Editorial
Memória
do surfe
Luiz Carlos Ferraz
Há
muito se afirma que este País não tem memória. É
verdade. O problema não é apenas este, pois o Brasil quase
não tem memória e a pouca que se conhece, mesmo a difundida
em livros oficiais, apresentada como verdade absoluta, quase sempre é
manipulada por depoimentos desautorizados, eis que colhidos de pessoas
que sabem de determinados fatos de ouvir falar, ou seja, uma versão
pouco confiável; e por pessoas sem qualquer compromisso com a realidade,
na maioria das vezes por má-fé, outras por pura ingenuidade.
Pior são as autobiografias,
tão na moda nos últimos tempos, em que o próprio autor
ou partícipe divulga uma versão distorcida sobre o desenrolar
de fatos – até para que amanhã não venham a falar
que este País não tem memória... É o que se
pode esperar da recente revelação do ex-ministro José
Dirceu, interpretada como ameaça ao Presidente Lula, de revelar
suas memórias palacianas no texto encomendado ao jornalista Fernando
Morais; projeto, aliás, momentaneamente suspenso.
O foco, no entanto, descambou para
a política, o que foi apenas acidental, pois que esta fede, e quando
mais se mexe, pior. A memória que nos inspira é a do surfe,
a partir dos pioneiros que adotaram o esporte e o estilo de vida em Santos,
desde o final da década de 50 e início dos anos 60, sob influência
da onda que se propagou pelo mundo. É uma memória que tem
que ser resgatada junto aos que viveram aqueles tempos, num trabalho honesto,
que desde já se pleiteia seja conduzido pela Fundação
Arquivo e Memória de Santos. |