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Edição 150 - MAR-ABR/2006
Editorial

Vergonha nacional

Luiz Carlos Ferraz

Amparada pelo sigilo da votação, a maioria da Câmara Federal está demonstrando que é a favor da roubalheira, da corrupção, enfim, da patifaria, ao frustrar a expectativa do cidadão brasileiro que queria, e afinal quer ver cassados todos os deputados comprovadamente envolvidos no mensalão, que foram acusados por seus pares do Conselho de Ética após minuciosa apuração.

Um dos episódios mais emblemáticos, afora a dança ridícula em plenário, foi o da absolvição do petista João Paulo Cunha, quando 256 deputados votaram a favor de não se punir o ex-presidente da Casa; que, réu-confesso, já havia admitido ter recebido R$ 50 mil do valerioduto. Ou seja, ao rejeitarem a cassação, esses parlamentares criaram uma crise de consciência no Conselho de Ética – o que resultou na renúncia de seis membros – e assumiram a cumplicidade com a prática indecorosa; um comportamento que deveria resultar, de forma automática, no indiciamento criminal de todos.

Duzentos e nove deputados votaram a favor da cassação, houve nove abstenções, sete votos brancos e dois nulos. Com o resultado de João Paulo Cunha, subiu para oito o número dos parlamentares absolvidos, sendo que, até agora, dos 19 acusados, só três foram cassados e quatro renunciaram. Será que, ao final da apuração parlamentar, todos enfrentarão um processo judicial? É muito improvável. 

Num regime que busca ser democrático, conduzido por instituições tão frágeis, o único caminho do cidadão para lavar a vergonha nacional há de ser por meio do voto popular nas eleições de outubro.