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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO
Bertioga muda rápido (3)

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Publicado em 7/4/1983 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


Até quando Bertioga conseguirá manter sua beleza natural? As construtoras querem o fim do Código de Obras, que garante a preservação da qualidade de vida

Prefeitura e Estado fecham os olhos para os problemas

O mar de Bertioga ainda não cansou de tragar vidas. Segue fazendo vítimas, sem que os bombeiros consigam dar conta do recado. A verdade é que o Governo colocou Bertioga à disposição da população do Vale do Paraíba, via Rodovia Mogi-Bertioga, mas não a dotou de um mínimo de infra-estrutura para receber os milhares de turistas sedentos de lazer.

Não se sabe se a omissão é maior por parte do Estado ou da Prefeitura. Só se pode ter certeza de que, de repente, Bertioga se revela como uma grande armadilha. Eis algumas das novidades especialmente reservadas para os visitantes: não existe água potável no raio de muitos quilômetros; não há balneários populares; os carros circulam pela areia da praia, pondo em risco a vida dos banhistas; a maré costuma subir e deixa todos ilhados.

Poluição pode acabar com o melhor: as praias de água verde e transparente - Não será surpresa para ninguém se começarem a surgir denúncias de que as praias de Bertioga padecem do mal chamado poluição. Por incrível que pareça, o Distrito não é dotado de redes de esgoto e o mar representa o depósito final de matéria orgânica e águas servidas sem nenhum tratamento. Mais: o projeto de implantação de rede de esgoto encontra-se nas gavetas da Sabesp desde 1980, à espera de recursos do BNH.

Água encanada é um privilégio apenas de quem vive na chamada Vila de Bertioga, onde está concentrado o comércio e o maior contingente populacional. Assim, os visitantes que seguem para São Lourenço e outras praias mais distantes podem ser surpreendidos pela inexistência de um gole de água para beber. Se tentarem encontrar nas matas próximas, correm o risco de levar um tiro como invasores de terras. Vejam a que ponto se chegou.

Há mais. A maré costuma subir à noite e invadir a faixa de areia. Os carros dificilmente conseguem resistir aos trechos alagados mais do que alguns quilômetros. O veículo pára. O motorista vai buscar socorro. Quando retorna, após alguns instantes, percebe que os pneus afundaram. Se deixa para o dia seguinte, encontra apenas a capota do carro para fora. A areia escondeu o resto.

Cenas como essa são muito comuns no Indaiá. O pior é que a Prefeitura não dispõe de carro-guincho e o único existente para aqueles lados, pertencente a um particular, teve um fim no mínimo desonroso: ao prestar socorro, atolou, afundou na areia.

As ruas e os ônibus estão em péssimo estado, e o imposto continua subindo - Se os turistas fazem queixas, que dirão os moradores. Antônio Tavares não deixa por menos e vai dizendo: "Isso aqui é uma vergonha. Não existe administração". Exemplifica: "Construíram um muro quatro metros além do alinhamento da rua, eu denunciei e não aconteceu nada". O muro continua no mesmo lugar, roubando quatro metros da Rua Santa Cruz.

Segue afirmando que a água da chuva comeu metade da Rua Jorge Ferreira e a administração regional não tomou providências. Outras ruas encontram-se intransitáveis, sem contar que ostentam malcheirosas valas nos cantos.

Nos 360 quilômetros quadrados de Bertioga, apenas a Avenida Vicente de Carvalho e a Rua João Ramalho são drenadas e asfaltadas, além dos dois quilômetros iniciais da Avenida Anchieta. Nas demais, sobram buracos e lama.

O pessoal amassa barro e não pode se recusar a pagar seus tributos em dia. Mais reclamações: "O imposto é uma coisa de louco", comenta Antônio Tavares, lembrando que no ano passado pagava Cr$ 1.830,00 a cada três meses e, este ano, arca com despesa de Cr$ 3.600,00 de dois em dois meses. Trocando em miúdos, o imposto, nesse caso, subiu 300 por cento.

O transporte coletivo representa outra fonte de reclamações: os ônibus da CSTC, além de velhos e desconfortáveis, não cumprem horário, e quem depende deles precisa ter uma paciência sem limites. E muita paciência precisam ter também os usuários do famigerado sistema de balsas. Alvo de milhares de críticas ao longo dos anos, continua o mesmo. Segundo denunciou o presidente da Associação Pró-Desenvolvimento Distrital de Bertioga (Aprodeb), José Toledo, recentemente as duas únicas balsas em operação quebraram e a travessia ficou paralisada um dia inteiro.

O policiamento é considerado precário, pois só há uma viatura à disposição da Polícia Militar, sempre parada por problemas mecânicos. A cada novo defeito, são os comerciantes que compram as peças e pagam o conserto. Outro detalhe: o telefone 193 (Corpo de Bombeiros) não funciona e, a cada emergência, o único jeito é ligar para o 190 (Radiopatrulha) e "mandar recado".

Nem necrotério Bertioga possui, apesar das promessas do prefeito Paulo Gomes Barbosa. A isso somam-se a falta de abrigos para ônibus e, nas balsas, banheiros públicos sem manutenção e trânsito de veículos nas praias.

Negligência da Prefeitura gera revolta e muita gente quer a emancipação - Acanhados. Assim podem ser definidos as obras e os serviços da administração Paulo Gomes Barbosa no Distrito, se for usada uma boa dose de benevolência. As obras propriamente ditas se resumem a duas: urbanização de trecho da orla da praia e abertura da Avenida Anchieta. Essa última, considerada "obra prioritária", vem se arrastando desde 1981, e a todo instante se anuncia o adiamento da entrega.

Fora isso, o Demutran implantou sinalização viária, e um contrato permitiu a iluminação de 42 quilômetros de vias públicas. Barbosa cita ainda a implantação de "equipes de trabalhos avançados", do escritório regional da Prodesan, e usina de artefatos de concreto, bem como da base operacional da Sudelpa. A chamada estruturação dos serviços da Regional, que passou a funcionar a nível de secretaria, fecha a reduzida lista do que foi feito por Bertioga nos últimos três anos.

Ninguém duvida que o lugar representa a última esperança de expansão de Santos e é preciso investir nele, deixando de lado medos e indecisões. Ao invés disso, o orçamento da Regional em 1982 equivaleu a apenas 0,66 por cento do orçamento geral do Município - Bertioga ficou com a menor dotação do orçamento santista.

Pior este ano: a mãe-Prefeitura, que mais parece uma madrasta perversa e vingativa, destinou Cr$ 89 milhões e 777 mil, que correspondem à insignificância de 0,41 por cento do orçamento. E sabem quanto a Prefeitura pretende arrecadar lá em 1983? Nada menos que Cr$ 326 milhões 358 mil.

Por essas e por outras, não tardou a surgir um movimento de emancipação em Bertioga. Cada vez que se toca no assunto, não faltam políticos santistas e munícipes em geral para, de repente, se lembrarem que o Distrito existe e repudiarem as idéias separatistas. Mas, ninguém pode tirar o direito de uma população sempre esquecida dizer um basta e passar a gerir seus próprios destinos.

Veja as partes [1], [2] e [4] desta matéria
Veja Bairros de Santos/Bertioga

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