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Edição 148 - Jan/2006
Editorial

Memória do surfe

Luiz Carlos Ferraz

Há muito se afirma que este País não tem memória. É verdade. O problema não é apenas este, pois o Brasil quase não tem memória e a pouca que se conhece, mesmo a difundida em livros oficiais, apresentada como verdade absoluta, quase sempre é manipulada por depoimentos desautorizados, eis que colhidos de pessoas que sabem de determinados fatos de ouvir falar, ou seja, uma versão pouco confiável; e por pessoas sem qualquer compromisso com a realidade, na maioria das vezes por má-fé, outras por pura ingenuidade.

Pior são as autobiografias, tão na moda nos últimos tempos, em que o próprio autor ou partícipe divulga uma versão distorcida sobre o desenrolar de fatos – até para que amanhã não venham a falar que este País não tem memória... É o que se pode esperar da recente revelação do ex-ministro José Dirceu, interpretada como ameaça ao Presidente Lula, de revelar suas memórias palacianas no texto encomendado ao jornalista Fernando Morais; projeto, aliás, momentaneamente suspenso.

O foco, no entanto, descambou para a política, o que foi apenas acidental, pois que esta fede, e quando mais se mexe, pior. A memória que nos inspira é a do surfe, a partir dos pioneiros que adotaram o esporte e o estilo de vida em Santos, desde o final da década de 50 e início dos anos 60, sob influência da onda que se propagou pelo mundo. É uma memória que tem que ser resgatada junto aos que viveram aqueles tempos, num trabalho honesto, que desde já se pleiteia seja conduzido pela Fundação Arquivo e Memória de Santos.