Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/rossini/guadelou.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/14/02 10:41:27
Clique na imagem para voltar à página inicial de 'Rota de Ouro e Prata'

ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Guadeloupe

1907-1915

Em agosto de 1914, logo após o início da Primeira Guerra Mundial, o Lutetia e o Gallia foram requisitados pela Marinha francesa para serem transformados em navios-transporte-de-tropas. Tal fato criou um vazio na tonelagem comercial da CNSA e obrigou a armadora a recorrer ao afretamento de outras unidades para poder manter o serviço na linha sul-americana.

Foi assim que a Sud Atlantique assinou contrato com a Compagnie Generale Transatlantique (CGT) para afretar quatro de seus vapores, o Flandre, o Perou, o Floride e o Guadeloupe.

Esses navios realizaram suas primeiras viagens para a costa Leste da América do Sul respectivamente em setembro de 1914, novembro do mesmo ano, janeiro e fevereiro de 1915. Os dois primeiros mencionados sobreviveriam à grande guerra de 1914-1918, ao contrário dos dois últimos, ambos vítimas de corsários alemães operando no Atlântico Sul.

Na guerra - O Floride, construído como cargueiro de 6.629 toneladas, havia sido lançado ao mar em 1907 pela CGT para a linha de Le Havre-Nova Iorque. Em 1910, foi modificado para receber 36 passageiros em segunda classe, passando para a linha do Canadá. Em janeiro de 1915, foi afretado pela CNSA, zarpando de Le Havre, no dia 28 daquele mês, rumo a portos da América do Sul.

Três semanas mais tarde, sua rota cruzaria com a do cruzador-auxiliar armado da Marinha Imperial alemã, Prinz Eitel Friedrich, um ex-transatlântico da armadora NordDeutscher Lloyd (NDL) que há vários meses realizava uma campanha de guerra corsária no Atlântico Sul, sob o comando do capitão Thierichsens.

O Floride foi interceptado, capturado e em seguida afundado na posição 2º 28' de latitude Sul e 31º 10' de longitude Oeste, a Noroeste da ilha brasileira de Fernando de Noronha. Decorria o dia 19 de fevereiro de 1915. Quis o destino que, passados apenas quatro dias da perda, naturalmente ainda não conhecida, do Floride, outro navio da CGT afretado pela CNSA fosse vítima de outro navio auxiliar corsário alemão. Era o Guadeloupe.


O Guadeloupe, aqui visto com as cores da CGT, 
foi vítima do corsário alemão Kronprinz Wilhelm em 1915

Única viagem - Construído também em 1907, tal como o gêmeo Perou, nos mesmos estaleiros do Ateliers et Chantiers de Saint Nazaire, em Penhoet, o Guadeloupe realizou sua primeira viagem em setembro do mesmo ano, entre le Havre e Colón (Panamá). Durante oito anos, foi utilizado em diversas rotas da CGT, principalmente entre a França, a América Central e o Caribe, até ser afretado, como já dito, em 1915, à Sud Atlantique.

Aparelhou, então, de Bordeaux, em fins de janeiro, com destino a portos brasileiros e platinos, em sua primeira e única viagem na Rota de Ouro e Prata.

O Guadeloupe era um navio de proporções médias, de boa construção e de linhas elegantes. Seu casco branco havia se tornado familiar em portos como Point-a-Pitre, Fort de France, Saint Lucie, Grenade, Trinidad, Porto Príncipe e outros do Caribe. Foi também empregado na linha para a Venezuela e a Colômbia, sempre a partir de Le Havre, seu porto de registro.

Predadores - O Kronprinz Wilhelm (de 1901) era um dos seis transatlânticos expressos construídos nos últimos anos do século XIX e iniciais do século XX, para a armadora alemã NDL. Os outros cinco foram, pela ordem de lançamento: o Kaiser Wilhelm der Grosse (1897), o Kaiser Friedrich (1897), o Deutschland (1900), o Kaiser Wilhelm II (1902) e o Kronprinzessin Cecilie (1906).

Esses transatlânticos foram construídos (com exceção do Kaiser Friedrich) pelos estaleiros Vulkan, de Stettin (Mar Báltico), com características de alta velocidade (24 nós), e dois deles vieram a realizar cruzeiros de guerra a partir de agosto de 1914. Armados rapidamente após a declaração do conflito, entraram em ação naval como cruzadores-auxiliares-armados da Marinha Imperial alemã: o Kaiser Wilhelm der Grosse e o Kronprinz Wilhelm.

O primeiro teve uma brevíssima carreira como cruzador-auxiliar, pois, após ter obtido três sucessos entre 7 e 16 de agosto de 1914, ao largo da costa Noroeste africana, o Kaiser Wilhelm der Grosse foi interceptado e afundado pelo cruzador britânico Highflyer em 26 de agosto, na embocadura do Rio del Oro (atual Mauritânia).

O segundo fez carreira naval mais longa e proveitosa. Seu cruzeiro de guerra teve a duração de nove meses, durante os quais o Kronprinz Wilhelm (sob o comando do capitão-de-corveta Paul Thierfelder) afundou 14 navios, capturando mais um, no total de 15 navios, representando 60.522 toneladas de arqueação bruta, e todos eles no Atlântico. Entre esses 15 navios, vários serviam a Rota de Ouro e Prata, tal como o La Correntina, o Potaro, o Highland Brae, o Tamar e o Guadeloupe. Os acontecimentos que levaram à captura e perda deste último devem ser relatados em seguida.

Final - O Kronprinz Wilhelm havia iniciado seu cruzeiro de guerra zarpando de Nova Iorque na véspera do início do conflito e dirigindo-se para as ilhas Watling, onde viria a receber seu armamento do cruzador alemão Karlsruhe, armamento este composto de dois canhões de 88 milímetros. Rumaria em seguida para a área de Trinidad, no Caribe, capturando ali, em 4 de setembro, sua primeira vítima, o cargueiro inglês Indian Prince. Entre outubro de 1914 e janeiro de 1915, o Kronprinz Wilhelm conseguiu interceptar mais nove mercantes inimigos.

Em fevereiro de 1915, o corsário alemão se encontrava no meio do Atlântico, nas proximidades da linha equatorial, sua zona de caça preferida. No dia 22 daquele mês, Thierfelder conseguiu capturar o vapor britânico Chasehill, de 4.583 toneladas, na posição 6º 15' de latitude Sul e 26º 10' de longitude Oeste, com 2.860 toneladas de carvão a bordo, carvão este que serviria para aumentar a capacidade operacional do Kronprinz Wilhelm.

Thierfelder decidiu então levar o seu navio e o Chasehill para uma posição mais ao Sul, a fim de poder transbordar tranqüilamente, em zona de mar remota, o carvão inglês. Foi então que, no dia seguinte, apareceu no horizonte o SS Guadeloupe, que se encontrava em passagem do Rio de Janeiro para Bordeaux. Tinha a bordo um grande carregamento de tecido, destinado à fabricação de uniformes para o Exército francês.

O Guadeloupe foi aprisionado, sua carga transbordada para o corsário, e o navio despojado de tudo aquilo que poderia servir para bordo do Kronprinz Wilhelm, ou seja, mantimentos, vinhos e bebidas, instrumentos de navegação, prataria de mesa, objetos de decoração e tudo que tivesse algum valor. De bordo do Guadeloupe também foram transferidas 254 pessoas, entre tripulantes e passageiros.

Em seguida, Thierfelder ordenou o afundamento do transatlântico através de cargas explosivas, desaparecendo o Guadeloupe, para sempre, nas coordenadas 7º de latitude Sul e 26º de longitude Oeste.

O Guadeloupe foi a 13ª captura do Kronprinz Wilhelm. O navio francês levava a bordo três grandes malas contendo documentos e valores, das quais uma foi recuperada pelos alemães e as outras duas foram jogadas ao mar pelos franceses.

Guadeloupe:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: francesa
Armador: Compagnie de Navigation Sud Atlantique (afretado)
País construtor: França
Estaleiro construtor: Ateliers & Chantiers de Saint Nazaire (porto: Saint Nazaire)
Ano da viagem inaugural: 1907
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 6.599
Comprimento: 137 m
Boca (largura): 16 m
Chaminés: 2
Mastros: 2
Velocidade média: 16 nós
Passageiros: 243
Classes: 1ª - 174
                2ª -    35
                3ª -    34

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 25/11/1993