Editorial
Por um povo
melhor
Luiz Carlos Ferraz
Diante
da onda de corrupção que varre o País, de Brasília
a Ribeirão Preto, qual a importância do cocô do animal
de estimação deixado pelo proprietário bem no meio
do calçadão da Praia de Santos? Pode parecer nenhuma, mas
ambas as situações têm relação entre
si, na medida em que revelam a disposição natural do brasileiro
em transgredir normais jurídicas ou meramente morais e, por outro
lado, a incapacidade do Estado em punir e dar o exemplo - ou, no mínimo,
gerar um temor que iniba tais ações.
Nos últimos dias, as discussões
sobre a crise sempre terminam com a constatação de que a
culpa é do brasileiro, sua paixão pela corrupção
("sou, mas quem não é?") e remontaria a Cabral. Pode ser.
Mas cruzar o braço não resolve o problema existencial; e,
além do mais, é em momentos de ruptura que costumam surgir
soluções. A proposta não é nova e consiste
em priorizar os investimentos em Cidadania, com a criação
de brigadas da consciência.
Imagine, por exemplo, grupos de jovens,
secundaristas e universitários, uniformizados nas ruas e no calçadão
da Praia de Santos. Cachorrinho sujou e o proprietário vai saindo
de fininho como se não fosse com ele e pimba! O bem-educado jovem
o interpela e, após breve explanação sobre a lei que
obriga o recolhimento das fezes, entrega um saco para o descuidado.
No trânsito, o motorista joga
papel pela janela ou ameaça o pedestre na faixa de segurança
e está lá o bem-educado jovem a lembrá-lo do Código
Nacional de Trânsito, da necessidade de ter um saco de lixo no interior
do veículo e respeitar o transeunte. Cena na faixa de areia: a dupla
joga frescobol sem se importar com as pessoas que caminham em busca de
saúde. Novamente, o brigadista pede atenção, informa
sobre a proibição.
Pode ser que não dê
certo numa primeira vez, nem mesmo na segunda, mas talvez na terceira,
quando, constatado o reiterado comportamento inconveniente (afinal, os
fiscais fariam relatórios detalhados de suas abordagens), aplicar-se-ia
uma sanção – absolutamente legal nos exemplos citados. Pode
ser até que não resolva o problema da corrupção
no País, mas pelo menos teremos um povo melhor. |