Imagem: capa da publicação original
A capela de Santo Antonio do Embaré
Luiz de Moraes Carvalho
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Carta do barão do Embaré
Inauguração da Capela de Santo Antonio do Embaré, no ano de 1875
Carta dirigida à Vereação Municipal
pelo Exmo. Sr. Visconde do Embaré:
Tenho a honra de levar ao conhecimento de Vv. Ss. que se acha erigida na Praia do Embaré uma Capela para
o serviço religioso dos moradores daquele aprazível e florescente arrabalde.
Seu orago é Santo Antonio e sua situação vizinha de um lado com os terrenos pertencentes ao sr. dr. Ernesto Germack Possolo, e do outro lado com os da propriedade e residência do sr. dr.
Wallace da Gama Cockrane, antigo presidente dessa ilustre corporação.
Mede o terreno onde está assentada a Capela, que é seu patrimônio, uma extensão de vinte e dois metros para a praia e cem metros de fundo.
Foi empreendida essa obra pia sem viso de ostentação, sem luxo, mas com a precisa decência e capacidade para os seus sagrados destinos.
No dia 19 de setembro passado, foi nesse modesto templo e pelo exmo. sr. vigário da paróquia, padre Scipião Goulart Ferreira Junqueira, inaugurado o serviço religioso com a competente
autorização do ordinário diocesano, havendo antes precedido à bênção geral do solo e mais pertences destinados aos ofícios divinos.
Dando ciência desse fato, que considero de interesse local, à Câmara Municipal, declaro também que oportunamente farei a entrega da Capela e do que lhe pertencer à irmandade que se
organizar legitimamente para os fins do estilo. Ser-me-á muito agradável se Vv. Ss., mandando arquivar esta minha comunicação, fizessem registrar oficialmente essa matéria, de modo que a todo o tempo e de uma forma autêntica conste nessa Câmara a
fundação da Capela de Santo Antonio do Embaré, à Praia desse nome do município de Santos.
Deus guarde a Vv.Ss.
Cidade de Santos, 25 de outubro de 1875.
Ilmos. Srs. presidente e vereadores da Câmara Municipal desta cidade.
Barão do Embaré.
Visconde do Embaré
ao Visconde do Embaré que se deve a construção da primitiva capela de que estas páginas procuram fazer a história, em curta e decerto incompleta monografia.
Numa síntese formal há que dizer, do visconde do Embaré, que ele foi um dos cidadãos mais prestimosos de Santos. Nascido nesta cidade, e filho do português Antonio Ferreira da Silva e de d.
Maria Ferreira da Silva, entrou no alto comércio acompanhando a carreira paterna. Com grande perspicácia e intuição, desenvolvidas pelo estudo e pela observação dos homens e dos costumes, bem depressa alcançou uma posição evidente.
Os cargos públicos que exerceu, as empresas de sua iniciativa, a filantropia e beneficência, que espalhou às mãos cheias, e as homenagens e mercês com que o distinguiram, demonstram
irrefutavelmente, aos que dele se ocupam em uma época já afastada, a sua influência social e o prestígio que o cercava.
Reconhecendo o valor do ensino, fundou com o Visconde de Vergueiro uma escola à qual fez doação de um prédio para funcionar, entregando-a depois ao município.
Por ocasião da terrível epidemia de febre amarela que assolou esta cidade, o visconde do Embaré presenteou igualmente o município com um vasto edifício da Rua Xavier da Silveira, para aí
se internarem os infelizes órfãos, que a moléstia fizera. Foi esse o início do Asilo de Órfãos, que ainda hoje existe.
Atos de um altruísmo tão levantado abundam na sua biografia, sobredoirados por esmolas avultadas, e de diferentes gêneros. Como provedor da Santa Casa, cargo que
desempenhou vários anos, a sua passagem assinala-se como a de um grande benemérito.
O visconde do Embaré, que se distinguiu no Comando Superior da Guarda Nacional, prestou relevantes serviços na organização dos batalhões de Voluntários da Pátria, por ocasião da guerra
do Paraguai.
Nas funções de presidente da Associação Comercial, de vereador municipal, e de diretor do Partido Conservador, encontram-se atos generosos e patrióticos que muito
o elevaram na consideração e estima dos seus conterrâneos.
Possuindo largos terrenos na praia do Embaré, ali mandou construir a Capelinha de Santo Antonio do Embaré, onde durante muitos anos se celebrou a missa, até que ficou abandonada.
Ao seu espírito educado e de crente se deve aquele padrão religioso, pelo qual tantos brasileiros ilustres se têm agora interessado.
Como prêmio aos grandes serviços prestados, o governo do Imperador concedeu-lhe a comenda da Rosa, o título de barão do Embaré e mais tarde o de visconde.
Em Santos hospedou diversas vezes no seu palácio o imperador d. Pedro II, que lhe votava muita amizade.
O visconde do Embaré foi casado duas vezes. Do primeiro matrimônio deixou três filhos: d. Gabriella, d. Josephina e Eduardo, já falecido.
Das segundas núpcias, contraídas com sua cunhada, a viscondessa do Embaré, não houve descendência.
Sua morte foi sinceramente pranteada e os funerais tiveram a pompa e o luto da sua alta categoria, deixando na maior consternação todos os que o conheceram.
Visconde do Embaré
Foto publicada na obra original
Viscondessa do Embaré
A viscondessa do Embaré era uma distinta senhora dotada das mais apreciáveis virtudes.
Primava pela afabilidade do trato, e era em extremo bondosa. A pobreza e a desgraça nunca lhe bateram à porta que não ficassem alegres e confortadas. Verdadeiro espelho de caridade cristã, o seu
nome figurou em todas as obras de beneficência daquela época.
A crença religiosa animava-lhe todos os atos. E assim dispensou à Capelinha do Embaré os cuidados e os desvelos de mãe extremosa que não tinha outros filhos.
Viscondessa do Embaré
Foto publicada na obra original
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