O transatlântico da Companhia colonial começou a operar em 1952
José Carlos Rossini
Colaboração: Laire José Giraud (*)
Vera Cruz! Nome mágico para um dos grandes transatlânticos de lenda que singraram a Rota de Ouro e Prata!
Grande entre os gigantes dos mares, levou seu nome e a bandeira de Portugal ao ápice do serviço marítimo comercial de passageiros entre os portos de Lisboa, Rio de Janeiro, Santos e Buenos Aires.
Este artigo sobre o Vera Cruz encerra o primeiro ciclo desta coluna (publicada pela primeira vez em dezembro de 1991, Rota de Ouro e Prata narrou, em quatro anos seguidos as histórias de 111
transatlânticos de passageiros, de três cargueiros, de três portos de escala da rota - Rotterdam (Holanda), Gênova (Itália) e Le Havre (França) - e flashes históricos retroativos sobre cinco diversas épocas do Porto de Santos, perfazendo um
total de 155 artigos publicados no período) e se quer como uma homenagem à Nação portuguesa, a seus filhos, expatriados ou não, e aos laços de sangue e de história que unem, desde a época do Descobrimento, a terra portuguesa à terra brasileira,
terra de Vera Cruz, como foi denominada pelos intrépidos navegadores portuguesas que aproaram em nome do rei lusitano.
Mais do que o relato da vida útil de um transatlântico, este artigo é um desfilar de fatos saudosos de recente memória para toda uma geração de portugueses e brasileiros nascidos nos idos dos anos 40 deste século
(N.E.: século XX).
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Este artigo é um desfilar de fatos saudosos de recente memória |
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Tudo começou quando o Vera Cruz largou suas amarras ao cais da Estação Marítima de Passageiros da Rocha do Conde de Óbidos, na tarde, já primaveril, de uma quinta-feira, dia 20 de março de 1952.
Era o início de sua viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata e que o levaria a atravessar os dois Atlânticos, Norte e Sul, com destino aos portos sul-americanos do Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos
Aires.
A partida do Vera Cruz, na viagem inaugural, em 20/3/1952,
rumo à América do Sul, foi vista por inúmeras pessoas
Foto: reprodução, publicada com a matéria
A Companhia Colonial de Navegação (CCN) - de cujas origens já tratamos nesta coluna, em 5 de novembro de 1992 -, ao finalizar-se a guerra na
Europa em 1945, encontrava-se tendo em seus ativos um trio de navios envelhecidos e desgastados pelo uso de mais de três décadas e cuja construção era anterior à Primeira Guerra Mundial.
Este trio era composto pelos vapores Colonial, Serpa Pinto e Mouzinho, navios que, embora de construção sólida e bem mantidos, estavam totalmente ultrapassados em
técnica e conforto.
Beneficiando-se da tomada de consciência do governo português quanto à necessidade de ser dada ao país uma marinha mercante digna deste nome e dos benefícios econômicos derivados da abertura dos cofres do Estado
(através do denominado Despacho nº 100 do Ministério da Marinha), a CCN pôde encomendar, no final de 1945, ao Estaleiro John Brown, de Clydebank, na Escócia, a construção de dois transatlânticos de capacidade intermediária que levariam mais tarde
os nomes de Pátria e Império.
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A capacidade de passageiros do Vera Cruz era
de 1.242 pessoas em três classes |
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Com a entrada em serviço desses dois navios na linha entre Portugal e as suas colônias da África em meados de 1948, abriu-se uma nova era na secular tradição marítima lusitana.
Apareceram no ano seguinte o par de navios gêmeos Angola e Moçambique, ordenados a estaleiros ingleses pela Companhia Nacional de Navegação (CNN), seguidos mais tarde por toda uma série de navios de
dimensões maiores que levavam nomes como Zambezi, Lurio, Índia, Timor, Alfredo da Silva e Ana Mafalda, todos destinados à carreira do Oriente.
Para poder cumprir a determinação governamental de cobrir os serviços marítimos de passageiros entre Portugal e Brasil e visto a condição de seus três existentes paquetes, a CCN passou ordens para a construção de
duas grandes unidades aos Estaleiros S.A. John Cockrill, de Hoboken (Bélgica). Em agosto de 1949, foi encomendado o navio que seria denominado Vera Cruz e em abril de 1951, o que receberia o nome de Santa Maria.
Encontro dos navios gêmeos Vera Cruz (ao fundo) e Santa Maria (em primeiro plano) no Brasil
Foto: reprodução, publicada com a matéria
Para os detalhes técnicos relativos à construção e às características desses dois novos transatlânticos, faremos uso do texto do excelente livro do jovem historiador marítimo português Luís Miguel Correia, que leva
como título: Paquetes Portugueses (publicado em Lisboa em 1992 pelas Edições Inapa), do qual transcreveremos a seguir passagens correspondentes ao Vera Cruz e ao Santa Maria:
"De concepção extremamente avançada para a época, o Vera Cruz e o Santa Maria foram os primeiros paquetes portugueses, uma vez que todos os navios de passageiros anteriores eram
unidades mistas de passageiros e carga.
"Pelas suas dimensões e características, o Vera Cruz e o Santa Maria eram grandes paquetes de prestígio, cuja imponência e elegância representavam condignamente Portugal em qualquer
porto do mundo.
"A construção destes navios marcou um período de ressurgimento da marinha de comércio nacional, que, passados 40 anos, podemos classificar como a fase de maior desenvolvimento da história dos
transportes marítimos portugueses desde a introdução do vapor.
"Sem querer pôr em causa as limitações do setor, que existiam efetivamente, foi possível renovar a nossa frota mercante com a aquisição de navios novos, adequados às necessidades do país, de que o
Vera Cruz e o Santa Maria foram os melhores exemplos.
"Ligado a estas realizações, é justo referir o então ministro da Marinha, comandante Américo Thomaz, conhecedor profundo dos assuntos ligados à marinha mercante, a cujo desenvolvimento dedicou perto
de duas décadas de trabalho.
"Com cerca de 20 mil toneladas, 20 nós (37,5 quilômetros horários) de velocidade e lotação para 1.200 passageiros, os gêmeos Vera Cruz e Santa Maria marcaram uma época.
"A concepção e planejamento do Vera Cruz obrigaram os técnicos do Estaleiro John Cockrill a 86 mil horas de trabalho.
"A pré-fabricação começou no início de 1950, tendo-se procedido o assentamento da quilha do Vera Cruz em 13 de maio deste ano.
"O navio foi lançado à água a 2 de junho de 1951, efetuando-se na mesma data o assentamento da quilha do Santa Maria. Foi madrinha do Vera Cruz dona Gertrudes Thomaz, esposa do
ministro da Marinha.
"Nesta mesma data, foi ainda assente a quilha do cargueiro Sena, destinado igualmente à Colonial e construído também no Estaleiro Cockrill.
"Na carreira paralela àquela em que foram construídos o Vera Cruz e o Santa Maria, encontrava-se, em fase adiantada de construção, o casco do navio-tanque Bornes, de 16.800
toneladas de porte bruto (tpb), destinado à Soponata.
"Na construção do Vera Cruz, foram utilizadas 8 mil toneladas de aço e 150 toneladas de alumínio, sendo instalados no navio 240 quilômetros de cabos elétricos e 96 quilômetros de
encanamentos.
"Estiveram envolvidos na construção do Vera Cruz cerca de 1.000 técnicos e operários, que trabalharam durante 18 meses.
"Navio-almirante da marinha mercante portuguesa e da frota da Companhia Colonial de Navegação, o Vera Cruz foi entregue à CCN a 23 de fevereiro de 1952, no porto de Antuérpia (Bélgica),
depois de concluir com êxito as provas de mar.
"Além de ser o maior navio português, o Vera Cruz era também a maior unidade até então construída na Bélgica, tendo assistido à cerimônia de entrega do paquete as individualidades mais
importantes daquele país.
"Comandado por Hilário Filipe Marques, o Vera Cruz deixou Antuérpia a 28 de fevereiro, chegando a Lisboa a 2 de março de 1952.
"Durante a estadia no Tejo, o Vera Cruz foi visitado pelas grandes figuras do regime, com destaque para o presidente da República, general Craveiro Lopes, presidente do Conselho de Ministros,
dr. Antônio de Oliveira Salazar.
"Com 21.765 toneladas de arqueação bruta, o Vera Cruz tinha 185,75 metros de comprimento fora-a-fora, 23 metros de boca (largura) e 15,80 metros de pontal.
"O navio estava equipado com dois grupos de turbinas Parsons, desenvolvendo a potência de 25.500 cavalos-vapor e atingindo a velocidade máxima de 23 nós (42,6 quilômetros horários). A velocidade de
cruzeiro era de 20 nós.
"Cada um dos dois hélices de três pás do paquete pesava 16 toneladas e o Vera Cruz consumia 140 toneladas de fuel oil (óleo combustível) e 200 toneladas de água por cada dia de
navegação.
"Foram instalados a bordo os mais modernos aparelhos de ajuda à navegação, nomeadamente agulha giroscópica, piloto automático, odômetro elétrico, radar com alcance de 30 milhas (55,5 quilômetros),
radiogoniômetro, sonda e radiotelefone.
"O Vera Cruz dispunha de alojamento para 1.242 passageiros instalados em 289 camarotes, distribuídos em três classes: 148 passageiros em primeira classe, 250 em segunda, 844 na terceira
classe.
"Os interiores deste paquete eram considerados luxuosos para a época, incluindo numerosos salões, bares, cinemas, jardim de inverno, duas piscinas e amplos tombadilhos e solários, hospital com cinco
enfermarias, salas para crianças e todas as facilidades consideradas necessárias para um grande transatlântico, incluindo ar condicionado.
"Henri Boulanger e Andrade Barreto foram os responsáveis pela decoração dos interiores do Vera Cruz, em que colaborou grande número de artistas portugueses.
"No seu conjunto, os interiores do Vera Cruz proporcionavam um ambiente luxuoso e confortável, mas pesado, traduzindo o gosto da época e um certo conservadorismo estético, em contraste com
uma muito maior simplicidade e profusão de cores dos paquetes Augustus e Giulio Cesare, construídos na mesma época na Itália, igualmente para a carreira da América do Sul.
"O Vera Cruz tinha 350 tripulantes, dentre os quais 38 oficiais."
As linhas do Vera Cruz indicavam alta tecnologia, aliada à tradição de luxo dos navios portugueses
Foto: reprodução, publicada com a matéria
Muitos estão lembrados, ou já ouviram falar, da grandiosa despedida do Vera Cruz ao deixar Lisboa em viagem inaugural, rumo ao Brasil. Mas, poucos sabem como foi a recepção do outro lado do Oceano Atlântico.
A primeira escala do Vera Cruz ao Brasil deu-se no sábado, dia 29 de março de 1952, no Rio de Janeiro. Como a Imprensa havia noticiado com antecedência a chegada do famoso transatlântico, a cidade despertou
cedo, milhares de pessoas aglomeraram-se na Praça Mauá e nas proximidades do porto.
Devido a forte nevoeiro, houve um atraso e somente após as 12 horas foi feita a atracação do tão esperado paquete português.
Brasileiros e portugueses, sob sol ardente, esbanjavam alegria, sem conter seu entusiasmo. Nunca um navio de qualquer nacionalidade foi tão bem recebido.
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Em 1949, foi encomendado o navio que se chamaria Vera Cruz |
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Ainda na Baía da Guanabara, o navio todo engalanado, sob comando de Hilário Filipe Marques e tendo a bordo o armador Bernardino Corrêa, viu-se cercado de várias embarcações, que apitavam incessantemente. O que era
prontamente respondido pelo Vera Cruz, como que saudando a terra amiga, que por sua vez se enchia de sol para recebê-las à altura.
Bandeiras portuguesas e brasileiras estavam desfraldadas em seus mastros. Da terra os rojões estouravam, dando um tom festivo. A alegria era geral.
No local de atracação, bandas tocavam seus dobrados, e a orquestra de bordo retribuía. No cais, o povo explodia de júbilo e entusiasmo, e a bordo acontecia o mesmo.
Os passageiros que desciam do navio foram recebidos com muito carinho e amizade por parte dos curiosos que foram assistir ao "espetáculo".
A bordo vinham várias autoridades e celebridades, a convite da Companhia Colonial de Navegação (CCN). Entre elas o almirante Gago Coutinho, os senhores comandantes Enrique Tereiro, Pereira Viana e Francisco Fialho;
o coronel Antônio Manuel Batista; o capitão Teófilo Duarte e outras pessoas de destaque, além de jornalistas dos principais jornais de Portugal.
Também a rainha do fado Hermínia Silva e a Missão Cultural Portuguesa, formada por escritores, professores e historiadores, que foi o alvo de homenagens dos círculos intelectuais do Rio de Janeiro.
As solenidades oferecidas pelos brasileiros aos ilustres visitantes portugueses foram tantas que é quase impossível enumerá-las.
Entre elas, o banquete do Itamarati, as recepções na Academia Brasileira de Letras, na Reitoria da Universidade do Brasil, no Clube Ginástico Português, no Liceu Literário Português.
O presidente do Brasil, à época, Getúlio Vargas, acompanhado de sua esposa, Darcy Vargas, almoçou a bordo do Vera Cruz, a convite da embaixada de Portugal.
Com grande jantar oferecido pela CCN, à colônia portuguesa e à sociedade carioca, foram encerradas as comemorações. O armador Bernardino Corrêa, em breves palavras, saudou os portugueses e brasileiros, de quem
tantas atenções recebeu.
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Presidente Vargas visitou o transatlântico no Rio de Janeiro |
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O maior paquete português da época navegou rumo a Santos, na madrugada de 3 de abril (quinta-feira), chegando à barra por volta das 13 horas.
Guardadas as devidas proporções, a recepção calorosa dada ao Vera Cruz em Santos não ficou devendo muito à do Rio, pois milhares e portugueses e brasileiros, vindos de São Paulo, reuniram-se com seus
conterrâneos residentes em Santos para festejar e testemunhar o acontecimento.
Por volta de 14 horas, o novíssimo transatlântico é abordado pela lancha do Serviço de Praticagem, e a bordo sobe Gérson da Costa Fonseca, que na época era prático preferencial da CCN, através de seu agente em
Santos, a Companhia Comercial Marítima.
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Além de ser o maior navio português, era o maior feito na Bélgica |
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Hoje aposentado, Gérson da Costa Fonseca ainda lembra com emoção aqueles momentos, quando conduziu o Vera Cruz estuário a dentro, até o cais do Armazém 15.
"Em 40 anos de atividade em Santos como prático, nunca vi nada igual, como a chegada do Vera Cruz. Conduzir o navio pelo canal do porto, através da grande manifestação de júbilo popular, com milhares e
milhares de pessoas acenando das amuradas da Ponta da Praia, outras embarcações apitando e os gritos emocionados de alguns passageiros, tudo isto deixou-me uma recordação inigualável", diz o ex-prático do porto.
Após a atracação no cais próximo ao Armazém de Bagagem, o transatlântico foi aberto para visita de autoridades, convidados especiais e representantes da Imprensa paulista e santista, aos quais foi oferecido o
tradicional aperitivo de boas-vindas.
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Nenhum navio da época foi festejado como o Vera Cruz |
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No dia 4, o navio foi aberto para o público em geral e grandes filas se formaram no cais para as pessoas que queriam visitar o novo orgulho da marinha mercante de Portugal.
No dia seguinte, a empresa armadora ofereceu um almoço a bordo às principais autoridades de Santos, comparecendo o então prefeito municipal, Francisco Luiz Corrêa; o presidente da Câmara Municipal, Antônio Moreira;
o capitão dos Portos do Estado de São Paulo, comandante Raja Gabaglia; e outras personalidades de destaque.
À noite, a CCN ofereceu banquete de gala ao governador do Estado de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez, acompanhado da esposa, do chefe do cerimonial do Palácio Campos Elíseos e dos secretários do Governo em várias
pastas; do comandante da região militar e do capitão dos Portos.
Após dois dias e duas noites de permanência no Porto de Santos, o Vera Cruz zarpou em direção ao Rio da Prata, com escalas em Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina).
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O belíssimo transatlântico marcou época na Rota de Ouro e Prata. A sua chegada foi triunfal nos portos de Santos e Rio de Janeiro |
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Da data de sua viagem inaugural, até 1954, o Vera Cruz permaneceu servindo a Rota de Ouro e Prata ao lado do gêmeo Santa Maria, com saídas alternadas dos portos "cabo-de-linha", Lisboa e Buenos
Aires, a cada três semanas.
A partir de julho de 1954, o Vera Cruz passou a servir também a linha da CCN para a América Central, com escalas em Vigo (Espanha), Funchal (Ilha da Madeira), Tenerife (Ilhas Canárias), La Guaira (Venezuela),
Curaçao (Antilhas Holandesas) e Havana (Cuba).
Junto com o Santa Maria, alternaram-se, ora servindo a carreira do Caribe e América Central, ora cobrindo escalas na Rota do Ouro e Prata segundo as melhores necessidades operacionais e de rendimento
determinadas pela direção da armadora.
Em 1957 faleceu o fundador e animador principal da CCN, o armador Bernardino Corrêa, e nas viagens que estavam em curso, todos os navios da companhia colocaram a bandeira no mastro de popa (ré) a meio-pau.
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Transatlântico português chegou dia 3 de abril pela primeira vez ao porto de Santos |
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Em julho do ano seguinte, o transatlântico Santa Maria realizou sua primeira viagem com destino aos territórios coloniais portugueses da África, sendo seguido um ano depois pelo Vera Cruz, este com
destino a Angola.
Mas não era esta a primeira ocasião de uma passagem do Vera Cruz pelos portos portugueses na África, já que entre agosto e setembro de 1956 o transatlântico efetuou um cruzeiro périplo-africano. Saiu de
Lisboa em direção ao Atlântico Sul e retornou à capital portuguesa via Cidade do Cabo (África do Sul), Oceano Índico, Canal de Suez e Mediterrâneo.
Ao todo foram tocados 16 portos de escala, um dos quais, o de Lourenço Marques (hoje Maputo, Moçambique), onde teve que desembarcar Bernardino Corrêa, já afetado pela doença que lhe seria fatal meses mais tarde.
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A recepção também foi muito calorosa no porto de Santos |
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Com o deflagrar dos conflitos de liberação colonial em Angola e Moçambique, a partir de 1960, o Estado português viu-se na obrigação de reforçar militarmente as suas colônias na tentativa de conter e eliminar os
focos de resistência à ordem estabelecida.
Assim, no decorrer de 1961, várias unidades da marinha mercante de Portugal foram requisitadas pelo governo para servirem como transporte de tropas ou como navios de carga de material bélico.
O Vera Cruz não escapou à nova realidade e, ao retornar a Lisboa de sua viagem, a que seria na verdade a última, na Rota de Ouro e Prata (efetuada em março e abril daquele ano), o transatlântico foi
rapidamente adaptado para as funções de navio-transporte e posto sobre o controle operacional da Marinha de Guerra, sempre, porém, com as cores da CCN.
Seguiu-se a partir de então um longo período onde alternaram-se viagens sob o comando naval e viagens puramente comerciais, a maioria destas realizadas entre Lisboa e Lobito/Luanda (Angola).
Esta fase durou até 1971. Em janeiro do ano seguinte, o transatlântico, após realizar uma viagem como transporte de tropas, foi ancorado no Rio Tejo, aguardando-se a decisão sobre o futuro.
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Os dois navios permanecem na memória de portugueses e brasileiros |
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Tal decisão só foi tomada um ano mais tarde e ela marcaria o fim do transatlântico. Transcorridos apenas 20 anos de sua entrada em serviço, sendo portanto relativamente novo e ainda em condições de serviço, o
Vera Cruz foi vendido para desmonte e sucata a uma empresa empresa especializada de Taiwan.
Em 4 de março de 1973 largou pela última vez as amarras do cais de Lisboa com destino a Formosa, desaparecendo assim dos oceanos, mas não de nossa memória, que lhe guarda
recordação perene.
Um dos cartões postais da companhia mostrava o belo transatlântico chegando ao porto de Santos
Foto: reprodução, publicada com a matéria
(*) Laire José Giraud é despachante aduaneiro e pesquisador santista de assuntos marítimos. |