Imagem: reprodução parcial da página Web (acesso:13/3/2013)
Mídia radiofônica
Adeus, Atlântica
Por Paulo Rogério em 09/02/2010 na edição 576
A notícia se repete, só
muda de lugar. Mas não deixa de surpreender, nem de entristecer.
A tendência chegou à Rádio Atlântica de Santos. A tradicional PRG-5 teve 100% de sua programação arrendada pela igreja Deus é Amor. Informações
extra-oficiais dão conta de R$ 50 mil mensais para garantir 24 horas de mesmice. Agora, quem sintonizar o AM 590 ouvirá o mesmo pastor rouco gemendo
quase o tempo todo ou dividindo espaço com um sujeito que fala espanhol.
Não bastasse o espaço jornalístico e de entretenimento que se perde, mais uma equipe esportiva da Baixada Santista precisará bater em outra porta se
quiser continuar a existir. O pessoal do Esporte por Esporte, liderado por Armando Gomes, não pode ficar fora do rádio.
Falar em Rádio Atlântica, para este blogueiro, não é fácil. Foi lá que tudo começou profissionalmente, há 11 anos. Os primeiros contatos com o
microfone foram antes, em meados de 1985, 1986 (sim, era moleque e apresentava programa ao vivo, influência do meu pai), mas depois de velho e com
diploma nas mãos, tudo começou no AM 590, com o convite do saudoso amigo Fábio Luís. Lá, ao lado de nomes como Marcus Barreto e Washington Luiz,
comecei a adquirir o que chamam de experiência. Pela Atlântica, fui setorista da Portuguesa Santista e estava iniciando a cobertura do Jabaquara
quando surgiu a oportunidade de cobrir o Santos FC. Os primeiros treinos, os primeiros contatos com jogadores e treinadores de ponta e os primeiros
jogos, tudo teve o intermédio da Atlântica. Entre idas e vindas, foram três passagens por lá, sempre com algumas histórias boas e outras, digamos,
nem tanto assim.
Entregues às igrejas
Já naquela época a coisa caminhava meio capenga para o rádio santista. Não era só a Atlântica, mas a conversa era a mesma. "O jogo é em São Paulo,
temos que ir mesmo?", "Você não tem carro? Precisa de vale-transporte para ir ao treino?", "Precisa mesmo ligar a cobrar para passar as
informações?" Em uma conversa com um antigo diretor, o mesmo propôs que eu saísse do treino e fosse para o estúdio, onde daria meu boletim sem
precisar do telefone. O CT do Santos ficava do outro lado da cidade e eu teria um espaço de menos de 10 minutos, sem carro, para cumprir o trajeto.
Inicialmente, ele não entendeu as razões da impossibilidade...
É triste, muito triste. Emissoras tradicionais de Santos, como as rádios Clube e Universal, já se perderam. Foram entregues às igrejas. A Rádio
Cacique está nas mãos da Assembleia de Deus, mas ainda sobrevive. Tem a equipe de esportes comandada por Paulo Alberto e alguns programas
não-religiosos. No AM da Baixada Santista restam apenas Cultura e Guarujá. A Cultura quase foi embora; acordou enquanto era tempo.
Antes que o futuro não exista...
Houve um tempo em que Santos parava diariamente, ao meio-dia. Era a hora do comentário de Ernani Franco, sabe onde? Na Rádio Atlântica. Houve um
tempo em que a Baixada Santista tinha três, quatro, cinco emissoras transmitindo futebol. Todas com equipes grandes. Todas com gente muito
capacitada. Pergunte hoje a quem fazia o rádio daquela época: todos têm casa própria, carro, deram uma boa educação aos filhos e vivem razoavelmente
bem. E tudo foi construído pelo rádio.
Como filho, sobrinho e sobrinho-neto de locutores, não é fácil ver a história tomar esse rumo.
Nos grandes centros, a tendência é menor. Em São Paulo, grandes emissoras permanecem e crescem cada vez mais. Em Santos, está na hora de pegar essa
receita. Tentar entender o por quê das coisas será perda de tempo. Voltar atrás é quase impossível. Seria melhor agir agora, antes que o futuro
simplesmente não exista... |