Editorial
Vergonha nacional
Luiz Carlos Ferraz
Amparada
pelo sigilo da votação, a maioria da Câmara Federal
está demonstrando que é a favor da roubalheira, da corrupção,
enfim, da patifaria, ao frustrar a expectativa do cidadão brasileiro
que queria, e afinal quer ver cassados todos os deputados comprovadamente
envolvidos no mensalão, que foram acusados por seus pares
do Conselho de Ética após minuciosa apuração.
Um dos episódios mais emblemáticos,
afora a dança ridícula em plenário, foi o da absolvição
do petista João Paulo Cunha, quando 256 deputados votaram a favor
de não se punir o ex-presidente da Casa; que, réu-confesso,
já havia admitido ter recebido R$ 50 mil do valerioduto.
Ou seja, ao rejeitarem a cassação, esses parlamentares criaram
uma crise de consciência no Conselho de Ética – o que resultou
na renúncia de seis membros – e assumiram a cumplicidade com a prática
indecorosa; um comportamento que deveria resultar, de forma automática,
no indiciamento criminal de todos.
Duzentos e nove deputados votaram
a favor da cassação, houve nove abstenções,
sete votos brancos e dois nulos. Com o resultado de João Paulo Cunha,
subiu para oito o número dos parlamentares absolvidos, sendo que,
até agora, dos 19 acusados, só três foram cassados
e quatro renunciaram. Será que, ao final da apuração
parlamentar, todos enfrentarão um processo judicial? É muito
improvável.
Num regime que busca ser democrático,
conduzido por instituições tão frágeis, o único
caminho do cidadão para lavar a vergonha nacional há de ser
por meio do voto popular nas eleições de outubro. |