Em 1886, Hugh Nelson, um dos filhos do fundador da empresa Nelson Line, James Nelson, foi enviado para a Argentina, a fim de verificar as possibilidades
de criar, nesse país, um matadouro de carne bovina que pudesse suprir as necessidades da população inglesa, cada vez mais crescentes, desse produto. Foi assim fundado, um ano mais tarde, o Frigorífico
Las Palmas, na cidadezinha de Zarate, a 50 quilômetros Rio Paraná acima de Buenos Aires. O gado chegava do interior da Argentina, era abatido e processado em Zarate e, em seguida, as carcaças eram levadas em barcaças especiais até o porto de Buenos
Aires para embarque.
Num próximo passo lógico, os irmãos Hugh e William criaram, em seguida, uma companhia de distribuição e comercialização que foi denominada Frigorifico Rio da Prata, responsável pelo embarque e pela venda dos
produtos vindos de Zarate. O primeiro embarque de carne para as ilhas britânicas aconteceu em 1887, a bordo do vapor Ranmoor (da Young & Co.).
Em 1889, foi decidido que a família deveria também entrar no negócio de transporte e refrigeração de carne, de maneira que ficasse, assim, garantido o fluxo próprio da produção do frigorífico argentino. Era uma
conclusão natural: os Nelson controlariam o produto, desde o momento do abate até a entrada no varejo britânico.
Frota - O primeiro navio de propriedade de James Nelson & Sons foi comprado em 1889, com o nome de Spindrift, e imediatamente convertido em cargueiro refrigerado peo sistema de injeção de frio.
No ano seguinte, seu nome foi mudado para Highland Scot (I), ao mesmo tempo em que a Nelson Line (como ficou conhecida) ordenava a construção de mais quatro cargueiros refrigerados. Em 1899, quando James
Nelson faleceu, a empresa possuía seis navios que, dois anos mais tarde, passaram para o controle da H&W Nelson Ltd.
Contemporaneamente, foi entregue o primeiro navio misto (de carga e passageiros) encomendado pelo armador, o Highland Brigade.
Três dos antigos cargueiros construídos em 1890, o Highland Scot (I), o Highland Corrie (I) e o Highland Glen (I), foram vendidos em 1909, dando-se início assim a uma nova política da
companhia, que consistia em privilegiar o transporte de passageiros entre a Europa, o Brasil e o Prata.
Para tanto, a Nelson Line ordenou a construção de dez navios de passageiros, que seriam rápidos, confortáveis, e que, adicionalmente, transportariam carne frigorificada na rota Sul-Norte e carga geral na rota
Norte-Sul.
Estes dez navios foram desenhados pelo próprio gerente geral da empresa, A.R. T. Woods, e seus estilos eram muito semelhantes aos navios de propriedade alemã (NordDeutscher Lloyd) que serviam na rota do Atlântico
Sul, Brasil e Argentina, de um lado, e África do outro.
Semanal - Ao serem entregues, estes navios foram registrados como sendo de propriedade da Nelson Steam Navigation Co. e permitiram que os armadores oferecessem uma saída semanal de Londres com destino à
América do Sul, e, naturalmente, vice-versa, de Buenos Aires e portos intermediários.
O primeiro da série a ser entregue por Russel & Co., estaleiro do porto de Glasgow (Escócia) foi o Highland Rover, de 7.244 toneladas, que realizou sua viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata em fevereiro
de 1910.
Foi seguido em ordem cronológica pelos outros nove: 2) Highland Laddie, 3) Highland Pride, 4) Highland Corrie
(II), 5) Highland Scot (II), 6) Highland Brae, 7) Highland Glen (II), 8) Highland Loch,
9) Highland Piper e o 10) Highland Warrior.
Os navios de números 3, 4, 5 e 7 foram construídos por Russel & Co., enquanto os outros o foram pelo estaleiro Cammel, Laird & Co., do porto de Birkenhead. Destes dez, quatro tiveram vida relativamente curta: o
Highland Brae e o Highland Corrie (II), destruídos respectivamente em 1915 e 1917 por razões de guerra; o Highland Warrior e o Highland Scot (II), perdidos em naufrágios não-bélicos, respectivamente em 1915 e 1918. Sempre
entre os dez da série, o que teve vida útil mais longa foi o Highland Piper, demolido em Trieste em 1937.
Em 1928, a Nelson Line vendeu os últimos quatro navios da série de 1910-1911,
inclusive o Highland Loch
18 anos na rota - O Highland Loch foi lançado ao mar em 17 de janeiro de 1911, realizando sua viagem inaugural na Rota de Ouro e Prata em 28 de março do mesmo ano. Nesta rota ficaria nada menos do que
18 anos seguidos!
Tal como seus irmãos da série, o Highland Loch tinha um desenho compacto com uma superestrutura curta e elevada de quatro conveses e, além do castelo de popa, tinha à proa um abrigo para as máquinas de
manobra dos guindastes.
Levava oito embarcações salva-vidas - quatro de cada lado de bordo -, e seu casco, tal como os outros, fora pintado de cinza com superestrutura de cor verde pálida. Tinha capacidade para 2 mil toneladas em espaço
refrigerado, outras 2 mil toneladas para carga geral (incluindo espaço para o transporte de gado vivo).
São quatro as categorias de câmaras refrigeradas a bordo dos navios especializados nesse tipo de transporte: 1) carne refrigerada (2 graus centígrados negativos ou -2º C),
2) carne frigorificada (-8º C), 3) ovos (+ 1º C) e 4) frutas: laranjas (+3º C) e bananas (+11º C).
Em termos de passageiros, levava 516, acomodados em três classes diferentes (80 em primeira, 36 em segunda e 400 em classe emigrante).
Torpedo - Sua vida útil foi marcada pela robustez e confiabilidade de suas máquinas e por apenas um episódio fora de rotina: em janeiro de 1918, foi atacado e torpedeado por um submarino alemão não
identificado, quando navegava no Canal da Mancha. O torpedo, avistado pelo oficial de guarda, passou a poucos metros da popa do Highland Loch.
Quando em 1926 o Conselho de Administração da Royal Mail (que, no entretempo, havia em 1913 adquirido a totalidade das ações da Nelson Line) decidiu a construção de seis grandes navios com mais de 14 mil toneladas,
foi decidida também a venda de quatro dos antigos transatlânticos da série de 1910-1911.
A venda só foi concretizada em fins de 1928 e, no começo de 1929, o Highland Laddie, o Highland Glen (II), o Highland Loch e o Highland Piper passaram para uma empresa que explorava a
linha Caraíbas-Inglaterra no transporte de bananas (transporte também frigorificado), a Jamaica Banana Producers.
Assim, esses quatro navios foram rebatizados, respectivamente, Jamaica Settler, Jamaica Producer, Jamaica Planter e Jamaica Merchant. O ex-Highland Loch passou mais seis anos no
transporte de bananas, até 1935, quando foi vendido para demolição a uma empresa italiana de Trieste. |