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Caneleira (bairro e morro) (1)

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Matéria publicada no jornal santista A Tribuna, na página A-8 da edição de quarta-feira, 11 de janeiro de 2011:

Mapa do perigo

Imagem publicada com a matéria

Sob risco de tragédia, famílias são retiradas do Morro do Tetéu

Respaldada por liminar judicial expedida na sexta-feira, equipe da Defesa Civil desocupou as casas situadas na encosta da elevação

Da Redação

O trabalho de retirada de todos os pertences de 26 famílias do Morro do Tetéu, no Bairro Caneleira, em Santos, começou ontem,nas primeiras horas da manhã. Móveis, eletrodomésticos, aparelhos de som, guarda-roupas, brinquedos e objetos pessoais dos moradores que tiveram de deixar suas residências acumulavam-se na Rua das Pedras.

A mudança é forçada. A Prefeitura obteve na última sexta-feira uma liminar na Justiça determinando a desocupação em até 72 horas das 26 moradias construídas na encosta da elevação, considerada um dos pontos de maior risco de deslizamento na Cidade. "A qualquer momento poderia acontecer uma tragédia", argumentou o coordenador da Defesa Civil do Município, Emerson Marçal.

As casas agora desocupadas, nos becos 62 e 72, estão ameaçadas por qualquer escorregamento. Marçal afirmou que os moradores já vinham sendo notificados do risco do local há três meses, com orientação para deixarem suas casas.

O Município entrou com ação judicial para exigir a saída obrigatória. Isso foi feito porque, em 2010, ocorreram três deslizamentos de terra naquela área. Não houve vítimas, mas os episódios serviram para acionar o sinal de alerta contra uma iminente tragédia.

Na forte chuva do último dia 2, ocorreu outro deslizamento, assustando os moradores. Ontem, diante de ordem judicial, eles não tiveram outra opção a não ser recolher seus pertences e deixar as casas, instaladas sobre rochas e terra batida em terreno bastante desnivelado.

Localizadas em área de risco, as residências estavam na iminência de ser destruídas por deslizamentos

Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

Todos os objetos de valor foram levados por kombis da Prefeitura, cadastrados e armazenados em galpão público.

Os 68 moradores que viviam nas residências desocupadas tiveram três opções, conforme orientação da Secretaria de Assistência Social: ficar em casas de parentes, amigos ou vizinhos, ir para o abrigo provisório preparado pelo Município no Centro Esportivo M. Nascimento Júnior (no Bom Retiro) ou lugar outra moradia.

Para esta última opção, a Prefeitura libera um auxílio-aluguel de R$ 400.

"Tenho conta pra pagar até 2012 por causa da reforma que estou fazendo em casa. E agora tenho que tirar tudo", lamentou Rosângela Rosa de Souza, empregada doméstica de 29 anos, que morava até ontem em uma casa de alvenaria, a menos de 10 metros da encosta do morro.

"Eu me sinto pior do que um bicho abandonado, porque animais, quando são mal tratados, pelo menos têm apoio de algum órgão de proteção. A gente não tem nem direitos humanos". Com o filho, de 8 anos, e a mãe, Rosângela não tem para onde ir e buscará abrigo no M. Nascimento.

Pertences do lado de fora, aguardando a retirada: cena de desolação

Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

Os moradores que forem para o local ficarão alojados na quadra poliesportiva. As refeições são fornecidas pela Secretaria de Educação e o cadastramento das famílias também é feito no local. Até o final da manhã de ontem, apenas quatro famílias foram para o abrigo.

"É uma solução emergencial, mas não dá para dizer até quando", disse o coordenador de Alta Complexidade da Assistência Social, Carlos Alberto Pinto. "Para as famílias que conseguirem um local para alugar, vamos liberar o auxílio mediante a documentação, direto para o proprietário, quando a família se mudar".

Morador de uma das casas desalojadas, o caminhoneiro Damião Jacob da Silva teve sorte e conseguiu um local para alugar. "É muito difícil. Se tem criança, é pior ainda. Quando fala que a Prefeitura que vai pagar, então, muita gente nem quer conversa".

Porém, enquanto o proprietário não libera o imóvel, ele vai ficar alojado na igreja do bairro. Damião lamenta o abandono das famílias do Tetéu pelo poder público. "Me sinto um lixo. Não tem projeto (de novas moradias) para o pessoal do dique? Tem. Então a gente também quer ser lembrado. A gente também é daqui".

Rosana teve de sair com a mãe e o filho: "Me sinto pior que um bicho"

Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

"Por que deixaram ocupar?"

"Se já sabiam que isso aqui é área de risco, que pode desabar, por que não retiraram as pessoas antes? Por que deixaram as pessoas ocuparem?". Ela repete: "por que deixaram ocupar?". O questionamento parece simples e vem de gente igualmente simples, mas com o bom senso tão necessário para entender o que acontece na Cidade.

Dercy Dias Santos, 51 anos, também moradora do Tetéu, vai abrigar a filha Denise, que teve de sair de sua casa ontem por força judicial de uma liminar. Denise saiu do lar materno para morar em um barraco mais próximo da encosta com o filho e, agora, vai ter que fazer o caminho inverso.

"A gente gastou R$ 5 mil para comprar e mais R$ 6 mil na casa. Peguei dinheiro emprestado. Muita gente aqui que morava em casa de madeira batalhou pra investir em uma de bloco e depois de tantos anos eles dizem que tem que sair por causa do risco?"

A indignação de Dercy faz sentido quando se sabe que a ameaça é antiga. A própria Defesa Civil lembrou que aquele ponto já foi palco de um grande deslizamento em 1956.

"Pela carta geotécnica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), aquela é uma região de risco muito alto", enfatizou Emerson Marçal, coordenador da Defesa Civil. Há outros 53 pontos igualmente perigosos nos morros de Santos e mais 587 considerados de risco alto.

"Pode acontecer amanhã, como pode acontecer daqui a um mês. Mas não temos poder de polícia para tirar as famílias. Nosso trabalho é monitorar e orientar. Recentemente conseguimos retirar 11 famílias e outras três do Monte Serrat, que também corriam risco. Essa medida judicial (para remoção no Tetéu) é como a última conseqüência para preservar a vida das pessoas", afirmou ele.

Na área evacuada ontem, há grande possibilidade de escorregamento tanto de terra quanto de rochas. "A amplitude da encosta é muito grande e há blocos rochosos que se destacam. Além disso, a ocupação é imprópria", explicou o geólogo da Defesa Civil Marcos Pellegrini Bandini.

Marçal afirmou que o órgão vai manter o local interditado mas as casas serão mantidas, pois a Justiça não autorizou a demolição.

"Estamos analisando outros pontos da Caneleira (ao lado do Morro do Tetéu) para ver se cabe intervenção ou retirada urgente".

Algumas famílias foram para o Centro Esportivo M. Nascimento Júnior

Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

ALAGAMENTOS

Os 63 milímetros de chuva que caíram entre a noite de segunda-feira e a madrugada de ontem voltaram a provocar alagamentos em diversos pontos da Cidade. O temporal foi típico de verão, motivado pelo forte calor que predominou durante todo o dia. Com isso, o índice pluviométrico de janeiro nos 10 primeiros dias do mês alcançou 272 mm, ou 82% da média histórica das últimas duas décadas, que é 330 mm. Se o ritmo de chuvas for mantido como neste início de ano, 2011 deve ultrapassar o índice de 2010, de 640 mm, já bem acima da média. Os morros permanecem em estado de atenção.

Trechos do solo com enormes rachaduras causadas pelas chuvas foram considerados um sinal de alerta

Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

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