Uma
mesma cena, obtida de um ângulo aéreo que em fins do século XIX implicava em certas liberdades artísticas, serviu para o artista Benedicto Calixto
pintar sucessivas paisagens de Santos e seu porto, ao longo de 25 anos, de 1898 a 1922. Note-se como a composição evoluiu, pelo fundo montanhoso em
Guarujá, pela atualização dos tipos de navios para cada época, e até o surgimento das torres para o cabeamento elétrico através do estuário do
porto.
Nesta versão que parece
ser a mais antiga, destacam-se os muitos navios à vela no estuário, e a cidade com a região do Valongo em primeiro plano.
Ao centro, os pequenos montes à margem direita do canal do estuário são os outeirinhos que deram
nome àquela região da margem direita do porto. A imagem resultou em um cartão postal da cidade, que circulava durante a segunda década do século
XX (este exemplar foi remetido em 14/6/1920 para Montevidéu, mas existe outro exemplar do mesmo cartão, postado em 27/2/1916 para Porto Alegre):
Imagem: reprodução de
cartão postal
negociado no site de leilões Ebay-EUA, em 15/12/2010
Calixto produziu em 1898 uma nova versão dessa
paisagem, "aplainando" o contorno dos montes em Guarujá e dos outeirinhos do Macuco, e agora com o estuário coalhado de
navios a vapor. Com o título Vista da Cidade de Santos, este óleo sobre tela, de 143 x 287 cm é conservado no acervo do Instituto Ricardo
Brennand, no Recife (PE):
Imagem enviada a
Novo Milênio por professores da USP. Também encontrada no CD-ROM Benedito
Calixto - 150 anos, editado em 2003 pela Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Santos/SP
Os montes em Guarujá
voltam a se elevar neste novo quadro, agora representando a cidade e o porto na época da Primeira Guerra Mundial, com
navios mais possantes, e os outeirinhos substituídos por uma torre de eletricidade, com sua correspondente na outra margem. Permanece ainda no Monte
Serrat, à direita, um irreconhecível caminho pela encosta desse morro:
Imagem: reprodução de
cartão postal
Este novo cartão
postal baseado em desenho de Calixto, apresenta a mesma cena, com algumas variações, das quais as principais são ter o autor amenizado a
representação do caminho na encosta do Monte Serrat e sido mais fiel na representação das torres para a travessia dos fios de alta tensão pelo
estuário, agora vistas em estrutura metálica, em lugar da inexistente alvenaria. O pintor teve também o cuidado de atualizar o casario, incluindo
por exemplo a então nova Catedral da Praça José Bonifácio:
Imagem: cartão
postal no acervo de Marcelo Valentim de Freitas, de
São Paulo/SP
Neste óleo
sobre tela de 300 x 280 cm, parte de um mural que decora a sala de pregões da Bolsa de Café e Mercadorias de Santos, a liberdade poética
do artista, ao retratar o porto de Santos em 1922, começa pelo primeiro plano, pois a árvore e o monte de onde se descortina a paisagem - citado no
título da tela como sendo o Morro do Pacheco - nunca existiram de fato nesse local tão
próximo do estuário.
No solo, a construção branca dupla que se destaca no rodapé da imagem é o conjunto
arquitetônico conhecido como casa da Prefeitura e Câmara, no
Largo Marquês de Monte Alegre. Ao lado esquerdo dela, trafega um bonde,
a caminho do prédio da Bolsa do Café, que é visto um pouco mais ao fundo,
com destaque para a torre de seu relógio.
No centro exato da imagem, a Catedral de Santos, defronte ao
parque arborizado que era a Praça José Bonifácio.
Margeando o estuário, o movimentadíssimo porto santista, tomado pelos armazéns e pelos inúmeros navios a vapor (e alguns à vela). Ao fundo, a ainda
deserta área de Itapema (Vicente de Carvalho), em Guarujá:
Imagem: Grandes Personagens da Nossa História, Ed.
Abril Cultural, S.Paulo/SP, 1973, volume IV, página 805
Outra reprodução dessa tela, denominada Porto de Santos em 1922. Observe-se
ainda como o pintor, sem dispor de um visão aérea da região, manteve-se indeciso sobre o contorno dos montes em Guarujá:
Imagem in CD-ROM Benedito Calixto - 150 anos,
editado em 2003 pela Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Santos/SP
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