Opinião
Desvirtuamento
das agências reguladoras
Alberto Murray Neto (*)
As agências
reguladoras foram criadas na esteira das grandes privatizações
havidas no
Brasil. A partir do momento em que setores essenciais da economia brasileira
foram transferidos para mãos privadas, houve necessidade de que
órgãos autônomos do ponto de vista legal entrassem
em cena para:
(a) gerir com maior perfeição
os serviços públicos privatizados;
(b) oferecer aos investidores, externos
e internos, a garantia plena de que o marco regulatório desses serviços
teria um sentido eminentemente técnico;
(c) fiscalizar o rigor necessário
os contratos de concessão;
(d) controlar a qualidade dos serviços
prestados pelas concessionárias ao povo, punindo-as, quando necessário,
na forma da lei; e
(e) conduzir todas essas funções
de forma totalmente independente dos humores do Poder Executivo, ou da
alternância do poder.
E assim nasceram as agências
reguladoras em nosso país.
As agências reguladoras têm
sua origem e papel definidos a partir da crise global de 1929, que afetou
dramaticamente as economias da Europa e dos Estados Unidos. A partir daquele
momento, houve a necessidade daqueles países estabelecerem uma forte
política visando a preservação dos setores fundamentais
da economia. Os Estados Unidos optaram àquela altura pela quebra
do monopólio estatal e privatizaram o seu setor de infra-estrutura,
estimulando a competição.
Paralelamente, para controlar a livre
concorrência e impedir a formação de cartéis,
o governo norte-americano criou as agências reguladoras, que agiriam
de forma independente do Poder Executivo. E esse modelo funciona até
hoje em todos os países que, como o Brasil, optaram por quebrar
o monopólio estatal em setores essenciais da economia.
Quando se verifica que, no Brasil,
os cargos de direção das agências são objeto
de barganhas políticas, a exemplo do que ocorreu recentemente com
a Agência Nacional de Águas, Agência Nacional de Transportes
Terrestres e com a Agência Nacional do Petróleo, o governo
brasileiro desvirtua completamente o papel dessas entidades.
Em vez de técnicos competentes,
o Poder Executivo tem escolhido para as diretorias desses órgãos
seus apadrinhados políticos, sem qualquer experiência no setor.
Isso gera insegurança aos investidores atuais, afasta futuros investidores,
cria uma relação de subserviência entre as agências
e o poder central do governo e agride frontalmente o espírito da
lei que as criou.
(*) Alberto
Murray Neto é advogado, sócio de Paulo Roberto Murray Advogados
Alberto:
agressão ao espírito da lei que criou os órgãos Foto: PR Murray
|