O H.H.Meier foi o primeiro e ao mesmo tempo o de maior tonelagem de uma série de 13 vapores ordenados pela NordDeutscher Lloyd (NDL),
no decorrer da última década do século XIX. Seu nome, uma homenagem ao fundador da empresa. O mesmo estaleiro que o construiu (Armstrong, Mitchell & Co., do porto de Walker-on-Tyne, na Inglaterra)
recebeu ordens para a construção de dois outros vapores, que receberam os nomes de Roland e Mark.
Outro estaleiro da mesma localidade (Wigham Richardson & Co.) foi incumbido da construção do Pfalz, enquanto diversos estaleiros alemães receberiam, a partir de 1893, ordens para os outros nove dessa série
não similar.
De guerra, não! - Este estaleiro, situado numa das curvas do rio Tyne, na localidade denominada Walker, havia sido fundado pelo senhor John Wigham Richardson em 1860 (quando John contava com apenas 23 anos
de idade!) e ficaria na história da navegação a vapor como o estaleiro construtor de transatlânticos famosos, tais como o Alfonso XII (de 1888), da Companhia Transatlântica de Barcelona, ou o Hornby Grange (de 1889), que seria o
primeiro navio a vapor frigorificado, construído para a Houlder Line.
Seu fundador, sendo um quaker (quacre) pacifista, recusava-se a aceitar ordens de construção de navios de guerra!
O Pfalz seria o sexagésimo quinto navio a ser registrado em Bremen (Alemanha) sob o pavilhão branco com os símbolos da âncora e da chave da NDL, para a Rota de Ouro e Prata.
Quando foi lançado ao mar em 1893, era então presidente da empresa o senhor Heinrich Wiegand, que havia assumido sua função em abril do ano precedente, em substituição ao senhor Johann Lohmann, e que permaneceria
nesse prestigioso cargo até seu falecimento, em 1909.
Bremen foi o porto de registro de todos os navios pertencentes ao NordDeutscher Lloyd
Uma centena - Seria sob a sua férrea conduta que a armadora atravessaria seu período de ouro na história marítima alemã. Entre 1892 e 1909, foram construídos ou adquiridos nada menos do que uma centena de
vapores por conta da NDL, alguns de prestígio mundial, como o Barbarossa, o Kaiser Wilhelm der Grosse, o Grosser Kurfurst, o Kronprinz Wilhelm, o Kaiser Wilhelm II, o Prinz Friedrich Wilhelm, o George
Washington e o Berlin.
De dimensões modestas, o Pfalz nada tinha em comum com os titãs acima mencionados. Era, porém, um navio bem construído e de desenho elegante. Suas linhas eram alongadas e bem equilibradas. Possuía oito
conveses, dos quais três eram de superestrutura e cinco no nível dos porões de carga. Estes eram quatro no total, três à proa e um à popa.
Possuía dois mastros e uma chaminé. Nos primeiros anos de sua existência, os mastros estavam equipados com velas quadradas que serviam como propulsores auxiliares quando em navegação de alto-mar. Em seguida, as
velas foram eliminadas.
Seu maquinário, também construído no estaleiro Wigham Richardson, era de tríplice expansão, com um consumo diário de carvão de 60 toneladas para uma velocidade de cruzeiro de 10 nós.
Lançado ao mar em 31 de julho de 1893, após a prova de máquinas no Mar do Norte, zarpou do porto de Bremen com destino a portos sul-americanos em 22 de outubro do mesmo ano.
O navio terminou de ser construído na Inglaterra em 1893 para a armadora alemã NDL,
com 110 metros de comprimento
Imagem: reprodução, publicada com a matéria
Em Santos - Naquela época, já formada a Companhia das Docas de Santos, o engenheiro Guilherme Weinschenck comandava as obras de construção do cais, em pedra e cimento, do novo porto de Santos.
O primeiro trecho dessas obras, de 100 metros de comprimento, havia sido entregue em fevereiro de 1892. Subsequentemente seriam entregues mais 160 metros de cais linear.
Quando o Pfalz chegou a Santos na primeira semana de novembro de 1893, a Companhia Docas dava continuidade aos trabalhos nesse trecho de 160 m. A pouca distância do canteiro de obras, sobrevivia ainda o
velho trapiche da Praia (assim denominado devido à existência de uma prainha na área do Valongo). Neste trapiche atracou o Pfalz. Sendo um navio totalmente novo e em viagem inaugural, sua presença no porto
despertou natural curiosidade na cidade.
Não que fosse grande novidade a chegada de vapores europeus em suas viagens inaugurais para o Brasil e o Prata. Nesse mesmo ano de 1893, já havia sido o caso do imponente (para a época) Nile, da
Royal Mail Steam Packet, ou dos alemães da Hamburg-Süd, Rosário e Buenos Aires, ou ainda do Roland, pertencente à própria NDL.
Esse quadro mostra o navio Pfalz atracado no então porto do Bispo, no Valongo, em Santos
Foto cedida pelo Museu do Porto de Santos (Codesp)
Calixto - Fato está que, por coincidência ou curiosidade, um artista, pintor da época, grande frequentador e observador da frente marítima do porto de Santos, plantou seu cavalete e tela naquela prainha,
animado talvez pelo desejo de imortalizá-la em óleo antes que esta desaparecesse para sempre embaixo das grossas pedras do Jabaquara, ou talvez, quem sabe, de retratar o mais recentemente construído vapor Pfalz em sua primeira viagem a
Santos.
Foi assim que, frente a frente, encontraram-se, naquela manhã, Benedito Calixto de Jesus e o transatlântico misto de bandeira alemã Pfalz. Imortalizado por mão hábil e
olho observador de Calixto, na pintura intitulada "Porto do Bispo no Valongo - 1893", o Pfalz zarpou de Santos com destino a Buenos Aires.
Permaneceria na Rota de Ouro e Prata por bem mais 11 anos, retornando a Santos dezenas de vezes até maio de 1904, quando passou à propriedade da Woermann Line, de Hamburgo, Alemanha.
Final - Foi então reformado nos estaleiros da Blohm & Voss, desse mesmo porto hanseático, sua tonelagem aumentada para 4.603 toneladas e suas instalações de passageiros modificadas com a inclusão da segunda
e terceira classes. Passou também a ter um novo nome: Gertrud Woermann.
Em 21 de julho de 1904, zarpou na nova rota Hamburgo-costa ocidental da África, linha essa tradicionalmente servida pelos navios da Woermann.
Seu novo emprego não duraria muito, pois quatro meses mais tarde encalhou na ponta de Swakopmund, próximo ao porto de Walvis Bay, na costa de Namíbia, sendo abandonado como perda total. Transportava então tropas do
exército alemão, destinadas a combater na Namíbia os indígenas da tribo Herero que haviam se rebelado contra as autoridades germânicas. O mar se encarregou, em seguida, de destroçá-lo contra as rochas. |