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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
O parque dos Jequitibás

Um sonho de Martins Fontes para Santos

O poeta Martins Fontes também devaneou sobre como deveria ser a cidade em que vivia, o que foi registrado neste texto, publicado na edição de maio de 1944 da revista santista Flama (ano XXIII, nº 5), dedicada a ele:


Martins Fontes em seu gabinete de trabalho
Foto publicada com a matéria

Parque dos Jequitibás

Rafael de Lossio

Certa noite, em maravilhosa conferência, realizada nesta cidade, Martins Fontes, o saudoso vate e cantor da cidade, propôs às autoridades municipais que os nomes das ruas, menos significativos, fossem mudados e substituídos pelos dos grandes poetas. Via nisso uma grande homenagem e um sinal de respeito e cultura. Mas, para que a homenagem não passasse de gratidão em forma de placa, pretendia ele que as ruas e avenidas fossem adornadas de belos espécimes vegetais, dos mais vistosos e elegantes, chegando mesmo a apresentar os tipos que deveriam enfeitar as vias públicas. A idéia era muito generosa, mas, está provado, ninguém sabe quando os nomes novos caem na simpatia pública ou não.

Completando a sua idéia, numa mesa de café, que ele não costumava freqüentar, por falta de tempo, confessava que lhe escapara uma sugestão destinada a ser aceita por todos: a criação de um parque, um parque magnífico, que seria arborizado pouco a pouco, em sucessivas administrações, até atingir a sua plenitude, talvez depois de séculos. Seria o "Parque dos Jequitibás".

Curiosa é a maneira como seria preparado e arborizado o parque dos sonhos do grande poeta desta terra de poetas.

Cada personagem importante que por aqui passasse - brasileiro ou estrangeiro - seria convidado por uma comissão (a Comissão do Parque) a plantar uma florida muda de jequitibá no recinto demarcado para os futuros gigantes. A cerimônia seria acompanhada de música, hinos cantados pelas crianças de uma escola primária. Cada escola seria convidada por sua vez. Cerimônia curta e expressiva...

Naquela sua maravilhosa imaginação, que seria mais bem classificada como intuição, Martins Fontes previa que, dentro de alguns meses, o plantio das mudas começaria a suscitar discussões, ciúme, despeito entre os futuros plantadores de um lado, assim como entre as crianças das escolas. Tal como se dá na Academia Brasileira.

Seria o apogeu da inofensiva idéia em execução. Um barulho tremendo de pôr os céus abaixo. Os fãs de Fulano a deitar a sua bílis pelas colunas dos jornais; os fãs de Beltrano a responder com amargor às mofinas levantadas; vida, entusiasmo, vibração, dinamismo, porque o estatuto seria organizado de tal maneira que de duas correntes, duas idéias, dois nomes importantes, apenas um teria a honra do convite. Nada de multiplicações, de vulgarização. Seleção era o que ele queria.

Não há dúvida que nunca um poeta teve um sonho de tão simples realização.


Grupo tirado no dia 16 de março de 1924, quando da visita a Santos de Vargas Vila,
vendo-se, à direita, sentado, Martins Fontes
Foto publicada com a matéria

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