Nelson Antonio Carrera (*)
Representante de uma nação formada pela mescla de etnias e crenças diversas, o Partizanka foi um dos muitos sobreviventes do segundo grande conflito mundial que, no
imediato pós-guerra, contribuiu com a imigração em massa, num momento de carência de tonelagem no setor de transporte de passageiros, e que foi também um navio de cruzeiros no Mar Adriático.
A partir de 1º de janeiro de 1947, o território da Iugoslávia sofreu uma nova demarcação na fronteira com a Itália, na faixa
litorânea denominada Capo d'Istria. Além de outras cidades que ficaram para dentro do território iugoslavo, estava a velha Fiume, que passava a chamar-se Rijeka. Aí, foi formada a empresa de navegação denominada Jugoslavenska
Linijska Plovidba, mais conhecida internacionalmente como Jugolinija.
O transporte de cargas era sua meta prioritária, se bem que, em segunda instância, o transporte de passageiros também fosse considerado importante, pois os iugoslavos estavam imigrando em todas as direções.
A nova empresa conseguiu subsídios governamentais e, através de passagens com tarifas acessíveis, atraía o imigrante do país que queria viver no exterior, ao mesmo tempo em que propiciava, a esse mesmo imigrante,
retorno a passeio.
O serviço de passageiros da Jugolinija teve início com a linha dos Estados Unidos, seguido pela linha da Austrália e, por fim, o Brasil.
Estadunidense - Construído nos Estados Unidos pelo notável estaleiro Newport News, na cidade de mesmo nome, era um pequeno navio para o transporte de passageiros em rotas domésticas da empresa
norte-americana Clyde Steamship Company, de Nova Iorque.
O casco nº 307 foi batizado com o nome Shawnee e lançado ao mar em 18 de abril de 1927, e a construção, inteiramente concluída e entregue ao armador, em 14 de julho do mesmo ano.
Após um cruzeiro inaugural ao Canadá, entrou em serviço da Clyde logo a seguir, ligando os portos de Nova Iorque e Miami.
Nos anos 30, surgiu a United States Lines Company (de Nevada), para a qual efetuou uma única viagem redonda, transportando carga somente, tendo saído de Nova Iorque a 13 de setembro de 1939 rumo a Bordeaux
(França).
Em 1940, foi comprado pela empresa, também norte-americana, Agwilines, porém, com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, foi logo desarmado do serviço doméstico de passageiros e convertido para o
transporte de tropas, em Nova Orleans, cuja cidade seria, daí em diante, sua base durante os anos iniciais da guerra.
Em suas missões, ia ao Canal do Panamá, Caraíbas, estendendo-se à América do Sul e ao
Mar Mediterrâneo. Em 1944, foi transferido para o Pacífico, ficando aí até o fim da guerra, em 1945.
O Partizanka
Foto: reprodução, publicada com a matéria
Iberian - Restituído à armadora Agwilines em março de 1946, o Shawnee foi vendido um ano mais tarde, em 1947, à armadora portuguesa Iberian Star Line, que era uma empresa
constituída no Panamá pelo então agente, em Nova Iorque, da Companhia de Navegação de Carregadores Açorianos, José Bensaude.
Registrado sob bandeira do Panamá e rebatizado com o nome City of Lisbon, o navio foi submetido aos reparos e modificações necessárias em Nova Iorque, para o transporte de 1.234 passageiros entre a Península
Ibérica e o Brasil, fazendo daí uma viagem posicional de Nova Iorque a Lisboa, com escalas em Ponta Delgada e Vigo.
Em 24 de abril de 1947, saiu de Lisboa rumo ao porto de Santos, com escalas em Funchal e Rio de Janeiro. Na viagem subseqüente, em 27 de maio, saindo de Vigo com cerca de 500
passageiros a bordo, o City of Lisbon envolveu-se em grave colisão com o cargueiro italiano Villa di Brugine, ficando o City of Lisbon com a proa (frente) completamente destruída.
Como as suas acomodações já estivessem completamente lotadas para as cinco viagens seguintes e os reparos indispensáveis requeressem um longo período de afastamento, decidiu então o armador pela venda imediata,
depois de convenientemente reparado pelo Estaleiro Parry & Sons, de Lisboa.
Iugoslavo - A empresa estatal iugoslava Jugolinija andava a essa altura em fase de expansão e, como estivesse no mercado de navios de segunda mão, adquiriu o City of Lisbon e levou-o a Split no final
de 1947. Devidamente revitalizado, saiu de Split em 12 de dezembro de 1947 em viagem inaugural rumo a Sydney, na Austrália, lá chegando em 25 de janeiro de 1948.
De volta a Split, em 10 de março de 1948, saiu novamente para mais uma viagem à Austrália, em cujo retorno foi programada e levada a cabo uma viagem ao Brasil, porém com saída de Marselha, ao Sul da França, de onde
saiu em 9 de julho de 1948.
Após uma segunda viagem à América do Sul, a Jugolinija, que tinha o serviço de passageiros como fator secundário, transferiu-o para a linha dos Estados Unidos e Canadá, para onde a afluência de emigrantes
iugoslavos era considerável.
Teve, contudo, também sob a bandeira da Iugoslávia, uma vida curta. A 12 de setembro de 1949, durante reparos no estaleiro de Split, irrompeu um grande incêndio a bordo, o qual se acredita que tenha tido origem
criminosa. O fogo foi debelado, não antes de que pudesse devorar grande parte dos seus equipamentos e interiores, tornando-o perda total. Foi sucateado em Split.
Este foi o único transatlântico de bandeira iugoslava a visitar o porto de Santos e também o único navio para transporte exclusivo de passageiros que a Jugolinija possuiu em sua história.
(*) Nelson Antonio Carrera, de Santos, é pesquisador de assuntos marítimos e navais. |