CHINA
Um super-porto
para um super-país
Maior terminal de contêineres
do mundo estará pronto em 2020, época em que a China já
será a segunda maior potência econômica do planeta
Carlos Pimentel Mendes (*)
Até
2050, a China deve deixar para trás os Estados Unidos e se tornar
a principal potência econômica e política do planeta.
E quem diz isso não é chinês, mas o doutor em Ciências
Políticas pela Universidade de Michigan, além de professor
da Universidade de Claremont, Jacek Kugler. Sua economia, impulsionada
por mão-de-obra com custo médio bem inferior ao dos próprios
trabalhadores brasileiros (eles por si já não muito bem remunerados
em comparação com os de países desenvolvidos), cresce
8% ao ano, dobrando a cada nove anos: já suplantou a da Inglaterra
em 2005, deve superar a da Alemanha em 2010, a do Japão em 2015.
A Índia
também vai crescer bastante nos próximos anos, e as duas,
Índia e China, vão dar uma ajuda importante ao grupo formado
por elas e mais o Brasil e a Rússia. Daí, em 2050, estes
quatro terão um conjunto econômico maior que o formado pelo
atual G-6 (Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Japão
e Estados Unidos). Previsões do mesmo especialista: no mesmo período,
termina a era do petróleo, com grandes impactos na economia mundial.
Autoridades
canadenses visitaram as obras do porto, um mês
antes da inauguração do primeiro trecho Foto: captura
de imagem/Web
Há milênios, os chineses
estão acostumados a números grandes. Assim é a Grande
Muralha da China, única obra humana vista da Lua a olho nu. Num
país-continente, com um dos maiores contingentes populacionais do
planeta, os desafios são grandes. E a China tem pressa. Quer passar
à condição de maior potência econômica
da Terra, mesmo sabendo que isso pode ensejar a revisão de seus
valores políticos e culturais, numa reforma promovida pelo governo...
ou pelas oposições. Pobreza e falta de escolas são
um dos entraves a superar, e só por isso o mercado de consumo continua
sendo apenas potencial. A modernização vai mudar esse quadro
e despertar tensões sociais incalculáveis. Mas, enquanto
isso, a China vai se preparando para ser não só um país
grande, mas também um grande país. Sua infra-estrutura cresce
em ritmo alucinante, com obras gigantescas. Uma delas, o super-porto de
Yangshan. Que é apenas um terminal de contêineres do porto
de Xangai.
Porto centenário
de Xangai tem águas pouco profundas, o que se
torna insuficiente para os modernos navios de grande porte Foto: captura
de imagem/Web
Distante cerca de 35 quilômetros
(mar adentro) deste importante porto e centro financeiro do Mar da China,
ao Norte da baía de Hangzhou, próximo à desembocadura
do rio Yangtsé, um dos mais movimentados do mundo, Yangshan (ou
Yanshan) está sendo ligado a Xangai por uma super-estrada e ponte
(a palavra super é constante nessa área) de oito pistas,
a Donghai ou Tong-Hai (Mar Oriental), e inclui uma nova cidade portuária,
Luchao, no condado Nanhui. O complexo portuário implica na construção
de 1,25 milhão de metros quadrados, sendo o maior da China em terras
reclamadas ao mar. O conjunto ponte-porto-cidade já é considerado
uma das duas maiores obras humanas do mundo moderno. A outra é a
barragem Three Gorges Dam. Também na China, no Yangtsé.
Em 10 de
dezembro de 2005, o primeiro dia de operações do porto de
Yanshan Foto: captura
de imagem/Web
Os números impressionam e,
para serem melhor entendidos, lembremos que o porto de Santos, em 2005,
movimentou cerca de 2,2 milhões de contêineres-padrão
(TEU), além de cargas a granel secas e líquidas. O novo terminal
chinês, denominado Centro Internacional de Navios de Águas
Profundas de Yangshan, teve em dezembro de 2005 inaugurada a sua primeira
fase, com capacidade nominal de 2,4 milhões de TEU/ano (mais que
Santos, portanto), o que o transforma no maior porto chinês (o país
tem 1.430 portos, que totalizaram 4,17 bilhões de toneladas movimentadas
em 2004). Isso, Yangshan consegue usando apenas os cinco terminais já
em operação, com 1.600 metros de cais e 1,53 km² de
área ocupada.
Mas, nos primeiros dois meses de
operação, completados em 10/2/2006, já movimentou
410 mil TEU, transportados por 252 navios, com o recorde de 13.350 TEU
movimentados no dia 28 de janeiro. Segundo o gerente da Shanghai Shendong
International Container Co., embora a capacidade nominal no momento seja
de uns 200 mil TEU/mês, as mesmas instalações podem
atingir médias de 300 mil TEU em pouco tempo.
Modelo
em computador o projeto da cidade de Luchao, em anéis concêntricos Foto: captura
de imagem/Web
No fim de 2006, Yangshan praticamente
dobrará de capacidade, com a inauguração de mais quatro
atracadouros. Em 2012, deverão estar em funcionamento 30 atracadouros,
e outros 22 serão inaugurados até 2020, quando se espera
a conclusão dos atuais projetos, atingindo uma capacidade anual
superior a 13,4 milhões de TEU.
O custo das obras está estimado
em US$ 16 a 18 bilhões, incluindo os US$ 2,4 bilhões da Ponte
do Mar da China Oriental, uma das mais compridas do mundo e a primeira
da China sobre águas marítimas. Com 31,5 metros de largura,
entre Xangai e Ilha Menor Yangshan em Hangzhou, fica 40 metros acima do
nível do mar, permitindo que passem sob sua estrutura navios cargueiros
com 10.000 toneladas de peso-morto (deadweight), na seção
maior da ponte. Em maio de 2005 ocorreu a ligação das duas
pontas da obra, sobre a baía Hangzhou. Cerca de seis mil pessoas
trabalham em tempo integral na construção dessa ponte.
No mapa,
a localização das obras e de Xangai (Shanghai) Foto: captura
de imagem/Web
Então, o complexo portuário
de Xangai será o maior porto do planeta em movimentação
de mercadorias, pois já em 2004 movimentava 14,55 milhões
de contêineres/ano, superado apenas por Hong-Kong (que não
deixa de ser China... e movimentou 21,9 milhões de TEU em 2004)
e Cingapura (uma cidade-estado asiática, em território de
apenas 648 km², que no mesmo ano registrou a marca de 21,3 milhões
de TEU). A propósito, Xangai também registrou em 2004 a movimentação
de 370 milhões de toneladas de carga (incluídos os contêineres),
segunda maior marca do mundo. Mesmo com a limitação a 8 metros
da profundidade do canal de navegação (Santos tem 11 a 13
metros), que será resolvida com o novo terminal, em águas
com 15 metros de profundidade, em condições de receber os
maiores navios para contêineres atuais, com capacidade para 8.000
TEU.
Modelo
em computador mostra parte da ponte, do porto e da nova cidade de apoio Foto: captura
de imagem/Web
Nova cidade – Para o novo
porto, uma nova cidade portuária está surgindo, planejada
por um grupo internacional de empresas de engenharia e universidades, em
uma ilha com uma montanha, que terá importância turística
significativa, junto com marinas, centros comerciais e hoteleiros, além
de áreas para a instalação das companhias internacionais
de transportes marítimos e logísticas relacionadas com o
porto.
Prevista como uma das 11 cidades-satélites
da grande Xangai, distante 30 km do aeroporto internacional Pudong (também
em fase de expansão) e 10 km da rodovia expressa de Xangai, a nova
cidade portuária de Luchao está sendo construída seguindo
altos padrões, definidos no plano mestre dos arquitetos Von Gerkan,
Marg und Partner, de Hamburgo (Alemanha), misturando os estilos europeu
e chinês. Planejada com foco na água, será uma cidade
ecológica costeira, com uma cultura marítima.
Modelo
em computador mostra parte da nova cidade de apoio Luchao Foto: captura
de imagem/Web
No centro, haverá um lago
circular com diâmetro de cerca de 2,5 km. A cidade será disposta
em três anéis concêntricos ao redor do lago, que é
acessado por canais. O primeiro anel ao redor do lago será um cinturão
de instalações administrativas, culturais e comerciais. O
segundo funcionará como um corredor verde, decorado por flores e
árvores. O anel externo terá características residenciais,
complementadas com centros comerciais, restaurantes, clínicas e
escolas. Por fora do terceiro anel, um moderno sistema de tráfego
deve ligar a nova cidade à via expressa de Xangai. Um trem expresso
com suspensão magnética sobre os trilhos também está
previsto para essa ligação.
Luchao começou a ser construída
em 2002 e está sendo agora finalizada. Deverá ter de 80 mil
a 100 mil habitantes, aumentando para 300 mil habitantes até 2025.
Para sua construção, o Xangai Tongsheng Investment (Group)
Co. Ltd. e o Nanhui Land Reservation Centre uniram-se em abril de 2002,
fundando a Xangai New Harbour City Investment & Development Co., Ltd,
com um capital de cerca de US$ 157 milhões.
Xangai
também passa por grande conjunto de obras de modernização Foto: captura
de imagem/Web
A própria cidade de Xangai
parece um imenso canteiro de obras, com bairros antigos sendo remodelados
por completo. Dessa forma, o centenário porto marítimo chinês
acelera seu processo de transformação, tendo como alvo ser
o centro marítimo e financeiro do Nordeste da Ásia. Pronto
a atender um país cuja meta é se tornar em menos de meio
século a maior potência econômica do mundo.
(*) Carlos
Pimentel Mendes é jornalista, editor do jornal eletrônico
Novo
Milênio.
A ponte,
em fins de construção, em 2005, quando as duas partes foram
unidas Foto: captura
de imagem/Web
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