A paisagem bucólica é uma constante em Iriri, bairro que conta com moradias. Cabuçu e Trindade
ainda não foram ocupados
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a matéria
Sob o império da natureza e do sossego
Moradores só reivindicam atenção maior
Luiz Gomes Otero
Da Redação
Já imaginou acordar todos os dias cercado
pela natureza e animais, livre do corre-corre e do barulho infernal dos grandes centros comerciais? O bairro do Iriri,
situado na área continental de Santos, proporciona tudo isso.
Juntamente com os bairros de Trindade e Cabuçu, Iriri forma uma área
onde a natureza predomina de forma imperiosa. Apesar de estarem inseridos no Plano Diretor atual como zonas de expansão urbana, os três bairros
ainda não são efetivamente ocupados.
Situado entre os quilômetros 235 e 237 da Rodovia Manoel Hypólito do Rego (Rio-Santos), Iriri só
passou a contar com energia elétrica há dois anos. A CPFL Piratininga efetuou as primeiras ligações em junho de 2008, depois de anos de luta da
comunidade local, que ainda reivindica outras melhorias, como a rede de água tratada fornecida pela Sabesp e um telefone público.
Iriri recebeu 38 luminárias de vapor de sódio nas ruas. A rede de distribuição de energia foi
providenciada pela CPFL Piratininga, que colocou 67 postes de concreto, cabos de eletricidade, transformadores e equipamentos de proteção e
medição.
Até o momento,
foram efetuadas 41 ligações residenciais de energia elétrica, muito embora haja mais moradias no bairro. As que ainda não têm energia estão em
pontos de preservação ambiental, cujo acesso ao serviço básico é difícil.
Ainda sem contar com a rede de saneamento básico, os moradores do Iriri acabam captando água de
uma nascente próxima, que não tem aa mesma garantia da fornecida pela Sabesp.
Quanto ao telefone público, é preciso se deslocar até o Caruara para conseguir ter acesso a um
aparelho desse tipo.
O dia-a-dia dos moradores do Iriri é igual à rotina de quem vive em zonas rurais afastadas dos
centros urbanos. Há espaços onde são plantados os mais diversos tipos de frutas e produtos hortifrutigranjeiros, como mandioca e banana. Até há
pouco tempo, era preciso recorrer a baterias e geradores para manter geladeiras e televisores funcionando.
Morando há 41 anos no núcleo, Adalberto Tertuliano de Lima mantém um bar no ponto conhecido como
Iriri 2. É a referência para quem chega ao lugar. Ele lembra que, no início, os acessos eram bem piores do que os atuais. "Sempre houve uma
dificuldade para quem tentava chegar de carro aqui dentro. E acho que isso nem deve mudar. Se asfaltarem, isso aqui vai ficar insuportável".
A vinda da rede de energia para as casas foi um avanço e tanto, segundo Lima. "Agora não temos
que ligar mais aquele gerador barulhento para fazer funcionar a geladeira".
Apesar da ausência de infra-estrutura urbana, Lima nem pensa em se mudar. E já teve
oportunidade, pois seus filhos o convidaram para morar com eles.
"Aqui tem o mesmo tipo de paisagem de minha cidade natal, Cabo (do estado de Pernambuco). Era
tudo o que eu queria nesta minha fase da vida. Estou muito bem aqui e não vejo razão para sair", assinala.
No ponto conhecido como Iriri 1, que fica mais próximo da pista da rodovia, o aposentado José
Francisco de Paula reside há 10 anos em uma casa. E também se diz satisfeito.
"É um sossego que não troco por nada neste mundo. Já morei em Jundiaí e Guarujá. Mas foi aqui
que encontrei a minha felicidade", diz o aposentado.
Porém, ele acredita que algumas outras benfeitorias poderiam ser implantadas, além da rede
elétrica. "Faz muita falta um telefone público aqui. E as ruas de acesso estão muito mal conservadas. Falta uma manutenção mais constante".
Onde ficam os bairros
Imagem: infografia publicada com a
matéria
Cabuçu oferece opções para trilhas ecológicas
Os núcleos de Cabuçu e Trindade, entre os KM 241 e 244 da Rodovia Manoel Hipólito do Rego, a
Rio-Santos, não contam com moradias residenciais. São compostos basicamente por áreas de preservação. Em um deles (Cabuçu), elas já vêm sendo
exploradas para trilhas ecológicas e ecoturismo.
O loteamento conhecido como Fazenda Cabuçu representa uma referência histórica para a Baixada
Santista, pois serviu de abrigo à Companhia de Jesus, que no período da colonização lá montou um posto de catequese para os índios.
Na primeira metade do século 20, a região foi ocupada por plantações de banana, cuja produção
era transportada por meio de barcos até o Mercado Municipal, no Centro da Cidade.
Hoje em dia, a área vem sendo explorada para o ecoturismo. O ponto alto do roteiro é a cachoeira
com cerca de 10 metros de altura, que desce sobre uma rocha e forma uma piscina natural.
Árvores de grande porte algumas delas com identificação no tronco, fazem a demarcação da trilha
principal.
A fazenda conta com o vigilante Elias Martins de Oliveira, que há oito anos trabalha para manter
o local em condições de receber o público. "Somos muito procurados por estudantes de Biologia interessados em ter contato com a Mata Atlântica".
A visitação na fazenda está temporariamente suspensa, desde fevereiro. Em breve, técnicos e
representantes da empresa proprietária da área irão avaliar as instalações da trilha para checar as condições e poder liberar o acesso novamente.
Em Trindade, inda não há perspectiva de construção ou ocupação da área para fins residenciais,
embora ela esteja classificada pela Prefeitura atualmente como zona de expansão urbana.
Trindade ocupa uma área de 4,99 km² e é quase tão extensa quanto o Cabuçu, que tem 5,81 km².
Neste mato também tem coelho
Coelho Poldo
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Há cerca de cinco meses, o simpático e pacífico coelho branco chegou à Fazenda Cabuçu. Ele
pertencia a um morador de Guarujá, que decidiu doar o animal quando se mudou para outra cidade. De acordo com o vigilante Elias Martins de
Oliveira, Poldo, como é chamado o novo mascote, logo se adaptou à nova casa e convive harmoniosamente com outros animais, como galinhas e patos.
"Ele virou uma atração para quem vem nos visitar aqui, pois cativa a todos".
Prefeitura quer área de proteção ainda maior
A Prefeitura de Santos defende a ampliação da área de proteção ambiental no Bairro Cabuçu. A
proposta está sendo discutida no processo de revisão do Plano Diretor do Município, que deve ser concluído até o final do ano.
Atualmente, parte da área do Cabuçu é destinada para expansão urbana. Mas o secretário municipal
de Planejamento, Bechara Abdalla Pestana Neves, ressalta que a vocação para o chamado ecoturismo ficou evidente nos últimos anos. "Para isso,
entendemos hoje ser necessário ampliar mais a proteção ambiental, que já é garantida em parte do espaço".
Na verdade, entre os três bairros já existem corredores de fauna e flora que garantem a
sustentabilidade ambiental e a preservação da natureza.
"E isso será ampliado no Cabuçu, se a proposta for provada no novo Plano Diretor", assinala
Pestana Neves.
Pestana Neves garante que nessa proposta de revisão do Plano Diretor não há previsão para
implantação de áreas para atividade retroportuária. "Iriri, Trindade e Cabuçu não serão incluídos nesse contexto. Não há a menor chance de isso
acontecer".
O chefe do Departamento de Administração Regional da Área Continental, Cláudio Trovão, explica
que estão em andamento as tratativas para se levar a rede de água tratada da Sabesp apara o Iriri, que é o ponto com mais moradias.
A primeira providência será efetuar reparos nos acessos do Iriri, que foram bastante afetados
pelas últimas chuvas.
Será feito o nivelamento do piso e colocação de pedra e bica corrida para melhorar a condição de
tráfego para os veículos.
Quanto à iluminação pública, Cláudio Trovão explica: a ampliação da rede depende de liberação
dos órgãos de proteção ambiental.
PERSONAGENS
José Francisco de Paula - 68 anos, aposentado
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Caminhoneiro aposentado, José Francisco chegou ao Iriri há oito anos, depois de ter morado em
Jundiaí e Guarujá. Veio em busca de uma vida pacata, longe do barulho dos centros urbanos. Gosta de viver perto do mato e da natureza. Para ele, a
área precisa de uma atenção maior do Poder Público. "A energia elétrica foi avanço. Mas falta cuidar mais da manutenção do bairro e fazer com que
chegue a rede de água encanada".
Adalberto Tertuliano de Lima - 65 anos, morador do Iriri
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Quando chegou ao Iriri, em 1969, este pernambucano natural da cidade de Cabo encontrou tudo o
que queria na vida. Ar puro, vegetação semelhante à de sua cidade natal e terra fértil para plantar os mais variados tipos de frutas, legumes e
hortaliças. Tem 21 filhos, frutos de três casamentos. E os filhos e netos já tentaram levá-lo de lá, sem sucesso. "Eu amo este bairro. Estou em
paz na minha casa".
Elias Martins de Oliveira - 53 anos, vigilante
Foto: Carlos Nogueira, publicada com a
matéria
Elias é conhecido como o vigilante da Fazenda Cabuçu, na área continental. Mas é mais do que
isso. Hoje em dia é ele quem verifica a manutenção da área com grama, limpeza e pintura das instalações da casa. E sempre procura atender bem a
todos que buscam informações sobre as trilhas da fazenda, que em breve serão retomadas. "Aqui é um dos locais mais bonitos da Baixada Santista,
que ainda está sendo descoberto". |