HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
A água preferida (1)
Carlos Pimentel Mendes (*)
Para muitos comandantes de navios mercantes, a
chegada a Santos significa o cumprimento de uma velha rotina: esvaziar os tanques de água potável, para reenchê-los no porto. A quem lhes perguntar o
motivo dessa atitude, respondem apenas que a água santista é boa. Mas, por trás disso, há todo um complexo de abastecimento, atualmente operado pela
Sabesp, em conjunto com a Companhia Docas do Estado de São Paulo.
É o que contam os representantes da Sabesp, que prosseguem explicando como não é apenas a tradição de boa
qualidade que conta, mas é igualmente importante a eficiência do sistema. André de Fazio, gerente da Divisional de Santos da Sabesp, e Erwin Paulo,
responsável pelo setor técnico da concessionária na cidade, secundados por representantes da assessoria de comunicações da empresa, explicaram que em
uma hora podem embarcar até 40 mil litros de água num navio, o dobro do que uma residência normal utiliza em um mês.
"Ao longo de todo o cais existe uma rede de água de alta pressão - pelo menos 40 libras de pressão ou 30 metros
de coluna d'água - e hidrantes a cada 20 metros de distância. São 500 hidrantes no cais da Margem Direita, mais dois na área de Alemoa, além de quatro
no Terminal de Fertilizantes de Conceiçãozinha, seis na Ilha de Barnabé e mais dois no futuro Terminal de Containers do porto, em final de
construção na margem esquerda do Estuário. E há também três barcas d'água, pertencentes à Codesp, para o abastecimento dos navios ao largo", explicam os
técnicos.
A eficiência do serviço é uma das razões do sucesso
Foto: Arquivo Novo Milênio
O serviço - Assim que o navio chega à Baía de Santos, já é pedido o abastecimento de água, que começa no
momento da atracação do navio e termina momentos antes de partir a embarcação, regulando-se de acordo a pressão no fluxo do líquido. A operação começa
com a instalação no hidrante do conector da mangueira, e esta é em seguida jogada de bordo e ligada, iniciando-se o enchimento após a leitura do
hidrômetro incorporado ao conector.
A quantidade mínima de água fornecida ao navio é teoricamente de um metro cúbico, mas na prática nunca se
mostrou inferior a 40 metros cúbicos. O máximo já fornecido, em uma operação, foram 1.860 metros cúbicos. Normalmente, um navio de carga tem tanque para
cerca de 250 metros cúbicos; já os transatlânticos, obviamente, possuem reservatórios muito maiores.
No período noturno, a pressão da água chega ao dobro da verificada durante o dia, o que agiliza
significativamente as operações. Se de dia é possível abastecer a embarcação com um fluxo de até 20 metros cúbicos/hora, à noite o total chega a 40
metros cúbicos/hora.
Assim, pela média, um navio pode ser abastecido em oito horas de operação no porto. Mas, os que atracarem por
períodos muito reduzidos - é o caso de certos navios ro-ro - a operação pode ser iniciada durante o fundeio, enquanto esperam na barra a
autorização para atracarem. Para isso, existem três barcas d'água com capacidade individual para 400 metros cúbicos, estando sempre duas em operação e
uma em manutenção. E em certos casos, quando o navio possui um tanque para água na proa e outro na popa, é possível o abastecimento simultâneo com duas
mangueiras, no cais.
Por esse método, 45 milhões de litros de água são colocados mensalmente nos navios
Foto: Arquivo Novo Milênio
Tradição - Devido a uma tradição de bons serviços e boa qualidade de água, que a Sabesp herdou da antiga
SBS e da anterior companhia City, atualmente quase todos os navios pegam água em Santos, mesmo os que tenham provisão suficiente para a viagem
até o porto seguinte.
Apenas os lash-containers Delta Norte e Delta Sud não se abastecem, porque possuem complexo
destilatório a bordo. Também os antigos navios da Mormack Lines - lembram os técnicos - possuíam o equipamento de dessalinização da água do mar. Mesmo
assim, atualmente a Sabesp fornece em média 45 mil metros cúbicos de água por mês, só no porto santista (em São Sebastião também funciona um sistema
semelhante, operado igualmente pela Sabesp, através de outra superintendência regional).
Erwin e André lembram que o líquido fornecido às embarcações é o mesmo que circula na rede de abastecimento da
cidade. Porém, há um acréscimo no preço, para fazer face às despesas de manutenção de uma equipe especializada - 15 homens treinados, espalhados por
todo o complexo portuário - para o imediato e diuturno atendimento às embarcações atracadas (que é, segundo a Sabesp, a razão principal da fama
adquirida pela água fornecida em Santos).
(*) Carlos Pimentel Mendes era correspondente em
Santos do caderno Marinha Mercante em Todo o Mundo, do jornal O Estado de São Paulo quando este
artigo foi publicado, em 10 de março de 1981, sendo o texto produzido via Jornacoop - Cooperativa dos Jornalistas de Santos.
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