Ybarra y Cia., bandeira social azul com um V e um A brancos, entrelaçados em pontas invertidas, significando a união de
empresários de duas regiões marítimas da Espanha: bascos ou vascos (em espanhol) e andaluzos (originários da Andaluzia). Sede social em Sevilha, porto da região de suas emcarcações: Cadiz; navios
pintados com casco preto, superestrutura e mastros brancos, chaminé negra com as iniciais V e A em cor branca. Após a guerra (1945), seus transatlânticos levaram casco de superestrutura em cor branca.
Armadora de navios de carga desde 1860 e de passageiros a partir de 1926, começou, a partir de 1885, a dar o prefixo Cabo a todos os nomes de seus navios, prefixo este seguido por nomes destes pontos
geográficos costeiros situados na Europa e nas Américas. O primeiro deles foi o Cabo Ortegal, de 1.551 toneladas.
Em 1890, a frota da armadora era composta, além do citado, de outros 15 vapores, o maior dos quais foi um primeiro Cabo San Antonio, de 1.756 toneladas de arqueação bruta (t.a.b.).
Destes 16 vapores, dez já levaram nomes com o prefixo Cabo, enquanto os outros seis eram pequenos vapores incorporados à frota antes de 1885. Dentre estes seis, destacaram-se o Italica, construído em
1860 e primeiro navio da armadora.
Nesses idos (última década do século XIX), a sede da empresa ficava na Calle San José nº 5, em Sevilla.
Em 1905, a Ybarra era proprietária de 24 vapores, 19 dos quais tinham nomes iniciando com Cabo. Nessa data, o pioneiro Italica ainda fazia parte da frota, da qual o maior vapor em tonelagem era o
cargueiro Cabo Palos.
Em 1912, o número de navios de sua propriedade já havia subido para 30 unidades, que representavam cerca de 47 mil toneladas de arqueação bruta, o que significava que a Ybarra era a quarta maior armadora de seu
país por tonelada de registro, porém segunda pelo número de navios.
Passageiros - Em 1918, após o término da Primeira Guerra Mundial, a armadora sevilhana contava com 27 navios, não tendo perdido nenhum por causas bélicas durante o conflito.
Foi somente no decorrer da década de 1920 que esta armadora espanhola decidiu entrar no tráfego do transporte de passageiros. Dispondo até então de uma frota tão somente composta por cargueiros, a Ybarra adquiria
de segunda mão o navio misto de construção sueca Hemland.
Após trabalhos de adaptação, este navio a motor saiu de Gênova, em fins de maio de 1926, para Nova Iorque. Levava na proa seu novo nome, Cabo Tortosa, e quatro centenas de passageiros emigrantes.
Após a realização de tão somente três viagens redondas no Atlântico Norte, o Cabo Tortosa foi transferido para a Rota de Ouro e Prata, realizando a primeira viagem da armadora na linha de passageiros
para a América do Sul em janeiro de 1927.
Em pouco tempo, os responsáveis da Ybarra perceberam as potencialidades deste novo serviço: no decorrer desse mesmo ano, a armadora colocava em função dois recém-completados navios mistos: Cabo Palos e
Cabo Quilates (construídos em Bilbao pelo estaleiro Euskalduna), o primeiro realizando sua viagem inaugural entre Gênova e Buenos Aires, via escalas intermediárias, em fevereiro, e o segundo, na mesma rota, em março.
O sucesso comercial desse novo par de navios e o constante aumento da demanda de tráfego entre a Europa e a América Latina prontificaram planos de expansão e o aparecimento de novas unidades.
Encomendas - Em novembro de 1928, em assembleia extraordinária, os acionistas da empresa votaram a favor do projeto de construção de três transatlânticos com capacidade intermediária e mista, destinados à
linha sul-americana.
A encomenda foi confiada à Sociedad Española de Construcción Naval, de Bilbao, e resultou no aparecimento de um magnífico trio: Cabo San Antonio (viagem inaugural em abril de 1920); Cabo San Agustin
(idem, em setembro de 1932) e Cabo Santo Tomé (em janeiro de 1932).
Guerra civil - A partir de meados de 1936, na Espanha, o braço de ferro entre simpatizantes nacionalistas e republicanos passou do campo político para o das armas. A intervenção de potências externas
(Rússia, França, Alemanha e Itália) agravou a situação espanhola, a tal ponto que a insurreição se tornou uma verdadeira guerra civil.
Toda a marinha mercante da Espanha foi envolvida pelo conflito, seus navios passando para o controle dos beligerantes. A enorme frota da Ybarra caiu ou passou em mãos das Forças Republicanas. Eram 23 navios no
total, cinco de passageiros e 18 cargueiros.
Dentre os cinco primeiros mencionados, só o Cabo San Antonio permaneceu em poder da armadora após o término da Guerra Civil, em princípios de 1939. Dos outros quatro, dois foram vítimas de ações bélicas,
afundando, em consequência.
O Cabo Palos foi torpedeado em junho de 1937 pelo submarino nacionalista General Mova, desaparecendo ao largo de Alicante. O Cabo San Tomé foi atacado por dois contratorpedeiros nacionalistas,
quando navegava de Odessa para Barcelona, levando em seus porões carga de munições e diversos aeroplanos de combate. Incendiado pelos projéteis, o navio literalmente desapareceu em gigantesca explosão, ocorrida no dia 10 de outubro de 1937.
O Cabo Quilates e o Cabo San Agustin foram apreendidos no início de 1939 pelos soviéticos, respectivamente nos portos de Odessa e Teodósia.
O Cabo San Agustin, sob o nome de Dnepr e bandeira soviética, desaparecia, em outubro de 1941, no Mar Negro, após ter sido bombardeado por aviões alemães. O Cabo Quilates chegaria ao seu fim em
janeiro de 1948, no Pacífico, quando navegava sob o nome de Dvina e o pavilhão da foice e do martelo.
"Cabo San Agustin - Muitos imigrantes espanhóis e portugueses chegaram ao Brasil a bordo dos navios da Ybarra y Compañia, como o Cabo San Agustin, que aparece neste cartão-postal
de 1934, emitido em comemoração ao XXXII Congreso Eucarístico Peregrinación Oficial Española, que se realizou nesse ano no Teatro Colón, em Buenos Aires. O postal foi enviado de bordo para um morador de Porto Alegre. No verso constava o cardápio de
quarta-feira do navio, com café da manhã (café com leite, pão, marmelada e manteiga), almoço (macarrão à italiana, ovos a vinagrete, carneiro à milanesa, sobremesas, pão e vinho) e jantar (frios sortidos, salada russa com peixe frio, bifes de porco
com salada, duas sobremesas, pão e vinho). O Cabo San Agustin foi construído em 1931 para a linha entre Gênova, Marselha, Montevidéu e Buenos Aires, passando também por Santos. Tinha camarotes de segunda classe para 12 pessoas e de terceira
para 500. Com 11.868 toneladas, tinha 147,05 metros de comprimento e duas chaminés com o símbolo da Ybarra. Como diz o pesquisador marítimo Laire José Giraud, 'era um tipo de navio muito elegante da companhia espanhola, representada em Santos pela
agência Troncoso Hermanos, que tem o engenheiro Pedro Troncoso como descendente da família proprietária dessa agência, muito conhecida no passado'. Outros navios da mesma companhia eram o Cabo San Antonio e Cabo San Tomé, e depois,
nos anos de 1950 e 1960, Cabo San Roque e Cabo San Vicente".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso:
21/8/2006)
"Cabo San Roque - A empresa espanhola Ybarra y Compañia, fundada em 1860, ficou conhecida como a dona dos navios que tinham nomes de cabos, principalmente da Espanha. Assim foi com o
Cabo San Roque, que aparece neste cartão-postal, irmão-gêmeo do Cabo San Vicente. Os dois fizeram inúmeras viagens para o Brasil trazendo imigrantes espanhóis e portugueses, entre 1957 e os anos de 1970. O San Roque sofreu
violento incêndio em Ferroll, perto de Coruña, no dia 24 de janeiro de 1977. Foi vendido para uma empresa grega e passou a chamar-se Golden Moon, viajando sob a bandeira do Chipre. Um ano depois foi vendido para Cuba e rebatizado como
Africa-Cuba. Tinha 14.491 toneladas, 169,55 metros de comprimento e acomodações para 241 pessoas em cabinas e 582 na classe turística. O gêmeo Cabo San Vicente foi vendido em 1975 para uma empresa da Índia e rebatizado como Noor Jehan".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso:
21/8/2006)
Na década de 1970, o transatlântico espanhol Cabo San Roque deslizando suavemente pelo canal do Porto de Santos. Fazia par com o Cabo San Vicente
Foto: acervo do cartofilista Laire José Giraud,
publicada na rede social Facebook em 9/6/2014
O Cabo San Vicente, da Ybarra, no cruzeiro de 1966 à Terra do Fogo (Patagônia)
Foto: acervo do cartofilista Laire José Giraud,
publicada na rede social Facebook em 28/7/2014
|