Após a incorporação em sua frota, em 1884, dos navios que haviam pertencido a Matteo Bruzzo & Co., e a compra, em 1887, do trio mexicano, ex-propriedade da Companhia Mexicana
Transatlântica, em 1887, a La Veloce pôde aumentar a oferta de espaço na Rota de Ouro e Prata, num momento em que diminuía o interesse da emigração para o Brasil e Argentina e quando, ao mesmo tempo, a própria empresa
solicitava autorização à Marinha Italiana para abrir uma nova linha, ligando a Itália aos países da América Central. Em julho de 1891, em decisão tomada por ocasião de uma assembleia geral
extraordinária, a La Veloce realizou a compra de seis unidades que pertenciam anteriormente à empresa Fratelli Lavarello Fu Giambattista, que não era outra senão a companhia fundada pelos filhos Enrico e Pietro, do falecido capitão Giovanni B.
Lavarello.
A Fratelli Lavarello, fundada em Gênova em 1886, na tentativa de continuar as atividades marítimas da família (que haviam sido descontinuadas, após o falecimento em 1881 de Giovanni Lavarello), encontrava-se em
dificuldades financeiras.
Estas eram agravadas pela diminuição, em 1889, do tráfego migratório para o Brasil (onde o clima de instabilidade política havia provocado o desinteresse provisório dos emigrantes) e para a Argentina (onde haviam
entrado em vigor normas restritivas à entrada de imigrantes).
Foram assim postos à venda os navios Rosario, Cittá di Genova, Adelaide Lavarello (rebatizado Rio de Janeiro), Giovanni Battista Lavarello (rebatizado Las Palmas),
Mentana (rebatizado Sud America II) e Cittá di Napoli (rebatizado Montevideo).
Com exceção do último mencionado, estes seis navios comprados pela La Veloce eram de tonelagem inferior a 2 mil t.a.b. e, consequentemente, capazes de transportar somente um número reduzido de passageiros. Todos os
seis entraram em serviço sob as cores da La Veloce para a América do Sul.
La Veloce anunciando a escala do vapor Rio de Janeiro,
na passagem do século XIX para o século XX
Perdas e encomendas - Entre 1888 e 1893, a companhia perdeu porém três dos seus navios: o Sud America, afundado ao largo de Las Palmas; o Europa, desmantelado por idade em 1893; e o Napoli,
encalhado em dezembro de 1893 nas proximidades da Ilha Grande, entre o Rio de Janeiro e Santos, e dado como perdido.
Quando, no verão de 1896, o governo italiano obteve a aprovação do Parlamento para a aplicação da Lei 308, que decretava subsídios para o desenvolvimento da marinha mercante e da construção naval, a La Veloce
decidiu encomendar cinco novos transatlânticos ao estaleiro N. Odero, de Sestri Ponente. Esses novos navios deviam servir à renovação da frota social, seja para a linha da América do Sul, seja para a linha da América Central - que havia iniciado a
operar em 1893, ligando os portos de Gênova e Nápoles a Santa Cruz de Tenerife, Barbados, La Guaira e Puerto Cabello (Venezuela), Sabanilla, Puerto Limon (Costa Rica) e Colón (Panamá).
O primeiro navio desta nova série foi o Savoia - cuja construção durou cerca de 16 meses, de maio de 1896 a setembro de 1897 - e os outros quatro receberam os nomes de Cittá di Milano, Cittá di
Torino, Venezuela e Centro America.
Os dois últimos iniciaram suas carreiras respectivamente em 1898 e 1897, ligando Gênova a Colón, mas a partir de 1899 foram transferidos para a Rota de Ouro e Prata. O Cittá di Milano e o Cittá di Torino
fizeram suas viagens inaugurais entre Genova e Rosário (Argentina), via Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires, nos anos de 1897 e 1898, permanecendo nessa rota até a aurora do século XX, quando foram colocados na linha do Atlântico
Norte, ligando Gênova a Nova Iorque.
Epidemia bovina - Em julho de 1900, um destes navios da La Veloce foi objeto de um fato curioso. Ao chegar a Santos, procedente de Buenos Aires e Montevidéu, o Cittá di Torino, que trazia um volume
lacrado com 20 mil libras ouro consignadas ao Banco Alemão, foi arrestado no porto pelas autoridades após denúncia de alguns passageiros de que, na travessia do Prata, haviam morrido a bordo dois bois, e que suas carnes haviam sido dadas aos
passageiros de terceira classe nas refeições. Temendo uma epidemia a bordo, o navio foi detido até que as autoridades sanitárias o considerassem apto para zarpar.
Desses quatro, o que teve vida mais breve foi o Venezuela, destruído após encalhar nas proximidades do porto de Marselha em 1908. Os outros foram demolidos por velhice, na década de 30.
O Savoia era um vapor de linhas elegantes que lembravam um iate
Imagem: reprodução, publicada com a matéria
Vida longa e atribulada - O Savoia também teve vida relativamente longa, tendo sido demolido em 1923. Suas atividades, porém, começaram mal, já que foram constatadas deficiências de caráter técnico,
que o levaram a ser reformado em Newcastle (Inglaterra), três anos somente após seu lançamento. Seus principais comandantes foram Burlando, Motta, Orengo, Bonsignore e De Barbieri.
A viagem inaugural para o Prata, sob o comando do capitão Mascazzini, aconteceu em outubro de 1897 e, em fevereiro de 1900, foi encompridado em 20 metros, sofrendo, ao mesmo tempo, uma reforma interna que aumentou
sua capacidade de passageiros, de 920 para 1.270 pessoas.
Sob o comando do capitão Burlando, saiu de Newcastle, após a reforma, em setembro de 1900, e no dia 28 do mesmo mês voltou ao serviço da Rota de Ouro e Prata, com capacidade aumentada para 5.279 toneladas.
Ferry-boat do porto italiano de Messina, em cartão postal pouco antes do terremoto de 1908
Terremoto - No mês de dezembro de 1908, a cidade de Messina (Sicília) sofreu violento e trágico terremoto, que provocou a morte de milhares de seus habitantes e deixou um grande número de pessoas sem teto. A
La Veloce colocou então, à disposição das autoridades locais, três navios - o Nord America, o Savoia e o Cittá di Napoli - para que pudessem servir como base de emergência, alojando milhares de desabrigados.
O Savoia foi o primeiro entre os navios italianos a ter sua primeira classe situada no centro do casco, pois até então a classe mais privilegiada era alojada à popa da embarcação. Outra distinção importante
foi a colocação de um sistema de aquecimento individual nas cabines, uma novidade para a época.
Estas inovações foram de autoria do arquiteto Garelli, que era, ao mesmo tempo, diretor do estaleiro Odero, onde o Savoia foi construído. Terceira grande novidade foi a instalação de guindastes elétricos
para a movimentação de cargas.
Com exceção dos poucos meses passados ao largo de Messina, o Savoia permaneceu na Rota de Ouro e Prata até o início da Primeira Grande Guerra, quando foi então empregado no Mediterrâneo, para o
transporte de tropas italianas, destinadas a lutar na Albânia.
Serviu também como navio-auxiliar em diversas missões para a Marinha de Guerra no curso do conflito. No fim deste, foi posto em naftalina no porto de Gênova, onde permaneceu até 1922 (ano em que realizou
duas viagens para portos da América Central, sempre por conta da La Veloce).
O Savoia foi vendido no outono de 1923, para demolição em Gadda - localidade próxima a Sestri Ponente, onde fora construído.
Guglielmo II na ponte de comando do navio Savoia durante a revista naval de 17 de outubro de 1888, em Nápoles, na Itália.
Imagem: desenho de G.Amato, no site Biblioteca Digitale (acesso: 7/7/2013)
Construído no estaleiro de Castellammare di Stabia, onde foi lançado em 23 de junho de 1883 com a patente de iate real, foi classificado na
Marinha Real Italiana como cruzador auxiliar de 2ª classe, sendo usado por 14 anos como um navio de representação e lazer para a família real italiana. Em 8 de setembro de 1892 estava ancorado em Gênova para comemorar o IV Centenário do
Descobrimento da América. Em 1895, a convite do imperador da Alemanha, o navio representou a Itália nas celebrações para a abertura oficial do canal de Kiel. Permaneceu em serviço operacional até 1897, quando foi vendido à empresa La Veloce e
transformado em navio de passageiros, com reconstrução de seu interior, alongamento de chaminé e outras modificações. Mantendo o nome Savoia, permaneceu em serviço até 1923, segundo a
Agenzia Bozzo (acesso: 7/7/2013) |