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SANTOS - BAIRROS - mapa - Monte Serrate <<-- escolha o retorno

Monte Serrate (1)

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Em 4 de setembro de 2011, o semanário santista Jornal da Orla publicou, nas páginas 1ª, 10 e 11:

CAMINHO DE FÉ - A escadaria com 415 degraus, íngreme, longa, cansativa, é a maior dificuldade apontada pelos moradores do Monte Serrat, que vivem uma rotina de tranqüilidade há poucos minutos da agitação do centro da Cidade. O sossego só é quebrado na festa de 8 de setembro, em louvor a Nossa Senhora do Monte Serrat, quando milhares de fiéis fazem a subida, em procissão, conduzindo a imagem da Padroeira de Santos de volta para o santuário, no alto do monte

Foto: Sérgio Furtado/Imagens Aéreas, publicada com a matéria, na primeira página

COTIDIANO

Respirando sossego no centro da Cidade

Mírian Ribeiro

Quem vive na parte baixa da Cidade, urbana e estruturada, talvez não imagine que em Santos ainda existam endereços localizados meio que por adivinhação. A rua (ou o que quer que seja) não tem nome, mas todo mundo sabe onde fica. A casa tem número, mas não há uma seqüência, por isso o melhor é se orientar pelo que tem nos arredores. Duvida? Pois é só acompanhar um dia de trabalho do carteiro que faz a entrega de correspondência no Monte Serrat.

Aos 22 anos de idade, cobrindo férias, Tiago Henrique Vasques
[foto 1] tem pernas para enfrentar a escadaria íngreme de 415 degraus, o problema é localizar os endereços nas vielas não identificadas por placas, que descem e sobem pelas encostas do monte. "Se o número que consta na correspondência vai do 1.709 ao 2.225 significa que a casa fica na Vila Lelê", explica Tiago, que tenta se orientar por um mapa improvisado ou, melhor, um quebra-cabeças desenhado pelo titular do setor.

Embora encravado no centro da Cidade, a rotina no Monte Serrat segue a tranqüilidade de vilarejos do interior, garantem os moradores. Um sossego quebrado apenas nesta época do ano, quando acontecem os festejos em louvor a Nossa Senhora do Monte Serrat. O ápice da festa é quinta-feira (8) Dia da Padroeira de Santos.

A festa religiosa - No dia 8 serão celebradas seis missas e realizada uma procissão para conduzir a imagem da Santa da Catedral de Santos, onde se encontra, até o Paço Municipal, onde acontece a renovação da consagração da Cidade a Nossa Senhora do Monte Serrat. Depois, a imagem volta em procissão ao santuário no alto do monte.

O Monte Serrat, por sinal, recebeu um banho de beleza para a festa. Há dias funcionários do Dear-M (Departamento da Administração Regional dos Morros) estão trabalhando na poda de árvores, limpeza das encostas, reparos na escadaria principal, incluindo troca de lixeiras e a pintura dos muros. Os 14 nichos de alvenaria distribuídos ao longo da escadaria, em que imagens de bronze em alto relevo retratam a Via Crucis, também foram limpos.

O santuário foi reaberto no dia 14 de agosto, após permanecer fechado por mais de dois anos para reforma e obras de restauro. Em homenagem ao santuário e à santa, foram lançados dois selos comemorativos e um carimbo postal. Um dos selos retrata o pavilhão nacional, o mapa do Brasil e flores de ipê - a árvore símbolo nacional. Já o outro tem a imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat, reproduzida digitalmente. O carimbo postal, que permanecerá na agência dos Correios do Centro (rua Cidade de Toledo, 41) até o dia 12, retrata a imagem da Santa.

Foto: Leandro Amaral, publicada com a matéria, na página 10


Complexo turístico

O sistema de bonde funicular inaugurado em 1927 é uma das atrações do Monte Serrat. São dois bondes, puxados por um cabo de aço e que circulam por uma única linha férrea, com um desvio na metade do trajeto. A viagem dura quatro minutos. A extensão da linha é 253 metros, com inclinação máxima de 71%. As subidas de bondinho são realizadas de domingo a domingo, das 8 às 20 horas, e custam R$ 19,00 (crianças menores de 8 anos não pagam).

No alto, além do Santuário de Nossa Senhora, há terraços, mirante (que oferece visão de toda a Cidade e vistas parciais de outros municípios da Baixada) e o histórico Cassino Monte Serrat, que recebeu artistas como Carmem Miranda, Francisco Alves e Sílvio Caldas até ser fechado, em 1946, quando o jogo foi proibido no Brasil. Em suas paredes, fotos antigas contam um pouco da história da boemia santista.

O santuário - A capela simples, enfeitada com flores, com piso feito de ripas de madeira, fica no alto do Monte Serrat, a 157 metros do nível do mar, e foi construída em 1603. Pode ser visitada diariamente das 9 às 17h30. Dentro, uma lojinha comercializa artigos religiosos alusivos à Santa.

Nossa Senhora do Monte Serrat foi declarada Padroeira de Santos por lei sancionada pelo então prefeito Antônio Feliciano em 1954. O primeiro e grande milagre atribuído a ela teria acontecido durante a invasão do pirata holandês Joris Van Spilbergen à costa santista, em fevereiro de 1615. Para fugir dos corsários, que incendiaram vários pontos da Vila de Santos, boa parte da população, especialmente mulheres e crianças, refugiou-se no Monte Serrat.

Desesperados, os habitantes rezaram à Virgem do Monte, para que os protegesse. Pouco tempo depois, o caminho por onde avançavam os piratas desmoronou, soterrando a maioria, enquanto os restantes voltaram apressadamente para os navios, a fim de deixar a barra.

Vida tranqüila

O bode Rouxinol
[foto 2] morreu há mais de um ano, mas de resto a vida no Monte permanece igual. O bode foi salvo de virar buchada depois que um grupo de moradores, compadecidos, fez uma "vaquinha" e comprou o animal do antigo dono.

Desde então ele era atração turística e freqüentador assíduo do Bar da Fátima, um dos quatro botecos encontrados pela escadaria (há preferência por nomes femininos; tem também o Bar da Joelma e o da Cida). Rouxinol dormia embaixo de um pé de carambola e nunca saía do morro, embora chegasse até a calçada da praça Correia de Mello, onde começa a subida.

O mascote se foi, de forma natural, e agora restam os cachorros e galinhas que atravessam o caminho no vaivém da escadaria. Os moradores dizem gostar de morar lá, mas reclamam da dificuldade imposta pela longa e inclinada subida, ladeada por bambuzais. "Aqui só não estou gostando da subida", diz José Candido, 70 anos, morador recente.

O problema é subir com compras, material de construção, criança no colo. O bondinho cobra do morador R$ 2,50 (para turista a tarifa de ida e volta é R$ 19,00), mas nem sempre o dinheiro sobra no bolso. O jeito é se sustentar nos braços ou pagar um dos carregadores que ganham a vida subindo com mercadorias.

O preço depende da altura e do material. Um botijão de gás sai por R$ 10,00, mas material de construção pode dobrar o custo, conta Cristina Gonçalves Oliveira, 23 anos
[foto 4]. "Se a gente paga R$ 100,00 por uma quantidade de areia, eles cobram outro valor igual para subir".

A dificuldade pode ter seu lado bom. Para o comerciante Joaquim Juca
[foto 7], há mais de 30 anos no morro, o difícil acesso é o que garante o sossego. "Aqui não sobe carro, tem que encarar os degraus, movimento tem um pouco nos finais de semana e cresce mesmo só agora na festa". Durante o ano a freqüência do bar é garantida pelos moradores, que fazem ponto de parada para uma cervejinha na volta do trabalho.

No morro parece ainda imperar o respeito à moda antiga, do tempo em que com morador ninguém mexia. "Aqui ninguém bole com ninguém", fala Josenete Rosa de Lima
[foto 6], que reside há mais de 30 anos no lugar. Anderson, 27 [foto 3], conhecido como Barriga, concorda. "É sossegado". Pelo jeito até demais. Em sua lojinha de material de limpeza e pequenos brinquedos a compra ainda é feita fiado, anotada em caderneta. "É difícil viver disso", admite.

Os visitantes costumam aparecer mais nos finais de semana, mas há aqueles habituais, levados pela fé como o professor Francisco Alves Filho, 58 anos
[foto 5]. Ele nasceu prematuro e foi batizado na Capela de Nossa Senhora do Monte Serrat por promessa de sua mãe. "Não estamos aqui sem uma razão, tudo é desafio, mas com Deus dentro de você é mais fácil de levar, independente de religião". Francisco mora no Marapé, freqüenta a Paróquia de São Judas Tadeu, mas todo mês sobe o morro para agradecer.

Fotos: Leandro Amaral, publicadas com a matéria, na página 11

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