Editorial
Duvidar é
preciso
Luiz Carlos Ferraz
Por mais
que eu insista, não consigo me convencer de que apenas o tempo seria
capaz de produzir mudanças de qualidade na cabeça das pessoas.
Some-se uma graduação aqui, um mandato ali; reflita-se sobre
a máxima de que o homem é em face de suas circunstâncias.
As situações se sucedem,
podendo até apontar para uma evolução nesse ou naquele
jeito de pensar e agir, sempre a oferecer a oportunidade de revelar uma
coerência pragmática e, enfim, demonstrar que estou errado.
Na prática, contudo, ofereça-lhe
a primeira oportunidade e estará feito o estrago, ou melhor, o indigitado
colocará as manguinhas de fora. Passa então aquele filme
sobre a história, muitas vezes recente, de ações e
opiniões que perfeitamente já poderiam prever a situação
– e não era preciso nem ser vidente para isso.
Acho mesmo que tenho me esforçado
em acreditar. Mas, é tal o ceticismo quanto ao discurso e mesmo
atitudes de dirigentes e líderes, em todos os níveis e esferas
de poder, que citá-los um a um exigiria, por questão de ética,
fundamentar.
Afinal, como esperar uma atitude
democrática de quem sempre lambeu coturnos na ditadura militar?
É possível acreditar que o corrupto contumaz administrará
as finanças públicas com probidade? Hoje, mais do que nunca,
é preciso duvidar. |