Até
1901, ano anterior ao da inauguração do Mercado Municipal da Praça Iguatemi Martins, funcionava em Santos o chamado
Mercado Provisório, que é visto nesta imagem obtida pelo famoso fotógrafo carioca Marc Ferrez (1843-1923). No canto
esquerdo, observa-se torre do Carmo:
Foto enviada a Novo
Milênio em 25/6/2010 por
Carlos Marcelo Charleaux
À beira d'água, amontoada, uma grande pilha de sacas, possivelmente de café
destinado à exportação:
Detalhe de foto enviada a
Novo Milênio em 25/6/2010 por
Carlos Marcelo Charleaux
Criado em 1880 em substituição ao
das Casinhas, que antes funcionava na Praça da República, e
extinto com a inauguração do mercado oficial em 1902, este mercado provisório tinha intenso movimento. Junto a ele ficava um prédio de referência na
cidade de então, o hotel Palm, visto à esquerda:
Detalhe de foto enviada a
Novo Milênio em 25/6/2010 por
Carlos Marcelo Charleaux
Este mercado provisório
estava situado no Largo dos Gusmões, correspondente aproximadamente à área do atual Largo
Senador Vergueiro, praticamente encostado à antiga Capela do Carvalho (também conhecida como Capela de Jesus,
Maria, José - Santíssima Trindade ou Capela do Terço, igualmente demolida em 1902), como se observa nesta pintura
de Benedito Calixto e principalmente no seu detalhe:
Imagem in CD-ROM Benedito Calixto -150 anos,
editado em 2003 pela Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, Santos/SP
Detalhe da tela de Calixto
Esta é a descrição do mercado provisório, feita pelo escritor Júlio Ribeiro, em sua
obra A Carne:
"...Na praia, a poucos metros da água, um como mercado pantopolista: sobre
mesas de mármore, estendem-se alinhados, com reflexos de aço, de prata, de ouro, os peixes admiráveis do lagamar e do alto - as tainhas gordas, de
focinho rombo; os paratis que são diminutivos deles; as corvinas corcovadas, pardas; os galos espalmados, magros; os pargos de dentes e de beiço
redondo, carnudos; as pescadas do alto, fulvas, enormes; os linguados vesgos, delicados; as solhas, linguados gigantescos, macias, chatas; as
garoupas atarracadas, escondendo sob formas brutas um mundo de delícias gastronômicas; as pescadinhas rancas, argênteas, com um fio de ouro e verde
a sulcar-lhe os flancos; os bagres lisos, visguentos, feios; os camarões brancos, arroxeados, com longas barbas, em rodas, sobre tampos de vime; os
caranguejos peludos, morosos, batendo uns nos outros a couraça sonora; os siris azulados.
"Em torno à casa sob beirais do telhado, sob toldos de pano ao ar aberto,
pilhas de laranjas, de ananases, de melancias, de goiabas, de cocos, de cachos de bananas, de mil espécies de frutas em uma abundância fastidiosa,
desanimadora, com cheiro enjoativo de madureza passada; grãos, legumes, hortaliças, raízes, ervas de tempero, tomates, pimentas; quadrúpedes e aves,
domésticos e selvagens, leitões, quatis, perus, tucanos; conchas, caramujos; esteiras, cordas, quinquilharias, uma babel, um bric-a-brac
infernal". |