era uma senhora negra de idade avançada, corpulenta, de pano na cabeça e sempre alegre, pronta pra ajudar qualquer pessoa que precisasse dela. Residia no reduto das beatas que existia na Avenida São Francisco nº 258, onde mantinham uma imagem do Sagrado Coração de Jesus acima da porta, iluminado dia e noite por uma lâmpada vermelha - alvo de chacotas maldosas da molecada. De ultimo, morou no porão alto do casarão que existiu até 2017 na esquina da Rua da Constituição com Rua Bittencourt. Diziam que era pernambucana e fazia muitos doces gostosos que só as pessoas alegres conseguem fazer, inclusive com as goiabas que colhia nesse casarão.

Senhor Batista – Pessoa de origem nordestina, amorenada, magra, de média estatura, com óculos enormes; era o zelador do prédio ainda hoje existente na esquina da Avenida São Francisco com a Rua Dom Idílio. Mantinha uma criação de pombos, e quando havia a festa de Corpus Christi ele os afugentava para fazerem uma revoada sobre a praça. Cantava no Coral da Catedral com a gente, fazendo parte do grupo paroquial. Dançava igualmente a quadrilha na Casa João Paulo II durante os festejos juninos, e nesse prédio ele trabalhou até o dia de seu falecimento.

Dona Yraides – Senhora branca e muito esbelta, de cabelo liso, branco e curto, óculos e falar calmo, fora a secretária da Catedral de Santos por mais de 20 anos; era casada com o senhor António, homem esbelto, alto e de falar grave, que trabalhava na igreja fazendo serviços gerais, sempre atendendo os fiéis, encaminhando-os para os sacerdotes de plantão, marcando casamentos, batizados e vendendo as lembranças da Catedral.

Era comum que na hora da missa ficasse sobre o arco da porta da sacristia para atender quem precisasse ir ao toalete, ou atender às pressas o telefone quando este tocasse, pois a sacristia não parava. Igualmente era comum vê-la rezando com as mãos postas quando entrava o Santo das procissões, entre elas a da padroeira. Ao ser retirada da sacristia pelo pároco novo, que não a conhecia e nem procurou conhecer suas habilidades, ela não resistiu a essa perda e logo faleceu - e, como sempre, as más línguas culparam o padre.

Uma vez entraram ladrões na sacristia da Catedral, durante a noite, e no armário ali existente estavam guardadas as coroas do Menino Jesus e da Senhora do Monte Serrat, assim como seu manto bordado com pedras semipreciosas encastoadas com ouro, tão bem embrulhadas que os ladrões julgaram ser falsas; assim, ela salvou todo esse material.

Foi telefonista da Companhia Telefônica Brasileira (CTB) e lastimava muito o dia em que seu supervisor a chamou para transmitir uma ordem e ela tinha se atrasado - o único atraso em toda sua carreira na empresa até se aposentar. Era uma pessoa muito emotiva e, quando havia algum acidente ou desastre natural, ficava rezando seu terço pelos falecidos e lastimando o ocorrido.

Clóvis Benedito Farias de Almeida (falecida em 2015) – Senhor alto, forte, de óculos, amorenado e de família do século XIX em Santos, sua bisavó Dona Virginia fora escrava e cozinheira dos padres da matriz de Iguape e ganhou a liberdade; suas avós, Dona Vitorina e Dona Maria do Rosário, sua mãe Paulina Freire que era a dona da Flora Paulina ao lado da Casa Rosário onde vivia com seu esposo o motorneiro Bacalhau, frequentavam a antiga matriz e posteriormente a Catedral.

Dona Erna e Dona Noêmia – Muito idosa e nonagenária, a Dona Erna (falecida em 1991) frequentou com sua filha - a professora Dona Noêmia (nascida em 1927) - a Catedral. Ambas eram paroquianas do São José do Macuco, mas as festas - inclusive a da padroeira - tiveram sempre sua presença e orações.

O senhor Basílio, que puxava as procissões na Baixada, uma vez vindo com a gente do Guarujá em seu inconfundível fusca - com o qual ia para todos os lugares para prestar seu honrado serviço, do qual jamais pediu uma ajuda ou cobrou alguma coisa - Deu uma carona para Dona Erna, Dona Noêmia, um português e eu. Devido ao seu problema de visão, ao retornarmos da festa da padroeira do Guarujá a beata de quase 90 anos gritava na hora de ir para a balsa: "...Ai meu Deus, ai meu Deus, o árabe não enxerga..." levando o senhor Basílio a começar a rir, como todo mundo no carro. Graças a Deus atravessamos em segurança.

Aracy Maria Tavares – Faleceu no dia 6 de fevereiro de 2018. Nonagenária, senhora branca de baixa estatura, falar calmo e sempre sorridente, nasceu em 6 de novembro de 1927 na cidade de Palestina/SP, sendo seus pais a senhora Maria Luísa da Silva e o senhor Pedro José da Silva. Sua família se mudou para a cidade de Nova Granada, onde ficou até seus 14 anos.

Ela contava a história do milagre de São Benedito, que é padroeiro de Nova Granada: ainda moça, teve uma paralisia em uma das pernas, recordou-se que o Santo na capelinha era enfeitado com fitas e assim verificou qual a cor que faltava e pediu a intercessão da cura, o que ocorreu prontamente. Assim, ofertou a fita, que recordou ser da cor roxa. Essa capela ainda existe e também a nova matriz, mais imponente, onde está a miraculosa imagem de São Benedito.

Dessa cidade viera a família para a cidade de Santos, devido à sua prosperidade e oferta de bons trabalhos no cais; residiram na Rua da Constituição desde o tempo em que os bairros do Centro e do Paquetá eram populosos e frequentou a Catedral como paroquiana assídua. Mesmo depois de se instalar no bairro do Gonzaga, acompanhava a procissão do Santo Enterro do Senhor, da Virgem de Fátima e da Padroeira, achando local para sentar e se livrar do sol no monumento da Praça José Bonifácio.

Foi costureira conhecida, profissão que levou até boa idade, prestando também serviços para a Irmandade de Fátima, Convento do Carmo - onde era muito elogiada pelo saudoso Frei Rafael M. Marinho - e Paróquia de São Jorge Mártir.

Contraiu matrimonio com o senhor Waldemar Tavares em 17 de maio de 1952 na Catedral de Santos, sendo seu sogro o senhor Estevão, casado com dona Izabel Fernandes Carvalho Tavares. Estevão era marceneiro, sendo o responsável pela fabricação dos bancos da nossa Catedral, e gerou dois filhos: o saudoso professor Waldemar e o advogado Estevão conhecido pelo gosto e participação em campeonatos de jogo de xadrez.

Aracy sempre se dedicou ao próximo, como boa cristã, inclusive cuidando de parentes enfermos, assim como auxiliava pessoas que pediam sua ajuda. Faleceu em 28 de março de 2018.

Luiz o andorista da padroeira – Senhor de porte alto, falar forte de caiçara típico vicentino, sempre rindo. É Congregado Mariano e, com outros três, levavam o andor da padroeira de Santos, até a substituição por militares. Sempre devoto, vindo da cidade de São Vicente para a cidade.

Waldemar Tavarez Junior (nascido em 18 de abril de 1968 e falecido em 11 de julho de 2017) - Natural de Santos, sua família viveu no limite da paróquia da Matriz e depois da nova Catedral, onde foi batizado, fez primeira comunhão em 1978, serviu o altar como coroinha e recebeu a crisma, foi catequista e membro da extinta Irmandade de Nossa Senhora do Rosário Aparecida e da extinta Confraria de Nossa Senhora de Fátima, assim se empenhou em participar mais da liturgia, cuidava que houvesse a conservação e respeito do culto cristão, tendo preferência pela missa com órgão e canto gregoriano e o rito tridentino em ordens autorizadas por Roma para celebra-lo, participou ativamente da missa pós-conciliar seguindo o missal sem as inovações que frequentemente são adicionadas na atualidade. Sempre frequentou o Mosteiro de São Bento de São Paulo e Rio de Janeiro tendo afinidade por essa ordem religiosa cristã.

Participou na Catedral de Santos ativamente, nos anos 70, em suas missas, festas e eventos, e decidiu ter mais participação no convento do Carmo de Santos a partir de 1985, quando também se tornou membro da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Santos, assim cuidava da liturgia e instruía e dirigia os coroinhas que eram muitos no convento naquele tempo. Foi membro da Ordem III de Nossa Senhora do Carmo, por seu empenho e com a devida autorização do prior do Convento do Carmo de Santos. frei Rafael M.Marinho, conseguiu levar o coral gregoriano para a missa uma vez por mês. o que se tornou tradição daquela igreja quatro vezes centenária. Frequentou o convento até 1998, quando ocorreu o falecimento do frei e preferiu frequentar o mosteiro paulista dos beneditinos.

Estudou no primário na escola dos estivadores e posteriormente na Escola Barnabé, depois seguiu seu caminho até se formar em Humanas na área de História com licenciatura plena em 1991 na UniSantos com os demais cursos de pós-graduação entre outros mais ligados a essa matéria; trabalhou estagiando para a universidade, como monitor no Museu de Arte Sacra de Santos, onde muito antes nós dois participávamos enriquecendo o patrimônio com constantes pedidos levando lista com peças sacras em perigo ao senhor Bispo Dom David Picão que as resgatava e para lá as mandava. Foi professor concursado em dois cargos públicos de ensino na Rede Estadual de São Paulo e na ETEC. Aristóteles Ferreira.

Oriundo de uma família cristã tradicional em Santos, participante desde a velha matriz demolida até a Catedral, incluindo sua mãe Dona Aracy (nascida em 1927), seu pai Waldemar Tavares (falecido em 22 de junho de de 1971), seus avós maternos Pedro José da Silva e Maria Luiza da Silva e seus avós paternos Estevão Tavares e Isabel Fernandes Carvalho Tavares. Em agradecimento por ter recebido o batismo pelo empenho de seus genitores, fazia questão de rezar diante da entrada do batistério um Pai-Nosso, uma Ave-Maria e o Glória quando entrava na matriz Santista.

Francisco Vázquez Carballa – Nasci na Santa Casa de Santos, sendo batizado pela irmã Melita e a parteira em emergência com o nome de Osvaldo que seria o nome do esposo dessa enfermeira parteira, depois fui batizado na Catedral em 7 de outubro de 1962, ali fiz a primeira comunhão em 31 de dezembro de 1972, participei do coral da paróquia entre 1971 até 1974, quando mudamos do bairro, fui membro da extinta Confraria de Nossa Senhora de Fátima desde 1983, fui sineiro e bimbalhava o maior dos sinos da torre, o “Jesus Eucarístico” tive a minha participação nas festas e acontecimentos.

Meu pai Manuel Vázquez Vázquez (falecido em 14 de junho de 2017) comerciante, e minha mãe Maria Carballa Villar (falecida em 9 de junho de 2000), fizeram da Catedral a igreja familiar e assim eu e meus irmão fizemos ali a primeira comunhão e várias outras cerimônias cristãs; era o estandartista oficial da Confraria de Fátima e da festa do Monte Serrat, dividindo-me entre a enorme bandeira e os sinos.

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