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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
A centenária comunidade dos luteranos (5)

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Em outubro de 2006, a Igreja Luterana comemorou um século de presença em Santos, embora seu templo atual só tenha sido inaugurado em 1935, na Avenida Francisco Glicério, 626. A Igreja Luterana foi fundada pelo ex-padre católico Martinho Lutero, na Idade Média, com o movimento denominado Reforma, e as primeiras comunidades no Brasil surgiram em 1824, com a chegada dos imigrantes alemães. Ao completar seu centenário, a comunidade luterana santista publicou este livrete comemorativo "Luteranos - 1906-2006 - Santos - Celebrando os 100 anos de uma história de fé":

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Assinaturas no livro de Atas dos presentes na assembléia de fundação da igreja

 em 14 de outubro de 1906
Imagem: reproduções, publicadas com o texto

Tudo começou numa pequena escola...

Martim Lutero via na educação a chave para a construção de pessoas melhores, material e espiritualmente! Defendeu que ao lado de cada igreja deveria haver uma escola. De forma significativa, a história da Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Santos inicia numa escola, o que revela que antes da Igreja já existia vida comunitária expressa na ação educativa e também numa ação social. A história da Igreja em Santos se entrelaça com a da Escola e da Sociedade Beneficente Alemã.

Em 16 de novembro de 1893, com sede na Praça dos Andradas, 33, em prédio próprio, foi instituída Associação Escolar Alemã (Deutscher Schulverein), com o fim de manter uma escola para os filhos de seus associados. As matérias do programa de ensino eram Alemão, Português, Francês, História do Brasil, Geografia, Aritmética, Geometria, História Natural, Desenho, Caligrafia, Ginástica e, para as meninas, os trabalhos de agulha.

A Associação contava com 80 sócios e compunham o corpo docente os professores Félix Wunsche, Tarquínio Silva, Olga Melchert e Helena Kiel. O horário das aulas no verão era das 8 horas ao meio dia e no inverno das 10 horas até as 15 horas. A diretoria era composta pelo presidente sr. Th. Nobiling, secretário sr. J. Holl Jr., tesoureiro A. Withmann e vogais R. Seelmann e F. Schlüter.

Em 1903, diante das dificuldades que muitos compatriotas alemães atingidos pela necessidade ou por golpes do destino sofriam em Santos - que, por ser uma cidade mercantil e de grande tráfego marítimo, era o principal centro de viajantes do país -, resolveram criar a Sociedade Beneficente Alemã de Santos (Deutscher Hilfsverein). Na fundação da entidade, um dos participantes, o sr. Bormann, manifestou a necessidade de prestação de apoio com conselhos e ajuda prática aos alemães residentes em Santos incapacitados de trabalhar. A entidade também se comprometeria em pagar a mensalidade da Escola Alemã para as crianças cujos pais estariam sem condições de arcar com as despesas. Todos os 28 presentes ficaram de acordo com a criação da Sociedade Beneficente Alemã, que teria a mesma sede da escola.

Foi eleita a primeira diretoria provisória, que teria também a função de elaborar os estatutos da sociedade. A diretoria foi composta pelo primeiro diretor, sr. Hellwig; segundo diretor, sr. V. Heyer; tesoureiro dr. Lind; secretário, sr. Bauer; primeiro conselheiro sr. Georgius e segundo conselheiro sr. Sattler. Foram escolhidos como assistentes sociais os senhores Fürbringer, Breithaupt, Klannig, Gieseler e Weiher.

Esta Sociedade, fundada em 31 de março de 1903, foi registrada oficialmente com a seguinte diretoria: presidente: sr. R. Seelmann; vice-presidente, sr. H. Hippe; tesoureiro, sr. H. Schlüter; secretário: H. Pachur; conselheiros: E. Bormann e G. Georgius; e contando com 84 sócios.


Artigo no Jornal Alemão de 1907 trazendo informações do município de Santos e relatando a realização da primeira confirmação realizada na Comunidade de Santos no domingo de Pentecostes. A confirmação foi realizada na Escola Alemã
Imagem: reprodução, publicada com o texto

A fundação da Igreja - Por iniciativa do pastor F. Wilhelm Bauer, que atendia a pequena comunidade em Santos, foi realizada a Assembléia Constitutiva da Comunidade Evangélica Alemã (Edutsch Evangelische Gemeinde) em 14 de outubro de 1906, a qual utilizaria as instalações da Escola Alemã, para os cultos, aulas de catequese e reuniões.

A comunidade contava com 75 membros, número suficiente para garantir a existência da mesma, e seria atendida por um pastor vindo de São Paulo, até ter condições de manter o seu próprio. Assinaram a lista de presença 32 pessoas, entre as quais encontramos um nome brasileiro, Maria Pereira da Silva. Os srs. Franz Jahrmann e Rodrigo Pfaff foram indicados e aceitaram tomar as providências necessárias no interesse da paróquia e elaborar o projeto dos estatutos, que seriam apresentados para discussão e aprovação na próxima assembléia.

Comunicou-se também a realização dos próximos cultos, no prédio da Escola, nos dias 18 de novembro e 25 de dezembro. Os cultos seriam anunciados nos jornais Germânia e Jornal Alemão, de São Paulo. Em Santos, cogitou-se os jornais A Tribuna e Diário de Santos. De acordo com várias sugestões, decidiu-se a realização de ensino religioso e confirmatório, simultaneamente nos dias de cultos. Foi programada a realização da primeira confirmação evangélica em Santos, para o domingo de Pentecostes de 1907.

As dificuldades financeiras nas três entidades eram uma constante. Os que necessitavam de ajuda eram muitos e aumentavam cada vez mais, pois o auxílio foi estendido também a austro-húngaros e mesmo russos, que falassem alemão. Os membros mais abastados e empresas alemãs contribuíam sempre. Em 20 de janeiro de 1906, a Escola Alemã solicitou contribuição à Associação Beneficente, pois, intimada pelas Autoridades Sanitárias, necessitava reconstruir o edifício da escola e lhe faltava verba. A Associação, sem ferir seus estatutos, transferiu o valor necessário na forma de ajuda no pagamento total das mensalidades das 21 crianças carentes (16 eram isentas e 5 pagavam só metade).

Em 1908, o número de membros da Associação havia caído de 60 para 46, pois, devido às crescentes dificuldades, muitos assavam da situação de contribuintes para a dos que precisavam de ajuda.

Em 4 de março de 1910, a Associação Beneficente, em Assembléia Geral, planejou uma coleta para alugar uma casa, onde necessitados pudessem encontrar um pernoite e eventualmente contatar uma família que pudesse prover alimentação; mas, devido ao esforço para a reconstrução da escola, não foi possível um empenho da Associação em angariar fundos para esta finalidade.

Até 1912, a Igreja em Santos foi assistida pelos pastores Bauer, Teschendorf e J. Josten, que se deslocavam de São Paulo para Santos. Em 4 de fevereiro de 1912, foi instalado o primeiro pastor em Santos, pastor Heindenreich, que atendia também a colônia alemã de Nova Europa, Ribeirão Preto, Engenho Coelho, Americana e Inconfidentes.

O pastor Heidenreich exerceu também o cargo de vice-presidente da Sociedade Beneficente Alemã. Nesta ocasião, a Sociedade utilizava como hospedaria o Albergue A. F. Paulo, localizado na Rua São Leopoldo, 36. Como este albergue não apresentava as condições mínimas para a hospedagem de mulheres sozinhas e famílias, a Sociedade instalava os necessitados em hotéis, o que sobrecarregava o caixa. Na reunião de 6 de maio de 1912, decidiu-se aceitar a oferta da Missão aos Marinheiros de ceder 2 quartos para esse fim. A permissão para uso destes quartos foi dada pelo vice-presidente; para os demais casos, continuou-se utilizando o já supracitado albergue.

A Missão Alemã aos Marinheiros foi instalada em Santos em 1 de fevereiro de 1912 e tinha a sua sede na Praça da República 21/22 (A Missão aos Marinheiros permanece até os dias atuais atuando no porto de Santos junto aos marítimos, desenvolvendo um trabalho ecumênico. Atua em conjunto com a Stela Maris da Igreja Católica Romana).

Primeira Guerra Mundial - Durante a Primeira Guerra (1914-18) as atividades foram mantidas da melhor forma possível. As contribuições dos membros diminuíram. Existiam muitos pedidos de ajuda. A Sociedade Beneficente, mesmo recebendo ajuda da Cruz Vermelha Alemã, foi obrigada a reduzir seus gastos. Alguns necessitados ficaram sem ajuda alguma. Esperava-se que as coisas melhorassem com o fim da guerra.

O pastor Heindenreich entregou o seu cargo em 23 de janeiro de 1920, devido à sua mudança de Santos. Sempre contando com a assistência de pastores de São Paulo, como por exemplo a do pastor F. Hartmann nas longas vacâncias, Santos teve a instalação do pastor Schmidt, em 7 de agosto de 1921, o qual atendeu a comunidade por cinco anos.

Em 23 de novembro de 1926, foi instalado o pastor Arthur Hahn, que realizou um pastorado marcante junto à comunidade, abrangendo uma área de atuação envolvendo todo o litoral paulista e Vale do Ribeira, onde haviam cerca de 240 evangélicos residindo nas localidades de Xiririca, Pariquera-Açu, Santa Maria, Linha Juquiá. Nestas localidades, os primeiros cultos aconteceram em julho de 1927 em Serrinha, na Linha Juquiá. O pastor Hahn também atuou na Sociedade Beneficente Alemã, onde exerceu o cargo de secretário.

Década de 30 e a construção do templo - O pastor Hans Reichardt foi instalado em 1931 e iniciou os trabalhos de pastor para comunidade e de missionário entre os alemães, que, tendo emigrado após a Primeira Guerra Mundial, década de 20, foram iludidos com a promessa de terras próximas a Santos.

Na verdade, estas terras eram verdadeiras matas fechadas situadas no Vale do Ribeira e no litoral Sul do Estado de São Paulo. As condições de sobrevivência já eram hostis para os nativos e pioravam para os colonos alemães acostumados a outros climas e condições geográficas. O Consulado Alemão e a Igreja procuravam dar apoio a esta gente.

Para exemplificar, uma viagem feita pelo pastor a essas regiões durava um mês. Começava via Estrada de Ferro (Sorocabana), que ia até Juquiá. O pastor ficava em Itariri, em Pedro Barros ou Manoel de Nóbrega, onde também já havia alemães. Depois, chegando a Juquiá, os colonos, já avisados, iam buscar o pastor. A viagem continuava em lombo de burro e atravessando rios e riachos em canoas.

O pastor ficava hospedado nos casebres, construídos com madeira extraída da mata, e era alertado a tomar cuidado com as aranhas que se enfiavam pelas roupas e sapatos, e picadas de cobras.

Quando o pastor chegava a uma região, as crianças eram trazidas para o batismo, celebravam-se casamentos, realizavam-se cultos e revitalizavam-se os elos entre as comunidades. Em Eldorado Paulista (então Xiririca) existia uma comunidade numerosa, formada pelas famílias Fouquet (cujos descendentes ainda estão lá), von Nieländer, von Gloy, e muitas outras.

Tomando uma embarcação fluvial no Rio Ribeira de Iguape, o pastor atingia Iguape. Através da balsa ia até Cananéia e, viajando mais ao Sul ainda, quase divisa com o Estado do Paraná, visitava a Colônia Santa Maria.

A construção do templo foi outro sonho da comunidade que o pastor Reichardt abraçou e ajudou a concretizar. Membros contribuíram e a Igreja Luterana da Alemanha, que ajudava a manter a comunidade, também participou deste projeto. Em reunião de 19 de agosto de 1934, decidiu-se pela construção, vencendo a concorrência o projeto da firma Correa da Costa Júnior, ao custo de R. 57,000$000 (57 mil contos de réis). O lançamento da pedra fundamental aconteceu no dia 7 de outubro de 1934. Cerca de 100 pessoas acompanharam o evento. A pedra fundamental está localizada no canto esquerdo, saindo da igreja.

Durante a construção, o pastor Reichardt esteve em férias na Alemanha durante cinco meses. Neste período fez diversos contatos e conseguiu apoio de diversas entidades para conclusão do templo. Do "Auxílio para o Exterior" da Igreja na Alemanha (Kirchlichen Ausssenamt) ganhou uma Bíblia para o altar e 60 hinários. A Sociedade Gustavo Adolfo de Leipzig (Gustav Adolf-Vereins) doou dois sinos e utensílios para o altar. A Sociedade de Senhoras Gustavo Adolfo de Leipzig doou paramentos para o altar, o púlpito e a pia batismal. O templo foi inaugurado em 14 de julho de 1935.

A comunidade contava com cerca de 700 pessoas e em torno de 140 membros contribuintes. A Santa Ceia era realizada duas vezes ao ano, na Sexta-feira Santa e no Domingo da Eternidade (último domingo do ano eclesiástico). O culto infantil acontecia uma vez por mês.

Segunda Guerra Mundial, a dispersão - Com o início da Segunda Guerra Mundial, a situação voltou a ficar difícil para os estrangeiros, pois ocorreram os cortes nas comunicações, comércio e ajuda que vinha dos países envolvidos no conflito. As reuniões e cultos começam a rarear. Em 1940 acontece apenas uma reunião do Presbitério. Em 1941, uma reunião, realizada no domicílio do pastor Reichardt na Av. Presidente Wilson, 55, em São Vicente. Durante o ano de 1942, os estrangeiros originários de países do Eixo começam a ter dificuldades para se reunir e já são alvo de observação e fichamento pela polícia.

Em 1943, o Brasil entra oficialmente na guerra. Cidadãos de origem alemã, italiana e japonesa tiveram que se retirar das áreas litorâneas e ir para o interior do País. As propriedades de estrangeiros e/ou mantidas por eles foram confiscadas ou colocadas sob custódia de entidades ou governo brasileiro. Um caso marcante desses confiscos foi o do transatlântico Windhuk, que, estando no porto de Santos por ocasião da declaração de guerra, teve seus tripulantes internados em campos de concentração em Guaratinguetá e Pindamonhangaba até o fim da guerra.

O pastor Reichardt também teve que sair de Santos, mudando-se com a família para Rio Claro, onde havia uma escola e uma colônia alemã. Antes de partir, foi aceita a proposta da Igreja Presbiteriana de Santos de aluguel do templo, que, desta forma, identificado como sendo de uma entidade brasileira, escapou do confisco.

Durante dezessete anos, o templo serviu à Igreja Presbiteriana, sob os pastores Domício Pereira de Matos (7/2/1943 a 24/1/1945), Boanerges Ribeiro (21/6/1946 a 1/7/1951), Alfredo Thone Stein (1/7/1951 a 29/7/1953) e Pérsio Gomes de Deus (29/7/1953 a 17/1/1960). Em 1958 a Igreja Presbiteriana de Santos inicia a construção de seu templo na Rua Marquês de São Vicente, em Santos.

O pastor Reichardt voltou a Santos somente em 19 de agosto de 1950, em busca dos evangélicos luteranos e sondar a possibilidade de restaurar a comunidade e seu pastorado. No dia 10 de setembro de 1950, um domingo, 53 pessoas participaram do primeiro culto após oito anos e meio de interrupção. Motivos financeiros e traumas resultantes de preconceitos e da guerra, no entanto, mantiveram a comunidade dispersa.

No final dos anos 50, apesar da dispersão e das dificuldades, os cultos de Natal eram muito freqüentados, havendo ocasiões em que faltou lugar para todos. Os membros da comunidade ainda eram predominantemente alemães, mas já começavam a surgir membros brasileiros por relação de parentesco.

Em 1959 o templo foi devolvido pela Igreja Presbiteriana à Igreja Evangélica Luterana. O pastor Reichardt, nessa época, assistia também as comunidades da região do ABC. Na década de 60 começaram a ser oficiados os primeiros cultos em português por ocasião de casamentos e batismos, quando muitos dos presentes não eram de origem alemã.


Lançamento da pedra fundamental do templo em 1934
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Obras finais da construção do templo
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


17 de setembro de 1931. Pastor Reichardt, sentado no barco, se prepara para seguir viagem na visita aos colonos, saindo de Cananéia
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Casa de um colono
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Interior da casa de um colono
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Casamento de colonos em Manoel de Nóbrega
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Colonos em Xiririca, junho de 1932
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Colonos em Serrinha, 1933
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Inauguração do templo
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Pastores presentes na inauguração do templo
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Inauguração do templo em 1935
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Inauguração do templo em 1935
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto


Alunos do Colégio Alemão em 1934
Foto cedida por Dulce Matthiesen, publicada com o texto


Confirmação, 18 de março de 1951
Foto cedida por Gisela Novoa, publicada com o texto

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