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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Decadência e dificuldades (1)

A crise econômica que atingiu a Baixada Santista na última década do século XX, com reflexos também nos primeiros anos do século XXI, também se abateu sobre a atividade clubística na cidade. Várias agremiações centenárias ou pelo menos de grande tradição passaram a enfrentar severas dificuldades financeiras, como registrou o jornal A Tribuna num domingo, 14 de março de 2004:

CLUBES

De chapéu na mão

As agremiações da Cidade vivem uma situação caótica: estão perdendo sócios, os funcionários vivem com salários atrasados e as dívidas crescem mês a mês

Patrícia Diguê
Da Reportagem

Passando o chapéu. É nesta situação que se encontra grande parte dos clubes de Santos. Em um deles, o Regatas Santista, a diretoria está chegando ao ponto de realizar eventos para arrecadar alimentos para os funcionários, que estão sem receber há cinco meses. Enquanto isso, em algumas entidades o título continua disputado e os aspirantes a sócios ficam até em listas de espera.

A situação do Regatas é uma das mais críticas. Conforme funcionários ouvidos por A Tribuna, a diretoria só tem pago as passagens de ônibus aos cerca de 20 empregados. "Estamos pagando o almoço com vale-transporte, de vez em quando eles soltam um vale, mas é só em casos extremos, tem gente que está passando fome e até ameaçada de despejo", afirmou um deles.

O presidente do clube, Agnaldo Fonseca, afirma que tem vergonha de dizer que não está pagando os funcionários. "Mas não fomos nós (a atual diretoria) que geramos esta situação. Quando assumimos, havia nove meses de atraso", se defende.

A agremiação possuía cerca de 4 mil sócios há oito anos, mas agora só restam 500. A diretoria está cortando gastos - eles não realizaram baile de Carnaval este ano, por exemplo - e está apostando no aluguel do salão de festas para gerar receita. "O clube ainda está vivo", acredita.

Fonseca não soube especificar quanto o clube tem de dívida. "Ainda estamos mapeando". Só para acertar as contas com os empregados, seriam necessários pelo menos R$ 60 mil.

O presidente comenta que está aberto para discutir alternativas para evitar que a entidade feche as portas. Entre elas, está a fusão entre diversos clubes. "Poderíamos vender um clube para pagar as dívidas dos outros e fazer uma coisa só, mas isso é muito complicado, porque cada clube tem seu conselho".

Ele dá como exemplo de boa saída para tirar a agremiação da crise o que foi feito no Clube XV, vendido há cerca de dois anos para uma construtora. Além de gerar recursos para sanar as dívidas, a negociação inclui a construção da nova sede da entidade, que ocupará dois andares de um complexo que inclui flat e hotel. "Se aparecer esta proposta para nós, vamos analisar de bom grado", afirma o presidente do Regatas. O novo Clube XV está previsto para ser inaugurado em outubro.

1,5 MILHÃO DE REAIS
é a dívida do
Clube de Regatas Saldanha da Gama

Caos - No Clube de Regatas Saldanha da Gama, quase a metade dos 1.800 sócios que sobraram nem estão pagando a mensalidade, devido ao caos que se tornou a entidade, conforme define o próprio presidente, Ayrton Rogner Coelho. Ele assumiu a diretoria na última segunda-feira.

A dívida do clube é de R$ 1,5 milhão, referente principalmente a INSS (R$ 1,2 milhão) Os funcionários também ainda aguardam receber a remuneração das férias do ano passado. Para Coelho, que foi presidente do clube entre 81 e 88, a entidade é viável financeiramente, mas precisa ser bem administrada. "A outra diretoria via todo mês um déficit de R$ 40 mil e não fazia nada". O clube chegou a possuir 8 mil sócios há cerca de 10 anos.

O presidente, que freqüenta a agremiação há 50 anos, acredita que levará um ano para que as finanças sejam colocadas em dia. Entre as providências está acabar com a inadimplência, extinguir o direito a ser sócio remido (aquele que não paga depois de um período de 30 anos como sócio) e aumentar o valor da mensalidade.


O Clube de Regatas Santista tinha, há 8 anos, aproximadamente 4 mil sócios
e hoje conta com 500
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Portuários até pensa em mudar de nome devido às parcerias

A Associação Atlética Portuários de Santos começou a enfrentar a decadência após a Lei de Modernização dos Portos, que entrou em vigor em 1993 e resultou na queda da remuneração do trabalhador portuário, sem falar nas demissões. Na época, eram quase 24 mil sócios, hoje são 2.760 pagantes, principalmente funcionários e aposentados da Codesp.

Desde então, o clube vem buscando alternativas para se manter aberto. A primeira delas foi abrir a entidade para outras categorias, firmando convênios, como com os sindicatos da construção civil e dos aquaviários e também com hospitais. "A gente está pensando até em trocar o nome do clube", diz o presidente João Geraldo Mercês Neto.

Também foi extinta, em 1997, a cobrança da chamada jóia para se associar. Agora, basta ter a ficha aprovada e começar a pagar a mensalidade.

Para realizar a matinê de Carnaval este ano, Mercês conta que teve que "fazer milagre". Ele mesmo gravou nove CDs com músicas tiradas da Internet e reaproveitou antigos convites. Apesar do improviso, o evento atraiu 4 mil pessoas. Os shows no local já não são tão freqüentes e são feitos na base da parceria. "A banda fica com a bilheteria e a gente explora o bar".

O clube está precisando de uma reforma completa, mas isso custaria cerca de R$ 4 milhões, calcula Mercês. O valor é inviável, já que a entidade passa todos os meses no vermelho.

Para manter o clube funcionando são gastos aproximadamente R$ 190 mil, dos quais 83% vão só para a folha de pagamento de 70 funcionários. O presidente não soube informar o valor da dívida do clube.

Para tentar gerar receita e manter o complexo funcionando, Mercês revela que está sendo estudada a possibilidade de se vender o anexo administrativo, onde funcionam também as salas de ginástica e o salão de festas. A área é a única de propriedade do clube. O restante é cedido pela União. No total, as instalações somam 120 mil metros quadrados.

NOVOS RUMOS

"A falência não faz parte do nosso vocabulário"

Augustinho Feijó Gonzalez
Presidente do Clube Atlético Santista

Atlético - A nova diretoria do Clube Atlético Santista acredita que o "gigante está acordando". Segundo o presidente da entidade, Augustinho Feijó Gonzalez, parcerias que devem ser firmadas em cerca de três meses deverão levar mais mil sócios ao clube. Hoje, são 600 sócios, sendo que o clube já chegou a contar com 22 mil titulares.

Para reerguer o clube, também foi extinta a jóia, no último mês de dezembro, e a diretoria também estuda acabar com o sistema de sócio remido a partir deste ano. Em 2001, a entidade chegou a vender a área do estacionamento para quitar dívidas. Mas Gonzalez acredita que este tipo de medida não será mais necessário. "Pelo contrário, queremos recomprar o terreno".

Ele não soube dizer o valor da dívida do clube, mas informa que o montante já está sendo pago. Existem pendências com o INSS e de ações trabalhistas. "A falência não faz parte do nosso vocabulário", garante.


Reforma completa do Portuários está avaliada em R$ 4 milhões
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Ingleses e Internacional não conhecem crise

Clubes que têm como público principal pessoas com maior poder aquisitivo estão conseguindo manter o quadro associativo, não possuem dívidas e até conseguem promover melhorias em suas instalações.

Os exemplos são o Clube dos Ingleses e o Clube Internacional de Regatas. No Ingleses, um casal paga uma jóia de R$ 10 mil para se associar e mais R$ 100,00 de mensalidade cada um. Apesar do custo, não faltam sócios. São 700 titulares, número próximo do limite de associados, de 750.

A inadimplência é quase nula, segundo o presidente Robert Emil Meier. Isso porque o clube proíbe a entrada de pessoas que estejam com mais de dois meses de atraso na mensalidade.

O aluguel do salão ao lado da piscina para festas de casamentos é uma das principais fontes de renda do clube. São em média três casamentos por mês.

Outros atrativos do clube são os shows, o pub, o estande oficial de tiro e a sala de snooker com mesas inglesas. Em breve, Meier pretende reinaugurar a sala de chá da tarde, com um restaurante refinado.

Para ele, é importante manter atividades constantes para todas as faixas etárias, como competições e festas. O Ingleses não tem convênios com entidades. Para se associar, o interessado precisa ser indicado por outro sócio e ser aceito pelo conselho, além de pagar a taxa da jóia.

Outra questão importante para atrair associados é "estar no auge". Segundo Meier, para isso é necessário haver um trabalho de marketing, muito importante para as entidades hoje, porque os sócios precisam ter a sensação de que fazem parte de uma entidade respeitada e bem vista na sociedade.

Conforme o presidente, o clube não acumula dívidas, mas ainda não tem condições de fazer grandes investimentos, como construir outra quadra, uma piscina olímpica e uma academia. Estas melhorias custariam cerca de R$ 300 mil, segundo seus cálculos. "Seria necessária a receita de quatro meses do clube".

Eventos e esportes garantem sucesso do Internacional

Lista de espera - No Internacional há uma fila de espera de cerca de 10 pessoas interessadas em comprar um título. Mas eles não estão à venda no local, só podem ser comprados de uma outra pessoa que não esteja mais interessada. O preço é de mercado e está em média R$ 800,00.

"Quem quer comprar, deixa o nome aqui na secretaria até aparecer alguém querendo vender. É como se fosse um bem", explica o diretor social do clube, Rafael Sérgio Martins. O clube ganha com a taxa de transferência do título, que é de R$ 1.300,00. Os sócios titulares ainda pagam a mensalidade de R$ 96,00.

O êxito diante da crise econômica, Martins atribui à variedade de esportes (são 14 modalidades), aos eventos e também ao perfil dos associados. "São pessoas que conseguem manter o pagamento da mensalidade apesar da crise econômica". As parcerias com empresas e entidades também têm mantido saneadas as finanças do Internacional.

Conforme o presidente, outros pontos fortes do clube são a profissionalização e a organização na parte administrativa. "Procuramos colocar cada diretor em sua área da atuação, como o diretor de marketing, por exemplo, que já é profissional da área".


Ingleses investe em trabalho de marketing para se manter no auge
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria

Fator econômico é a causa da decadência

A principal causa da decadência dos clubes santistas é a econômica, conforme apontam os dirigentes das entidades. Segundo eles, a queda do poder aquisitivo faz com que os usuários cortem os gastos com lazer. "A pessoa prefere pagar um plano de saúde do que a mensalidade do clube", analisa o presidente do Portuários, João Geraldo das Mercês Neto.

Outro motivo que teria afastado os sócios são as opções de lazer gratuitas ou mais baratas que a Cidade passou a oferecer nos últimos anos, como o Ginásio do Rebouças, o Sesc e a ciclovia. Sem falar na praia, que sempre foi a grande concorrente.

Opções de lazer gratuitas afastaram sócios

Remidos - O próprio estatuto dos clubes, que permitem que sócios com mais de 20 ou 30 anos passem a freqüentar o local gratuitamente, também acabou contribuindo para quebrar o caixa das entidades. Por isso, a maioria já extinguiu este direito ou pretende adotar esta medida o quanto antes, mantendo o benefício apenas para quem já o adquiriu. "Aqui, cada pagante carrega 25 sócios", afirma Mercês, do Portuários.

No Ingleses, não basta ser sócio há 20 anos para se tornar remido. É preciso ter também 70 anos de idade. O Internacional acabou com o direito em 1974. Hoje ainda existem 4 mil sócios com o benefício, mas o número vai caindo gradativamente.

No Atlético, são 1.800 remidos contra mil pagantes. A diretoria vem pedindo uma colaboração espontânea deles, mas não tem obtido uma boa adesão; por isso, também quer acabar com o direito este ano. No Saldanha, esta também deverá ser a saída para sanear as finanças. Lá, são 3 mil remidos para 1,8 mil sócios. No Regatas, são 500 sócios pagantes para 2 mil remidos, mas ainda não há planos para extinguir esta regra.

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