O CÉU E O MAR POR TESTEMUNHAS - Um condomínio privado que teve suas origens ainda na década de
60. Com o tempo, porém, foi ganhando ares de bairro. Cercado de Mata Atlântica e com o sossego dos poucos carros nas ruas, lembra uma cidade do
interior, com o privilégio de ter uma das mais belas vistas do mar e de outros pontos de Santos e São Vicente.
É o Morro Santa Terezinha
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 30/8/2010. Foto de Walter Mello
Perto do céu com vista para o mar
Condomínio privado construído na década de 60, e que preserva a tranqüilidade
e a natureza, vai abrir suas portas para visitações
Viviane Pereira
Da Redação
Um condomínio com
jeito de bairro ou um bairro fechado como condomínio? Essa é a dúvida que costuma inquietar quem passa e vê uma guarita na Rua Hércules Florence,
no Marapé, que dá acesso ao Morro de Santa Terezinha.
O local é um
condomínio privado que começou a assumir esse formato na década de 60 e que, com o tempo, foi ganhando ares de bairro. Por suas peculiaridades -
cercado de Mata Atlântica e com o sossego dos poucos carros nas ruas -, lembra uma localidade do Interior, com o privilégio de ter uma das mais
belas vistas do mar e de outros pontos da Cidade.
Apesar de ser uma área privada, é obrigatório que o condomínio mantenha livre o acesso à capela
e ao mirante na parte superior. "Esse acesso será feito em um veículo ou com um guarda acompanhando, em determinados horários. É uma decisão do
condomínio e deve ser cumprida, pois se alguma pessoa reclamar na promotoria, cabe ação judicial", explica o promotor de Meio-Ambiente, Daury de
Paula Júnior.
Fora essa exigência, o Santa Terezinha é fechado ao público e as visitas só podem ser feitas com
autorização dos moradores. Porém, o condomínio pode voltar a abrir suas portas, pelo menos parcialmente. A idéia é que até o ano que vem sejam
permitidas visitações de estudantes e pequenos grupos de turistas acompanhados por guias, para exibir o esplendor da mata preservada entre seus
portões.
"Não adianta preservar para ficar fechado", diz o síndico do condomínio, advogado Gastone Righi.
Por outro lado, ele destaca que é preciso controle para não estragar o que se manteve intacto nesse tempo todo.
Righi conta que em vez de uma Sociedade de Melhoramentos, o Santa Terezinha vai ganhar uma
sociedade de proteção ecológica e ambiental, para preservar o que pode ser a maior área privada de Mata Atlântica, se não do País, pelo menos do
Estado. Para isso, a idéia é criar uma reserva ecológica, com apoio do Ibama.
Moradores do condomínio estão se reunindo para montar a sociedade de proteção, que deve começar
a atuar ainda este ano.
Com belas vistas da orla e de outros pontos da Cidade, o Morro de Santa Terezinha deve ganhar
uma plataforma panorâmica no próximo ano
Foto: Walter Mello, publicada com a
matéria
Educação e turismo - O estímulo à educação ambiental é uma das prioridades. Segundo o
advogado, essa ação será realizada com visitas de estudantes ao morro. "Vamos aprimorar as trilhas no meio da mata e as crianças poderão ver tatu,
sagüi, bicho-preguiça. Temos muitos animais aqui". As trilhas são pequenos caminhos ladeados de mato, com várias espécies de animais, e que ligam
uma rua a outra.
O turismo será incentivado com a passagem do ônibus turístico da Prefeitura. "As pessoas poderão
subir o morro durante o passeio. Santos tem necessidade de respirar. Temos que modernizar, crescer com sentido humanístico", diz Righi. Ele cita
como exemplo Beverly Hills. "O ônibus passa pelas ruas próximas às residências dos astros de Hollywood com o guia orientando. Nosso objetivo é
enriquecer o turismo sem devassar a privacidade dos moradores".
Para melhorar o acesso a uma das vistas mais bonitas da Cidade, a proposta é construir uma
plataforma panorâmica próximo da capela - na parte mais alta do morro - que servirá de mirante.
Polêmica - Uma das questões que gerou polêmica sobre o aspecto ambiental da ocupação do
morro teve uma nova ação este ano, com a negativa da Cetesb de fazer acordo para legalizar todas as casas. O promotor explica que a ocupação é
complexa porque existem diversas situações diferentes.
Até 1965 a ocupação era livre. A partir dessa data até 1985 ficou determinado que não poderiam
ser feitas construções no topo do morro - sem estabelecer qual seria exatamente esse espaço. A partir de 1958 ficou especificado que topo era o
terço superior do morro.
"Há casas com e sem autorização do órgão governamental. Existem até situações de autorizações
ilegais, que foram dadas em desacordo com a lei", afirma o promotor.
O Ministério Público, juntamente com a Prefeitura e outros órgãos envolvidos, vinha negociando
há quase dois anos para acertar acordo e legalizar as construções. Com a negativa da Cetesb, de Paula revela que o ministério deverá entrar com
ação demolitória das casas que estão em situação irregular, seja por não terem autorização ou porque não possuem autorização ilegal
(N.E.: SIC. a palavra seria "legal").
"Teremos que pedir anulação das que estão ilegais. Já que o Estado entende que não é possível
fazer acordo, deveria anular as licenças ilegais que expediu", diz o promotor. "Antes de propor as ações demolitórias, o Ministério Público vai
tentar uma nova rodada de negociações".
Altitude |
220 metros
é a altura do Santa Terezinha que, ligado ao
Morro José Menino, é o mais alto da Cidade |
|
Moradora acompanhou as mudanças
Rosa Maria Bandiera Marsaioli foi uma das primeiras a chegar ao condomínio. Viúva de
Cláudio Doneux - que criou o empreendimento -, ela acompanhou o processo desde o início. "O Cláudio visitou diversos
locais para ter idéias, como Beverly Hills, em Los Angeles".
A família mudou para o Santa Terezinha em 1970. Os pais de Rosa chegaram meses depois. Ela
lembra do início, quando havia poucas ruas e duas casas. "Form surgindo outras casas e o condomínio cresceu".
Rosa revela que mesmo no início, com menos estrutura, subir e descer o morro várias vezes por
dia para levar os quatro filhos às atividades nunca foi problema. "Eu chegava na Praça Mauá em seis minutos", lembra. "Agora é que é difícil, com
esse trânsito".
Depois de quatro décadas vivendo no condomínio, ela se diz ainda apaixonada pelo local, por sua
área ambiental, a paisagem. "O ar é maravilhoso, o clima é ameno e a vista, é algo de Deus".
A capela em homenagem a Santa Terezinha embeleza a paisagem
Foto: Fernanda Luz, publicada com a
matéria
Morro já teve outras denominações
O morro era a parte avançada do então sítio e pico do Combuca. Por
volta da década de 40, era conhecido como Suíça Santista e Morro do Loureiro. Esse último nome fazia referência ao dono do local, Francisco
Loureiro, que vendia lotes para criar um bairro.
Nessa época, foi aberta a primeira estrada e construída a capela em homenagem à santa que
batizaria o morro: Terezinha.
Quando Loureiro faleceu, o genro dele, José Ferreira da Silva, assumiu o negócio e decidiu mudar
o perfil do local. Parou de vender lotes, recuperou os que já tinham sido vendidos e construiu um prédio com restaurante e salão de danças.
O morro chegou a abrigar um cassino. Houve época em que os portões eram abertos a partir das 15
horas, dando acesso ao restaurante na área superior. Os pedestres tinham entrada livre, mas os carros pagavam pedágio, que era descontado na
consumação.
No final da década de 60, o empresário Cláudio Doneux adquiriu o morro de José Ferreira da Silva
e começou a construir o condomínio, abrindo ruas e vendendo lotes, até formar o Santa Terezinha como é hoje.
Os quatis podem ser vistos com facilidade nos galhos das árvores
Foto: Fernanda Luz, publicada com a
matéria
Macaco, cobra e quatis são visitantes
Mal abre os olhos e Maria Angélica Dias precisa se apressar. Se ela se atrasar, a gritaria é
certa. Por isso, sem demora ela pega as bananas reservadas especialmente para o visitante que vem toda manhã: seu vizinho macaco. "Se eu levanto
tarde, ele grita até eu acordar. Ele tem rotina", avisa.
A amizade foi conquistada aos poucos. "Ele gritava, a gente começou a dar comida. Ele foi
chegando cada vez mais perto. Agora, às vezes eu vou dar comida e ele não pega. Tenho que ficar segurando, esperando ele comer".
O contato com a natureza foi justamente o que levou a ceramista a optar por morar no morro, há
sete anos. "Nós somos do Interior e temos o perfil do mato, de estar com os animais". A paixão é partilhada pela família, que ajuda a cuidar dos
animais que costumam visitar a casa.
Entre os visitantes, ela cita a cobra que mora entre seu ateliê e a casa. "É a Dorotéa. Às
vezes, quando estou com as alunas, ela fica na cadeira. Quando passo batendo o pé ela vai embora".
Os quatis, comenta Angélica, chegam em grupo de dez. Na casa anterior, onde morou durante três
anos, havia também um mico-leão e um bicho-preguiça. Hoje, a família tem contato também com o lagarto e muitos pássaros.
Depoimentos
Nelson de Paula Garcia:
"O bom do Santa Terezinha é a segurança, a tranqüilidade e o contato com a natureza. A gente vê o
macaquinho sair da mata, andar nos fios e voltar. A vista também é maravilhosa. De um lado, a praia: é possível ver a Laje de
Santos e as Ilhas de Alcatrazes. De outro, vemos a Cidade, o Campo Grande, o Marapé, a
Vila Belmiro, o Centro e um pouco do Porto"
Foto: Fernanda Luz, publicada com a
matéria
Gastone Righi:
"A ONU recomenda que o ideal é que haja 15 metros quadrados de área verde por habitante. Aqui no
morro temos de 250 a 300 metros quadrados por habitante"
Foto: Fernanda Luz, publicada com a
matéria
|