Editorial
Basta de generosidade
Luiz Carlos Ferraz
Na esteira
das transformações sociais, vira e mexe surgem cacoetes lingüísticos
com a pretensão de conceituar, rotular, marcar comportamentos, políticas,
seja lá o que for, gerando paradigmas quando projetados pelos meios
de comunicação de massa.
Foi assim, mais recentemente, com
o fenômeno da globalização, do desenvolvimento sustentável,
da responsabilidade ou balanço social, entre tantos, ou mesmo expressões,
do tipo "politicamente correto" ou "a nível de"...
A bola da vez, salvo melhor análise
- e, claro, sujeita a mudanças de última hora -, é
o vocábulo "generosidade", alçado à síntese
do tudo-de-bom, para classificar ações e situações
que não conseguem explicação por meio da terminologia
usual - esta, cada vez mais pobre de sentido.
A tendência é muito
forte e, agora, não basta mais ser simplesmente "probo". É
preciso ser "generoso". Da mesma forma, parecerá insuficiente declarar-se
"responsável". É fundamental conotar generosidade. Solidário?
Competente? Muito pouco. Vale a pena ficar atento aos generosos de plantão
e, a despeito de modismos e manias, priorizar os bons e velhos conceitos
para tentar separar o joio do trigo. |