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Edição 149 - Fev/2006
CHINA

Um super-porto para um super-país

Maior terminal de contêineres do mundo estará pronto em 2020, época em que a China já será a segunda maior potência econômica do planeta

Carlos Pimentel Mendes (*)

Até 2050, a China deve deixar para trás os Estados Unidos e se tornar a principal potência econômica e política do planeta. E quem diz isso não é chinês, mas o doutor em Ciências Políticas pela Universidade de Michigan, além de professor da Universidade de Claremont, Jacek Kugler. Sua economia, impulsionada por mão-de-obra com custo médio bem inferior ao dos próprios trabalhadores brasileiros (eles por si já não muito bem remunerados em comparação com os de países desenvolvidos), cresce 8% ao ano, dobrando a cada nove anos: já suplantou a da Inglaterra em 2005, deve superar a da Alemanha em 2010, a do Japão em 2015. 

A Índia também vai crescer bastante nos próximos anos, e as duas, Índia e China, vão dar uma ajuda importante ao grupo formado por elas e mais o Brasil e a Rússia. Daí, em 2050, estes quatro terão um conjunto econômico maior que o formado pelo atual G-6 (Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Japão e Estados Unidos). Previsões do mesmo especialista: no mesmo período, termina a era do petróleo, com grandes impactos na economia mundial.


Autoridades canadenses visitaram as obras do porto,
um mês antes da inauguração do primeiro trecho
Foto: captura de imagem/Web

Há milênios, os chineses estão acostumados a números grandes. Assim é a Grande Muralha da China, única obra humana vista da Lua a olho nu. Num país-continente, com um dos maiores contingentes populacionais do planeta, os desafios são grandes. E a China tem pressa. Quer passar à condição de maior potência econômica da Terra, mesmo sabendo que isso pode ensejar a revisão de seus valores políticos e culturais, numa reforma promovida pelo governo... ou pelas oposições. Pobreza e falta de escolas são um dos entraves a superar, e só por isso o mercado de consumo continua sendo apenas potencial. A modernização vai mudar esse quadro e despertar tensões sociais incalculáveis. Mas, enquanto isso, a China vai se preparando para ser não só um país grande, mas também um grande país. Sua infra-estrutura cresce em ritmo alucinante, com obras gigantescas. Uma delas, o super-porto de Yangshan. Que é apenas um terminal de contêineres do porto de Xangai.


Porto centenário de Xangai tem águas pouco profundas, 
o que se torna insuficiente para os modernos navios de grande porte
Foto: captura de imagem/Web

Distante cerca de 35 quilômetros (mar adentro) deste importante porto e centro financeiro do Mar da China, ao Norte da baía de Hangzhou, próximo à desembocadura do rio Yangtsé, um dos mais movimentados do mundo, Yangshan (ou Yanshan) está sendo ligado a Xangai por uma super-estrada e ponte (a palavra super é constante nessa área) de oito pistas, a Donghai ou Tong-Hai (Mar Oriental), e inclui uma nova cidade portuária, Luchao, no condado Nanhui. O complexo portuário implica na construção de 1,25 milhão de metros quadrados, sendo o maior da China em terras reclamadas ao mar. O conjunto ponte-porto-cidade já é considerado uma das duas maiores obras humanas do mundo moderno. A outra é a barragem Three Gorges Dam. Também na China, no Yangtsé.


Em 10 de dezembro de 2005, o primeiro dia de operações do porto de Yanshan
Foto: captura de imagem/Web

Os números impressionam e, para serem melhor entendidos, lembremos que o porto de Santos, em 2005, movimentou cerca de 2,2 milhões de contêineres-padrão (TEU), além de cargas a granel secas e líquidas. O novo terminal chinês, denominado Centro Internacional de Navios de Águas Profundas de Yangshan, teve em dezembro de 2005 inaugurada a sua primeira fase, com capacidade nominal de 2,4 milhões de TEU/ano (mais que Santos, portanto), o que o transforma no maior porto chinês (o país tem 1.430 portos, que totalizaram 4,17 bilhões de toneladas movimentadas em 2004). Isso, Yangshan consegue usando apenas os cinco terminais já em operação, com 1.600 metros de cais e 1,53 km² de área ocupada. 

Mas, nos primeiros dois meses de operação, completados em 10/2/2006, já movimentou 410 mil TEU, transportados por 252 navios, com o recorde de 13.350 TEU movimentados no dia 28 de janeiro. Segundo o gerente da Shanghai Shendong International Container Co., embora a capacidade nominal no momento seja de uns 200 mil TEU/mês, as mesmas instalações podem atingir médias de 300 mil TEU em pouco tempo.


Modelo em computador o projeto da cidade de Luchao, em anéis concêntricos
Foto: captura de imagem/Web

No fim de 2006, Yangshan praticamente dobrará de capacidade, com a inauguração de mais quatro atracadouros. Em 2012, deverão estar em funcionamento 30 atracadouros, e outros 22 serão inaugurados até 2020, quando se espera a conclusão dos atuais projetos, atingindo uma capacidade anual superior a 13,4 milhões de TEU. 

O custo das obras está estimado em US$ 16 a 18 bilhões, incluindo os US$ 2,4 bilhões da Ponte do Mar da China Oriental, uma das mais compridas do mundo e a primeira da China sobre águas marítimas. Com 31,5 metros de largura, entre Xangai e Ilha Menor Yangshan em Hangzhou, fica 40 metros acima do nível do mar, permitindo que passem sob sua estrutura navios cargueiros com 10.000 toneladas de peso-morto (deadweight), na seção maior da ponte. Em maio de 2005 ocorreu a ligação das duas pontas da obra, sobre a baía Hangzhou. Cerca de seis mil pessoas trabalham em tempo integral na construção dessa ponte.


No mapa, a localização das obras e de Xangai (Shanghai)
Foto: captura de imagem/Web

Então, o complexo portuário de Xangai será o maior porto do planeta em movimentação de mercadorias, pois já em 2004 movimentava 14,55 milhões de contêineres/ano, superado apenas por Hong-Kong (que não deixa de ser China... e movimentou 21,9 milhões de TEU em 2004) e Cingapura (uma cidade-estado asiática, em território de apenas 648 km², que no mesmo ano registrou a marca de 21,3 milhões de TEU). A propósito, Xangai também registrou em 2004 a movimentação de 370 milhões de toneladas de carga (incluídos os contêineres), segunda maior marca do mundo. Mesmo com a limitação a 8 metros da profundidade do canal de navegação (Santos tem 11 a 13 metros), que será resolvida com o novo terminal, em águas com 15 metros de profundidade, em condições de receber os maiores navios para contêineres atuais, com capacidade para 8.000 TEU.


Modelo em computador mostra parte da ponte, do porto e da nova cidade de apoio
Foto: captura de imagem/Web

Nova cidade – Para o novo porto, uma nova cidade portuária está surgindo, planejada por um grupo internacional de empresas de engenharia e universidades, em uma ilha com uma montanha, que terá importância turística significativa, junto com marinas, centros comerciais e hoteleiros, além de áreas para a instalação das companhias internacionais de transportes marítimos e logísticas relacionadas com o porto.

Prevista como uma das 11 cidades-satélites da grande Xangai, distante 30 km do aeroporto internacional Pudong (também em fase de expansão) e 10 km da rodovia expressa de Xangai, a nova cidade portuária de Luchao está sendo construída seguindo altos padrões, definidos no plano mestre dos arquitetos Von Gerkan, Marg und Partner, de Hamburgo (Alemanha), misturando os estilos europeu e chinês. Planejada com foco na água, será uma cidade ecológica costeira, com uma cultura marítima.


Modelo em computador mostra parte da nova cidade de apoio Luchao
Foto: captura de imagem/Web

No centro, haverá um lago circular com diâmetro de cerca de 2,5 km. A cidade será disposta em três anéis concêntricos ao redor do lago, que é acessado por canais. O primeiro anel ao redor do lago será um cinturão de instalações administrativas, culturais e comerciais. O segundo funcionará como um corredor verde, decorado por flores e árvores. O anel externo terá características residenciais, complementadas com centros comerciais, restaurantes, clínicas e escolas. Por fora do terceiro anel, um moderno sistema de tráfego deve ligar a nova cidade à via expressa de Xangai. Um trem expresso com suspensão magnética sobre os trilhos também está previsto para essa ligação.

Luchao começou a ser construída em 2002 e está sendo agora finalizada. Deverá ter de 80 mil a 100 mil habitantes, aumentando para 300 mil habitantes até 2025. Para sua construção, o Xangai Tongsheng Investment (Group) Co. Ltd. e o Nanhui Land Reservation Centre uniram-se em abril de 2002, fundando a Xangai New Harbour City Investment & Development Co., Ltd, com um capital de cerca de US$ 157 milhões.


Xangai também passa por grande conjunto de obras de modernização
Foto: captura de imagem/Web

A própria cidade de Xangai parece um imenso canteiro de obras, com bairros antigos sendo remodelados por completo. Dessa forma, o centenário porto marítimo chinês acelera seu processo de transformação, tendo como alvo ser o centro marítimo e financeiro do Nordeste da Ásia. Pronto a atender um país cuja meta é se tornar em menos de meio século a maior potência econômica do mundo.

(*) Carlos Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico Novo Milênio.


A ponte, em fins de construção, em 2005, quando as duas partes foram unidas
Foto: captura de imagem/Web