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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Highland Patriot

1932-1940

A Nelson Line tem suas origens em dois irmãos que, em 1890, eram proprietários de um matadouro e um frigorífico de carne bovina na localidade de Zarate, situada não longe de Buenos Aires, no delta do Rio Paraná. Hugh e William Nelson, escoceses de origem, eram homens que haviam crescido no mundo dos navios, pois o pai possuía uma pequena empresa de cabotagem que servia rotas em torno das Ilhas Britânicas.

Anúncio da armadora britânica Nelson Line no início do século XX

Para transportar a carne argentina produzida na sua usina, até o mercado consumidor da Inglaterra, os irmãos Nelson ordenaram a construção de cinco cargueiros frigoríficos a estaleiros britânicos.

Destes cinco, o primeiro a ser posto em serviço foi o Highland Scot (I) em 1890, seguido pelo Highland Chief, Highland Lassie, Highland Mary e Highland Glen (I), todos com tonelagem entre 2.500 e 3 mil toneladas, sem espaço e acomodação para passageiros e levando o prefixo que marcaria o nome de todos os outros navios da companhia. Em 1898 foi criada, em Liverpool, a Nelson Line Limited, que incorporou em seus ativos os cinco navios precedentemente mencionados.

O primeiro navio da nova empresa a transportar passageiros na Rota de Ouro e Prata foi o navio misto (de carga e passageiros) Highland Brigade, de 5.662 toneladas, construído em Glasgow, que dispunha de acomodação para umas poucas dúzias de passageiros exclusivamente de primeira classe e que realizou sua viagem inaugural entre Liverpool e Buenos Aires em abril de 1901.

Entre 1901 e 1911, outros 14 navios seriam lançados pela Nelson Line na linha sul-americana, todos com instalação de carga refrigerada, a partir dos Highlands da série de 1910 (sete navios),  com capacidade de levar a bordo 520 passageiros.

Com a Royal Mail - Em 1913, a totalidade das ações ordinárias das três empresas do Grupo Nelson foi adquirida pela Royal Mail Steam Packet Company (RMSP), da Inglaterra, que na época conhecia um período de fulminante expansão sob o comando de sir Owen Philipps.

Apesar desta mudança, a Nelson Line preservou sua identidade jurídica e o controle operacional sobre os seus navios, que continuaram a levar as cores da empresa nas chaminés, na bandeira, e os famosos nomes Highland nas proas (frentes).


O Highland Patriot teve vida útil relativamente breve, 
afundando no decurso da Segunda Guerra Mundial

Primeira Guerra - Nada menos do que sete navios da Nelson Line foram perdidos no decorrer da Primeira Guerra Mundial: o Highland Hope, capturado pelo cruzador corsário alemão Karlsruhe, em setembro de 1914; o Highland Brae, capturado pelo cruzador corsário Kronprinz Wilhelm em 1915; o Highland Corrie (I), torpedeado pelo submarino alemão U-40 em maio de 1917; o Highland Brigade, torpedeado pelo UC-71 em abril de 1918 e o Highland Harris, torpedeado pelo U-96 em agosto de 1918.

As outras duas perdas ocorreram por causas não bélicas: o Highland Warrior, naufragado na costa Noroeste da Espanha em 1915, e o Highland Scot (II), naufragado nas cercanias da Ilha de Maricá (costa brasileira) em 1918.

As perdas ocorridas entre 1914 e 1918 não foram compensadas senão parcialmente pela aquisição de um cargueiro em 1917 e pela construção de um outro em 1920. Em 1926, porém, com a aprovação do Conselho de Administração da Royal Mail, foi decidida a construção de seis navios a motor de 14 mil toneladas, os quais teriam capacidade para 620 passageiros, além das tradicionais câmaras frigoríficas para o transporte de carne.

O desenho desses navios era incomum, com uma superestrutura compacta e duas chaminés baixas e bem próximas uma da outra. A ponte de comando situava-se numa ilha separada do resto da estrutura principal, feitio bem típico dos navios da série "A" da Royal Mail, tudo isso englobado em linhas que não tinham nada de elegância e beleza.

Novos navios - No espaço de quatro anos, o estaleiro Harland & Wolff, de Belfast (Irlanda do Norte) entregou em sucessão o Highland Monarch (1928) - o primeiro da série -, o Highland Chieftain (1929), o Highland Hope (1930), o Highland Princess (1930) e finalmente em 1932 o Highland Patriot. Os motores diesel desta série de cinco navios eram do tipo Burmeister & Wain, de passo quádruplo e oito cilindros cada um.

Este último realizou sua viagem inaugural saindo de Londres para o Brasil e o Prata em maio de 1932. Ironicamente, esta seria a sua única viagem com as cores da Nelson Line, pois nesse mesmo ano a companhia foi juridicamente absorvida pela Royal Mail Lines Limited - nova empresa criada em agosto e que reagrupou todos os ativos da Royal Mail Steam Packet, que entrou em liquidação por dificuldades financeiras. Desapareceram assim as cores famosas da Nelson Line na chaminé de seus navios, cuja base era vermelha e com o topo preto cortado por duas faixas brancas.

Assim sendo, a segunda viagem do Highland Patriot na Rota de Ouro e Prata começou no mesmo dia da criação da Royal Mail Lines (6 de agosto) e viu o transatlântico já com as novas cores: casco preto, superestrutura branca, mastros e chaminés na cor de terracota.

Com exceção do Highland Hope, encalhado e abandonado na costa portuguesa, no mesmo ano de seu lançamento, os outros quatro navios irmãos do Highland Patriot seguiram a mesma sorte, mudando de proprietário, mas continuando na linha sul-americana.

Uma viagem-tipo na linha sul-americana do Highland Patriot comportava escalas em Londres, Boulogne sur Mer, Vigo, Lisboa, Las Palmas, Rio de Janeiro, Santos, Montevidéu e Buenos Aires.

Recifes - O desastre do Highland Hope merece um parágrafo, pois o transatlântico não chegou a ter vida útil de mais de 10 meses e, praticamente ainda novo, foi destruído. Havia saído de Buenos Aires em novembro de 1915, fazendo escala em Boulogne no dia 16 e em Vigo (Espanha) no dia 18, onde 217 emigrantes embarcaram.

Na madrugada do dia seguinte, no meio de denso nevoeiro, o navio se chocou com os recifes de Farilhões, perto de Peniche, tendo sua quilha furada em diversos pontos e ficando imobilizado entre as pedras. Todos os passageiros foram evacuados nos botes e o transatlântico, abandonado, sem possibilidade posterior de salvamento.

Final - O Highland Patriot permaneceu na Rota de Ouro e Prata durante oito anos e o início da Segunda Guerra Mundial não o impediu de continuar o serviço graças à alta velocidade que seus motores a diesel permitiam. Assim mesmo, chegou ao fim por obra de um submarino alemão.

No dia 1º de outubro de 1940, sua rota cruzou-se com a do submarino alemão U-38, comandado pelo capitão-de-fragata Heinrich Liebe. O U-38 iniciava então a sua sétima patrulha de guerra, tendo zarpado de Lorient no dia 25 de setembro para a área operacional situada na passagem Norte de acesso às Ilhas Britânicas.

Antes de avistar o transatlântico inglês, que navegava solitário procedente de Buenos Aires e com destino a Clyde, o U-38 já havia afundado outros dois navios, o George Mabro e o Heminge.

Ao raiar do dia, Liebe cruzou com o Highland Patriot e disparou dois torpedos, um dos quais explodiu no costado do transatlântico. Este, carregado com 6 mil toneladas de carga, foi lentamente para o fundo do Atlântico, nas coordenadas de 52º 13' de latitude Norte e 19º 04' de longitude Oeste. Dos 143 tripulantes a bordo, só não se salvaram três.

Highland Patriot:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: britânica
Armador: Nelson Line
País construtor: Grâ-Bretanha
Estaleiro construtor: Harland & Wolff (porto: Belfast)
Ano da viagem inaugural: 1932
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 14.130
Comprimento: 165 m
Boca (largura): 21 m
Mastros: 2
Chaminés: 2
Velocidade média: 16 nós
Máquinas: 2 motores Diesel de 8 cc cada um
Passageiros: 785
Classes: 1ª - 135
                2ª -    65
                3ª -  500

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 27/8/1992