INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem, como ponto de partida, descrever a trajetória do Sistema
Bonde na Cidade de Santos desde os primórdios até o desaparecimento do sistema nesta cidade, em 28 de fevereiro de 1971, fruto de uma política
autoritária que só procurava desarticular o transporte coletivo em nossos municípios. Nesse contexto, pode-se afirmar que o "Milagre Brasileiro" só
aconteceu para a Indústria Automobilística, que acabou sofrendo um crescimento vertiginoso em seu parque, modificando hábitos do povo brasileiro em
relação ao transporte coletivo.
Desse modo, procurei fazer esse trabalho como forma de conscientizar uma geração de
menos de 20 anos que não chegou a ver o sistema de transporte por bonde - um dos valores da nossa memória histórica, adormecida por alguns
saudosistas apaixonados, que vivem no ostracismo de um época opulentamente dourada, impregnada de tradição e cultura.
A realização dessa pesquisa mostrou o que se pode e deve fazer pela história de
nossas cidades. No caso de Santos, esquecida pelas administrações passadas em relação a tudo que se referi a preservação do patrimônio histórico,
bem como as manifestações artísticas e culturais, pude perceber também o mesmo hiato em relação à CSTC, que se encontrava, em abril de 1985, num
estado financeiro caótico. Indiretamente a este fato, fui procurado em meados de maio desse mesmo ano, pelo ex-presidente (atual presidente do
Conselho) da CSTC, o engenheiro Armênio Tavares Russo, que solicitou uma pesquisa sobre a "História dos bondes em Santos" e que passou a ser um
trabalho complexo e difícil pela falta de dados mais profundos sobre o assunto.
Entretanto, a persistência e o dinamismo em realizar essa tarefa árdua e penosa
fez-me acreditar na recuperação de uma empresa que estava prestes a desaparecer - CSTC - que passou a assumir uma posição de respaldo moral e
financeiro com uma diretoria coesa de responsabilidade técnica e administrativa para com o serviço público. Diretoria essa que acreditou não só no
meu trabalho, mas, sim, nos números estatísticos apresentados no início deste, onde cheguei a mostrar que era viável acreditar na recuperação e
revitalização da empresa através do seguinte dado histórico: Santos em 1917 tinha o privilégio de possuir o maior transporte da América do Sul.
Desse modo, pude também realizar um levantamento histórico e patrimonial da empresa e com esses elementos elaborei um projeto sobre o Museu
do Bonde da CSTC.
Esta obra "O Bonde e suas Histórias - Uma Memória Coletiva da cidade de Santos" se
faz através de um levantamento da memória da cidade sob o ponto de vista social e urbano, utilizando o bonde para traçar este paralelo. Mas a
concretização do trabalho se deve a pessoas como: o pesquisador Waldemar Corrêa Stiel, pelo incentivo na pesquisa, e de quem primeiros relatos foram
consultados nas duas obras: "História dos Transportes Coletivos em São Paulo" e "História do Transporte Urbano no Brasil"; a minha
querida e entusiasta professora-mestre Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, da disciplina História do Brasil, da Fafis; além disso, pude contar
com o apoio do Departamento de Patrimônio Histórico da Eletropaulo, nas pessoas do dr. José Alfredo O. V. Pontes (chefe do Departamento);
historiador Ricardo Maranhão, Dirce P. S. Mendes e F. E. Bezerra de Menezes pela divulgação inicial da minha pesquisa, no Boletim Histórico nº 3
- Agosto/1985. Bem como a paciência e compreensão da equipe de execução fotográfica da Eletropaulo para com meu trabalho na seleção das fotos
contidas neste livro, liderada pelo Carlos Sérgio da Costa Lima, Carlos Gomes Pires e Rubens Carotenuto.
Procurei, assim, partir na procura de maiores dados nas seguintes instituições
pesquisadas: Arquivo da SMTC/CSTC; Arquivo e Biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio de Santos; Departamento de Pesquisa do
Jornal A Tribuna; Centro de Documentação do Dep. História da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade católica de Santos;
Arquivo do Patrimônio Histórico da Eletropaulo; Arquivo do Departamento Pessoal da Eletropaulo, ambos em São Paulo; Arquivo do Departamento Jurídico
da Eletropaulo-Regional (Santos) e Arquivo Histórico Municipal "José da Costa e Silva Sobrinho" - Centro de Cultura de Santos.
O trabalho ainda dispôs de dados históricos orais sobre o
bonde, fornecidos pelas seguintes pessoas: sr. João Monteiro, ex-assessor técnico da diretoria da CSTC (aposentado após 39 anos de empresa); sr.
Walter B. Guedes Paiva; sr. Henrique Pedro dos Santos (trabalha na empresa desde 1947); dr. Rolando Vidal Filho - Dep. Jurídico da CSTC; sr. Antônio
Gonçalves Nogueira (37 anos de empresa - 1943-1981); sr. Emídio Simões da Silva - ex-chefe do Tráfego do Jabaquara da CSTC (1954-até novembro de
1985); sr. José Pascon Rocha - Codesp - e pesquisador da memória ferroviária do Brasil. A essas pessoas, os meus sinceros agradecimentos.
Prof. Ricardo Evaristo dos Santos
Santos-SP-13 de julho de 1986 |