Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0107n.htm
Publicado originalmente em 14/10/2006 10:00:02
Última modificação em 24/11/2024 19:13:37
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CINEMA
O cinema em Santos (14)

Leva para a página anterior
Um cinema popular (o Cinema Central), no Centro santista, foi construído em 1921 junto ao Teatro Coliseu (no lugar onde havia antes o Redondel de Touros), em prédio que depois abrigou uma empresa de armazéns gerais. Ao ser dada nova destinação ao prédio, em 2006, para uma agência de serviços públicos (Poupatempo), descobriu-se nas paredes internas do prédio a antiga decoração, com painéis publicitários, como registrou o jornal santista A Tribuna em 24 de agosto de 2006, nas edições eletrônica e impressa:

Quinta-feira, 24 de Agosto de 2006, 08:59
Obra quer resgatar pedaço da história

Da Reportagem

Prevista para ser inaugurada em julho de 2007, no Centro Histórico da Cidade, a nova unidade do Poupatempo, além de disponibilizar serviços públicos como emissão de documentos, pretende resgatar um pedaço da história santista.

Ainda em fase de anteprojeto, a equipe de arquitetura e engenharia do órgão, coordenada por Maria Elizabeth Peirão Correa, tem enfrentado dificuldades em definir as características originais do prédio onde funcionarão as atividades: o imóvel da antiga Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp).

Segundo a arquiteta Cecília Parreira, integrante da equipe, dois aspectos da restauração estão em foco atualmente: a fachada do imóvel e a área interna do galpão. "Pretendemos contar a história do lugar e, por enquanto, o único registro que temos é uma foto de 1922 dos arquivos de A Tribuna. Se conseguirmos despertar o interesse da população, poderemos resgatar a história local", afirma Cecília.

História - A arquiteta explica que, conforme levantamentos, as imediações da Rua João Pessoa foram um grande celeiro do cinema e da arte santistas.

"Descobriram que antes de ser a Ceagesp, o armazém foi um cinema chamado Cine Central. E antes do cinema, funcionou um redondéu de touros — antes mesmo do Coliseu ser construído". O redondéu era uma arena redonda onde se realizavam touradas.

Um registro marcante que permanece até hoje no local são as pinturas encontradas nas paredes internas, que lembram propagandas da época do cinema.

Resgate - Para que os munícipes possam ajudar a equipe envolvida no projeto a resgatar essa história, a arquiteta diz que qualquer material ou informação adicionais são bem-vindos: podem ser cartazes antigos do Cine Central ou fotos da fachada. "Essa cumplicidade acaba despertando no cidadão um envolvimento. Ele se sente mais dono", conclui Cecília.

O projeto arquitetônico da unidade deverá ser entregue até o final de setembro ao Governo do Estado. A licitação para escolha da empresa que irá fazer a adaptação do imóvel deve ser lançada em dezembro.


Equipe procura características originais do prédio do Ceagesp
Foto: Carlos Marques, em 10 de julho de 2006, publicada com a matéria

Quinta-feira, 24 de Agosto de 2006, 09:00
Local também venderá ingressos para eventos no Teatro Coliseu

O antigo armazém onde funcionará o Programa Poupatempo tem entradas pelas ruas João Pessoa e Amador Bueno, no Centro. A unidade vai ocupar 4,8 mil dos 5,8 mil metros quadrados disponíveis no local. O restante do espaço será utilizado pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult).

Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, a expectativa é aproveitar a proximidade do armazém com o Teatro Coliseu para vender ingressos de espetáculos e shows, além de oferecer um espaço para ensaios da Orquestra Sinfônica Municipal.

A participação da população com imagens antigas do imóvel poderá até gerar um local para exposições. "Com esse material, poderemos fazer uma exposição permanente na unidade contando a história do local. Quem sabe até levar para outros lugares através de nossos postos itinerantes", observa José Wilson Ricciardi, superintendente do Poupatempo.

  

Imóvel poderá ter espaço para exposição

  

Licitação - Para abrigar o serviço, a Prefeitura comprou o imóvel em dezembro do ano passado, por R$ 2 milhões.

Conforme o secretário-chefe da Casa Civil do Estado, Rubens Lara, a empresa que está realizando o projeto é a JCH Gerenciamento de Projetos e Obras. Segundo ele, houve atraso no processo, porque a empresa vencedora da licitação, a Saubhia Arquitetura, não cumpriu os prazos. "O contrato foi rescindido e ela foi multada". A JCH foi a segunda colocada na concorrência.

Atualmente há 11 postos fixos do Poupatempo no Estado, além de sete unidades móveis. Nos locais, as pessoas podem pagar taxas e impostos, fazer licenciamento de veículos, entre outros serviços.

Serviço: informações na Coordenadoria de Museus da Secult pelo telefone 3236-8000. O e-mail da arquiteta Cecília é cparreira@sp.gov.br e o telefone é (11) 3456-8831. O site do programa é www.poupatempo.sp.gov.br e o e-mail é poupatempo@poupatempo.sp.gov.br

No dia 5 de outubro de 2006, o tema era abordado no Diário Oficial de Santos:


Foto: Ademir Henrique, publicada com a matéria

CULTURA
Quase pronto restauro de pinturas encontradas em galpão do Ceagesp

Está em fase final o processo de restauração das pinturas dos anúncios da década de 1920, que foram encontrados nas paredes onde funcionava o antigo galpão do Ceagesp, na Rua Amador Bueno, ao lado do Coliseu. A descoberta foi
no início do ano, quando começaram as obras para instalação do Poupatempo em Santos.

Já foi executado todo serviço de decapagem com bisturi (remoção das camadas de tintas) em cima da pintura original. Depois da retirada da tinta, a parede foi limpa com pincel para dar início à recuperação da pintura. Agora só faltam alguns detalhes para que se possa concluir o trabalho.

Segundo informações pesquisadas pela restauradora da Secretaria de Cultura, Maria Inah Rangel, que é responsável pelos trabalhos, lá funcionava o Cinema Central, inaugurado em fevereiro de 1921. "Acredito que essas propagandas foram feitas na época do cinema".

Anúncios - Os anúncios encontrados (de alfaiate e lojas de roupas, entre outros) não sofreram nenhuma intervenção. Inah afirma que a finalidade era manter a mesma forma original, sem serem repintados.

Só alguns detalhes foram recuperados, como a continuação de uma letra ou de um desenho. Além de Inah, trabalham no galpão mais seis adolescentes que estão aprendendo a arte de restaurar e um funcionário da Secretaria de Obras.

O jornal A Tribuna registrou, nas edições impressa e eletrônica, em 8 de outubro de 2006:


Pesquisadores acreditam que as pinturas são da época
em que o galpão abrigou o Cine Central, inaugurado em 1921
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

Domingo, 8 de Outubro de 2006, 08:58
POUPATEMPO
Propagandas contam a história de Santos

Galpão no centro revela em suas paredes anúncios da década de 20

Da Reportagem

Casa América, O Relâmpago, Casa Parisiense, Casa Pavão, Casa das Três Cores, Casa Pretzel, Garage Hudson, Casa Castanho Alfaitaria, Ao Grande Oriente, Portella e Mattos Importação de Conservas, Casa Eugênio, Café Cirillo, Ao Anjo Barateiro e Empório Central. Poucas pessoas, mesmo as mais idosas, devem se lembrar destes nomes. São estabelecimentos comerciais que funcionavam no Centro de Santos por volta da década de 20.

As firmas deixaram um rastro de suas existências para a atual geração dentro do galpão onde antigamente funcionava a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), entre as ruas João Pessoa e Amador Bueno. Trata-se de anúncios pintados na parede do lugar, descobertos no início do ano. As pinturas foram reveladas devido às obras de reforma do local, onde funcionará o projeto Poupatempo do Governo do Estado.

Observar as publicidades é uma verdadeira viagem ao passado. Nelas, os números de telefone têm apenas três ou quatro dígitos; a língua portuguesa ainda tem "ph", palavras com dois "ns", a palavra batizado traz um "p" antes do "t", assim como ocorre com "prontidão" (promptidão) e "escritório" (escriptório).

Naquela época, comprava-se alimento em lojas de "seccos e molhados"; as roupas eram feitas sob medida, "com elegância e perfeição", assim como os enxovais de noivas; os carros eram trazidos dos Estados Unidos; os móveis também era produzidos artesanalmente; e as lojas de armarinhos vendiam um pouco de tudo (lãs, linhas, material de escritório, brinquedos, artigos para pintura, livros etc).

As qualidades necessárias para o sucesso de uma empresa não eram muitos diferentes das de hoje: perfeição, presteza, seriedade, prontidão, asseio, pronta-entrega, finesse e gêneros de primeira.

Bisturi - A equipe responsável pelo trabalho de decapagem com bisturi (remoção das camadas de tinta) se surpreende com cada descoberta. "Quando a gente encontra uma palavra, quer logo saber o que está escrito na frase toda", conta Juliane Gomes da Silva, de 20 anos.

Um grupo de seis pessoas contratadas pela Secretaria Municipal de Cultura (Secult) é responsável pelo trabalho, que deve estar concluído no final do ano. Após a retirada da tinta, a parede é limpa com pincel. Os anúncios não são repintados, porque o objetivo é manter as características da época. Somente alguns detalhes são recuperados, como a continuação de uma letra ou desenho.

Segundo a responsável pela equipe, Maria Inah Rangel, acredita-se que as publicidades tenham sido pintadas na época em que o galpão abrigava o Cine Central, inaugurado em fevereiro de 1921, antes da vinda da Ceagesp.

A construção foi cedida pela Prefeitura para a instalação do Poupatempo, um posto que oferece os mais diversos serviços à população, como retirada de documentos. O local está previsto para ser inaugurado em julho do ano que vem.

A intenção da Prefeitura é restaurar todo o prédio, com a ajuda de fotos antigas e notícias de jornal. Quem possuir material sobre o galpão pode entrar em contado com a Coordenadoria de Museus da Secult, pelo telefone 3236-8000.


Numa terça-feira de Carnaval, o dia 8 de fevereiro de 1921, o jornal santista A Tribuna anunciou (na página 4) a inauguração do Cinema Central, prevista para o dia seguinte (Quarta-feira de Cinzas) - ortografia atualizada nesta transcrição:


O anúncio da inauguração, na publicação santista
Jornal A Tribuna, 8/2/1921, página 6

Cinema Central

Como noticiamos, inaugura-se amanhã o Cinema Central, nova casa de diversões sita à Rua Amador Bueno, junto ao Colyseu Santista, que se destina às grandes soirées populares da Empresa Cine Theatral.

Este novo cinema dispõe de dois grandes salões, destinando-se um deles à entrada geral e outro a cadeiras, oferecendo ambos toda a comodidade e conforto aos espectadores. Bem ventilado, bem iluminado, elegantemente decorado, com um amplo salão de espera, o Cinema Central passará a ser um dos preferidos pelas famílias santistas, para o que muito contribui a sua localização, mesmo no coração da cidade.

Para a inauguração deste novo cinema foi organizado um soberbo programa, em que figura a primeira exibição do extraordinário filme editado pela Metro, intitulado Joguete do Destino, que tem por principal intérprete a notável artista russa Alla Nazimova.

Na sexta-feira, iniciará o Central uma nova série - O Segredo Negro, edição da Pathé, interpretada pela formosa e arrojada artista americana Pearl White.

Pede-nos a Empresa Cine-Theatral para tornarmos público que os filmes seriados que estavam sendo exibidos no Coliseu prosseguirão no Central, nos mesmos dias, não havendo, por conseguinte, interrupção de exibições.


O anúncio da inauguração, na publicação santista
Jornal A Tribuna, 8/2/1921, página 4

Joguete do Destino foi na época apresentado assim ao público:

"Segue o teu destino, Mulher! Cada qual de nós tem o seu! Não percorrerás uma estrada de flores nem a vida facilmente te sorrirá! É possível, porém, que um dia as urzes do caminho se transformem em rosas e que a felicidade te acaricie, enfim!
Interpretação estupenda da famosa artista Alla Nazimova".

O filme, dividido em dez partes para exibição em dias consecutivos - sem mais detalhes de elenco ou enredo sob esse nome em português - foi identificado pelo professor carioca Antonio Carlos Gomes de Mattos (no artigo Histórias de Cinema - Antes de Hollywood 6/10/2020) como sendo The Toys of Fate, estrelado por Alla Nazimova e lançado em 1918 pela Metro Pictures Corporation (antecessora da Metro-Goldwyn-Mayer - MGM).


The Toys of Fate
Acervo: IMDB

Em 10 de fevereiro de 1921, o jornal A Tribuna deu mais detalhes da inauguração e do novo cinema (na página 3):

Cinema Central

A sua inauguração

Realizou-se ontem, conforme havíamos antecipado, a inauguração do Cinema Central, instalado no amplo e confortável prédio da Rua Amador Bueno, junto ao Colyseu Santista.

É mais um notável melhoramento que a empresa Cine-Theatral acaba de introduzir em nossa cidade.

As sessões que foram proporcionadas ao nosso público estiveram repletas do mais fino elemento social.

O novo estabelecimento está bem instalado, em um grande salão bem ventilado.

As projeções são firmes e nítidas, e a posição da tela oferece muita facilidade ao espectador, que poderá apreciar a exibição dos filmes sem obstáculos.

Ao lado, junto ao salão vermelho, existe outro cinema, que constitui a geral (salão verde).

A lotação de ambos é de 2.500 pessoas, e as acomodações oferecem todo o conforto.

Uma esplêndida orquestra, postada junto às telas, é aproveitada para tocar durante as sessões nos dois salões.

Pela extraordinária concorrência verificada ontem, pois a lotação foi quase esgotada, pode-se prever que o Cinema Central será um dos principis pontos de reunião da elite santista.

- Para o espetáculo cinematográfico de hoje, a empresa confeccionou o seguinte programa:

"O mistério das 13 chaves" ou "As aventuras de Ruth", sensacional romance de aventuras, interpretado pela notável atriz Ruth Roland. Serão projetados os 11º e 12º episódios, intitulados: "Emboscada" e "A abóbada do horror"; "Impulsos do coração", admirável produção da Paramount-Artcraft, em 8 atos admiráveis, interpretada pela trêfega atriz Marguerite Clark.


Os detalhes do cinema então inaugurado
Jornal A Tribuna, 10/2/1921, página 3

O jornal A Tribuna publicou matéria em 7 de setembro de 1922 sobre os teatros e cinemas em Santos, em que incluiu esta imagem do prédio, então funcionando como cinema, enviada a Novo Milênio pela arquiteta Cecília Parreira:


Fachada do Cinema Central - o popularíssimo
Foto e legenda publicadas em A Tribuna, 7 de setembro de 1922

Leva para a página seguinte da série