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Publicado em 13/6/1982 no jornal A Tribuna de Santos
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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS IMIGRANTES
A colônia portuguesa (1)

Beth Capelache de Carvalho (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)

Capela de Nossa Senhora da Assunção, no Morro de São Bento

Porto de mar, cidade cheia de estrangeiros. Os santistas estão acostumados a encontrar nas ruas gente das mais diferentes nacionalidades. Ninguém olha com espanto, nas avenidas da praia ou ao longo do cais, para o turbante exótico dos marinheiros hindus, ou para a aparência loura dos turistas nórdicos.

Mais do que isso, o santista comum acostumou-se a dividir seu dia-a-dia com os imigrantes que se radicaram definitivamente por aqui, e incorporaram-se, com seu trabalho, à história da comunidade. São portugueses, japoneses, espanhóis, italianos, cuja presença na vida da Cidade remonta às suas origens, e que participaram da formação de suas maiores tradições.

A população santista foi criada a partir de um núcleo primitivo de origem ibérica, principalmente portuguesa, embora a porcentagem de sangue espanhol também seja grande. Entre os estrangeiros integrantes das primeiras gerações de moradores, os portugueses foram os mais numerosos, vindo depois os espanhóis, italianos, japoneses, polacos, ingleses, alemães, franceses e sirios-libaneses.

Os primeiros colonos, portugueses, habitaram a região do Monte Serrate, Morro da Nova Cintra, Morro de São Bento, Morro da Penha. Agricultores, eles foram atraídos pela qualidade das terras, boas para o cultivo da cana-de-açúcar. Brás Cubas, José Adorno, Francisco e Paulo Adorno, Luís de Goes, Domingos Pires, Pascoal Fernandes e muitos outros pioneiros, cujos nomes ficaram gravados na história de Santos, eram alguns deles.

Depois, vieram numerosas levas de imigrantes que chegavam ao Porto de São Vicente e não conseguiam estabelecer-se nas proximidades, devido à falta de terras disponíveis. Para esses, a região santista oferecia terras de várzea, próprias para o plantio e servidas de água boa e abundante.

Ao longo da história, os imigrantes não pararam mais de chegar. Sempre com o objetivo de ganhar algum dinheiro e voltar à terra de origem, eles iam gostando, e iam ficando. Constituíram família, tiveram filhos, netos, bisnetos. Mandaram vir os parentes, deixaram os primeiros empregos e compraram seus próprios negócios. Participaram dos momentos mais importantes da vida santista, como o movimento abolicionista e, mais recentemente, as lutas trabalhistas. Formaram clubes e associações, que foram crescendo com a cidade e a ajudaram a crescer.


Ao Anjo Barateiro, que funcionava na Rua Itororó, 104:
no nome do antigo empório, a expressão portuguesa

Exemplo de integração entre os povos

Português, no Brasil, não é estrangeiro. O tipo de relação dos imigrantes portugueses com a comunidade brasileira é em essência diferente do das outras nacionalidades. Eles não se sentem estrangeiros, e não são tratados como se fossem. Embora formem um contingente enorme de pessoas, acabam por não se manifestar como uma comunidade fechada, pois, como definiu o cônsul de Portugal em Santos, João Pedro da Silveira Carvalho, não formam um mundo português no Brasil, mas um mundo luso-brasileiro, cujas fronteiras não são definidas severamente.

Em Santos, a presença portuguesa é tão familiar que não chega a chamar a atenção. No entanto, da força de trabalho dos imigrantes resultou, só para citar exemplos, a Sociedade Portuguesa de Beneficência, a Fundação Lusíada, o Elos Clube, o Clube de Regatas Vasco da Gama. São algumas das 18 instituições luso-brasileiras na Baixada, que o santista freqüenta sem cerimônia, pois fazem parte do seu dia-a-dia como qualquer similar nacional.

Não há, em Santos, uma casa que sirva exclusivamente comida típica portuguesa. Isso é desnecessário, pois qualquer bom restaurante tem incluída em seu cardápio razoável porcentagem de pratos típicos portugueses, que já fazem parte da alimentação do santista. Para os boêmios, que gostam de comer bem, por exemplo, uma noitada que se preze não pode terminar sem o tradicional caldo-verde servido pelo Almeida.

Essa familiaridade agrada aos portugueses, pois não há maior prova de sua total integração. Como lembrou o cônsul, eles não pretendem representar uma força organizada. Seu maior objetivo, enquanto comunidade, é trabalhar - nos ambientes profissionais e de lazer, nas associações e nas instituições de cunho social - pela preservação dos valores tradicionais das duas culturas, fundamentalmente semelhantes.

Três gerações - Não é possível precisar o número de famílias portuguesas, ou de origem portuguesa, residentes em Santos. Na área de jurisdição do consulado, que inclui também outros municípios do Litoral Sul, são registradas 58 mil pessoas que mantêm a nacionalidade portuguesa. Os naturalizados, os filhos de portugueses e as famílias diretamente descendentes dos imigrantes formam um número que não dá para ser calculado.

Atualmente, há representantes de três gerações de imigração. Da primeira, que começou no início do século [N.E.: século XX], restam poucos representantes. São na maioria aposentados da extinta Companhia Docas e também da antiga companhia inglesa de transportes, a City, onde trabalhavam como motorneiros e cobradores de bondes.

Da segunda geração, anterior à Segunda Guerra, fazem parte muitos comerciantes e profissionais liberais. São pessoas de nível de instrução mais elevado, que se dedicaram a vários setores do comércio (sobretudo do café) e de prestação de serviços. Na maior parte, eles se estabilizaram, formando um grupo que ocupa status mais elevado na sociedade.

Depois disso houve um intervalo na imigração portuguesa para o Brasil, até a revolução de 25 de abril de 1974 e a descolonização de Angola e Moçambique, em 1976. Santos recebeu, como outras cidades brasileiras, um bom número de retornados (pessoas provenientes das colônias) e portugueses que não se adaptaram ao novo regime.

São profissionais qualificados, como engenheiros, médicos, operários especializados, técnicos categorizados. Uma elite que encontrou facilidade de adaptação e certeza de sucesso. Sobretudo, encontrou um modelo cultural bem próximo ao seu estilo de vida.

Veja as partes [2] e [3] desta matéria