Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0188m.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/19/06 08:19:24
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Igrejas
Uma igreja para Santa Bakhita

Leva para a página anterior
Em 31 de janeiro de 2006, o jornal santista A Tribuna noticiava a construção de uma nova igreja, em homenagem a Santa Bakhita:
 

Cerimônia de abertura do templo, na Vila Mathias, será sábado
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria

INAUGURAÇÃO
Santa Bakhita terá a 1ª igreja em Santos

Da Reportagem

A comunidade católica santista tem um motivo especial a comemorar: sábado, às 10h30, será inaugurada a Igreja Santa Josefina Bakhita, a primeira em homenagem à santa, no Estado.

O local escolhido para abrigar o templo é a Rua República Portuguesa, 18, Bairro da Vila Mathias. A cerimônia de inauguração será presidida pelo bispo diocesano dom Jacyr Francisco Braido.

Santa Bakhita, que tem milhares de devotos no Município, era africana, foi escrava e morreu em 8 de fevereiro de 1947, no Instituto Canossiano, na Itália. Ela foi canonizada pelo então papa João Paulo II em 1º de outubro de 2000.

Para que fosse declarada santa, era preciso a comprovação de um milagre e ele aconteceu aqui na Cidade, tanto que a Catedral tem um altar para Santa Bakhita.

O milagre foi a cura de Eva da Costa Onishi, que tinha diabetes. Vinte e quatro horas após invocar a santa e esfregar a imagem (santinho) nas feridas que tinha nas pernas, elas voltaram ao normal, curadas.

O episódio aconteceu em 27 de maio de 1992. As zonas das chagas permaneceram pigmentadas, como que para comprovar tal milagre. "A santa é tão querida que merecia uma igreja em sua homenagem aqui em Santos e é a primeira igreja para ela no Estado. Já são três anos de luta para construirmos", declarou o padre José Paulo, da Catedral.

A Igreja Santa Josefina Bakhita é uma das comunidades da Catedral e faz parte do projeto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Queremos Ver Jesus - Caminho, Verdade e Vida. "O objetivo é trazer comunidades pobres para a igreja. Aqui ela está próxima da Vila Nova, Mercado e Paquetá e trará as pessoas para cá", prevê o padre.

As missas na igreja serão celebradas pelo padre José Paulo aos sábados, às 18 horas. O templo tem capacidade para 200 fiéis sentados.

Todos os dias acontecerão atividades com pessoas da paróquia (Catedral) e com as irmãs canossianas, que atuam desde 1948 na Paróquia da Catedral de Santos.

Centro Comunitário - A obra teve início em 10 de dezembro de 2004, com investimento de aproximadamente R$ 280 mil, que foi custeado pela Catedral e pelos santistas, conforme padre José Paulo.

A área total do local é de 494 metros quadrados, com corpo da igreja, banheiros femininos e masculinos, além da sacristia e Centro Comunitário, na Rua Henrique Ablas, 8 (atrás da igreja).

A comunidade das imediações poderá participar de atividades no local, com espaço destinado para a Pastoral da Criança, banheiros, cozinha, sala de catequese, salão de festas para as crianças e copa.

Para que a obra seja totalmente entregue falta concluir a parte de acabamento, segundo o arquiteto da Cúria Diocesana, Fernando Gregório Pereira.

Festa - A missa em homenagem ao dia da santa acontecerá já na igreja nova, no dia 8, ao meio-dia. Já na Catedral, as missas no dia acontecerão às 9 e às 18 horas (esta com participação do bispo).

Desde ontem, começou uma novena, na Catedral (Praça José Bonifácio, sem número, Centro), em louvor de Santa Bakhita, sempre às 18 horas, exceto sábado que será às 16 horas. Outras informações pelo telefone 3232-4393.

O anúncio da construção da igreja também foi feito no dia 27 de janeiro de 2006, em publicação da Diocese de Santos no jornal santista A Tribuna:

Reprodução da matéria

1ª igreja dedicada a Santa Bakhita será em Santos

A primeira igreja no Brasil dedicada a Santa Bakhita será inaugurada no próximo sábado, dia 4 de fevereiro, em Santos. Erigida na Rua República Portuguesa, s/n, na Vila Mathias, a igreja é o resultado do esforço da comunidade da Catedral e da doação de empresários locais.

Às 10 horas, haverá concentração de fiéis em frente à Catedral - Praça José Bonifácio, s/n - de onde sairá a procissão, conduzindo o quadro com a imagem de Santa Bakhita até a nova igreja. Lá será celebrada missa campal, presidida por dom Jacyr Francisco Braido. A celebração contará com a presença do pároco da Catedral, padre José Myalil Paul e outros padres da Diocese.

Juntamente com a igreja será inaugurado o Centro Comunitário, onde serão desenvolvidas atividades sociais e pastorais para a comunidade do entorno.

Novena - De 30 de janeiro a 7 de fevereiro, será realizada na Catedral a novena em honra a Santa Bakhita, às 18 horas.

No dia 8 - Dia de Santa Bakhita - haverá missa às 9 horas e às 18 horas, na Catedral, e às 12 horas na nova igreja.

E, no dia 8 de fevereiro de 2006, foi publicada esta matéria na seção Ponto de Vista do jornal santista A Tribuna:

Imagens - frente e verso de "santinho" de oração em homenagem à santa,
distribuído em Santos em 2006

As mensagens de Bakhita

Titina Palmieri Brandão (*)
Colaboradora

...Uma santa não só para as irmãs Canossianas e para o povo de Schio, mas para a Igreja toda. Uma filha da África elevada às honras do altar, protetora dos pobres e os abandonados, no alvorecer do novo século.

A aventura de Bakhita é uma provocação para nos colocar em confronto entre o "ser" e o "não ser", entre a justiça e a injustiça. Entre o colocar-se no centro do próprio mundo, como se fosse seu dono, e deixar espaço ao outro, qualquer que seja ele, sem distinção. Entre o amor e o não amor que faz definhar a vida de tantas pessoas.

Sudão - um povo pacífico, os dajiús, negros puros. Ao longe do povoado de Olgossa, na região ocidental de Darfur, avista-se o vulcão agora calmo e, mais perto, a árvore sagrada rodeada de cabanas e a de seus antepassados. Os rebanhos têm bom pasto, mas vem a seca e o povoado se transfere para Nayala. As famílias grandes se reúnem. É lá que a menina vive.

Chegam os salteadores e levam a filha mais velha, uma bela negra. Dois anos depois, no dia fatídico, a pequena menina é capturada por dois desconhecidos. Suplica que a deixem ir, mas, violentos, ameaçam-na com o chicote e perguntam: "Qual é o teu nome?" Diz o outro rindo, "Ela não tem nome" então vamos chamá-la "Bakhita".

Começa aí a tortura da menina; no vilarejo é trancafiada numa cabana. De povoado em povoado, o grupo de escravos aumenta e muitos são mortos, outros vendidos. Bakhita tem uma companheira e, juntas, conseguem fugir, porém cairão novamente em mãos do mercador. São chicoteadas por qualquer deslize ou mesmo para descarregar a raiva, até as meninas serem reduzidas a dois montes de carne sangrenta.

Passa o tempo até que a mandam procurar o cônsul italiano. Bakhita, resignada, vai, recebe alimento e dorme, não acreditando que sua vida mudara. As tropas rebeldes se aproximam de Cartum e o cônsul vai voltar para a Itália. Bakhita suplica para ir junto, e ele cede.

Dezembro de 1884. Na Itália o cônsul Calisto Legnani compra a escrava Bakhita do cruel general turco. Bakhita se afeiçoa ao cônsul Calisto. Mas Augusto Michiele e esposa devem voltar à África. Bakhita cuida da filha deles, chamada Mimina, e fica em Veneza, no Instituto dos Catecúmenos, com as freiras canossianas. Aí começa a sua instrução religiosa.

Bakhita gostaria de ser cristã? Sim, irmã, gostaria muito.

"Quando vejo o sol, a lua e as belezas da natureza, eu me pergunto: quem fez todas estas coisas? E sinto uma vontade de conhecê-lo, de vê-lo..."

Bakhita se recusa a acompanhar Maria Turina e Mimina de volta à África. A senhora se revolta e a chama de escrava ingrata, mas Bakhita persiste e diz que não deixará a casa do Senhor. O cardeal de Veneza, Domenico Agostini, interveio na questão, contestando o procurador do Rei. Disse ele: "Nós estamos na Itália e aqui não há escravidão, portanto, aqui Bakhita é livre".

Numa reunião extraordinária no Instituto dos Catecúmenos, estando o cardeal, o procurador do Rei, a senhora Maria Turina, acompanhada de uma amiga e de um advogado, o procurador diz: "Senhora, desde que Bakhita está na Itália, é uma mulher livre. Pode fazer o que quer".

A senhora se retira dizendo à filha: "Vamos, Mimina, Bakhita não merece teu afeto".

Era 29 de novembro de 1889. Para Bakhita começava uma nova vida. Ela se prepara para o batismo. Já tem 18 anos.

O próprio cardeal de Veneza administra-lhe os três sacramentos de iniciação cristã: batismo, crisma e eucaristia.

Quatro anos se passaram, felizes e frutuosos. Bakhita não fica inativa. "Gostaria de me tornar irmã..." E a madre escreve para a superiora-geral. A madre vem e, no dia 7 de setembro de 1893, ela ingressa no noviciado naquele mesmo instituto.

Em 8 de dezembro de 1896, em Verona, Bakhita emite os votos de pobreza, castidade e obediência, na mesma casa onde vivera a fundadora das Filhas da Caridade, Santa Madalena de Canossa. E, então, ela foi transferida para Schio, cuja edificação aparece à direita de Santa Bakhita no quadro pintado por mim e doado ao povo de Santos, na pessoa de seu bispo diocesano dom Jacyr Braido.

O bispo de Trento queria conhecê-la e ela, numa reverência, escorrega e cai por terra. E ele diz: "Obrigado, irmã, uma saudação verdadeiramente original". Em 1933, uma irmã recém-chegada da China tem uma idéia: por que não fazer com que nossas comunidades conheçam a irmã Bakhita?

Ela não é mais jovem, porém durante dois anos participa de encontros em muitos lugares da Itália. Sua história dramática, às vezes trágica, impressionava. É apresentada a uma escritora.

Chega outra guerra, que enfrenta tranqüila. Mas os anos pesam e ela sofre de bronquite asmática, artrite e arteriosclerose.

Sofre muito. As pernas enfraquecem e precisa de cadeira de rodas. Pede para ir diante de El Paron e reza, dizendo a Deus: "Eu não tenho nada para Lhe dar..." Olha a imagem de Jesus: "Obrigada por tudo que me destes, eu vou indo devagarzinho rumo à eternidade"...

(*) Titina Palmieri Brandão é escritora, musicista e pintora, membro da Academia Santista de Letras e sócia fundadora da AFLCAS.

Leva para a página seguinte da série