ENCRUZILHADA, ENTRE PASSADO E PRESENTE - Próxima ao Centro e à Orla, a Encruzilhada é um dos
melhores bairros de Santos para se viver. O desenvolvimento rápido trocou os velhos casarões, comuns no início do século passado, pelos edifícios
repletos de escritórios, consultórios e centros clínicos. Mas, existem problemas também, como a insegurança
Imagem: reprodução parcial da primeira página de A
Tribuna de 21/12/2009
QUALIDADE DE VIDA
Diversidade e contradições
Boa infra-estrutura urbana e localização privilegiada são diferenciais do
bairro, que clama por mais segurança
Sandro Thadeu
Da Redação
Os casarões e chalés do início do século
passado deram lugar a edifícios repletos de escritórios, consultórios médicos e centros clínicos. As vias, antes de terra, tornaram-se ruas e
avenidas das mais movimentadas de Santos.
O comércio também se desenvolveu de maneira diversificada. Essa rica infra-estrutura urbana,
aliada à proximidade do Centro e da praia, tornou a Encruzilhada um dos melhores bairros de Santos para se viver.
A quase
desabitada área da Cidade, no início do século passado, concentra hoje um grande número de supermercados, padarias, drogarias, escritórios - como
o da Companhia de Navegação MSC -, igrejas, escolas e até universidades.
O autônomo Roberto Luiz diz que a Encruzilhada é um dos melhores lugares da Cidade para morar.
"Temos de tudo aqui. Além disso, nossos imóveis valorizaram muito".
Durante o dia, a tranqüilidade deu lugar à intensa movimentação de veículos. Achar vaga para
estacionar em algumas vias é difícil. Escapar dos flanelinhas, quase impossível.
Criada oficialmente com o Plano Diretor de 1968, a Encruzilhada possui 15,7 mil habitantes. Boa
parte vive nos 23 prédios do Conjunto Habitacional Ana Costa, da Rua Guedes Coelho. Um dos orgulhos da área é o Clube Atlético Santista, que passa
por reestruturação.
O bairro conta também com equipamentos da Prefeitura: duas unidades básicas de saúde, Instituto
da Mulher, Casa da Gestante, além do Centro Comunitário Isabel Garcia. Também abriga o Hospital Conselheiro Nébias (antigo Hospital dos
Estivadores).
Casarões - Mansões e palacetes ainda estão presentes, embora em menor número. Três deles
estão na Av. Conselheiro Nébias, onde estão o Casarão da Marinha (antiga sede da Capitania dos Portos de São Paulo), o Centro Municipal de
Inclusão Social Digital - Rede do Futuro e a Gota de Leite, que abriga a sede do Fundo Social de Solidariedade.
A Encruzilhada possui ainda entidades assistenciais tradicionais como o Educandário Anália
Franco, o centro Espírita Ismênia de Jesus, o Lar Mensageiros da Luz e a Legião da Boa Vontade.
Com 15,7 mil habitantes, a Encruzilhada mantém a característica residencial, apesar do forte
avanço do comércio e novos empreendimentos
Foto: Fernanda Luz, publicada com a
matéria
Vila Santa Casa: uma novela sem-fim
Uma das peculiaridades da Encruzilhada é a existência da favela da Vila Santa Casa, que está a
poucos metros do Gonzaga, uma das regiões consideradas nobres da Cidade.
Quem passa pela Avenida Senador Feijó, que corta a comunidade - conhecida anos atrás como
Caldeirão do Diabo - nota o paradoxo: enquanto cerca de 100 famílias vivem em barracos de alvenaria, ao lado será erguido um condomínio de luxo,
com cinemas, piscinas e academia.
As 90 famílias cadastradas na Companhia de Habitação da Baixada Santista (Cohab-ST) que aguardam
a entrega das unidades no local admitem que estão cansadas de esperar.
Construído em 2000, o alojamento provisório, com 21 unidades, é o retrato da falta de
compromisso da Administração para com aqueles cidadãos. Há famílias que vivem lá há mais de oito anos, enquanto deveriam ficar ali só por alguns
meses. Esse é o caso da doméstica Maria de Fátima dos Santos.
"No começo, achava que isso seria rápido. O tempo foi passando. Ainda tenho o sonho de ter um
lugar próprio".
Promessas - A presidente da Associação dos Moradores da Vila Santa Casa, Aldenora Maria
de Jesus, espera uma maior agilidade da Administração para entregar os apartamentos. "Sempre estamos cobrando da Cohab e da Prefeitura, mas a
resposta é sempre a mesma: falta de verba".
Enquanto as unidades não saem do papel, a comunidade aguarda o cumprimento dos dizeres da placa
de um dos quatro prédios entregues desde 1996: "(...) o compromisso da Administração com o bem-estar e a dignidade da população".
Veículos ocupam terreno onde unidades deveriam ser construídas
Foto: Fernanda Luz, publicada com a
matéria
Personagens
WILMA THEREZINHA FERNANDES DE ANDRADE - Professora - Uma das filhas ilustres da Encruzilhada é
esta guardiã da história de Santos e região. A docente do curso de História da UniSantos é uma das pessoas radicalmente contra a mudança do nome
do bairro. "Não tem sentido essa alteração. O nome condiz com a geografia e a história. Encruzilhada não tem nenhum sentido pejorativo , não tem a
ver com macumba, como está sendo divulgado por aí"
Foto publicada com a matéria
LUZIA DOMINGOS ALVES - Dona de casa - "Estou perdendo as esperanças. Parece que o prefeito
esqueceu da gente". Esse é o desabafo de alguém que vive há 30 anos na Vila Santa Casa e aguarda a entrega dos apartamentos pela Cohab-ST. Ela
lamenta o fato de ainda muitas pessoas enxergarem a comunidade com preconceito, por conta da violência do passado. "Os moradores ainda sentem isso
na pele. O esgoto a céu aberto é coisa do passado. A urbanização chegou, mas os problemas continuam A humilhação que sofremos é grande".
Foto publicada com a matéria
Insegurança é apontada como principal problema
Apesar da boa infra-estrutura do bairro, os moradores da Encruzilhada entrevistados foram
unânimes ao dizer que o principal problema é a falta de segurança. Tornou-se comum o relato de cidadãos que foram assaltados não só à noite, como
também à luz do dia.
Um autônomo, que pediu para não ser identificado, afirma que foi vítima da ação de ladrões por
seis vezes num intervalo de menos de oito meses. "Já me levaram relógio, notebook, carteira, celular... Não posso ficar no meu trabalho com
nada de valor".
Os comerciantes também não escapam e pedem maior policiamento ostensivo para minimizar a ação
dos bandidos e o tráfico de drogas, principalmente no período noturno.
Outro ponto levantado pela Sociedade de Melhoramentos foi o compromisso ainda não cumprido pela
Administração de realizar a drenagem em trechos das ruas Barão de Paranapiacaba, Comendador Martins, Júlio Conceição e Pérsio de Queiroz Filho.
O forte cheiro de esgoto na Rua Barão de Paranapiacaba também é motivo de queixas. "Tem dias que
o odor é insuportável", diz a presidente da entidade, Iracema Rodrigues Laja.
Um pedido à Prefeitura ainda não contemplado é a colocação de uma linha
de ônibus, cujo itinerário passe pela Av. Senador Feijó e siga até a Av. Dr. Cláudio Luis da Costa, para permitir um acesso mais rápido dos
moradores à Santa Casa e ao Pronto-Socorro Central.
Outras queixas da comunidade
ABANDONO - A reforma da Praça Padre Champagnat está parada há pelo menos dois meses. Também é
comum avistar lixo no local. A sede da Sociedade de Melhoramentos da Encruzilhada está sem identificação visual
Foto: Alberto Marques, publicada com a
matéria
A MÁ ILUMINAÇÃO é uma das principais queixas no bairro, fato esse que favorece a ação dos
bandidos. As ruas Guedes Coelho (foto) e Xavier Pinheiro (ao lado da Escola Municipal Gota de Leite) foram alguns dos pontos citados
Foto: Irandy Ribas, publicada com a
matéria
Mudança de nome ainda gera polêmica
Encruzilhada ou Vila Otávio? Eis a questão! O plebiscito popular para a troca do nome do bairro,
realizado este ano, ainda provoca polêmica entre os moradores.
A sugestão da nova denominação teve a aprovação de 63,6% (3.655 votos) dos participantes do
pleito. Uns dizem que o nome traz um sentido pejorativo, enquanto outros entendem que a mudança é negar a própria história.
Conforme a presidente da Sociedade de Melhoramentos da Encruzilhada, Iracema Rodrigues Laja,
muitos comerciantes não gostam do nome do bairro. Ela sentiu isso, em 2003, ao solicitar a doação de materiais de construção para montar a sede da
entidade, na Praça Padre Champagnat.
"Eles fizeram a solicitação e tivemos a idéia de realizar uma consulta popular. Em 2006,
deixamos algumas urnas em certos locais, mas depois não tivemos força para continuar o movimento", diz. A luta voltou a ganhar força, no ano
passado, após uma pesquisa feita por um historiador da Cidade.
A Secretaria Municipal de Planejamento já recebeu o pedido para a mudança do nome para Vila
Otávio. A discussão será feita quando o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano for debater a Lei nº 312/98 - Uso e Ocupação do Solo, durante
a revisão do Plano Diretor.
JUSTIFICATIVA DOS NOMES |
Encruzilhada
No passado, a única passagem do Centro para a praia era conhecida como Caminho Velho da Barra. A passagem
começava na Rua Braz Cubas, passava pela Rua Luiz de Camões até a Rua Oswaldo Cruz,. Mas, em 1867, foi criada uma via expressa para o mar -
a Rua Otaviana (atual Av. Conselheiro Nébias). O encontro dos dois trajetos deu origem ao nome Encruzilhada. |
Vila Otávio
João Otávio dos Santos (1830-1900) doou sua fortuna para a Santa Casa, após destinar seus bens para a
instalação e construção, em sua chácara na Ponta da Praia, do Instituto Escolástica Rosa (nome de sua mãe), a primeira escola
profissionalizante do Brasil. Ele possuía um grande lote de terrenos na Rua Barão de Paranapiacaba (antiga Rua do Sol). |
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