Segundo navio de propriedade da Royal Mail Steam Packet (RMSP) a levar esse nome, o Minho constituiu com o La Plata e o Ebro um trio
de navios gêmeos ordenados ao estaleiro escocês Robert Napier & Sons em 1895. Robert Napier (1791-1876) foi justamente chamado de "o pai da construção naval do Rio Clyde". Em 1836, adquiriu de seu primo, David Napier, as instalações de um estaleiro
pioneiro que este último havia feito construir em Lancefield, subúrbio de Glasgow. Fazendo-se ajudar mais tarde por seus filhos, John e Francis, Robert Napier fez a firma prosperar, a ponto de que, em 1841, pôde mandar erguer um outro
estabelecimento similar na localidade de Govan, sempre às margens do Rio Clyde e próximo a Glasgow. Durante os 50 anos que se seguiram, o Govan East Yard, como era conhecido, construiu ao todo 450
vapores por conta de inúmeras armadoras. Em 1900, já desaparecidos os três Napier, suas instalações foram adquiridas por um outro personagem famoso no cenário marítimo da Grã-Bretanha: William Beardmore Junior, proprietário, alguns anos depois, de
outro estaleiro, que levou o mesmo nome.
Antes da construção do trio de navios de 1895, o Robert Napier & Sons já havia sido responsável pelo aparecimento de outros vapores encomendados pela Royal Mail: o Sannon, de 1859; o Atrato, de 1888;
o Magdalena, de 1889; o Thames e o Clyde, ambos de 1890.
O Minho, já rebatizado como Montréal, no porto francês de Le Havre
O trio - O Minho, o La Plata e o Ebro eram navios mistos (de carga e de passageiros) de capacidade intermediária, construídos em aço, com o clássico desenho do tipo three island,
ou seja, três elevações de superestrutura: proa, castelo central e popa. Eram dotados de única chaminé, dois decks (conveses), quatro porões de carga, dois mastros de acomodações para cerca de 500 passageiros, dos quais 370 em dormitórios
múltiplos de terceira classe.
Haviam sido concebidos para servir sobretudo o tráfego emigratório de portos da Península Ibérica para o Brasil e o Prata, tráfego que se intensificava com as saídas, cada vez mais numerosas, de espanhóis e
portugueses de seus países.
O trio de vapores foi construído contemporaneamente nos estaleiros de Govan East Yard, tendo sido lançados ao mar e postos em serviço a cada três meses de intervalo, a partir de maio de 1895. O primeiro a ser
entregue foi o La Plata, que era o terceiro navio da Royal Mail a levar esse nome, seguido pelo Minho e pelo Ebro.
Quis o destino que este trio de navios gêmeos, surgidos todos num período de tempo não superior a um ano, desaparecessem também todos os três quase no mesmo período de tempo, vítimas de episódios bélicos
decorrentes da Primeira Guerra Mundial, como veremos mais adiante.
Guerra Boer - O Minho realizou sua viagem inaugural para a América do Sul zarpando de Southampton em 22 de outubro, com destino a Buenos Aires via os tradicionais portos de escala intermediários da
rota.
A rotina desse serviço foi quebrada em outubro de 1899, quando, na África do Sul, eclodiu a chamada Guerra Boer, entre facções nacionalistas locais, o que forçou o governo britânico a intervir. A necessidade de
transportar armas, soldados, víveres e equipamentos em grande quantidade obrigou o almirante a se requisitar diversas unidades da Marinha Mercante e, entre outras armadoras, a Royal Mail cedeu cinco de seus navios: o Nile, o Tagus, o
Severn, o Minho e o Ebro.
Durante quase dois anos, o Minho e o Ebro realizaram viagens triangulares, saindo da Inglaterra com destino à Cidade do Cabo, onde eram desembarcadas as tropas e seus equipamentos. Isto feito, os
vapores atravessavam o Atlântico Sul em direção a Buenos Aires. Na capital portenha, nova operação de desembarque de carga e alguns passageiros e embarque normal de bens e pessoas com destino à Europa via o costumeiro itinerário de portos
brasileiros, ou seja, Santos, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
Tal tipo de utilização durou até meados de 1901, quando se encerrou o conflito sul-africano; puderam assim retomar o serviço normal na Rota de Ouro e Prata, com viagens entre Southampton e Buenos Aires.
Mudanças - No início deste século, os negócios da Royal Mail estavam em declínio. Várias razões haviam originado tal situação: administração incompetente, falta de visão progressista e flexibilidade
operacional, no que resultava uma frota envelhecida e ultrapassada tecnicamente e em diminuição. Em 1902, nenhum dividendo foi pago aos acionistas.
Em 1903, felizmente, a direção da armadora foi entregue aos irmãos Philipps que, entre outras pertinentes iniciativas de melhoria, decidiram revitalizar a frota da Royal Mail com a construção de novos navios. Para
levantar-se a necessária liquidez financeira e cobrir os novos investimentos, os irmãos Phillips fizeram uma chamada de capital aos acionistas e puseram à venda algumas unidades consideradas obsoletas, no novo plano operacional da empresa.
Foi assim decidida a venda do par Minho e Ebro, porque o terceiro da série, o La Plata, já havia sido vendido anteriormente (em 1900) para a Booth Line, que o empregava
na sua linha para Manaus (Amazonas), com o novo nome de Clement. Foi a armadora inglesa Awan, Peterson & Co., de Newcastle-on-Tyne, que adquiriu o par Minho e Ebro, aos quais foram dados respectivamente os nomes de Halifax
e Quebec, colocados com as cores da nova proprietária, na linha que esta mantinha entre o Reino Unido e Canadá.
Na CGT - Seus empregos com a armadora de Newcastle duraram pouco tempo, pois já em janeiro de 1905 eram revendidos para a potente armadora francesa Compagnie Générale Transatlantique (CGT), primeira empresa
de navegação do hexágono gaulês em número de navios, faturamento, milhas viajadas e outros.
A CGT destinou o Montreal (novo nome do Halifax, ex-Minho) e Quebec (nome mantido) para sua tradicional linha Le Havre – Nova Iorque, servindo como navios mistos de classe emigrante
única. Tempos mais tarde, o Montreal foi deslocado para a ligação Le Havre-Índias Ocidentais Francesas (Guadalupe, Martinique e Haiti), onde permaneceu por bem 11 anos, tornando-se navio muito conhecido nas águas do Caribe.
A segunda grande campanha de ataque sem restrições por parte da arma submarina alemã na Primeira Guerra Mundial iniciou-se em fevereiro de 1917, numa desesperada tentativa ao Alto Comando germânico de mudar o curso
da guerra que a Alemanha vinha lentamente perdendo.
No primeiro bimestre desta nova fase da guerra nos mares, cerca de 500 vapores de várias bandeiras foram afundados por obra de submarinos alemães, a grande maioria na águas do Atlântico Norte próximas das Ilhas
Britânicas e nas águas do Canal da Mancha. Entre as vítimas desse período de ferocidade bélica, o Montreal, torpedeado pelo submarino alemão U-46 nas coordenadas 45º40’ Norte de latitude e 7º40’ Oeste de longitude, ou seja, ao largo
do porto espanhol de Gijon, quando se encontrava em viagem de Le Havre ao Caribe.
De sua tripulação e passageiros, 110 pessoas ao todo, 97 conseguiram passar para os botes salva-vidas, permanecendo à deriva sob frio intenso durante dois dias, antes de serem salvos por outra embarcação. Dois
meses antes do torpedeamento do Montreal, o irmão gêmeo Quebec (ex-Ebro) havia afundado na embocadura do Rio Gironde (norte da França), após chocar-se com uma mina naval deposta pelo submarino alemão UC-41.
O epílogo desta história acontece quando, em agosto de 1918, o terceiro navio do trio original da Royal Mail, de 1896, é vítima, por sua vez, de um ataque de submarino. Com o nome de Freshfield, o ex-La
Plata, ex-Clement, foi afundado pelo UC-25 no Mediterrâneo, quando se encontrava em passagem dos portos italianos de Messina para Taranto. |