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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Água & esgoto
O caminho das águas... e dos esgotos (1)

Desde as nascentes até o despejo dos esgotos, com todos os seus problemas
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Esta matéria foi publicada na edição especial comemorativa do cinqüentenário do jornal santista A Tribuna (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), em 26 de março de 1944:
 
O saneamento de Santos

Mário Castro

As obras executadas em Santos, saneando e aformoseando a cidade, recomendam o governo paulista à gratidão nacional.

O plano de saneamento executado em Santos encerra, com efeito, uma das mais belas lições cívicas que partiram de São Paulo para todo o Brasil, provando o poder do trabalho organizado; ele é o resultado da orientação fecunda de governos que têm conduzido o Estado no evoluir firme e constante, na seqüência lógica de atos provindos da mais perfeita continuidade administrativa.

Não se trata, pois, de um serviço banal o plano de saneamento da cidade, preparado por essa figura incomparável de mestre que foi Saturnino de Brito, chefiando uma comissão de competentes, na qual se destacou pela dedicação e preparo técnico, pela sua lúcida inteligência e adamantino caráter, a figura simpática do saudoso Miguel Presgrave.

Ele sintomaticamente afirma, de modo eloqüente e positivo, uma grande vitória para o Brasil moderno contra aquele torpor colonial que abatia o espírito do brasileiro, pondo-o, quase sempre, "numa dependência passiva da intervenção estranha" nas soluções práticas dos nossos problemas sanitários.

Esse estado em que vivíamos, sobre ser algo desanimador, não raro conduzia a soluções práticas pouco satisfatórias, que não conciliavam, de forma conveniente, os trabalhos realizados com as exigências do meio que eles deviam beneficiar.

Era, pois, tempo para a emancipação da engenharia sanitária nacional, já realizada com brilhantes vitórias profissionais, em outros ramos elevados da engenharia no Brasil.

O saneamento de Santos abriu o caminho, estimulando as energias latentes de outras cidades brasileiras, que, despertadas, procuraram imitar a cidade paulista no seu exemplo edificante, tratando, com mais carinho, as questões relativas à sua salubridade.

A então Comissão de Saneamento de Santos, reorganizada pelo governo do Estado, em 1905, apresentou um novo projeto da rede dos esgotos, com uma economia de 10 milhões de cruzeiros sobre o projeto anterior, sendo incumbida de sua execução. As obras foram inauguradas no dia 25 de abril de 1912.

Saturnino de Brito, esse brasileiro que desprezava interesses individuais pelo bem comum da Humanidade; a quem na França o grande Imbeaux rendeu homenagens e de quem a Inglaterra aceitou as lições, foi incumbido de realizar essa maravilhosa obra de engenharia que é o saneamento da cidade de Santos.

O saneamento da cidade, fruto do mais puro patriotismo do governo que o autorizou e da competência técnica do profissional habilíssimo que o concebeu e executou, não deve ser considerado somente nos benefícios exclusivos prestados à cidade, ao Estado ou à região, que o pôde realizar, mas sim, no seu alcance geral, no seu cunho acentuado de um perfeito trabalho nacional.

Aí estão, para essa "felicidade hígida" das nossas cidades, da qual falou Saturnino de Brito, os seus aparelhos para os tanques flexíveis, que mantêm, por perfeitas descargas automáticas, o funcionamento completo das canalizações coletoras das águas de despejos públicos. Esses aparelhos tão necessários, que exclusivamente nos vinham do estrangeiro, tinham um custo proibitivo para a aplicação generalizada, pelos privilégios de fábricas e direitos de exportação, elevando-se muito o seu preço, sem contar a sua caríssima instalação em alvenarias mais ou menos complicadas; e, além de tudo, exigiam certa profundidade do nascimento dos coletores, acarretando o aumento de escavação ao longo dos condutos nas cidades planas ou de fracas declividades.

Considerando a higiene domiciliar, ele, como um apóstolo do Bem nas suas práticas sanitárias, levou o conforto físico ao seio da família, melhorando as condições higiênicas das habitações; defendeu o lar dos gases que traiçoeiramente podem espalhar a morte, desequilibrando aos poucos o organismo humano pela sua ação tóxica.

Com a sifonagem dos aparelhos sanitários, para conjurar esses perigos, exerceu ele uma intervenção benéfica na vida doméstica da família, dando às cidades, com o mesmo desprendimento, o mesmo interesse pela saúde pública, os seus aparelhos hidráulicos obturadores, os seus sifões autoventiladores, também fabricados no estrangeiro, com proveitosa aplicação na cidade de Santos.

Os seus tipos de caixa de gordura libertam os ramais domiciliares das obstruções freqüentes pela redução progressiva ou estrangulamento possível da seção das canalizações, devidas ao depositar contínuo de gorduras nas suas paredes; eles concorrem eficazmente para garantia perfeita das instalações nas casas.

Saindo das habitações, em que Saturnino de Brito introduziu tão elevados benefícios sanitários, fornecendo-lhes, além disso, ar e luz por modificações sensatas que aconselhou e executou nas velhas construções defeituosas, obrigando à prática de medidas higiênicas nos novos edifícios que se levantaram, o meticuloso profissional não esqueceu os menores detalhes do aparelhamento das canalizações da rua.

O esgoto domiciliário, no limiar das casas, em peças de sua invenção que facilitam a inspeção da canalização, é levado ao coletor a que se liga por um sistema simples, com vantagens técnicas e econômicas sobre os velhos processos que se usavam para o mesmo fim.

Passando dos despejos para as águas pluviais e destas para a drenagem do solo, Santos goza dos benefícios dos seus belos canais, livre dos alagadiços, estendida hoje sobre jardins floridos conquistados a terrenos úmidos que se esgotaram e se incorporaram, valiosos, à área edificável da cidade.

O governo do Estado de São Paulo, confiando a Saturnino de Brito a saúde de Santos, realizou o mais belo trabalho de saneamento do Brasil.

Nessa obra não se sabe o que mais admirar: se o patriotismo ou a lição técnica de um projeto perfeito ou ainda a economia do trabalho organizado, a ordem e a segurança observadas no correr da execução desse serviço, que teve como continuadores do magnífico plano de Saturnino de Brito, na direção da Repartição de Saneamento de Santos, os abalizados engenheiros Miguel Presgrave, José Luiz Gonçalves de Oliveira, Egídio José Ferreira Martins, Plínio Penteado Whitaker e Aristides Bastos Machado, seu atual diretor.

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