HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
PIRATAS
O desventurado Francisco Duclerc
Literalmente, morreu de amor no Rio de Janeiro
Francisco Martins dos Santos (*)
Na história das incursões corsárias à antiga vila santista, não se pode deixar de
incluir também a de Francisco Duclerc, o mal-aventurado comandante francês, que, vencido pelas malhas da guerra, acabou seus dias romanescamente,
assassinado, ao que parece, no Rio de Janeiro, na própria casa que lhe havia sido dada para custódia, por um dos enciumados da sua simpatia pessoal, em
um caso de amor: morte essa que custou ao Brasil, como a Portugal, centenas de preciosas vidas e alguns milhões de cruzados, trazendo a desgraçada
conseqüência da expedição Duguay Trouin, o maior dos almirantes franceses, para vingar o assassínio do companheiro, sujeitando o Rio de Janeiro à
vergonha da ocupação, a um terrível incêndio e a um pesadíssimo resgate.
Em setembro do ano de 1710, surgiram na barra de Santos seis naus de guerra e uma balandra de corsários, sob o
comando do referido Francisco Duclerc. Não pudera ela entrar no porto do Rio de Janeiro, pela vigilância estabelecida pelo governador Francisco de
Moraes, antecipadamente avisado da aproximação da armada francesa, e, assim, descera contra a Ilha Grande e dali sobre a vila de Santos, com o intuito
de saltear e pilhar a praça.
Fortaleza da Barra Grande de Santos
Governava a Capitania de São Paulo e Minas o Capitão General Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, reputado
o maior de todos os governadores coloniais da sua época, e era vedor da gente de guerra na praça de Santos o Provedor Thimóteo Correia de Góis.
Antonio de Albuquerque enviou instruções àquele Provedor e fez descer das Minas o Mestre de Campo Domingos da
Silva Bueno à frente de 300 homens de combate e mais o Capitão Domingos Fernandes Pinto com outros 300 homens experimentados, cujo valor já era
conhecido através dos agitados acontecimentos das Minas Gerais, os quais, reunidos às forças de Amador Bueno da Veiga, o famoso destruidor dos emboabas
do rio das Mortes, e à gente de Thimóteo Correia de Góis, organizada na própria vila, fizeram a defesa de Santos em oposição à força atacante de Duclerc,
apoiados pelo fogo da Fortaleza da Barra Grande, que não permitiu aos navios franceses a entrada no porto, como era intuito do
seu comandante.
Duclerc, não podendo tomar o porto, foi derrotado nas areias de Santos e obrigado a retroceder precipitadamente,
deixando a terra paulista, de onde foi para o Rio de Janeiro, à procura do lance histórico que lhe poria termo à vida.
(*) Extraído da
História de Santos, 2ª edição, Santos/SP, 1986.
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