Editorial
Só uma
vida
Luiz Carlos Ferraz
A imagem
do circuito interno de tevê do supermercado da pequena Sobral, no
Pernambuco, parece não querer sair da lembrança e, entre
um pensamento e outro, ela volta, perturbadora, transcendendo ao próprio
fato. Afinal, queira ou não, tratou-se tão-somente de uma
morte, consumada num único tiro, ainda mais disparado por uma arma
com porte autorizado, quem sabe até acidentalmente, por um juiz
de Direito.
Recentemente, num condomínio
de luxo em Bertioga, no Litoral de São Paulo, um promotor de Justiça
também matou um rapaz; acidente não foi porque foram vários
disparos.
Quase que diariamente nas grandes
cidades brasileiras, a vida de homem ou mulher, criança ou adulto,
trabalhador ou marginal... é interrompida numa ação
criminosa. Ou, como já se admitiu, de forma "acidental".
Outros fatos, contudo, foram notícia
nos últimos dias. Como o casamento de Ronaldo O Fenônemo
e Daniela Cicarelli; a eleição dos novos presidentes do Senado,
Renan Calheiros, e da Câmara Federal, Severino Cavalcanti - este,
aliás, que tanto espaço tem conquistado na Imprensa, até
mesmo por causa de seu umbigo -; a repressão à pirataria
no Porto de Santos. E ainda as homenagens ao Dia Internacional da Mulher...
frisem-se, merecidas - ainda que sempre haverá quem pergunte quando
é mesmo o Dia Internacional do Homem -, o aniversário deste
ou daquele amigo...
Mas, volta, perturbadora, a imagem
da morte via circuito interno de tevê. A morte, não, a execução
sumária de um trabalhador, que apenas cumpria ordens e não
sabia com quem estava falando; pela qual, apesar de todas as evidências,
o juiz talvez ficará impune. |